quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Todo mundo reflete demais durante o almoço

Todo mundo reflete demais durante o almoço, isso é um fato incontestável, uma das poucas regras sem exceção. Nao importa se ele dura cinco minutos ou uma hora, mas todos fazem. Mas não se pensa em coisas complexas ou inteligentes - ninguém busca a teoria da relatividade enquanto mastiga um frango - mas sim pensamentos íntimos, pessoais, variados. Por exemplo, uma pessoa pensa em como foi sua manhã, naquele diálogo de dez segundos com determinada pessoa, em que via fazer à tarde e como o fará; pensa em uma brincadeira que gostava ao ver uma criança tentando partir uma carne; pensa em sua família desde pequeno até hoje, sua interação com ela e nas semelhanças e diferenças deixadas/trazidas pelo tempo; pensa em como está sua vida em geral, se seus sonhos estão caminhando ou se existe algum sonho, se está onde queria e deveria estar e se é quem desejava ser. Por isso o velho conceito de almoço em família ou com amigos é absurdo (apesar de muitas vezes, apesar de estarem rodeados de pessoas, todos estão calados à mesa fazendo exatamente isso), todos deveriam almoçar sozinhos, conversando com suas próprias cabeças.
Acontece que hoje, enqunato almoçava, chegou uma menina qu econheço de vista desde Varginha e que se mudou coincidentemente para Juiz de Fora como eu. Inicialmente, nem a dei atenção; apesar de ter ouvido divergentes opiniões sobre ela (desde fútil alienada à inteligentíssima engajada), sempre fui muito precipitado em julgar as pessoas e confiei mais em minha opinião, por mais que eu não tivesse embasamento nenhum para contruí-la.
Já ia abaixando a cabeça e ignorando sua presença quando meus olhos passaram por seus pés e notei que ela usava um all star. Tenho toda certeza do mundo que ela nao tinha nenhum até pouco tempo.
Para explicar aonde quero chegar, terei de fazer uma pequena retrospectiva. Até o ano de 2005, quando eu não compreendia bem o significado de um all star, eu odiava o tênis de todas as maneiras possíveis, por estar passando pelo auge do "Blink 182" e várias pessoas (usuários do tênis) se julgarem rockeiros por conhecerem quatro ou cinco músicas do "Blink" e usarem esse tênis (nada contra a banda Blink 182, nem contra o pop em geral, gosto de diversas bandas do pop como o próprio Blink 182 e Bowling for Soup, apesar de não ser meu estilo, mas imagino que minha raiva na época se assemelhe à raiva que sentem, atualmente, os verdadeiros apreciadores de música eletrônica). Em 2005 passei a ser atraído pelo "Grunge" (Bandas como "Nirvana" e "Pearl Jam") e pelo "Punk Rock" (Fase antiga do Green Day, Ramones, The Clash, Rancid) e acabei comprando meu primeiro all star (Ao qual dou o nome de Jim; sim, eu dou nome aos meus all stars). Nesse ano compreendi o real significado do tênis (não vou explicar para não fugir mais excessivamente do tema do que já o fiz) e até hoje venho o usando. Acontece que em Varginha o tênis se tornou insuportável à maioria das pessoas e alvo de preconceituos ridículos (coisas que mais me incentivaram a usá-lo), sendo, portanto, usado por poucas pessoas.
Quando cheguei em Juiz de Fora, assustei-me ao entrar no edifício mais burguês da instituição de ensino mais burguesa da cidade , um âmbito de atração a alienados, e notar que a maioria das pessoas tinha pelo menos um all star. Mas foi um susto positivo à princípio, me senti como se em breve fosse estar em casa. Com o tempo, comecei a notar que estava enganado e havia uma padronização inclusive nos all stars e as pessoas não eram tão diferentes quanto eu imaginava; tive até uma discussão com um amigo, defendendo que quem possuía determinado tipo de all star não o usava por seu significado, mas por ter sido inserido na padronização dessa classe de pessoas, enquanto os que usavam outros tipos de all star mantinham em mente o que ele representava.
Aí entra o meu pensamento ao ver que a garota, que não usava all stars em Varginha, havia comprado um idêntico ao padrão de Juiz de Fora. Se fosse um dia comum ou qualquer outro momento do dia, simplesmente pensaria "Ahá, eu estava certo", mas percebi que talvez não estivesse, só fosse pessimista demais; acho que, apesar de toda tendência a piorar, o mundo talvez caminhe para uma explosão: as pessoas estão se soltando aos poucos até o momento em que vão olhar uma à outra e dizer "então esse é você e você também estava se escondendo? Então é isos um pouco do gosto da liberdade? Como éramos ridículos em nossas máscasras." e talvez Juiz de Fora tenha simplesmente servido como libertação pra menina: nem todos nascem para liderar, mas alguns devem ser fortes o suficiente pra pelo menos seguirem os líderes na hora certa. Hoje é o dia em que eu, a pessoa mais pessimista e desacreditada do universo, em um momento propício à descrença e pessimismo, acreditei e fui otimista.
Talvez seja a primeira e última vez que manifesto algo esperançoso, mas talvez realmente haja uma esperança. Hoje senti novamente o ímpeto de sair do meu casulo e voltar a lutar; se essa esperança existe, devemos lutar para que ela nao seja mais uma esperança, mas algo concreto.