Vinte e seis de junho de 2010. Este foi o dia em que sua voz gritou em minha memória. Sem contexto, sem por quê, como estas coisas que parecem manifestações puras de vida, correndo de qualquer padrão.
Lembranças tristes ou felizes? Lembranças incertas, como todos nossos beijos. Eu nunca poderia dizer que te amo - ou amei - com convicção, assim como nunca poderia ter certeza de que estaria mentindo se dissesse. A arte pode se expressar de forma infeliz, alegre, nostálgica, otimista, mas nada se pode dizer sobre sua essência. Os relacionamentos comuns são expressões artísticas, nossa relação é a arte em sua essência. Misteriosa, independente, inconcebível. Entendo agora por que nunca consegui lhe escrever uma canção: você não está nas letras do papel, mas na mão que move o lápis. Seria triste dizer que te amo: nossa relação é tudo, pode ser qualquer coisa, nunca somente amor.
Dizem que pessoas especiais se conhecem pelo acaso. Te encontei quando minha vida havia desmoronado, em um lugar onde nenhum de nós queria estar, por causa de uma camiseta velha. Te reencontrei quando sua vida havia desmonronado, quando você passava pelo único sentimento que ouso dizer que compreendo. A partir de ali, fomos nada mais que dois perdidos tentando fugir de um mundo ao qual não pertenciam e construir outro onde pudéssemos começar de novo; não porque víamos o mundo da mesma forma e da mesma forma éramos vistos por ele: fugitivos, incógnitas, pessoas reais.
Cara, tu não vai nem acreditar, mas, sem você, "2001 - uma odisséia no espaço" tem uma cena a menos.
Cara, cê não vai acreditar, mas, que me perdoe o ortomolecular, você me faz pensar no futuro.
Você é incrível, Vilma. E linda.
sábado, 26 de junho de 2010
sábado, 19 de junho de 2010
Idealismo e instinto
Deve-se abolir a correlação do raciocínio com a idéia simplória de progressão em princípio, meio e fim. O homem é um ser racional o tempo todo, este raciocínio variando no grau de desenvolvimento atingido, o que dependerá do indivíduo, e do grau de consciência do indivíduo para com a formação da linha de raciocínio, variando quanto à superficialidade desta. Logo, o homem pode visualizar um fim e realizar um processo consciente de busca a este, mas também pode receber à consciência um fim, dissecando desta todo o processo.
Algumas ações, porém, são baseadas em raciocínios cujos processos de desenvolvimento sequer chegam à consciência do indivíduo, este a realizando e muitas vezes desconhecendo até mesmo o fim, algumas vezes conhecendo, além do meio, somente o fim, sendo toda esta linha algumas vezes contraditórias às crenças de quem a realiza, de forma que, se conseguisse visualizá-la em sua formação, perceberia que é uma ação vulgarmente irracional(uma vez que lhe falta coerência), apesar de ainda ser produto do raciocínio. Estas ações nem sempre serão produto de mentes perturbadas ou patologias, podendo vir a ocorrer em mentes sadias. É certo, porém, que independente da natureza do raciocínio, haverá um princípio.
Portanto, o “instinto” será sempre uma definição vulgar. O homem tem finalidades puramente racionais e finalidades intrínsecas a necessidades biológicas. Se uma pessoa tem um fim de necessidade biológica, deve-se analisar também a presença de um ou mais meios para alcançá-la. Se um homem tiver fome, portanto, e vários meios de saciá-la, optará por um meio que esteja adequado à imensa quantidade de fatores ao seu redor (inclusive e principalmente de moralidade social); por sua vez, se não houver meios adequados às circunstâncias ao seu redor, a necessidade biológica forçará o indivíduo a apelar por sua sobrevivência pelo simples princípio de autopreservação (o que é da essência não somente do homem, como de qualquer ser vivo), o qual ainda assim passará (no caso do homem) por todo o processo racional, surgindo um fim que force um meio. Um homem que mata por fome, portanto, não mata instintivamente, mas por uma racionalidade forçada a circunstâncias.
A essência humana também se manifestará não só influenciando no desenvolvimento do raciocínio em qualquer âmbito, mas também lançando à consciência fins cujos processos de identificação da sua necessidade (em sua maioria) estão em partes da mente que o homem (determinado, que pratica a ação) ainda não alcançou compreensivamente, como uma ação tomada por alguém que prejudique uma outra pessoa sem trazer benefícios ao realizador.
Nota-se, porém, que os raciocínios seguem um padrão lógico igual, independente de seu grau de superficialidade mental, de forma que, ao desenvolver seu raciocínio em questões puramente intelectuais, o homem estará desenvolvendo ainda mais meios para procurar sua autopreservação e saciar suas necessidades biológicas e de sua essência. Vulgarmente, o desenvolvimento da racionalidade implicará também no desenvolvimento instintivo, ao desenvolver sua capacidade de busca a alternativas (superficiais ou não à mente) de saciar suas necessidades biológicas. Este pensamento não é reversível ao passo que um homem que se deixa guiar pelo instinto, estará deixando-se guiar por processos que muitas vezes não conhece conscientemente.
Os fins buscados por uma mente e a necessidade destes variarão, portanto, de acordo com questões biológicas, sociais, naturais e próprias do indivíduo.
Apesar da capacidade de desenvolvimento do raciocínio da qual o homem é dotado, deve-se levar em consideração também a predisposição ao desenvolvimento deste, que variará de indivíduo, não desconsiderando o fato que todos terão a capacidade de desenvolvê-lo, cada um atingindo as determinações de seu limite racional. A predisposição também indicará, além de um desenvolvimento quantitativo e qualitativo do raciocínio, maior alcance sobre a profundidade destes; uma compreensão do instinto, de forma vulgar. Esta predisposição poderá variar, podendo criar, por exemplo, a tendência natural a se alcançar um alto nível de desenvolvimento do processo ou podendo variar a intensidade de cada fator (biológico, social, natural ou própria do indivíduo) no momento de afetar o desenvolvimento do processo. A predisposição ao raciocínio, por sua vez, é gestante de responsabilidade para o indivíduo em relação a seus semelhantes.
Desenvolvendo o raciocínio, o homem desenvolverá também o alcance da essência de sua espécie, potencializando sempre o conflito tendencioso aos homens de racionalidade evoluída (não sendo estes superiores) entre sua mentalidade crítica e a essência “instintiva” que carrega. Para isto, a solução será sempre o grau de julgamento crítico que o homem poderá desenvolver sobre si mesmo e os outros. Esta crítica será, portanto, essencial não somente ao homem que pretende ser mais bem adaptado ao meio social ao seu redor, mas também ao homem que pretende uma reformulação do ser.
Apesar de todos os homens vazios terem, como finalidade de vida, uma satisfação pessoal vulgar, não se pode exatamente definir a finalidade de vida de um homem predisposto naturalmente ou intencionalmente à racionalidade, podendo-se dizer unicamente que não é uma finalidade vulgar, uma vez que um homem racional pode buscar produzir uma razão à sua existência e outros simplesmente ter como razão um desprezo a esta.
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Este é mais um rascunho do livro já citado anteriormente.
Algumas ações, porém, são baseadas em raciocínios cujos processos de desenvolvimento sequer chegam à consciência do indivíduo, este a realizando e muitas vezes desconhecendo até mesmo o fim, algumas vezes conhecendo, além do meio, somente o fim, sendo toda esta linha algumas vezes contraditórias às crenças de quem a realiza, de forma que, se conseguisse visualizá-la em sua formação, perceberia que é uma ação vulgarmente irracional(uma vez que lhe falta coerência), apesar de ainda ser produto do raciocínio. Estas ações nem sempre serão produto de mentes perturbadas ou patologias, podendo vir a ocorrer em mentes sadias. É certo, porém, que independente da natureza do raciocínio, haverá um princípio.
Portanto, o “instinto” será sempre uma definição vulgar. O homem tem finalidades puramente racionais e finalidades intrínsecas a necessidades biológicas. Se uma pessoa tem um fim de necessidade biológica, deve-se analisar também a presença de um ou mais meios para alcançá-la. Se um homem tiver fome, portanto, e vários meios de saciá-la, optará por um meio que esteja adequado à imensa quantidade de fatores ao seu redor (inclusive e principalmente de moralidade social); por sua vez, se não houver meios adequados às circunstâncias ao seu redor, a necessidade biológica forçará o indivíduo a apelar por sua sobrevivência pelo simples princípio de autopreservação (o que é da essência não somente do homem, como de qualquer ser vivo), o qual ainda assim passará (no caso do homem) por todo o processo racional, surgindo um fim que force um meio. Um homem que mata por fome, portanto, não mata instintivamente, mas por uma racionalidade forçada a circunstâncias.
A essência humana também se manifestará não só influenciando no desenvolvimento do raciocínio em qualquer âmbito, mas também lançando à consciência fins cujos processos de identificação da sua necessidade (em sua maioria) estão em partes da mente que o homem (determinado, que pratica a ação) ainda não alcançou compreensivamente, como uma ação tomada por alguém que prejudique uma outra pessoa sem trazer benefícios ao realizador.
Nota-se, porém, que os raciocínios seguem um padrão lógico igual, independente de seu grau de superficialidade mental, de forma que, ao desenvolver seu raciocínio em questões puramente intelectuais, o homem estará desenvolvendo ainda mais meios para procurar sua autopreservação e saciar suas necessidades biológicas e de sua essência. Vulgarmente, o desenvolvimento da racionalidade implicará também no desenvolvimento instintivo, ao desenvolver sua capacidade de busca a alternativas (superficiais ou não à mente) de saciar suas necessidades biológicas. Este pensamento não é reversível ao passo que um homem que se deixa guiar pelo instinto, estará deixando-se guiar por processos que muitas vezes não conhece conscientemente.
Os fins buscados por uma mente e a necessidade destes variarão, portanto, de acordo com questões biológicas, sociais, naturais e próprias do indivíduo.
Apesar da capacidade de desenvolvimento do raciocínio da qual o homem é dotado, deve-se levar em consideração também a predisposição ao desenvolvimento deste, que variará de indivíduo, não desconsiderando o fato que todos terão a capacidade de desenvolvê-lo, cada um atingindo as determinações de seu limite racional. A predisposição também indicará, além de um desenvolvimento quantitativo e qualitativo do raciocínio, maior alcance sobre a profundidade destes; uma compreensão do instinto, de forma vulgar. Esta predisposição poderá variar, podendo criar, por exemplo, a tendência natural a se alcançar um alto nível de desenvolvimento do processo ou podendo variar a intensidade de cada fator (biológico, social, natural ou própria do indivíduo) no momento de afetar o desenvolvimento do processo. A predisposição ao raciocínio, por sua vez, é gestante de responsabilidade para o indivíduo em relação a seus semelhantes.
Desenvolvendo o raciocínio, o homem desenvolverá também o alcance da essência de sua espécie, potencializando sempre o conflito tendencioso aos homens de racionalidade evoluída (não sendo estes superiores) entre sua mentalidade crítica e a essência “instintiva” que carrega. Para isto, a solução será sempre o grau de julgamento crítico que o homem poderá desenvolver sobre si mesmo e os outros. Esta crítica será, portanto, essencial não somente ao homem que pretende ser mais bem adaptado ao meio social ao seu redor, mas também ao homem que pretende uma reformulação do ser.
Apesar de todos os homens vazios terem, como finalidade de vida, uma satisfação pessoal vulgar, não se pode exatamente definir a finalidade de vida de um homem predisposto naturalmente ou intencionalmente à racionalidade, podendo-se dizer unicamente que não é uma finalidade vulgar, uma vez que um homem racional pode buscar produzir uma razão à sua existência e outros simplesmente ter como razão um desprezo a esta.
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Este é mais um rascunho do livro já citado anteriormente.
segunda-feira, 7 de junho de 2010
(H)a vida embaixo do papel(?)
Muitos se perguntam quem sou. Arruinar-se-iam se encontrassem resposta a esta pergunta. Para muitos minha existência é completamente despercebida. Aos outros tantos, rastros, sombras de mim, e nada mais. Presença soturna, porém incômoda. Misteriosa, porém viva. Presença que dá o gosto da liberdade e guia pelo caminho da miséria. Presença onde felicidade é ausência: de dores de cabeça, insônia, solidão, silêncio, vício.
Alguns se perguntam se sou Deus: a estes, digo que sou o contrário do padrão. Outros se perguntam se sou um criminoso, um canibal: a estes, digo que não há um dia sequer em que eu não sorria por não ser humano, criatura que tanto invejo. Meu crime é o que mantém minha existência tolerável, direciona-se a existências que seriam vazias sem mim, a existências que querem se esconder tanto quanto eu e o fazem da mesma forma, soprando esta corrente até que a arte domine o mundo e todos vivam sós. Não concedo resposta porque não julgo o sentimento que já entendo; escondo para não ser julgado.
Há apenas uma diferença certa entre nós: a folha que lhe seve de chão se apresenta a mim como céu. Você não ouve minha voz, mas escolhe entre segui-la ou não a todo instante. Em minha presença, o estupro pode ser tão belo quanto o amor. O grito pode ser tão infeliz quanto o sopro. Da masturbação, sou o silêncio póstumo. Da insônia, sou os olhos.
Estou nos contornos azuis ou pretos das pautas de todas as folhas. Flutuo no vazio mar cristalino da folha sulfite, produzindo ondas, como se fosse mera gota de chuva, ser que também invejo.
No papel em branco, entendo o terror: minha nudez se expõe, afoga-me. Um assassino caminha em minha direção e eu não possuo braços. Um palhaço diverte a platéia de seu circo com piadas sobre meu pranto. O branco e os pesadelos, verdadeiros e sinceros como são.
Textos vulgares são como lonas, máscaras de oxigênio: me mantêm vivo, escondido, e nada mais; como uma pessoa que não passa fome, mas se alimenta de pílulas todos os dias por dez anos.
Cada palavra infeliz que um poeta miserável deposita num pedaço de papel, porém, cai sobre mim como cobertor. Os poemas de caligrafia quase ilegível constroem paredes ao meu redor, revelam-se um quarto quente e úmido em medida certa, com o odor perfeito, sem janelas ou portas, mas somente minha existência, com as verdades e mentiras cobertas, sem poderem ser assim discriminadas. Ao poeta, resta o fôlego da esperança (que cabe a ele - não julgar - sentir se é verdadeiro ou artificial), a força de manter-se vivo por mais um período de tempo.
Se qualquer coisa dita acima fizer qualquer sentido para você, guarde suas lágrimas: nem elas poderão salvá-lo de mim.
Alguns se perguntam se sou Deus: a estes, digo que sou o contrário do padrão. Outros se perguntam se sou um criminoso, um canibal: a estes, digo que não há um dia sequer em que eu não sorria por não ser humano, criatura que tanto invejo. Meu crime é o que mantém minha existência tolerável, direciona-se a existências que seriam vazias sem mim, a existências que querem se esconder tanto quanto eu e o fazem da mesma forma, soprando esta corrente até que a arte domine o mundo e todos vivam sós. Não concedo resposta porque não julgo o sentimento que já entendo; escondo para não ser julgado.
Há apenas uma diferença certa entre nós: a folha que lhe seve de chão se apresenta a mim como céu. Você não ouve minha voz, mas escolhe entre segui-la ou não a todo instante. Em minha presença, o estupro pode ser tão belo quanto o amor. O grito pode ser tão infeliz quanto o sopro. Da masturbação, sou o silêncio póstumo. Da insônia, sou os olhos.
Estou nos contornos azuis ou pretos das pautas de todas as folhas. Flutuo no vazio mar cristalino da folha sulfite, produzindo ondas, como se fosse mera gota de chuva, ser que também invejo.
No papel em branco, entendo o terror: minha nudez se expõe, afoga-me. Um assassino caminha em minha direção e eu não possuo braços. Um palhaço diverte a platéia de seu circo com piadas sobre meu pranto. O branco e os pesadelos, verdadeiros e sinceros como são.
Textos vulgares são como lonas, máscaras de oxigênio: me mantêm vivo, escondido, e nada mais; como uma pessoa que não passa fome, mas se alimenta de pílulas todos os dias por dez anos.
Cada palavra infeliz que um poeta miserável deposita num pedaço de papel, porém, cai sobre mim como cobertor. Os poemas de caligrafia quase ilegível constroem paredes ao meu redor, revelam-se um quarto quente e úmido em medida certa, com o odor perfeito, sem janelas ou portas, mas somente minha existência, com as verdades e mentiras cobertas, sem poderem ser assim discriminadas. Ao poeta, resta o fôlego da esperança (que cabe a ele - não julgar - sentir se é verdadeiro ou artificial), a força de manter-se vivo por mais um período de tempo.
Se qualquer coisa dita acima fizer qualquer sentido para você, guarde suas lágrimas: nem elas poderão salvá-lo de mim.
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