Antes de contar minha estória, convém dar algumas explicações, pra que ela não soe irreal. É verdade que sou ateu tanto quanto é verdade que odeio grande parte dos ateus, principalmente em nossa geração. Os ateus hoje em dia professam o ateísmo como se este fosse sinônimo de inteligência, sem se dar conta de que seu ateísmo é um enorme produto social (e eu, sinceramente, não respeito produtos sociais). Acho um absurdo que não percebam que é completamente social que hoje em dia soe um completo absurdo crer em Deus. Apesar disto, sou ateu, talvez da mesma forma que eles. Mas corro deles ao ser completamente aberto a ouvir quem crê, seja lá qual for a crença.
Eis que, certo dia, um rapaz, ao ser informado de que sou ateu, se põe a dissertar sobre suas crenças, pressupondo que sou um dos que pregam o ateísmo como religião. Segundo ele, não há céu ou inferno, mas o mesmo ocorre com todas as pessoas. "É tudo questão de amor-próprio", ele dizia. Segundo ele, após a morte, toda pessoa se torna exatamente o oposto do que foi em vida. Se a pessoa possuía amor-próprio, vai para o "inferno"; se não, vai para o "céu". Fazia sentido, muito superficialmente. Tentei lhe explicar que uma pessoa realmente infeliz, ainda que se tornasse o oposto do que é, continuaria a ser infeliz. Ele insistia matematicamente que o que eu dizia era um absurdo sem sentido lógico. E é verdade. Descobri que não faz sentido explicar algumas coisas, há muitas coisas neste mundo que o homem só aprende sentindo, irracionalmente. Mas quem sou eu para torcer para que ele sinta? Não posso desejar.