quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

A noite

O prazer é sempre traiçoeiro e insuficiente. É o que dizem as pessoas sobre as drogas. É o que digo sobre amor, sexo, paternidade, dor, morte.
São duas horas da madrugada. Minha consciência explode, mas não pesa. O que pesa é o ar, sobre cada partícula de meu corpo, como se avisasse as horas ou quantas horas se passou. E foram muitas, infinitas. Uma vida poderia começar, ou terminar. Uma pessoa poderia se matar, ou encontrar um motivo pra ser feliz. Pra mim, qualquer acontecimento, por mais banal que fosse, dependia primariamente de algo. Era uma escolha, uma necessidade, o inevitável.
A cada passo, a certeza de que tudo estava errado, em seu lugar certo. A marca da nicotina em meus dedos. Sua maior vilania e minha maior inocência. Ninguém nunca terá idéia da dor de minha carne: viva, pulsante, independente. Pura e vil.
Um grupo de pessoas se diverte. Banais, vulgares. Grito a eles minha raiva. Minha raiva por não compreenderem um terço do que sou. Besteira, as pessoas banais provavelmente pensam o mesmo. Como saberei se não sou apenas um vulgar incompreendido? Poucas pessoas têm valor atribuído a seus sentimentos. É um privilégio tolo.

Não posso terminar. Escrever já não ajuda em nada.