segunda-feira, 15 de junho de 2009

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O que busca, então? Se quando se encontra em seu quarto, passa os dias esperando que o medo, a aventura, o desconhecido venha à sua porta; mas quando sai de casa, toca as ruas escuras da cidade, sente o pêlo arrepiar ao novo, corre e se esconde no velho, na memória de quando tinha a coragem de presenciar o novo. Quanto mais novidades, maior o medo, maior o pudor; ele chega a um ponto onde o novo está em sua memória, mas ele não se lembra do principal: a sensação de se encontrar com ele e encará-lo, prefere visualizar o antigo sem conseguir senti-lo.
Vida medíocre, passar sua vida reproduzindo sensações de sua vida passada em um papel, todas em várias situações diferentes, por não conseguir sair de casa e se arriscar novamente. Vida medíocre, que se passa em sua cabeça, no vôo de seu pensamento, que corre pela janela de seu quarto sem carregar consigo seu corpo, vai até a lua e a toca com sua mão invisível; mas ele só pode imaginar qual é a sensação que ela causa. Corre a vista por todos os livros e lê sobre as pessoas que pararam exatamente onde ele parou, se confortando por alguns serem mais inteligentes e descreverem de forma mais interessante e vívida algo que não lhe soa como novo, mas que o faz deitar a cabeça no travesseiro e pensar que, apesar de belo, não acrescentou nada ao seu dia, ao seu ano, à sua vida.
Onde há uma luz acesa? Não há, as pessoas são felizes, elas são ignorantes e ousadas, não ligam para as conseqüências perante a elas ou às outras pessoas, simplesmente agem sem pensar. Sensação estranha essa, sentar em um bar com vários amigos e esperar como se estivesse sozinho e alguma pessoa de verdade, com um diálogo natural e próprio, fosse aparecer e mudar as coisas, e soprar nele a vida por alguns segundos. Mas isso não vai acontecer, o novo se esconde dele nas coisas mais simples que ele já não tem mais paciência para observar, no olhar ingênuo ou na palavra simples e honesta; no mero dó maior ou na letra de rimas pobres e sem métrica; na rua mais suja ou no mendigo mais bêbado. Não está na ponta do cigarro que cai em seu quarto nem no copo sujo de bebida de ontem que o lembra de sua ressaca, mas na lembrança de sua mãe que estaria chorando ao vê-lo fazer isso ou na garota que ele deixou pra trás por não saber fazê-la feliz.
Aquelas saias levantadas, aquelas bocas fartas e aqueles belos companheiros com quem se embebedava e inventava um sentido pra tudo já não vão mais satisfazê-lo; com o tempo, a pele enruga, o cérebro enjoa, o sentimento exige, o mundo pesa, o novo corre e se esconde.
A tristeza é o velho a ver o nascer do sol.