O sono passa por mim como uma brisa; traz uma sensação de alívio mas me abandona logo em seguida; em tempos como esse, acho incrível que esse tipo de sentimento passe apenas por mim.
Quanto mais se aprende, mais medo se cria, mais desesperanças; o aprendizado alimenta o ódio, a sensação de ânsia de vingança, mas, principalmente, a sensação de estar em perigo. Não consigo dormir ao ver ao meu lado um grande irmão em um sono profundo e tranqüilo e imaginar que sua tranqüilidade possa ser rompida por cobiças artificiais alheias. Penso em minha família, em crianças de minha família, esse pensamento me remete a barbaridades cometidas em outros países e pensamentos de tristeza infinita vêm à minha cabeça, como se eu pudesse sentir uma pequena parte do que esses povos sentiram e apenas essa pequena parte já fosse insuportável. Lutaria até a morte por cada um deles, até que meu último pedaço de carne se decompusesse; mas me pergunto se adiantaria alguma coisa, me pergunto se estou sozinho nessa.
Há dias não durmo direito e, acima de meu cansaço físico, estou exaurido mentalmente em pensar que dias piores ainda possam vir, que as coisas se tornem mais artificiais. Pior que isso seria se a margem do sofrimento fosse ultrapassada e as pessoas deixassem escapar seus sentimentos por puro desespero.
Acordem, acordem! Mais que com insônia, minha mente acorda e se liga mais a cada noite que passo a observar a lua; talvez não compreenda o céu como um astrônomo, mas talvez o céu me compreenda melhor do que a qualquer um deles.
Podem calar os gênios, mas não podem apagar suas heranças; o desafio à luta pela hegemonia dos povos continua vivo.