domingo, 23 de janeiro de 2011

Amor-próprio

Antes de contar minha estória, convém dar algumas explicações, pra que ela não soe irreal. É verdade que sou ateu tanto quanto é verdade que odeio grande parte dos ateus, principalmente em nossa geração. Os ateus hoje em dia professam o ateísmo como se este fosse sinônimo de inteligência, sem se dar conta de que seu ateísmo é um enorme produto social (e eu, sinceramente, não respeito produtos sociais). Acho um absurdo que não percebam que é completamente social que hoje em dia soe um completo absurdo crer em Deus. Apesar disto, sou ateu, talvez da mesma forma que eles. Mas corro deles ao ser completamente aberto a ouvir quem crê, seja lá qual for a crença.
Eis que, certo dia, um rapaz, ao ser informado de que sou ateu, se põe a dissertar sobre suas crenças, pressupondo que sou um dos que pregam o ateísmo como religião. Segundo ele, não há céu ou inferno, mas o mesmo ocorre com todas as pessoas. "É tudo questão de amor-próprio", ele dizia. Segundo ele, após a morte, toda pessoa se torna exatamente o oposto do que foi em vida. Se a pessoa possuía amor-próprio, vai para o "inferno"; se não, vai para o "céu". Fazia sentido, muito superficialmente. Tentei lhe explicar que uma pessoa realmente infeliz, ainda que se tornasse o oposto do que é, continuaria a ser infeliz. Ele insistia matematicamente que o que eu dizia era um absurdo sem sentido lógico. E é verdade. Descobri que não faz sentido explicar algumas coisas, há muitas coisas neste mundo que o homem só aprende sentindo, irracionalmente. Mas quem sou eu para torcer para que ele sinta? Não posso desejar.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Solidão

"A solidão é fera, a solidão devora.
É amiga das horas prima irmã do tempo,
E faz nossos relógios caminharem lentos,
Causando um descompasso no meu coração.

A solidão dos astros;
A solidão da lua;
A solidão da noite;
A solidão da rua."

Alceu Valença - Solidão

(...)




A morte é uma tortura
A gente luta, a gente dura
E é, por fim, o que se quer

Morro em tua boca
Morro em teu corpo
Morro em teu copo
E em que te resta entre as pernas

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

A noite

O prazer é sempre traiçoeiro e insuficiente. É o que dizem as pessoas sobre as drogas. É o que digo sobre amor, sexo, paternidade, dor, morte.
São duas horas da madrugada. Minha consciência explode, mas não pesa. O que pesa é o ar, sobre cada partícula de meu corpo, como se avisasse as horas ou quantas horas se passou. E foram muitas, infinitas. Uma vida poderia começar, ou terminar. Uma pessoa poderia se matar, ou encontrar um motivo pra ser feliz. Pra mim, qualquer acontecimento, por mais banal que fosse, dependia primariamente de algo. Era uma escolha, uma necessidade, o inevitável.
A cada passo, a certeza de que tudo estava errado, em seu lugar certo. A marca da nicotina em meus dedos. Sua maior vilania e minha maior inocência. Ninguém nunca terá idéia da dor de minha carne: viva, pulsante, independente. Pura e vil.
Um grupo de pessoas se diverte. Banais, vulgares. Grito a eles minha raiva. Minha raiva por não compreenderem um terço do que sou. Besteira, as pessoas banais provavelmente pensam o mesmo. Como saberei se não sou apenas um vulgar incompreendido? Poucas pessoas têm valor atribuído a seus sentimentos. É um privilégio tolo.

Não posso terminar. Escrever já não ajuda em nada.