terça-feira, 23 de setembro de 2008

As desilusões mastigam os sonhos


















"Ainda é cedo amor
mal começaste a conhecer a vida
já anuncias a hora de partida
sem saber mesmo o rumo que irás tomar
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Preste atenção, querida
Embora eu saiba que estais resolvida
Em cada esquina cai um pouco a tua vida
Em pouco tempo não serás mais o que és
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Ouça-me bem, amor
preste atenção, o mundo é um moinho
vai triturar teus sonhos tão mesquinhos
vai reduzir as ilusões a pó
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Preste atenção, querida
de cada amor tu herdarás só o sinismo
quando notares, estais a beira do abismo
abismo que cavaste com teus pés"
(Cartola - O Mundo é um moinho)






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"Olha, na primeira vez que estive aqui
foi pra me distrair,
eu vim em busca de amor
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Olha, foi então que eu te conheci
Naquela noite fria
nos seus braços
os problemas esqueci
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Olha, na segunda vez que estive aqui
já não foi pra me distrair
Eu senti saudade de você
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Olha, eu precisei dos seus carinhos
Eu me sentia tão sozinho
e já não podia mias te esquecer
.
Eu vou tirar você desse lugar
Eu vou levar você pra ficar comigo
e não me interessa o que os outros vão pensar
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Eu sei que você tem medo de não dar certo
acha que o passado vai estar sempre perto
e que um dia eu vou me arrepender
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E eu não quero que você pense em nada triste
Porque quando o amor existe
o que não existe é motivo pra sofrer
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Eu vou tirar você desse lugar
Eu vou levar você pra ficar comigo
e não me interessa o que os outros vão pensar
(Odair José - Eu vou tirar você desse lugar)
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A cada dia que passa, percebo melhor como ser uma pessoa introspectiva e com tendências subversivas não é um dom, mas uma terrível maldição.
Devo alertar, antes de tudo, que esse texto, assim como as músicas acima, não é algo planejado, mas sim, totalmente espontâneo, um desabafo; como outros que já fiz no blog, eu não costumo relê-los ou corrigi-los, portanto pode ficar repleto de erros gramaticais ou de idéias não coesas, sendo provável que você simplesmente perca seu tempo lendo.
Eu sou um cara que, apesar de adorar praias e natureza, é totalmente adaptado à vida urbana e a adora; estou totalmente acostumado ao medo da violência, a chegar no fim da noite e me sentir um grão de arroz em um apartamento pequeno no meio de 600.000 juizforanos, à falta de educação e estresse das pessoas e, na verdade, até sentiria falta disso caso não fizesse parte do meu dia a dia, adoro esse clima "Lei do mais forte" das cidades, apesar de isso ser totalmente contraditório para uma pessoa que se julga subversiva (lembre-se, "dualidade paradoxal da personalidade humana"), mas é como se, caso tudo isso não existisse, não haveria motivo pra eu existir também, o ser humano está sempre procurando desafios em sua vida.
Porém, há algumas raras coisas na cidade que eu simplesmente não consigo aceitar e me adaptar, e uma delas é a que já apresentei através das músicas, mas apresentarei mais claramente agora: a prostituição.
Nesse fim de semana, fui pela primeira vez (sim, nunca havia ido em um) em um bordel (Casa noturna ou como você preferir chamá-lo), e é nesses momentos que retorno à conclusão inicial: introspectividade e subversividade são uma maldição.
Tudo o que eu conseguia sentir era nojo, nojo de tudo, mas não principalmente das mulheres, mas sim dos freqüentadores, mas não me resumindo a eles, no fundo ainda restava uma admiração por eles serem os poucos que deixam transparecer o instinto que pessoas normais tentam esconder o tempo todo e acabam o mostrando acidentalmente em pequenas coisas, que poucos percebem.
Com relação às mulheres, não senti um nojo preconceituoso por elas serem prostitutas, mas sim uma dor tremenda por algumas que nota-se que não queriam estar ali, e uma repugnância àquelas que demonstram um prazer pelo que fazem; na verdade, também pensei que elas não eram as únicas, mas que algumas não eram inteligentes o suficiente pra entrar no jogo da sociedade e se prostituir em outros lugares como muitas mulheres de alto poder aquisitivo o fazem sem motivo nenhum, mas que levam vantagens com isso maiores do que alguma contribuição monetária, uma exploração mais efetiva, e, principalmente, desviam do preconceito do nome "Prostituta".
Com relação aos freqüentadores, invejei alguns, por conseguirem olhar aquilo e simplesmente sentirem tesão, nada mais, simplesmente prazer em estar ali, a irracionalidade é um dom imensurável. Minha mente só não conseguia deixar de compará-los a animais, cachorros rodeando uma fêmea no cio, sem propósito racional, sem nenhum tipo de sentimento, apenas o instinto animal e selvagem de fazer sexo, procriar; acéfalos estúpidos.
E depois, a pior das conclusões (pensando de forma egoísta), que me fez querer sair correndo daquele lugar naquele momento - na verdade, não foi uma conclusão daquele momento, mas nós sempre tiramos conclusões diante de algumas coisas e aprendemos a ignorá-las com o tempo, mas quando elas voltam a nossa cabeça por determinadas situações, elas vão ficando gradativamente mais terríveis - foi a que eu realmente quero morrer antes de envelhecer, muito antes. Quando eu vejo esse tipo de situação, um velho totalmente solitário em um bordel, classe média/baixa, me imagino de imediato nessa idade, a velha frase "Every little creature in this world dies alone" (Donnie Darko) invade a minha mente e me imaginar por completo velho: abandonado, solitário, procurando companhia e descobrindo que é tarde demais para consegui-la, indo pra casa sem ter nada pra fazer ou colocando uma cadeira na calçada e ficando o dia todo a observar as pessoas que nem conheço passarem pela rua, ganhar um "tchau" às vezes, um "oi" outras, e essas idiosincrasias pras pessoas alheias sendo o ponto clímax do meu dia.
E aquele maldito velho acabou com a minha semana de forma inacreditável, aquele que já não tem mais alegrias na vida, que já se acostumou às tristezas, que mal consegue manter um diálogo com alguém e pode ser confundido com um cachorro vira-lata pela rua, aquele que não faz nada e não é importante pra ninguém durante toda a semana e vai ao bordel no fim de semana pra simplesmente soltar seus desejos instintivos e, ainda assim, não consegue, nem é ao menos capaz disso. Então, com a noite sem êxito, volta sozinho pra casa novamente, continua fumando e olhando pra parede e esperando a morte chegar. Por que não simplesmente se matar e acabar logo com tudo aquilo? Se os seus dias não servem pra mais nada, pra quê continuar vivo? Apesar de parecer assustador eu pensar nisso, você provavelmente já o pensou também, talvez inclusive já tenha a resposta; talvez eu me ache o sabichão, mas eu seja o burro que não consegue descobrir essas coisas antes de passar por elas, e que essas são coisas que eu só vou entender quando ficar velho.
O título do post remete a esse último parágrafo, mas não simplesmente a ele, mas principalmente e obviamente, à prostituição, portanto, me focarei melhor nela (levando em conta somente as mulheres que são forçadas ou se julgam forçadas a ela).
Eu fico triste em ver como as coisas chegaram ao ponto de uma mulher ter de se entregar por dinheiro ao invés de simplesmente procurar um emprego, pela dificuldade de acesso à esse último; mas, me entristece principalmente, que as pessoas vejam isso como uma opção, como se o sexo por dinheiro fosse uma opção viável: a simples noção de ver esses dois caminhos como uma coisa normal, não ter emprego e se prostituir, uma análise simplesmente de estudo geográfico, a tamanha banalização do sexo ilustrada de forma clara na cabeça de cada um (inclusive na minha). Depois, do conformismo de muitas em estar ali, algumas são passíveis de leitura aos olhos, de que não pretendem e nem pensam em uma saída dali, que estão sobrevivendo e aquilo está ótimo. São como crianças antes de terem a cabeça aberta, porém sem nenhum pai ou professor pra abri-las mas, ao contrário disso, cercadas por animais para as incentivarem a fazê-lo. Há esperança de mudança pra esse tipo de pessoa? Pra algumas raras, eu acho que sim, mas por simples jogo do acaso; a maioria, assim como em vários outros problemas urbanos, estão condenadas à eternidade na merda.
Queria deixar bem claro que me utilizei do feminino durante todo o tempo que falei sobre prostituição pelo meu contato ter sido a um bordel de mulheres e não por preconceito.