terça-feira, 19 de julho de 2011

Olhos desbotados

O homem se apoiava com um dos cotovelos no balcão. Em sua outra mão, um copo de uísque. Sua maquiagem, borrada em alguns pontos, escorria e revelava sua falsa pele. Seu verdadeiro nariz jazia no chão. Não parecia triste. Apatia. Seus olhos encontravam cada traço em falso na madeira do balcão. Não sentia medo, não sentia fome. Encontrava-se naquele estado em que se chama a atenção por sua condição lastimável acima do que se passa por sua cabeça. Suas olheiras se misturavam a traços brancos de tinta barata. Parecia pensar em algo, causava tal impressão até a si mesmo, que não conseguia identificar do que se tratava. Imagens. Milhares de imagens, frames de milésimos de segundos, borrados, inidentificáveis, velozes, vis. Em contraste com sua pele maltratada e sua barba por fazer, seu sorriso era impecável. Era necessário. Não tinha certeza disso. Certeza. Certeza. Já não podia ter certeza sobre nada. Tinha um maço de cigarros barato em seu bolso. Ninguém fumava aquela marca. Normalmente teria vergonha de tirá-lo naquele local, mas o fez mesmo assim. Lembrou-se de que não podia fumar ali. A lei se preocupava que ele incomodasse os outros com banalidades. Olhou ao seu redor e várias pessoas estavam fumando, ainda assim. Ainda assim, perdeu a vontade de fumar. Estava ficando tarde, precisava ir pra casa. Seu copo dançava em sua mão. Acordaria cedo no outro dia. Olhá-lo era como olhar o mar. O garçom perguntou-lhe algo sobre uma mulher tê-lo abandonado. Não respondeu. Não estava absorto em pensamentos, mas estes sim se espalhavam em migalhas por cada porção de seu corpo. Precisava procurá-los em lugares que não a cabeça. Qualquer coisa era melhor que seu apartamento. Não dormiria se fosse preciso. Se preciso fosse, não estaria ali. Esqueceu o que era preciso. Uma última piada e, então, iria pra casa.

“Certa vez, conheci uma garota. Como era linda. Cada curva de seu corpo era deliciosa. Ia, porém, muito além disso. Ela sabia como libertar a cabeça de um homem. Convenceu-me de que poderia ser mais feliz dentre quatro paredes do que fora. Ia a festas sozinho, não conhecia pessoas, não bebia. Parava a admirar as luzes irregulares que se misturavam ao som e me faziam transbordar. Não precisava de nada, de ninguém. Não precisava de dinheiro ou roupas. Desconhecia marcas. Não fazia questão de minha consciência. A política era uma merda. Eu estava além das pessoas. Nada havia de errado com a vida vazia, que tudo significava se me sentisse bem com ela. As ruas mais sujas eram as mais belas. As mais vazias, as mais seguras. Quanto mais me encantava, mais me atraía. Quanto mais me atraía, mais transbordava. Eu era a única coisa que significava algo no mundo. Nós. Ela era parte de mim. Parte de toda esta complexidade que justificava o mundo, dava formas à vida. Cada lugar era apenas um detalhe, um esboço a ser preenchido por nós. Os músicos compunham somente para que montássemos nossas trilhas sonoras. Os escritores somente escreviam para que se identificassem conosco. As pichações nos muros eram apenas enfeites para fotografias. Os papéis eram apenas espaços para nossa benevolência em compartilhar experiências aos que tentavam entender por que existiam. Depois de um tempo, nem os usávamos muito. Não importava a qualidade dos cheiros e dos gostos, mas sua excentricidade. À música, bastava sua profundidade. Aos olhos, bastavam sua arrogância expressiva. As olheiras eram belos sinais de pensamento excessivo. Mas o que era ruim não torturava, apenas indicava o caminho do que era especial. Corríamos mais rápido do que a vida e, muito em breve, a alcançaríamos. Não exigiríamos explicações, porque já entenderíamos tudo. Apenas caçoaríamos dela, por sua pretensão em ser tão misteriosa. Debochávamos de tudo quanto fosse inferior, aumentando à medida de seu grau de inferioridade, até cessar em certo ponto, no qual atingisse o desprezível. No final, porém, era tudo um grande desprezo. Haver explicações ou significados era tudo uma besteira que estava abaixo de nossos pés. Flutuávamos no mundo que criávamos para nós sem sequer percebermos. As paredes se tornavam mais grossas, esquecíamos o que era o mundo real. Sorríamos ao seu lado vil como malucos, ignorávamos seu lado bom por o considerarmos vulgar demais perante a nossa criação. Nossas cores escuras brilhavam mais do que qualquer colorido de qualquer tecido rasgável, triturável, obsoleto. Nossas mentes tinham nojo de compartilhar qualquer sentimento com essas mentes mesquinhas de preocupações chulas dos demais seres humanos. Qualquer simples conversa – um pedido em um balcão de padaria ou uma pergunta profissional – nos causava náuseas. A única coisa que odiávamos era este pequeno elo indestrutível que nos ligava à vida comum por questão de sobrevivência. Alternávamo-nos entre empregos banais sempre sorrindo, pensando no quanto cuspíamos na humanidade por sermos tão talentosos e não fornecermos qualquer tipo de progresso. Achamos a cura e queríamos que todos os outros queimassem na doença, pra que ainda houvesse arte. Se todos fossem como nós, tudo seria desespero. Precisaríamos encontrar outro caminho. Éramos um universo indivisível, indisponível. Duas pessoas em um corpo estrangeiro inserido em meio a uma raça fétida”.

A medida que desenvolvia a piada, um estranho brilho acendia nos olhos do homem. Já não parecia mais estar encostado em um balcão, em um bar. À sua frente, uma cortina se abria em uma enorme janela, e o céu escuro contrastava com o intenso brilho das estrelas.

“Com o tempo, algo pareceu estar errado. O universo se dividia, como se nos castigasse. Lembrava-nos de que éramos humanos. Apenas um de nós podia saber toda a verdade, compreender tudo. O outro deveria ser mero espectador, sentir-se feliz pela oportunidade de estar ao lado de alguém que a tudo compreendia, que reunia em si o significado de tudo. Voltávamos um contra o outro, e eu era a parte mais fraca do dueto. Em muito pouco tempo, sucumbi, tornei-me um escravo. Meu desespero era apenas uma questão de tempo, até que eu me tornasse alvo de pena. Era apenas questão de tempo até que fosse abandonado. Foi o que aconteceu. O vazio que sempre estivera em mim, comprimido como uma pequena e poderosa esfera maciça e negra, agora se expandia lentamente, imprimia violenta força a meus órgãos, encurtava meus pensamentos, desfazia minha lógica. Escapava em sangue, em indiferença ardida. Os objetos que antes ignorava, cavava com unhas em busca de qualquer conteúdo que se perdera no tempo. Vagava pelas ruas cabisbaixo, esperando que em uma falha de sentido, trombasse com ela, também cabisbaixa, perdida sua arrogância, e ela voltasse a me possuir, me ajudasse a reconstruir o que antes havia de tão grandioso e eu já não me lembrava. Meus olhos eram tomados de tal vazio, que tinha a sensação de não fazer diferença olhar ou não a um objeto. Fechá-los ou abri-los. Minhas perspectivas esvaziaram-se até que não fizesse diferença sonhar ou manter-se lúcido e acordado. Minha vontade era tão curta que a voluntariedade de meus movimentos perdia seu propósito. A cortina se fechava a minha frente, mas não queria terminar o show. Apenas não sabia como continuá-lo.”

O brilho que antes se acendia atordoante nos olhos do homem, agora descendia progressivamente. A cortina fechava-se a sua frente, sem provocar qualquer reação. Procurava em seu pano algum detalhe que pudesse prender sua atenção, em vão. Já os conhecia de cor.

“Foi assim que conheci a infelicidade. Assim me apaixonei por ela. Assim ela me abandonou".

Com uma golada, o homem terminou mais um de seus incontáveis copos, que seria ainda um grão de areia diante dos muitos que viriam. Percebeu que havia se esquecido de dar à sua história qualquer graça, pra que ao menos pudesse arrancar de terceiros os sorrisos que já não podia acender espontaneamente. Mas isso não importava. Não estava em horário de serviço.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Idade



Sempre temos a sensação de que, a cada dia, envelhecemos mais rápido.
A verdade é que, quanto mais envelhecemos, mais efêmeras são as coisas.
A semana vira fim de semana.
O mês vira salário.
O ano vira férias.
Até que tudo fica no máximo do tamanho de um sorriso.

Depois, quando olhamos pra trás, algumas coisas, de tão pequenas, ficam enormes.
Tentamos explicar, mas ninguém nos ouve.
Acho que só a idade convence mesmo.

sábado, 9 de julho de 2011

"Heroes" - David Bowie

http://www.youtube.com/watch?v=2WNC6ltZe0I

"I, I can remember
Standing by the wall
And the guns, shot above our heads
And we kissed, as though nothing could fall
And the shame was on the other side
...
Oh, we can beat them, for ever and ever
We could be heroes, just for one day."

David Bowie - Heroes

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Society

http://www.youtube.com/watch?v=pRUGvArWXLk

"(...) I woke up as the sun was reddening; and that was the one distinct time in my life, the strangest moment of all, when I didn't know who I was - I was far away from home, haunted and tired with travel, in a cheap hotel room I'd never seen, hearing the hiss of steam outside, and the creak of the old wood of the hotel, and footsteps upstairs, and all the sad sounds, and I looked at the cracked high ceiling and really didn't know who I was for about fifteen strange seconds. I wasn't scared; I was just somebody else, some stranger, and my whole life was a haunted life, the life of a ghost. I was halfway across America, at the dividing line between East of my youth and the West of my future, and maybe that's why it happened right there and then, that strange red afternoon".
Trecho the "On the Road" - Jack Kerouac

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Saudades

É uma linha tênue, o que há entre a solidão e a saudade.
Poderia dizer que a solidão é sentir falta de algo que não se conhece, enquanto a saudade, sentir falta de algo conhecido. Estaria sendo simplista.
É saudade sentir falta de algo que te deixa curioso a todo tempo, te surpreende e te completa de alguma forma que não se compreende. A saudade arde o prazer de se estar vivo, de querer conhecer, viajar, acordar. Saudade do toque, do arrepio, do que te faz repensar tudo o que há sobre si próprio.
É esta a curiosa diferença entre a saudade e a solidão: a presença. Afinal, a saudade é uma presença, uma indispensável presença.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Trecho de "On the road" - Jack Kerouac

"(...) They rushed down the street together, digging everything in the early way they had, which later became so much sadder and perceptive and blank. But then they danced down the streets like dingledodies, and I shambled after as I've been doing all my life after people who interest me, because the only people for me are the mad ones, the ones who are mad to live, mad to talk, mad to be saved, desirous of everything at the same time, the ones who never yawn or say a commonplace thing, but burn, burn like fabulous yellow roman candles exploding like spiders across the stars and in the middle you see the blue centerlight pop and everybody goes 'Awww!'"

terça-feira, 26 de abril de 2011

Um segundo

Aquele segundo. Não importa a duração, se dez ou oitenta minutos, todas as pessoas estão, invariavelmente, mergulhadas, procurando aquele segundo, rezando por crenças nas quais elas próprias não acreditam, para que este segundo, que nem sempre se manifesta, aconteça. Um segundo de silêncio. Não como aquele hipócrita um minuto de silêncio pela morte de alguém importante, em que as pessoas estão cumprinto seu papel social enquanto pensam merda em suas cabeças. Um segundo de puro silêncio. Esquece-se todos os banais ao seu redor, esquece-se os pensamentos que te tornam banais e fazem com que você se odeie. Esquece-se a pessoa banal embaixo de você. Um segundo. Sozinho, ainda que não esteja. É como se sente a pessoa que se afoga, quando consegue emergir por um instante, ainda que saiba que não há chances de sobreviver. A cabeça sobressai ao mar, a tempestade e as ondas silenciam, nenhum pensamento senão o prazer de respirar. Os braços relaxam por um segundo e se entregam à morte. As pernas já não se agitam. Um segundo. Tic. Não completa-se o barulho do relógio. E então, ruídos, barulho, tempestade, banalidades, insegurança, diversões sociais que não enganam seu próprio corpo. Um segundo e então, a vida. Em toda uma vida, uma pessoa consegue escapar de tudo por, digamos entre dois a oito minutos. Um segundo. E cada vez que este segundo aparece, mais vezes se deseja e mais despreza-se os outros segundos demorados e inúteis da vida. Tenta-se parar o tempo, em vão. Tac.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

4:27



4:27. Quatro e vinte e sete. Meu despertador tocou mais cedo, não interessa por quê. Levanto-me com meus olhos quase fechados, tento olhar ao meu redor. Meu quarto toma a forma a qual desejei por toda a vida e eu a admiro por pequenos buracos lacrimosos e cansados. O sol não haver nascido não me chama atenção. O sol está sempre posto em mim, e a luz não faz qualquer diferença.
Fiz café e andei por meu apartamento. Meu sofá estava coberto de poeira. Minha cama estava coberta de poeira. Meus cadernos, minha câmera, minha guitarra. Tudo em que tocava se convertia em pó no instante seguinte. A brisa ligeiramente congelante da manhã levava tudo e dava ao pó formas delicadas do acaso. Eu assistia a tudo isto sem sorrir. Não era como um dos pesadelos que costumava ter quando adolescente. Estava realmente sozinho. Poeira e sonhos. Passado e futuro. Meu corpo era invadido de sensações que fugiam de meu controle. E os belos finais de meus textos ficaram presos em outrora. E no futuro.
É bom acordar antes de a vida começar, onde há espaço para tudo.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Los Heraldos Negros

"Hay golpes en la vida, tan fuertes… Yo no sé.
Golpes como del odio de Dios; como si ante ellos,
la resaca de todo lo sufrido
se empozara en el alma… Yo no sé.

Son pocos; pero son… Abren zanjas oscuras
en el rostro más fiero y en el lomo más fuerte.
Serán tal vez los potros de bárbaros atilas;
o los heraldos negros que nos manda la Muerte.

Son las caídas hondas de los Cristos del alma,
de alguna fe adorable que el Destino blasfema.
Esos golpes sangrientos son las crepitaciones
de algún pan que en la puerta del horno se nos quema.

Y el hombre… Pobre… pobre! Vuelve los ojos, como
cuando por sobre el hombro nos llama una palmada;
vuelve los ojos locos, y todo lo vivido
se empoza, como un charco de culpa, en la mirada.

Hay golpes en la vida, tan fuertes … Yo no sé!"


Cesar Vallejo

(...)

Vendi-me para ti como objeto de luxo
Propaganda enganosa de prazo delimitado
Horrorosa criança abandonada às ruas
Pedindo esmola aos mendigos ao lado

Prometi-lhe a poesia
E, afinal, a ganhei de ti
Um fardo

quinta-feira, 7 de abril de 2011

(...)



"From a certain point onward, there is no turning back. That is the point that must be reached.” — Franz Kafka

Cartas



Gosto de cartas curtas e banais. Que falem sobre o clima ou a cidade. Elas têm o poder de acender a saudade e ao mesmo a presença; nos contornos das palavras, no calor de sua caligrafia. Sem precisar pensar, confortavelmente, como é o sentimento de se estar de verdade com alguém. Conhecer cada curva das letras, poder reler em um tempo tão breve quanto a duração de um beijo. Do primeiro, do último, do póstumo.

domingo, 13 de março de 2011

Anotação de 18/10/2010

Se você para por uma viagem e olha pra trás na sua vida, para as inúmeras fases boas e fases ruins, ainda que momentos singulares de tristeza ou felicidade, você consegue perceber que não há nada que possa te acontecer e você não possa superar assim como não há felicidade que você não possa absorver.


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Sempre carrego comigo, em viagens, bloquinhos de papel pra fazer anotações de coisas que quero transformar em textos. Encontrei perdida esta anotação de 18/10/2010, de uma viagem entre Rio de Janeiro e São Paulo. Resolvi simplesmente colocá-la aqui, ao invés de transformá-la em um texto.

Dedico aos meus amigos do GD Fuckers.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Time of your life



http://tinyurl.com/yh9spe3

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Muros e Grades

http://www.youtube.com/watch?v=Vfq-z24wGnw

Este texto seria completamente desnecessário se eu andasse com uma câmera na mochila. Na verdade, ele é totalmente ineficaz perto do que eu poderia passar com uma única fotografia. Uma fotografia que vive em minha cabeça, uma imagem nítida. Quase posso tocá-la.

Tudo isto, este enorme fato singular, aconteceu em uma de minhas viagens entre Juiz de Fora e Niterói. Uma mais particular, porque, enquanto eu colocava meus fones no ouvido, dentro do ônibus, o motorista veio nos comunicar, irritado, que não poderia mudar seu trajeto como muitos estavam pedindo. Pelo que pude entender, chegaríamos em um horário de engarrafamento e estava rolando uma onda de assaltos na Av. Brasil.

Na época, as minhas viagens de Juiz de Fora a Niterói eram invadidas por uma tranquilidade que até hoje não consigo compreender. Eu saía de Juiz de Fora onde minha vida seria tranquila em relação à minha família e me dirigia pra Niterói, onde minha vida parecia entrar em uma tempestade. Ainda assim, enquanto eu não pisasse com os pés no lado de fora do ônibus, eu era invadido por uma vontade de ouvir um som nos meus fones, ficar deitado tranquilamente na poltrona, raramente gostava de ler um livro, apenas quando eu viajasse à noite. Mas ainda assim, o que eu curtia mesmo era ficar olhando a paisagem e ouvindo música. Havia pontos da viagem que eram meus favoritos. A Serra de Petrópolis, que é simplesmente incrível. Os viadutos do Gentileza, que era o momento em que me tocava que estava chegando ao Rio. Lembro-me de uma favela interminável e, erguendo-se entre suas construções, um outdoor exaltando a beleza do Maracanã. Como eu tinha vontade de tirar uma foto disso. O Rio é realmente muito curioso, não? Gostava também da ponte Rio-Niterói, Ponte Presidente Costa e Silva. Era o momento em que me sentia como se estivesse observando o Rio de um lugar muito alto. Enquanto eu não enxergava nenhum ser humano, mas apenas as construções, ficava imaginando o que pensaria alguém que estivesse tão longe que nos julgasse apenas pelo que fazemos do mundo, pelos prédios, favelas ou pelas avançadas elaborações de engenharia que se pode ver na Baía de Guanabara.

Morei no Ingá, muito próximo ao prédio do Direito da UFF. “Em frente ao Clube Português”, era como eu descrevia o lugar para os taxistas e conhecidos. Morava entre duas favelas e via muita coisa enquanto ficava em silêncio. Esta foi a época em que decidi parar de julgar, mas apenas observar, e foi uma experiência incrível. Morar perto de favelas não é igual à impressão que temos por relatos e pelos jornais, mas ao mesmo tempo não é tão diferente dela quanto dizem os cariocas. Lembro-me de costumar ir buscar um hambúrguer logo na entrada de um dos morros, e ficar por lá comendo, sem ter medo. Dizem que os traficantes não permitem assaltos na entrada da favela, é um lugar mais seguro do que algumas ruas depois.

Perto de minha casa uma mulher morava na rua, altamente magra, viciada em crack. Lembro-me de uma vez em que ela, tremendo e com raiva nos olhos, passou do meu lado me olhando e gritando comigo, me ameaçando. Mas fora do efeito de drogas, ela me trouxe uma das mais tristes lembranças de minha vida. Um dia em que uma tristeza me invadiu de tal forma que não consegui ficar na faculdade, saí no meio da aula e, enquanto me dirigia pro apartamento, ela me abordou, chorando, dizendo que devia quinze reais para os traficantes e que queria parar de usar as drogas. Você até pode me julgar inocente, mas eu senti de tal forma a sinceridade naquele dia, ainda que ela pudesse mudar de idéia por efeitos da abstinência, ainda assim acreditei plenamente em suas intenções. Mas outra coisa que vocês podem não entender direito, mas nesta época eu realmente não tinha dinheiro pra nada. Era tudo contado, se eu queria sair em um fim de semana, tinha de planejar antes por um tempo. Eu realmente não tinha quinze reais pra dar, e tudo o que eu pude fazer foi passar pelo porteiro olhando para o outro lado, porque as lágrimas já haviam invadido meus olhos antes que eu pudesse girar a chave do apartamento e entrar. Sempre vou me sentir em dívida com esta mulher, que sequer sei o nome.

Lembro-me que, fim de semana, via pessoas oferecerem drogas perto da Faculdade de Direito (o morro era literalmente do lado, sua subida ficava na esquina da faculdade). Que imagem estranha. Às vezes entrava em sala e ouvia meus professores falarem, excelentes professores, mas como poderia dar algum crédito às suas falas se via coisas como essa logo em frente ao lugar em que estudava?

Sempre me pegava conversando sobre futebol com os moradores, em um bar próximo à faculdade de Direito. Acho que me sentia melhor conversando com eles do que com as pessoas da minha sala. Achava estranha a impressão que tinha de que as pessoas da minha sala (salve raras e comuns exceções) nunca haviam sofrido na vida; que assunto posso ter com uma pessoa assim?

Havia também o toque de recolher. Depois das dez horas, em dias de semana, era perigosíssimo sair de casa. Eu fui o último da república a aceitar isto. Um dia esqueci-me de comprar comida e, faminto, descobri que não havia nada estocado. Por volta das 23h, resolvi sair e ir ao Sendas (havia um muito próximo de nossa casa) comprar algo pra comer. Por questão de puro acaso não fui assaltado. Rua deserta, um homem me seguindo, mas um carro de polícia estava parado logo a frente, averiguando algum outro incidente, o que o fez o homem parar. Tive de esperar quase uma hora no Sendas até estar certo de que podia voltar pra casa. Melhor dizendo, “casa”.

Mas em síntese, esta época fez com que eu perdesse todo o preconceito com favelas e seus moradores. São pessoas como em qualquer outro lugar, pessoas as quais precisamos compreender. Em alguns pontos, lamentar, em outros, admirar, como quaisquer outras pessoas.

Uma sensação que eu adorava nesta época era a de sair na rua à noite para usar o orelhão. Inicialmente eu não tinha telefone ou celular, o que era simplesmente sensacional. Demorei muito tempo pra aceitar o celular, acho horrível saber que você pode ser encontrado a qualquer instante (agora que tenho um, nunca atendo). Nesta época eu aparecia quando quisesse, à noite, em um orelhão, como em filmes antigos. Tenho até hoje, guardados, todos os cartões de orelhão que usei.

Por toda essa mistura de imagens e sensações, “Muros e Grades” nunca saiu do meu MP4. Estava sempre ouvindo. Sentia a música no momento em que saía de toda a segurança do meu apartamento à noite pra uma rua perigosa, pra usar o orelhão, mas ao mesmo tempo, quando chegava em casa novamente, lembrava de tudo o que eu via por ali em todos os outros horários de todos os outros dias. Quem é o vilão? Quem é o mocinho? Quais são as armas? Existem regras?

De volta ao ônibus, lá estávamos nós, nos aproximando da Av. Brasil. Enquanto uns se benziam mil vezes, outros escondiam celulares, cordões, brincos e outros objetos de valor. Em meio aquele clima de pura tensão, havia um cara estranho, portando apenas uma mochila da Juventus de Turim com algumas camisetas, um caderno e um livro, parado, ouvindo música, estranhamente despreocupado: eu. Acho que se assaltassem aquele ônibus, nem passariam por mim. Pra ser sincero, minha vida também não estava valendo tanto assim pra eu me preocupar com ela.

Eis que em um momento, no engarrafamento, a tensão era total. O ônibus estava parado, minha cabeça encostada no vidro, quando meu olhar distraído despertou e encontrou um cara, provavelmente da minha idade, sem camiseta, os olhos queimando de ódio e ao mesmo tempo incompreensão. Olhávamos um ao outro nos olhos e tudo o que nos separava era um vidro artificial. Nada mais, é incrível. NADA MAIS nos separava. Vivíamos no mesmo mundo, no mesmo país, na mesma cidade, tínhamos a mesma idade, éramos até parecidos fisicamente. Só havia uma coisa entre nós: vidro. Poderia ser um muro, madeira. Ficamos nos observando por muito tempo, sem desviar os olhos, até o ônibus conseguir movimentar-se de novo e nossas estradas seguirem, cada uma pro seu lado. Este instante me fez realmente sentir “Muros e Grades”, é o instante de minha vida que sempre me vem à cabeça quando ouço a música. Fiquei pensando o que aconteceria ali se aquele muro tão artificial não existisse. Não consegui visualizar o que aconteceria, só pude perceber que eu não me importaria.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Um pedaço de história e um convite

“Vendo a vida como um maravilhoso quadro pontilhista, cada ponto em si é uma bobagem. Os pontos se misturam e se transformam. Lá vai a aranha tecendo sua inescapável tapeçaria."

http://tinyurl.com/4kr4cun

Não poderia haver momento melhor pra eu receber esta notícia. Esses dias liguei a televisão e vi um comercial do Rock in Rio, com a mesma música que ouvia quando era pequeno e me matava de vontade de ir, quando o festival era apenas um sonho. Fiquei deprimido em perceber que não estava com o mínimo ânimo de ir. Não estava com o mínimo ânimo de fazer nada, nem queria que nada acontecesse comigo. Ia dizer que não sou uma pessoa de multidões, mas percebo que em grande parte dos tempos sou um enorme solipsista, distante de pessoas. Apego-me mais a ambientes.

Como poderia esquecer meu primeiro semestre de 2009. O que eu pensava ser a pior fase da minha vida, hoje é só um momento visto do alto, um momento que adoro rever. Os amigos que tenho em recordação são idéias, ambientes. Primeiro, toda a praia de Icaraí, que eu caminhava ida e volta todos os dias. A varanda da pousada onde fiquei inicialmente. Depois, o mirante do MAC: ia ao mirante todas as noites e revezava minha visão entre a viva cidade de Niterói e o calmo mar da Baía de Guanabara. Quase ignorava o Rio de Janeiro. Até que descobri um pequeno mirante na Praia das Flechas. Deserto, vazio, virou meu abrigo, meu esconderijo pessoal. O dia podia ser qualquer merda, mas sempre havia o mirante, o Rio de Janeiro e até um cigarro, dependendo de como fosse o dia. Depois descobri que esse mirante era extremamente perigoso, e eu ficava lá tranquilamente até altas horas, como se estivesse completamente seguro. Que cidade artística é o Rio de Janeiro, a arte está no ar de tal forma que você só percebe o quanto foi enfeitiçado por ela quando sai da cidade e volta ao normal. Nesta época, virei uma mistura cultural sem qualquer sentido racional. Enquanto lia poesia concretista brasileira, ouvia Radiohead. Enquanto lia Dostoievski, ouvia Cartola, Arnaldo Antunes. Às vezes me pegava vestido com roupas simbolicamente brasileiras, mas o que tocava em meu mp4 era os dois artistas que invadiram meu corpo como um vírus nesta época: The National e Elliott Smith.

Outra coisa que me ajudou a sobreviver foi o Palmeiras. Que ano simplesmente inacreditável. Quando eu digo que títulos são quase inválidos no futebol, caso não sejam recheados por histórias incríveis, e que estas são mais importantes do que os próprios títulos, as pessoas preferem achar que estou de papo furado. Acompanhei toda a Libertadores isolado em Niterói. Vocês não imaginam o quão difícil é reunir palmeirenses naquela cidade. Talvez por estar longe de casa, de minha família, amigos, tão distante de tudo, foi neste instante que vi o Palmeiras como algo maior que um clube, mas uma casa que se move comigo pra qualquer lugar que eu vá. Lembro de me revezar entre três bares para ver os jogos do Palmeiras, não perdi nenhum. Um deles foi pra mim inesquecível. Em frente à Faculdade de Direito tem um pequeno e clássico bar de esquina, com uma televisão minúscula. Me debruçava no balcão pra ver os jogos, concentrado. Era ali que eu estava, nas oitavas de final, Palmeiras e Sport. Quando o bar lotado me viu inteiramente vestido de palmeirense, eu acabei por promover uma união nunca vista no Rio de Janeiro. Vascaínos, flamenguistas, botafoguenses e tricolores se abraçavam e apoiavam o Sport, tudo isso contra o Marcelo vestido de verde. A partida foi para os pênaltis e eu já estava completamente irritado - sou calmo pra qualquer coisa, mas futebol, definitivamente não. Primeira cobrança, Mozart disperdiça pelo Palmeiras. Só faltava me espancarem no bar. Não vou me fazer de forte: mantive-me firme unicamente porque eu tinha consciência de que o maior goleiro da história do futebol, meu único ídolo, o jogador que nasceu de Libertadores, estava no gol. E não deu outra, com duas defesas do Marcos, ele estava pulando no canto do gramado pra comemorar com a torcida e eu pulando fora do bar antes que se irritassem comigo.

Ao contrário de qualquer falsa impressão que eu possa ter passado, eu gosto muito do Rio de Janeiro. O vejo como um antidepressivo. É um lugar em que eu não me sinto obrigado a pensar tanto, sinto que posso simplesmente ficar bêbado por aí, sair sorrindo com meu cabelo todo bagunçado e meus óculos escuros grandes demais pra minha cara. Ao contrário de Sampa, que é pra mim como um espelho. Quando entro em Sampa, minha cabeça vai à mil, sequer gosto de conversar, gosto de pensar, viver dentro de mim, correr pra dentro até que eu mesmo termine e meus pensamentos caiam em algum vazio. Nem precisa me perguntar que lugar prefiro, né? Não viveria sem visitar o Rio regularmente, mas não troco a sinceridade de Sampa por lugar nenhum. É engraçado, mas se você passa a vida correndo do pessimismo, você acaba completamente pessimista, mas se você mergulha de cabeça no pessimismo, sempre surge uma esperança. Sampa é a cidade onde você pode ter um grupo de amigos incríveis, cada um individualmente muito interessante, e ao mesmo tempo seu grupo ser apenas mais um em uma multidão. Entendo que detestem a sensação, mas não há nada que eu goste mais do que ser algo especial isolado dentro de mim, que ninguém nunca descobrirá. Só assim pode haver sentido em continuar sendo eu mesmo. Acho que é exatamente por isso que a fama tem um poder tão destruidor. Imaginem a expectativa que causa uma multidão, se um dos grãos de arroz que você conhece é tão especial? Irônico ou não, a cidade mais pessimista do mundo pode ser a única coisa a despertar uma pontada de otimismo. Toda a sujeira das ruas, a injustiça, o medo, o cansaço das pessoas, felizmente ou infelizmente, podem construir coisas belas. E é exatamente neste cenário que já sinto meus pés pisando, mais especificamente no Saci Hostel, em Sumaré, pra ver The National.

Pensei em dizer que era minha banda favorita, mas aí senti o pavor que sinto quando imagino um questionário em minha frente. As verdades são tão frágeis, o Devir é tão verdadeiro. Às vezes tenho a sensação de que inclusive o céu ou a ciência são meras construções, que podem despedaçar a qualquer instante. E como seria bonito. Já tive várias bandas como favoritas, hoje vejo que cada uma ocupa um espaço muito específico; entre elas não existe a melhor porque entre elas não existe comparação.

Mas, deixando a divagação de lado, o fato é que hoje estava no estágio com o pensamento da mesma forma que tem estado por muito tempo: nada na vida realmente vale a pena, a não ser que você se engane um pouco. Como nos formam desde pequenos para sermos robôs. Nos potencializam racionalmente ao máximo, criam diversos objetivos artificiais para que nos sintamos impulsionados a exercer nosso potencial racional ao máximo, mas ao mesmo tempo trabalham por nossa banalização, pra que não fiquemos perigosos. Eis o que somos, máquinas humanas. Meu celular vibrou oito vezes na mesa e eu já ia fazer o de praxe: fazê-lo parar de vibrar e deixar que ele continue tocando. Percebi, então, que não era uma ligação, mas que eu havia recebido quatro SMS simultaneamente. Quatro pessoas me contando que o show do The National havia sido confirmado no Brasil.

A primeira coisa que me veio à cabeça foi quando ouvi o “Alligator” pela primeira vez, em Niterói. Ouvi a primeira música do álbum, “Secret Meeting”, e a identificação foi simplesmente instantânea, como se fosse a banda que eu procurei minha vida inteira. Coloquei o álbum no mp4 e fui pra garagem do prédio, ouvir inteiro, sozinho, sentado, andando em círculos (sempre no sentido anti-horário, meu TOC). Ouvi duas vezes seguidas no estacionamento. A terceira já foi no MAC, olhando as luzes de Niterói. A partir disto, a banda já era parte viva e pulsante de mim.

Vendo estas mensagens, pensando no show, pensando em pisar no Saci Hostel pela segunda vez depois de estar lá com grandes amigos, um de cada canto deste enorme país, pro show de outra banda que marcou minha vida (Green Day). Pensar em tudo o que eu sou e que não fica exposto em nossa sociedade mecânica. Só posso pensar que há um imenso universo dentro de mim, uma liberdade sem tamanho. O homem livre é livre em qualquer circunstância social. Será?

Trecho de "Pra ser sincero"

"O estúdio onde eu ensaiava ficava em Botafogo, eu ia para casa a pé. Gosto muito de caminhar. As baterias dos meus carros sempre morrem antes que eles percam o cheiro de carro novo. Uma dessas caminhadas eu fiz no fim da da tarde de um dia especial. No Maracanã, Flamengo e Grêmio disputariam o título da Copa do Brasil. Passavam ônibus cheios de flamenguistas. Os que me reconheciam mandavam recados pouco amigáveis, extensivos a todos os habitantes do RS.
Assisti ao jogo sozinho, no apartamento escuro, só iluminado pela TV. A cidade, parada. Excepcionalmente silenciosa. Abrimos o marcador, Grêmio 1 a 0. Uma gritaria de vascaínos vinda dos prédios vizinhos dialogou com meus próprios gritos. Segue o jogo, 1 a 1. Euforia na noite carioca, só superada pelo carnaval de vozes que explodiu quando Romário virou o jogo. Flamengo 2 a 1. Faltando alguns minutos para terminar a partida, desliguei a TV. Sempre acho que, se eu não estiver assistindo ao jogo, o tempo passará mais lentamente. Mais tempo de jogo aumentaria as chances de acontecer o empate que daria o título ao Grêmio. Uma visão otimista da covardia da avestruz.
Tinha dúvida de que o gol aconteceria, mas tinha certeza de que, se acontecesse, a vizinhança vascaína me avisaria. Passava o tempo e eu não olhava para o relógio. A velha esperança de que, se não olhasse, o tempo passaria mais devagar. Silêncio total. Quantos minutos teriam passado? Mais silêncio, tempo demais. Por que ninguém gritava, nem vascaínos secadores nem flamenguistas campeões? Não resisto, ligo a TV. Já não estavam transmitindo o jogo. Toca o telefone, minha irmã, chorando desfaz o suspense: éramos campeões. Havia mais de quinze minutos! Os vascaínos devem ter ido dormir antes do fim do jogo. Sofri quinze minutos desnecessários, já campeão.
Futebol é uma bobagem, né? Vendo a vida como um maravilhoso quadro pontilhista, cada ponto em si é uma bobagem. Os pontos se misturam e se transformam. Lá vai a aranha tecendo sua inescapável tapeçaria. Minha irmã certamente não chorava só por um bando de caras com camisas iguais correndo atrás de uma bola. Projetamos muitas coisas sobre muitas outras coisas. Se misturam e se transformam."

Trecho de "Pra ser sincero - 123 variações sobre um mesmo tema" - Humberto Gessinger

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Amor



Toda e cada palavra de amor é uma metáfora de uma mentira esquecida.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Amor-próprio

Antes de contar minha estória, convém dar algumas explicações, pra que ela não soe irreal. É verdade que sou ateu tanto quanto é verdade que odeio grande parte dos ateus, principalmente em nossa geração. Os ateus hoje em dia professam o ateísmo como se este fosse sinônimo de inteligência, sem se dar conta de que seu ateísmo é um enorme produto social (e eu, sinceramente, não respeito produtos sociais). Acho um absurdo que não percebam que é completamente social que hoje em dia soe um completo absurdo crer em Deus. Apesar disto, sou ateu, talvez da mesma forma que eles. Mas corro deles ao ser completamente aberto a ouvir quem crê, seja lá qual for a crença.
Eis que, certo dia, um rapaz, ao ser informado de que sou ateu, se põe a dissertar sobre suas crenças, pressupondo que sou um dos que pregam o ateísmo como religião. Segundo ele, não há céu ou inferno, mas o mesmo ocorre com todas as pessoas. "É tudo questão de amor-próprio", ele dizia. Segundo ele, após a morte, toda pessoa se torna exatamente o oposto do que foi em vida. Se a pessoa possuía amor-próprio, vai para o "inferno"; se não, vai para o "céu". Fazia sentido, muito superficialmente. Tentei lhe explicar que uma pessoa realmente infeliz, ainda que se tornasse o oposto do que é, continuaria a ser infeliz. Ele insistia matematicamente que o que eu dizia era um absurdo sem sentido lógico. E é verdade. Descobri que não faz sentido explicar algumas coisas, há muitas coisas neste mundo que o homem só aprende sentindo, irracionalmente. Mas quem sou eu para torcer para que ele sinta? Não posso desejar.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Solidão

"A solidão é fera, a solidão devora.
É amiga das horas prima irmã do tempo,
E faz nossos relógios caminharem lentos,
Causando um descompasso no meu coração.

A solidão dos astros;
A solidão da lua;
A solidão da noite;
A solidão da rua."

Alceu Valença - Solidão