Eu a amei um dia. Do meio de suas
pernas, tirei minha felicidade. A satisfação sem o egoísmo. Dar a ela prazer
era me fazer feliz, sem intermediários. Um dia. Assim como um dia, com a mesma
surpresa do amor, encontrei a surpresa da dúvida. A esta, não acompanha a
expectativa. Não sabemos de onde vem, ou por quê. A incompreensão de não
sabermos o que tentamos compreender. Um dia meus olhos estiveram satisfeitos,
mas meu corpo esteve em um mundo que não me pertencia. Minha mente se perdeu em
um limbo entre eles. Sem saber para onde caminhar, decidi apenas caminhar.
Trilhar meu desentendimento. No fim, o amor não passa de desentendimento. A
incompreensão preenche-se por satisfação e segurança. Nos prendemos àquela
verdade com medo de que não haja qualquer outra. Nos vendemos ao sentimento
barato, irrestrito. No fundo, temos medo de sabermos quem somos, porque sabemos
exatamente o que é. O que somos pode não ser bom para os outros, e o que os
outros são pode não ser bom para nós. Que tenhamos misericórdia de alguém e
esperemos a recíproca. Poucos desejam conhecer o que resta além da pena e da
proteção. Refugiemo-nos no que há entre o prazer e o ódio. Onde respiramos com
cautela. A onde nos prendemos até a morte. Onde há um banal a ser decorado com
luzes e sangue. Reivindiquemos à caça, abramos mão dos riscos. Ou toleremos a
possibilidade de que um dia sejamos a vítima.