"Porque nada temos…
O Chile estava em ruínas.
Outro terremoto.
O mesmo país.
Morte e desespero em todos os olhares.
A Copa do Mundo era o de menos.
Porque nada temos...
Como pensar em Copa do Mundo quando se contavam os mortos.
As mães chorando pelas calçadas.
Talca e Concepcion vermelhas de sangue.
Porque nada temos…
A FIFA ameaça mudar a sede do Mundial.
Carlos observa o seu país devastado.
Carlos que nascera longe dali.
Em Niterói.
Um chileno carioca.
Porque nada temos…
O Chile ouve as palavras de Carlos.
O Chile junta seus trapos e farrapos humanos.
Seu coração e sua honra.
Constrói pedaço por pedaço em desenho mágico.
Campos. Cidades. Vidas.
Porque nada temos…
Dos que nada possuem chega a força para voltar a sonhar.
O futebol torna-se símbolo da ressurreição nacional.
Porque nada temos…
Dois meses antes da Copa do Mundo de 1962.
O Chile está pronto para receber Pelé, Garrincha e Masopust.
O país chorando suas cruzes.
O país de pé novamente.
Porque nada temos…
Os jornais dão a manchete.
Aos 38 anos morre Carlos Dittborn.
O coração dizendo adeus.
Como um final de tarde em Viña Del Mar.
Como um poema de Neruda."
Roberto Vieira