quinta-feira, 12 de março de 2009

Retrato

Misantropia e solidão.
Sou aquele que não tem passado,
o que está atrás é apenas uma página borrada.
Sou a desesperança esperançosa de Winston.
Sou a solidão de Raskolnikóf.
Sou a misantropia introspectiva de Jack Torrance.
Sou a falta de sentido da vida Meursault.
Sou a boca que te ama e há de te maltratar de Augusto dos Anjos.
Sou o delírio que te há de matar de Álvares de Azevedo.
Sou o vento que tudo traz de Arnaldo Antunes.
Não disperdiço papéis com negócios e afazeres,
o mundo é poesia, o mundo é tristeza.
Meu papel descreve o que já esteve na cabeça de todos
mas ninguém ousou escrever.
.
Café, estrada, mapas, acaso, papéis, solidão.
Sou aquele que ninguém vê, mas um dia todos hão de notar.
Porque é no nada que às vezes encontramos tudo.
Sou a dualidade paradoxal da personalidade humana
fichada, descrita, arquivada.
Sou a cortina que isola o sol.
Sou os olhos que observam a lua.
Sou as lágrimas que escorrem do desespero.
Sou a solidão das capitais.
Não fui, sou, nunca serei.