sexta-feira, 28 de maio de 2010

O perdão

Senhor, eu te perdôo.
Perdôo por ter-me imposto esta existência medíocre. Dedico a ti a bondade que sempre esperaste de amar teu crime até o fim e ainda assim perdoá-lo antes de partir, como um desumano sentimental.

Amém.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Trecho de "Escritores medíocres"

"Sou um péssimo escritor, músico, compositor, poeta. Nao há, aqui, humildade besta, o que não condiz com minha pessoa, mas um fato reconhecido por qualquer pessoa que tenha comigo razoávelo contato.
Há pessoas, porém, que cruzam meu caminho e conseguem notar os sentimentos que estão por trás de palavras e notas que não são capazes de expressá-los de forma completa, o que faz com que eu não deixe de me considerar artista, mas me veja como um artista solipsista. Não são estas pessoas super-dotadas ou sobrehumanas (assim como não são meus sentimentos). Desconheço a razão pela qual elas conseguem compreender o que está por trás de minhas cortinas: elas simplesmente podem.
Sou, além de péssimo escritor, também humano. Ficaria satisfeito com o simples fato de estas pessoas absorverem parte do que sinto e praticarem. Porém, infelizmente, sou também humano. Este desabafo não deve ser visto como súplica ou exigência, porém, como humano, esperei sempre que houvesse por parte destas pessoas gratidão - na forma de sentimento fraterno -, o que não recebo, talvez por arrogância defensiva própria ou por estar enganado quanto a tudo.
Por vezes tentei me libertar desta expectativa e ficar feliz por mudar, ainda que infimamente, estas pouquíssimas pessoas, mas nunca consegui me libertar de minha humanidade, sem sucesso.
Não vejo nestas pessoas - que vão à fundo em meus sentimentos, me vendo a princípio não só como um péssimo escritor, mas como também um grande ser humano, e, posteriormente à absorção do meu íntimo (muitas vezes o distorcendo, o que é o mais doloroso), voltam a me desprezar como somente um péssimo escritor e nada mais (o que talvez eu seja) - erro ou acerto, uma vez que tudo talvez não passe de minha culpa, mas vejo na situação insustentabilidade humana.
Por ser humano, agora evito o papel, meu violão, evito abrir os olhos em público; por ser humano, adentrei na arte; por ser humano, permiti às pessoas que pudessem me abandonar.
Por ser humano, aspiro arte e agora tenho medo de expirá-la. Por ser humano, penso agora em largar tudo.
Esta humanidade, que produz o que tenho de valor em seu ponto forte e o quer esconder por seu ponto fraco.
Por ser humano e disposto a ser julgado, desde que na condição de humano.

E isto explica muita coisa."



De autoria de um blogueiro obeso e desconhecido.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Asperger

Canto que silencia
Vinho que anestesia
Sonho que grita
Só pra mim

O segredo da ejaculação:
Ninguém nunca saberá quem sou.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Migalhas

Página em branco
O velho, antes manco
Agora vive sem pernas
Espera, em miséria
Que suas lágrimas chulas
Derretam sua bengala muda

Hoje chove água do mar
A loucura está permitida
É real ferida
Mata mas não cria
É dor que não dói

Não serei dois filhotes no inverno
O teatro está cheio
Mas hoje não haverá poesia
Deixe-me sua piedade, em migalhas

Migalhas maltratadas de pão