Este é um papel imundo;
Imundo de letras,
Imundo de pessoas,
Imundo de mundo.
Vinte e sete homens arrogantes aqui cuspiram.
Seqüestraram lápis suicidas
E o encheram de besteiras;
Alguns até as acharam inteligentes.
Aqui, uma prostituta se deitou,
Abriu suas pernas,
Mostrou o medo e a vontade de ser feliz;
Alguns sentiram nojo; outros, se excitaram.
Os vinte e sete homens que se excitaram
Gozaram neste papel
E nele brotou vida;
Suja e desperdiçada.
Os vinte e sete homens que sentiram nojo
Vomitaram aqui o muito do que haviam se fartado
E tudo se tornou comida;
Comida do descaso.
Hoje não sei se as letras devoram o papel
Ou o papel devora as letras.
Não sei qual é a esperança e qual a morte.
Desconheço, como minha sorte e a mim mesmo.
Reconheço que, como tudo que no mundo é imundo,
(imundo como ele próprio)
Meus sentimentos passeiam por meu interior
E a tudo tornam sujo.
Carrego comigo uma certeza:
Este papel foi escrito por lágrimas;
As mais sujas e sinceras lágrimas.
Tudo o que vejo são lágrimas imundas dos olhos castanhos de Lisa.