quinta-feira, 23 de maio de 2013

No surprises

Preenchi todo meu apartamento com demônios. Paredes, portas, maçanetas, estantes, móveis, tacos, espelhos. Cada folha em branco de cada caderno. Frente e verso. Ano após ano. Como se transitório, deixei que minhas cicatrizes crescessem para que me conhecesse. Até que elas tomassem vida. Muitas delas se personificaram em meus delírios. Era minha libertação pela passagem. A verdade e o que restasse.
Hoje não mais tenho medo do escuro. Sento-me no chão da cozinha e estou rodeado de cadáveres. Todos eles sorriem para mim. Com escárnio, porque sabem que há em cada um deles um sopro de vida que nunca conseguirei apagar. Sobrevivem. Já não sei em que parte da cozinha estou sentado. Eu já não sou mais eu do que eles. Há em mim um fraco sopro de vida, que divido com cada um. Sobrevivo com este pouco, satisfeito.
O autoconhecimento não é a liberdade. Construí minha própria prisão e nunca escaparei daqui. Todo homem é um monstro.