quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Time of your life



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sábado, 19 de fevereiro de 2011

Muros e Grades

http://www.youtube.com/watch?v=Vfq-z24wGnw

Este texto seria completamente desnecessário se eu andasse com uma câmera na mochila. Na verdade, ele é totalmente ineficaz perto do que eu poderia passar com uma única fotografia. Uma fotografia que vive em minha cabeça, uma imagem nítida. Quase posso tocá-la.

Tudo isto, este enorme fato singular, aconteceu em uma de minhas viagens entre Juiz de Fora e Niterói. Uma mais particular, porque, enquanto eu colocava meus fones no ouvido, dentro do ônibus, o motorista veio nos comunicar, irritado, que não poderia mudar seu trajeto como muitos estavam pedindo. Pelo que pude entender, chegaríamos em um horário de engarrafamento e estava rolando uma onda de assaltos na Av. Brasil.

Na época, as minhas viagens de Juiz de Fora a Niterói eram invadidas por uma tranquilidade que até hoje não consigo compreender. Eu saía de Juiz de Fora onde minha vida seria tranquila em relação à minha família e me dirigia pra Niterói, onde minha vida parecia entrar em uma tempestade. Ainda assim, enquanto eu não pisasse com os pés no lado de fora do ônibus, eu era invadido por uma vontade de ouvir um som nos meus fones, ficar deitado tranquilamente na poltrona, raramente gostava de ler um livro, apenas quando eu viajasse à noite. Mas ainda assim, o que eu curtia mesmo era ficar olhando a paisagem e ouvindo música. Havia pontos da viagem que eram meus favoritos. A Serra de Petrópolis, que é simplesmente incrível. Os viadutos do Gentileza, que era o momento em que me tocava que estava chegando ao Rio. Lembro-me de uma favela interminável e, erguendo-se entre suas construções, um outdoor exaltando a beleza do Maracanã. Como eu tinha vontade de tirar uma foto disso. O Rio é realmente muito curioso, não? Gostava também da ponte Rio-Niterói, Ponte Presidente Costa e Silva. Era o momento em que me sentia como se estivesse observando o Rio de um lugar muito alto. Enquanto eu não enxergava nenhum ser humano, mas apenas as construções, ficava imaginando o que pensaria alguém que estivesse tão longe que nos julgasse apenas pelo que fazemos do mundo, pelos prédios, favelas ou pelas avançadas elaborações de engenharia que se pode ver na Baía de Guanabara.

Morei no Ingá, muito próximo ao prédio do Direito da UFF. “Em frente ao Clube Português”, era como eu descrevia o lugar para os taxistas e conhecidos. Morava entre duas favelas e via muita coisa enquanto ficava em silêncio. Esta foi a época em que decidi parar de julgar, mas apenas observar, e foi uma experiência incrível. Morar perto de favelas não é igual à impressão que temos por relatos e pelos jornais, mas ao mesmo tempo não é tão diferente dela quanto dizem os cariocas. Lembro-me de costumar ir buscar um hambúrguer logo na entrada de um dos morros, e ficar por lá comendo, sem ter medo. Dizem que os traficantes não permitem assaltos na entrada da favela, é um lugar mais seguro do que algumas ruas depois.

Perto de minha casa uma mulher morava na rua, altamente magra, viciada em crack. Lembro-me de uma vez em que ela, tremendo e com raiva nos olhos, passou do meu lado me olhando e gritando comigo, me ameaçando. Mas fora do efeito de drogas, ela me trouxe uma das mais tristes lembranças de minha vida. Um dia em que uma tristeza me invadiu de tal forma que não consegui ficar na faculdade, saí no meio da aula e, enquanto me dirigia pro apartamento, ela me abordou, chorando, dizendo que devia quinze reais para os traficantes e que queria parar de usar as drogas. Você até pode me julgar inocente, mas eu senti de tal forma a sinceridade naquele dia, ainda que ela pudesse mudar de idéia por efeitos da abstinência, ainda assim acreditei plenamente em suas intenções. Mas outra coisa que vocês podem não entender direito, mas nesta época eu realmente não tinha dinheiro pra nada. Era tudo contado, se eu queria sair em um fim de semana, tinha de planejar antes por um tempo. Eu realmente não tinha quinze reais pra dar, e tudo o que eu pude fazer foi passar pelo porteiro olhando para o outro lado, porque as lágrimas já haviam invadido meus olhos antes que eu pudesse girar a chave do apartamento e entrar. Sempre vou me sentir em dívida com esta mulher, que sequer sei o nome.

Lembro-me que, fim de semana, via pessoas oferecerem drogas perto da Faculdade de Direito (o morro era literalmente do lado, sua subida ficava na esquina da faculdade). Que imagem estranha. Às vezes entrava em sala e ouvia meus professores falarem, excelentes professores, mas como poderia dar algum crédito às suas falas se via coisas como essa logo em frente ao lugar em que estudava?

Sempre me pegava conversando sobre futebol com os moradores, em um bar próximo à faculdade de Direito. Acho que me sentia melhor conversando com eles do que com as pessoas da minha sala. Achava estranha a impressão que tinha de que as pessoas da minha sala (salve raras e comuns exceções) nunca haviam sofrido na vida; que assunto posso ter com uma pessoa assim?

Havia também o toque de recolher. Depois das dez horas, em dias de semana, era perigosíssimo sair de casa. Eu fui o último da república a aceitar isto. Um dia esqueci-me de comprar comida e, faminto, descobri que não havia nada estocado. Por volta das 23h, resolvi sair e ir ao Sendas (havia um muito próximo de nossa casa) comprar algo pra comer. Por questão de puro acaso não fui assaltado. Rua deserta, um homem me seguindo, mas um carro de polícia estava parado logo a frente, averiguando algum outro incidente, o que o fez o homem parar. Tive de esperar quase uma hora no Sendas até estar certo de que podia voltar pra casa. Melhor dizendo, “casa”.

Mas em síntese, esta época fez com que eu perdesse todo o preconceito com favelas e seus moradores. São pessoas como em qualquer outro lugar, pessoas as quais precisamos compreender. Em alguns pontos, lamentar, em outros, admirar, como quaisquer outras pessoas.

Uma sensação que eu adorava nesta época era a de sair na rua à noite para usar o orelhão. Inicialmente eu não tinha telefone ou celular, o que era simplesmente sensacional. Demorei muito tempo pra aceitar o celular, acho horrível saber que você pode ser encontrado a qualquer instante (agora que tenho um, nunca atendo). Nesta época eu aparecia quando quisesse, à noite, em um orelhão, como em filmes antigos. Tenho até hoje, guardados, todos os cartões de orelhão que usei.

Por toda essa mistura de imagens e sensações, “Muros e Grades” nunca saiu do meu MP4. Estava sempre ouvindo. Sentia a música no momento em que saía de toda a segurança do meu apartamento à noite pra uma rua perigosa, pra usar o orelhão, mas ao mesmo tempo, quando chegava em casa novamente, lembrava de tudo o que eu via por ali em todos os outros horários de todos os outros dias. Quem é o vilão? Quem é o mocinho? Quais são as armas? Existem regras?

De volta ao ônibus, lá estávamos nós, nos aproximando da Av. Brasil. Enquanto uns se benziam mil vezes, outros escondiam celulares, cordões, brincos e outros objetos de valor. Em meio aquele clima de pura tensão, havia um cara estranho, portando apenas uma mochila da Juventus de Turim com algumas camisetas, um caderno e um livro, parado, ouvindo música, estranhamente despreocupado: eu. Acho que se assaltassem aquele ônibus, nem passariam por mim. Pra ser sincero, minha vida também não estava valendo tanto assim pra eu me preocupar com ela.

Eis que em um momento, no engarrafamento, a tensão era total. O ônibus estava parado, minha cabeça encostada no vidro, quando meu olhar distraído despertou e encontrou um cara, provavelmente da minha idade, sem camiseta, os olhos queimando de ódio e ao mesmo tempo incompreensão. Olhávamos um ao outro nos olhos e tudo o que nos separava era um vidro artificial. Nada mais, é incrível. NADA MAIS nos separava. Vivíamos no mesmo mundo, no mesmo país, na mesma cidade, tínhamos a mesma idade, éramos até parecidos fisicamente. Só havia uma coisa entre nós: vidro. Poderia ser um muro, madeira. Ficamos nos observando por muito tempo, sem desviar os olhos, até o ônibus conseguir movimentar-se de novo e nossas estradas seguirem, cada uma pro seu lado. Este instante me fez realmente sentir “Muros e Grades”, é o instante de minha vida que sempre me vem à cabeça quando ouço a música. Fiquei pensando o que aconteceria ali se aquele muro tão artificial não existisse. Não consegui visualizar o que aconteceria, só pude perceber que eu não me importaria.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Um pedaço de história e um convite

“Vendo a vida como um maravilhoso quadro pontilhista, cada ponto em si é uma bobagem. Os pontos se misturam e se transformam. Lá vai a aranha tecendo sua inescapável tapeçaria."

http://tinyurl.com/4kr4cun

Não poderia haver momento melhor pra eu receber esta notícia. Esses dias liguei a televisão e vi um comercial do Rock in Rio, com a mesma música que ouvia quando era pequeno e me matava de vontade de ir, quando o festival era apenas um sonho. Fiquei deprimido em perceber que não estava com o mínimo ânimo de ir. Não estava com o mínimo ânimo de fazer nada, nem queria que nada acontecesse comigo. Ia dizer que não sou uma pessoa de multidões, mas percebo que em grande parte dos tempos sou um enorme solipsista, distante de pessoas. Apego-me mais a ambientes.

Como poderia esquecer meu primeiro semestre de 2009. O que eu pensava ser a pior fase da minha vida, hoje é só um momento visto do alto, um momento que adoro rever. Os amigos que tenho em recordação são idéias, ambientes. Primeiro, toda a praia de Icaraí, que eu caminhava ida e volta todos os dias. A varanda da pousada onde fiquei inicialmente. Depois, o mirante do MAC: ia ao mirante todas as noites e revezava minha visão entre a viva cidade de Niterói e o calmo mar da Baía de Guanabara. Quase ignorava o Rio de Janeiro. Até que descobri um pequeno mirante na Praia das Flechas. Deserto, vazio, virou meu abrigo, meu esconderijo pessoal. O dia podia ser qualquer merda, mas sempre havia o mirante, o Rio de Janeiro e até um cigarro, dependendo de como fosse o dia. Depois descobri que esse mirante era extremamente perigoso, e eu ficava lá tranquilamente até altas horas, como se estivesse completamente seguro. Que cidade artística é o Rio de Janeiro, a arte está no ar de tal forma que você só percebe o quanto foi enfeitiçado por ela quando sai da cidade e volta ao normal. Nesta época, virei uma mistura cultural sem qualquer sentido racional. Enquanto lia poesia concretista brasileira, ouvia Radiohead. Enquanto lia Dostoievski, ouvia Cartola, Arnaldo Antunes. Às vezes me pegava vestido com roupas simbolicamente brasileiras, mas o que tocava em meu mp4 era os dois artistas que invadiram meu corpo como um vírus nesta época: The National e Elliott Smith.

Outra coisa que me ajudou a sobreviver foi o Palmeiras. Que ano simplesmente inacreditável. Quando eu digo que títulos são quase inválidos no futebol, caso não sejam recheados por histórias incríveis, e que estas são mais importantes do que os próprios títulos, as pessoas preferem achar que estou de papo furado. Acompanhei toda a Libertadores isolado em Niterói. Vocês não imaginam o quão difícil é reunir palmeirenses naquela cidade. Talvez por estar longe de casa, de minha família, amigos, tão distante de tudo, foi neste instante que vi o Palmeiras como algo maior que um clube, mas uma casa que se move comigo pra qualquer lugar que eu vá. Lembro de me revezar entre três bares para ver os jogos do Palmeiras, não perdi nenhum. Um deles foi pra mim inesquecível. Em frente à Faculdade de Direito tem um pequeno e clássico bar de esquina, com uma televisão minúscula. Me debruçava no balcão pra ver os jogos, concentrado. Era ali que eu estava, nas oitavas de final, Palmeiras e Sport. Quando o bar lotado me viu inteiramente vestido de palmeirense, eu acabei por promover uma união nunca vista no Rio de Janeiro. Vascaínos, flamenguistas, botafoguenses e tricolores se abraçavam e apoiavam o Sport, tudo isso contra o Marcelo vestido de verde. A partida foi para os pênaltis e eu já estava completamente irritado - sou calmo pra qualquer coisa, mas futebol, definitivamente não. Primeira cobrança, Mozart disperdiça pelo Palmeiras. Só faltava me espancarem no bar. Não vou me fazer de forte: mantive-me firme unicamente porque eu tinha consciência de que o maior goleiro da história do futebol, meu único ídolo, o jogador que nasceu de Libertadores, estava no gol. E não deu outra, com duas defesas do Marcos, ele estava pulando no canto do gramado pra comemorar com a torcida e eu pulando fora do bar antes que se irritassem comigo.

Ao contrário de qualquer falsa impressão que eu possa ter passado, eu gosto muito do Rio de Janeiro. O vejo como um antidepressivo. É um lugar em que eu não me sinto obrigado a pensar tanto, sinto que posso simplesmente ficar bêbado por aí, sair sorrindo com meu cabelo todo bagunçado e meus óculos escuros grandes demais pra minha cara. Ao contrário de Sampa, que é pra mim como um espelho. Quando entro em Sampa, minha cabeça vai à mil, sequer gosto de conversar, gosto de pensar, viver dentro de mim, correr pra dentro até que eu mesmo termine e meus pensamentos caiam em algum vazio. Nem precisa me perguntar que lugar prefiro, né? Não viveria sem visitar o Rio regularmente, mas não troco a sinceridade de Sampa por lugar nenhum. É engraçado, mas se você passa a vida correndo do pessimismo, você acaba completamente pessimista, mas se você mergulha de cabeça no pessimismo, sempre surge uma esperança. Sampa é a cidade onde você pode ter um grupo de amigos incríveis, cada um individualmente muito interessante, e ao mesmo tempo seu grupo ser apenas mais um em uma multidão. Entendo que detestem a sensação, mas não há nada que eu goste mais do que ser algo especial isolado dentro de mim, que ninguém nunca descobrirá. Só assim pode haver sentido em continuar sendo eu mesmo. Acho que é exatamente por isso que a fama tem um poder tão destruidor. Imaginem a expectativa que causa uma multidão, se um dos grãos de arroz que você conhece é tão especial? Irônico ou não, a cidade mais pessimista do mundo pode ser a única coisa a despertar uma pontada de otimismo. Toda a sujeira das ruas, a injustiça, o medo, o cansaço das pessoas, felizmente ou infelizmente, podem construir coisas belas. E é exatamente neste cenário que já sinto meus pés pisando, mais especificamente no Saci Hostel, em Sumaré, pra ver The National.

Pensei em dizer que era minha banda favorita, mas aí senti o pavor que sinto quando imagino um questionário em minha frente. As verdades são tão frágeis, o Devir é tão verdadeiro. Às vezes tenho a sensação de que inclusive o céu ou a ciência são meras construções, que podem despedaçar a qualquer instante. E como seria bonito. Já tive várias bandas como favoritas, hoje vejo que cada uma ocupa um espaço muito específico; entre elas não existe a melhor porque entre elas não existe comparação.

Mas, deixando a divagação de lado, o fato é que hoje estava no estágio com o pensamento da mesma forma que tem estado por muito tempo: nada na vida realmente vale a pena, a não ser que você se engane um pouco. Como nos formam desde pequenos para sermos robôs. Nos potencializam racionalmente ao máximo, criam diversos objetivos artificiais para que nos sintamos impulsionados a exercer nosso potencial racional ao máximo, mas ao mesmo tempo trabalham por nossa banalização, pra que não fiquemos perigosos. Eis o que somos, máquinas humanas. Meu celular vibrou oito vezes na mesa e eu já ia fazer o de praxe: fazê-lo parar de vibrar e deixar que ele continue tocando. Percebi, então, que não era uma ligação, mas que eu havia recebido quatro SMS simultaneamente. Quatro pessoas me contando que o show do The National havia sido confirmado no Brasil.

A primeira coisa que me veio à cabeça foi quando ouvi o “Alligator” pela primeira vez, em Niterói. Ouvi a primeira música do álbum, “Secret Meeting”, e a identificação foi simplesmente instantânea, como se fosse a banda que eu procurei minha vida inteira. Coloquei o álbum no mp4 e fui pra garagem do prédio, ouvir inteiro, sozinho, sentado, andando em círculos (sempre no sentido anti-horário, meu TOC). Ouvi duas vezes seguidas no estacionamento. A terceira já foi no MAC, olhando as luzes de Niterói. A partir disto, a banda já era parte viva e pulsante de mim.

Vendo estas mensagens, pensando no show, pensando em pisar no Saci Hostel pela segunda vez depois de estar lá com grandes amigos, um de cada canto deste enorme país, pro show de outra banda que marcou minha vida (Green Day). Pensar em tudo o que eu sou e que não fica exposto em nossa sociedade mecânica. Só posso pensar que há um imenso universo dentro de mim, uma liberdade sem tamanho. O homem livre é livre em qualquer circunstância social. Será?

Trecho de "Pra ser sincero"

"O estúdio onde eu ensaiava ficava em Botafogo, eu ia para casa a pé. Gosto muito de caminhar. As baterias dos meus carros sempre morrem antes que eles percam o cheiro de carro novo. Uma dessas caminhadas eu fiz no fim da da tarde de um dia especial. No Maracanã, Flamengo e Grêmio disputariam o título da Copa do Brasil. Passavam ônibus cheios de flamenguistas. Os que me reconheciam mandavam recados pouco amigáveis, extensivos a todos os habitantes do RS.
Assisti ao jogo sozinho, no apartamento escuro, só iluminado pela TV. A cidade, parada. Excepcionalmente silenciosa. Abrimos o marcador, Grêmio 1 a 0. Uma gritaria de vascaínos vinda dos prédios vizinhos dialogou com meus próprios gritos. Segue o jogo, 1 a 1. Euforia na noite carioca, só superada pelo carnaval de vozes que explodiu quando Romário virou o jogo. Flamengo 2 a 1. Faltando alguns minutos para terminar a partida, desliguei a TV. Sempre acho que, se eu não estiver assistindo ao jogo, o tempo passará mais lentamente. Mais tempo de jogo aumentaria as chances de acontecer o empate que daria o título ao Grêmio. Uma visão otimista da covardia da avestruz.
Tinha dúvida de que o gol aconteceria, mas tinha certeza de que, se acontecesse, a vizinhança vascaína me avisaria. Passava o tempo e eu não olhava para o relógio. A velha esperança de que, se não olhasse, o tempo passaria mais devagar. Silêncio total. Quantos minutos teriam passado? Mais silêncio, tempo demais. Por que ninguém gritava, nem vascaínos secadores nem flamenguistas campeões? Não resisto, ligo a TV. Já não estavam transmitindo o jogo. Toca o telefone, minha irmã, chorando desfaz o suspense: éramos campeões. Havia mais de quinze minutos! Os vascaínos devem ter ido dormir antes do fim do jogo. Sofri quinze minutos desnecessários, já campeão.
Futebol é uma bobagem, né? Vendo a vida como um maravilhoso quadro pontilhista, cada ponto em si é uma bobagem. Os pontos se misturam e se transformam. Lá vai a aranha tecendo sua inescapável tapeçaria. Minha irmã certamente não chorava só por um bando de caras com camisas iguais correndo atrás de uma bola. Projetamos muitas coisas sobre muitas outras coisas. Se misturam e se transformam."

Trecho de "Pra ser sincero - 123 variações sobre um mesmo tema" - Humberto Gessinger

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Amor



Toda e cada palavra de amor é uma metáfora de uma mentira esquecida.