terça-feira, 26 de abril de 2011
Um segundo
Aquele segundo. Não importa a duração, se dez ou oitenta minutos, todas as pessoas estão, invariavelmente, mergulhadas, procurando aquele segundo, rezando por crenças nas quais elas próprias não acreditam, para que este segundo, que nem sempre se manifesta, aconteça. Um segundo de silêncio. Não como aquele hipócrita um minuto de silêncio pela morte de alguém importante, em que as pessoas estão cumprinto seu papel social enquanto pensam merda em suas cabeças. Um segundo de puro silêncio. Esquece-se todos os banais ao seu redor, esquece-se os pensamentos que te tornam banais e fazem com que você se odeie. Esquece-se a pessoa banal embaixo de você. Um segundo. Sozinho, ainda que não esteja. É como se sente a pessoa que se afoga, quando consegue emergir por um instante, ainda que saiba que não há chances de sobreviver. A cabeça sobressai ao mar, a tempestade e as ondas silenciam, nenhum pensamento senão o prazer de respirar. Os braços relaxam por um segundo e se entregam à morte. As pernas já não se agitam. Um segundo. Tic. Não completa-se o barulho do relógio. E então, ruídos, barulho, tempestade, banalidades, insegurança, diversões sociais que não enganam seu próprio corpo. Um segundo e então, a vida. Em toda uma vida, uma pessoa consegue escapar de tudo por, digamos entre dois a oito minutos. Um segundo. E cada vez que este segundo aparece, mais vezes se deseja e mais despreza-se os outros segundos demorados e inúteis da vida. Tenta-se parar o tempo, em vão. Tac.