A lógica é a maior das loucuras. Seus infinitos corredores,
portas, escadas. Você caminha por esta mansão escura, como se a conhecesse na
palma de suas mãos. E de fato, a conhece. Até que não possa mais ter certeza de
que o cômodo em que está é real. Então, passa a questionar todos, não se lembra
de qualquer critério palpável para estar certo do que pensa. A vida em lógica
pode ter sido, por inteiro, um desvario. Um breve momento de loucura pode
contaminar toda uma vida sã. Esta, porém, é uma dúvida que nunca faz qualquer
diferença. Um momento de insanidade se espalha por toda uma vida: pelo que há
de vir, pelo passado imaculado. É como um crime do espírito. Um vírus.
Apenas um piscar de olhos. Um passo no asfalto. Seu barulho
forte ecoando na madrugada, assustador, seguido por dois outros de mesmo poder.
O pensamento acelerado. Na retaguarda, dois homens estranhos, quietos. O suor enfrenta o ar frio, escorrendo pela testa,
enquanto o calor corporal contrasta com o vento noturno. A aceleração do passo
é relativamente nula, acorrentando-nos. Corrente de dúvida que apenas a noite
poderia proporcionar. Poderiam ser dois assaltantes, poderiam ser apenas duas
pessoas indo para casa, cansadas. Uma coincidência de caminhos ou um espancamento.
Esta é a noite, invariavelmente, em abstrato. Um Deus temperamental.
(...)