quinta-feira, 21 de maio de 2009

De alguém para alguém

http://www.youtube.com/watch?v=FQrhA6QtWOM
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Escrevo hoje para você porque você é a única pessoa que tenho para escrever. Por mais que você não pense tanto em mim quanto eu penso em você e talvez, na verdade, nem eu pense tanto em você quanto eu acho que penso.
O quarto em que você se encontra é indiferente; seja um hotel em um lugar maravilhoso, seja em um apertado quarto de uma cidade grande, a solidão consegue te encontrar e atacar. Você sai pelas ruas e, quanto mais pessoas passam ao seu redor, mais sozinho e pequeno você se sente.
O escritor é um paradoxo - ele não gosta de escrever, se sentiria eternamente feliz se nunca mais precisasse de um papel; exalta a arte por ser uma válvula de escape.
Eu me pergunto se você enxerga o mundo como eu, se sabe como é árduo ter de ir lá fora. Às vezes me pergunto se sairia se não precisasse comer ou de dinheiro, de vencer nessa batalha insana da vida. Para que sairia do quarto? Mas acontece que a lua e o ar da madrugada trazem o mundo para o escritor e mesmo que ele se tranque em seu quarto, vai estar em contato com as coisas como são. Enquanto houver mundo, mesmo de olhos fechados, o sentirei.
Então, quando a noite ataca mais fortemente, saio na varanda, olho a chuva, procuro nas janelas luzes e pessoas que se sintam como eu, mas não encontro. Penso em que você deve estar fazendo, se está deitada a olhar a luz de um abajur e a pensar nessas coisas, se está dormindo e tendo um sonho feliz, em outro mundo.
Será que realmente tenho o direito de lhe escrever? Alguém que enxerga as coisas dessa forma deve espalhar esse vírus? Será que eu não deveria simplesmente sumir? É por isso que sempre desapareço, mas ainda não encontrei o motivo pelo qual eu sempre reapareço - talvez seja porque, acima de tudo, sou humano; mais humano do que todos.
Sempre dizemos um ao outro que um dia vamos fugir, mas será que existe um lugar para onde fugirmos? Eu fujo de tudo quando vou até você, agora aguardo que você me mostre onde fica esse porto seguro que eu desconheço.
Escrever tudo isso é engraçado porque, quando estou próximo a você, não consigo nem chegar perto de pronunciar essas palavras - talvez nem precise pronunciá-las. Às vezes prefiro simplesmente olhar você, seus olhos, ou simplesmente saber que você está por aí, a te dizer algo.
Sinto saudades, espero que você esteja bem.