terça-feira, 30 de setembro de 2008

Last Days


Dirigido por Gus Van Sant, "Last Days" é um filme "inspirado" nos últimos dias de vida de Kurt Cobain; uso o inspirado entre aspas porque nunca entendi o porquê dele, já que até certos detalhes desnecessários do filme são idênticos aos últimos dias de vida do Kurt, é na verdade uma retratação, porém disfarçada em um enredo que se diz baseado pra simples alívio de responsabilidade.
Gus Van Sant, embora americano (Nascido em Louisville, Kentucky, EUA) e ter dirigido filmes perfeitamente comuns (Não no quesito qualidade, mas no quesito composição, andamento, apresentação) como "Gênio Indomável" (o qual, na verdade, só dirigiu, tendo o roteiro escrito pelo próprio Matt Damon), tem em seus filmes uma expressão presente muito mais na estética do que no próprio enredo, comum em certos diretores europeus, tendo muitas vezes sua nacionalidade confundida. É comum em seus filmes diálogos pouco presentes, câmeras posicionadas de forma a deixar desconfortável quem assiste, ausência de atemporalidades (Se um personagem tem de ir à padaria, mas precisa pegar uma chave e dinheiro antes, ele filmará o personagem realmente andando até seu quarto, pegando a chave e o dinheiro e todo o caminho percorrido até a padaria, não importa se aconteça algo de importante ou não). Além de "Last Days", tem sua marca estilística confirmada (principalmente) em filmes como "Paranoid Park" e "Elephant", além de ter dirigido clipes musicais para David Bowie e Red Hot Chili Peppers.
Apesar de ser um assunto de centro de interesses entre jovens quaisquer e inclusive analistas e apreciadores ferrenhos do Rock, por envolver um dos maiores e mais importantes rockeiros da história e, talvez, o mais próximo à nossa geração em relação a grau de importância/distância, "Last Days" é um filme que não causou tanto impacto e não foi tão difundido exceto pra pessoas que realmente se interessam ao cinema; por quê? Porque o filme é simplesmente chato.
Sim, como todos dizem, o filme é realmente irritante, chato, difícil de se assistir, mas isso não faz com que ele deixe de ser um bom filme, muito pelo contrário, é exatamente o que o faz atingir a sua meta.
É comum ouvirmos ou simplesmente sabermos que a pessoa sente que, apesar de todo o sofrimento que já leu ou ouviu falar que Kurt Cobain passou, tem vontade de trocar de vida com ele, ser o produtor de sua obra, como se isso anulasse o sofrimento e a vida perdida do astro. Isso é comum porque as pessoas enxergam as coisas de uma forma muito geral, ampliada, dão maior atenção aos raros momentos de orgulho e felicidade e esquecem que 90% do tempo para ele era como se fosse uma tortura insuportável, cada segundo era como uma hora, e esses segundos acabaram por engolir inclusive os poucos segundos de alegria aos quais ele não se permitia passar.
Gus Van Sant ilustra perfeitamente o que era ser Kurt Cobain, não querer conversar, se envolver, tudo ser um tédio melancólico devorador, a que ponto sua cabeça e o destino a sua volta levou sua vida e como você realmente se sentiria sendo Kurt Cobain, e é exatamente como ele que as maiorias das pessoas agem, é tão insuportável que não dá pra assistir a todo o filme, simplesmente desligam o DVD e vão ouvir às suas músicas.
Não diria que o melhor a se fazer é não assisti-lo, ver o filme te prova que querer estar na pele de Kurt Cobain não é uma boa idéia, mas é o tipo de filme de se ver uma vez só, absorver e nunca mais tocar no DVD.