quinta-feira, 1 de março de 2012

The tree of life



The tree of life (“A árvore da vida”) – 2011

Direção: Terrence Malick
Roteiro: Terrence Malick
http://www.youtube.com/watch?v=lkUBECRoAwM




Detesto escrever críticas. Sonho em produzir no Cinema, e não criticar. No entanto, senti-me compelido a escrever sobre este que está entre os melhores filmes dos últimos vinte anos, equiparado aos grandes clássicos. Não vi problema em escrever a respeito de uma obra que me agradou em grande número de aspectos, apontando suas qualidades e me posicionando a respeito da dualidade da crítica em sua recepção.

Agrada-me, primeiramente, a abordagem hipotética em relação à existência ou não de vida superior, sem entrar realmente no mérito. É um filme para céticos e para crentes. Terrence Malick, através de um incrível audiovisual, invadido por frequentes questionamentos humanos, demonstra simultaneamente o quão pequeno é o ser humano perante o tamanho do Universo, tanto em extensão quanto ao tempo. Demonstrando que somos apenas uma página e que, se há vida superior, é provável que ela não nos assista de forma tão detalhada quanto esperamos e, ao mesmo tempo, a grandeza do ser humano, seu poder de produção e compreensão; seu alcance. Costumo dizer que, se há vida superior, um dos poucos momentos em que ela observou a humanidade em seu campo artístico foi no show do Pink Floyd em Pompeii (1972). Acredito que, se há vida superior, outro momento seria a cena no início da crítica.

Fora este aspecto, sobretudo, o diretor aborda as relações humanas. Nossas frequentes apelações a hipóteses superiores são expressões de nossa fraqueza e dúvida. Ao retratar o instituto familiar, o diretor demonstra nossas certezas infantis caindo, e a compreensão suprindo este vazio. Quando somos pequenos, costumamos pensar em nossos pais como donos da verdade, certos do que estão fazendo, quando na verdade são também humanos. Todos somos humanos perdidos, vivendo sem certezas, repletos de fraquezas inevitáveis. O diretor sugere que, ao compreendermos isto, abstraia-mos os erros que cometeram conosco e percebamos as intenções.

Oscilando entre a dor dos pais por perder um filho - e a busca destes por compreender o porquê disso - e a busca de um filho pela compreensão do tratamento de seus pais na infância, o diretor demonstra que frequentemente o ser humano prefere culpar algo hipotético e exigir explicações sobrenaturais a compreender algo material. Também reflete que, ainda que exista uma força superior, o teocentrismo por vezes nos impede de compreender que algumas coisas ainda estão simplesmente sujeitas ao acaso.

Por fim, vejo o desfecho não como uma defesa à visão clássica de vida pós-morte, mas sim como - a partir da compreensão da humanidade, tanto no quesito interno (todas as pessoas que lidam conosco estão repletas de dúvidas, não sabem perfeitamente como agir, assim como nós mesmos), quanto no quesito externo (somos pequenos diante da grandiosidade do universo e do tempo, devemos aceitar que algumas situações são meramente aleatórias; ainda que nos toquem mais em relação às outras pessoas, continuam ínfimas) – o alívio do personagem em compreender que a verdade, apesar de dura, em uma análise distante, não é tão infeliz. Ainda que seja, nos resta o conforto de, dotados de racionalidade, entender as relações físicas e humanas.

Gostaria de esclarecer que, ao meu ver, ao contrário do que muitos pensam, 2012 foi um ano terrível para festivais como o Oscar. Futuramente veremos a premiação como um clássico vexame, como muitas outras vezes já ocorreu na história.