O Futebol é, sem dúvidas, um dos esportes mais belos do mundo; é porém, um esporte acompanhado por pessoas que o sabem apreciar e, infelizmente, pessoas que não têm nenhuma noção de como apreciá-lo. Este segundo tipo de pessoas é o que costuma confundir a grandeza de um clube com o número de títulos deste ou a grandeza de um jogador com números e estatísticas bestas, ou simplesmente com a habilidade, o que é completamente inaceitável.
O futebol está longe de ser passível de demonstração verídica em números, estatísticas, tabelas, assim como um jogador. Um time de futebol é um movimento cultural por si só, independente de seus títulos, ele carrega uma história que o torna um time grande; assim é, também, o jogador: independente de qual sua média de gols, quantos gols perde, quantas vezes falha dentro de campo e quantas vezes acerta, há diversos outros fatores que o tornam um grande ou um pequeno jogador.
Se o grande jogador fosse medido apenas por habilidade, por exemplo, Gattuso não seria um ídolo da seleção italiana tetracampeã mundial; o que o torna um grande jogador não é nem de longe sua habilidade, mas sim sua raça, sua emoção, o fato de vestir a camiseta da Itália e amá-la acima de qualquer coisa.
O problema de enxergar o futebol dessa forma é ter de ler declarações como essa de Keirrison (retirada de uma entrevista coletiva do jogador realizada no dia 16/08/09):
“Sou grato ao Palmeiras, aos companheiros, à torcida, ao Vanderlei Luxemburgo. Minha passagem foi muito rápida, mas o futebol muda muito rápido. Apareceu a proposta do Barcelona e não tinha como recusar. Qualquer um na minha situação aceitaria”
É uma declaração que particularmente me irrita muito porque, antes de mais nada, é algo que ouço desde minha infância: "Faça isso, é ridículo, mas todo mundo faz, então não tem problema algum"; essa mania medíocre do ser humano de justificar suas ações em cima do que outras pessoas fariam em seu lugar, como se a sua existência fosse simplesmente algo inútil, já que todas suas decisões vão ser exatamente iguais às de qualquer um que estivesse decidindo por você. O que qualquer um faria no lugar dele, sem dúvidas, é ser grato aos companheiros e à torcida, que o apoiaram apesar de sua fase final ridícula no clube (fase na qual ele já tinha certeza que seria transferido ao exterior), gratidão que não chega a ser o preço mínimo e a qual ele se absteve de pagar para o Palmeiras. Quanto à proposta, eu concordo em partes com ele, mas para ser ideal, faria uma paráfrase: (...) Apareceu a proposta do Barcelona e não tinha como recusar. Qualquer medíocre sem conhecimento dos grandes ídolos do futebol de meu país e do clube no qual me encontrava aceitaria.
E isso é fato, eu não preciso pensar muito para responder a esse jogador que o que ele diz não é verdade; para não citar casos de fora do meu clube, como Nilton Santos (considerado um dos jogadores mais inteligentes de todos os tempos, um revolucionário da ponta-esquerda e que nunca vestiu outra camiseta senão a do Botafogo - com exceção da camiseta da Seleção Brasileira) ou, para não me acusarem de me utilizar apenas de exemplos antigos, Rogério Ceni (revelado, em 1990, pelo Sinop Futebol Clube, e vestindo a camiseta do São Paulo neste mesmo ano para não tirá-la até os dias de hoje, apesar das inúmeras propostas para sair do país), resolvi me ater a apenas dois ídolos da história do Palmeiras:
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Em primeiro lugar, Ademir da Guia - O Divino.
Ademir da Guia foi revelado pelo Bangu, onde atuou por dois anos (1960 e 1961). A partir daí, só vestiu a camiseta alviverde (sendo titular absoluto do time por mais de dezesseis anos). É conhecido por seu domínio de bola, visão de jogo, calma e elegância, além de ser considerado um dos craques mais injustiçados do futebol (por seu número de participações pela seleção brasileira).
"A gente brincava de 'bobinho' nos treinos e tentava fazer o Ademir ir para o meio. Todo mundo tocava para ele com efeito, mas não tinha jeito. Do jeito que a bola viesse ele dominava. Eu não me lembro de uma única vez em que o Ademir tenha ido para o meio da roda." - Leivinha, ex-jogador palmeirense e companheiro de clube do Divino.
Sua importância ao Palmeiras é comparada à importância do Pelé para o Santos; isso, além de vir de sua enorme habilidade, vem do primordial para tornar alguém ídolo de um clube: amor e fidelidade a este.
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Para não me alongar demais, um dos maiores goleiros da história e meu maior ídolo no futebol: Marcos Roberto Silveira Reis - o São Marcos.
Um dos maiores prazeres que existe em ser Palmeirense em minha geração é poder ver um ídolo do Palmeiras ainda em atuação. Marcos chegou ao Palmeiras em 1992, fazendo sua partida de estréia em jogos oficiais (já que foi titular, em 1992, do Palmeiras na partida contra o Guaratinguetá) contra o Botafogo-SP em 1996, já pegando um pênalti(http://www.youtube.com/watch?v=Z5CDO6qTJHg - reconhecer um ídolo é fácil, como o próprio narrador torna óbvio: o gol não faria nenhuma diferença, mas a comemoração de São Marcos é de encher os olhos de qualquer torcedor palmeirense; vídeo muito emocionante) (Palmeiras 4 x 0 Botafogo - SP)
Sua história de gigante realmente começa em 1999, quando se torna titular do Palmeiras na Taça Libertadores da América (pela contusão do goleiro na época titular, Velloso), Libertadores conquistada pelo Palmeiras. Um jogo histórico e marcante para sua carreira, foi a vitória do Palmeiras nos Pênaltis contra o rival Corinthians nas quartas-de-final do campeonato (http://www.youtube.com/watch?v=ID6zmQDM74I - não achei um vídeo com momentos do jogo e os pênaltis, portanto, acabei usando este que mostra exclusivamente os pênaltis) (Corinthians 2 (2) x (4) 0 Palmeiras - Pênaltis).
Pela Seleção Brasileira, Marcos foi titular no pentacampeonato de 2002, realizando, segundo a FIFA, a melhor defesa da competição (contra a Alemanha, na final, em cobrança de falta de Neuville).
Marcos recebeu inúmeras propostas para clubes internacionais e nacionais; um grande exemplo de sua fidelidade foi a recusa da proposta de transferência do clube inglês Arsenal em 2003, ano em que o Palmeiras disputou a Segunda Divisão, se mantendo fiel ao Palmeiras mesmo no momento mais baixo da história do Clube. Quanto a propostas nacionais, Marcos recebe, durante sua contusão, em 2007, uma proposta de empréstimo pelo Botafogo, também recusada pelo jogador.
Entre seus vários prêmios, vale destacar que Marcos foi o único goleiro a ser eleito melhor jogador na Taça Libertadores da América (em 1999).
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Existe, portanto, uma diferença entre os grandes jogadores e os pequenos jogadores que não está no futebol, mas na cabeça e no coração, é o que estes passam para a torcida, é o que faz com que esses produzam a verdadeira emoção de ver seu time jogar; é o amor que os liga ao time na vitória e na derrota, é o que os torna ídolos.
Quanto à gratidão, a torcida do Palmeiras não precisa de gratidão, já temos do que nos orgulhar e deixamos o ridículo de lado; vale lembrar, como diria Marcos em entrevista após o último jogo de Edmundo com a camiseta alviverde: "(...) Podem ter certeza de que a torcida do Palmeiras não grita o nome de qualquer um". E é isso, Keirrison, espero que a média de 1,33 gols por partida se transforme em uma média de 1,33 milhões de euros na Europa, pra que te agrade mais, já que você acaba de recusar o que há de mais valioso no futebol, os gritos de uma "Torcida que canta e vibra".
"O técnico Muricy Ramalho fez questão de elogiar o poder de reação de Marcos e o fato de ele não ter se abatido com o lance do gol. 'Os grandes são assim. Não se apequenam e aparecem no momento que você precisa. O Marcos é dessa maneira, ele faz a diferença', elogiou o treinador."
Muricy, técnico do Palmeiras, após empate por 1x1 contra o Atlético-MG pelo Campeonato Brasileiro, no Mineirão, em 09/08/09; jogo em que Marcos falhou no gol do Atlético, mas se redimiu ao defender um pênalti.