sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Meu, seu, nosso

Há muitos conceitos e idéias que precisam de uma ampla revisão em nossas cabeças. Por muito tempo o homem não percebeu (apesar de ter aplicado involuntariamente) que a inteligência e a criatividade partem de dois "caminhos", a própria capacidade de raciocínio e a imaginação, o poder de abstração. A maior parte de nossos conceitos vem de linhas extremamente racionais traçadas a partir de um ponto imaginário inicial; pelas pessoas não terem percebido a importância da imaginação, poucos, através dela, deram o ponta-pé inicial para toda uma linha de raciocínio.
Fica claro na história que a imaginação é o pedestal da evolução, mas, com essa percepção e evolução da imaginação, o homem passa a perceber que vários conceitos com base racional precisaram ser reformulados por ignorarem diversos fatores, ou melhor dizendo, que além de a imaginação ser o pedestal da evolução, ela deve andar sempre lado a lado com o raciocínio lógico para que este não se perca.
É legal deixar que os campos imaginários se entrelacem em seu cérebro e esperar para "ver onde vai dar", por exemplo: todos já ouviram alguém dizer que duas retas paralelas se tocam no infinito, mas todos também já ouviram dizer que isso é infundado. Se você levar em consideração o conceito de retas paralelas, retas que mantêm sempre a mesma distância entre si, perceberá racionalmente que é uma idéia infundada. Mas tente abstrair a idéia, esqueça a teoria e pense na seguinte situação: dois prédios foram construídos lado a lado e você está muito próximo a eles; você verá entre eles uma enorme distância. Então, você se afasta um pouco, essa distância diminuirá; se você se afasta tanto que chega a vê-los no horizonte, apesar de estarem na mesma posição, parecem estar muito mais próximos. Agora imagine que os prédios possam se mover (afastam-se) e você fica parado: você estaria enxergando o desenvolvimento de duas retas paralelas. Se, a medida que eles se afastam, ficam mais próximos, quando se afastarem infinitamente, se tocarão. Surge, então, um conflito entre o que você imagina e o que é racional: apesar de parecerem mais próximos, se feita uma medição, estão à mesma distância de antes. Acontece que a visão espacial que nós temos é muito limitada, por isso há presença desses choques. Se a utilizarmos para situações terrenas, a construção de um prédio ou de uma rodovia, ela é funcional, mas se a expandirmos para um pensamento universal, ela chega a ser ridícula. basta pensar que, por exemplo, quando achamos que estamos caminhando em linha reta pelo planeta, sua esfericidade torna nossa trajetória curvilínea. Deve-se perceber uma relatividade nas medidas, abrir a mente e aceitar que nada é fixo - como aprendemos no colégio que a velocidade, a presença ou não de movimento em um corpo, depende de um referencial.
Se agora acreditamos que as retas se tocam no infinito, surge outro dilema causado pelo erro conceitual: os números são infinitos, logo, as pessoas pensam que é impossível contar até o "fim" dos números; se as retas se tocam no infinito, mas é impossível chegar até ele, então do que adianta modificar nossa visão espacial?
Os números são infinitos porque o homem ainda não sabe afirmar qual é o seu limite e nem tem idéia se ele existe e o que o causaria, por exemplo, se soubéssemos o funcionadmento de todos os fenômenos de todo o universo e os tivéssemos descritos na matemática, poderíamos por exemplo pegar o ápice da situação de módulo mias elevado e a chamar de limite dos números, ou somar os ápices de todas as situações e a considerar o limite, quebrando assim, o infinito dos números. O infinito não é algo impossível de se chegar, mas sim, algo que o ser humano ainda desconhece. Apesar de a imaginação nos permitir perceber que as retas paralelas se tocarão em algum ponto muito distante, não podemos ainda afirmar qual (por isso, no infinito, no desconhecido), sendo função agora do raciocínio, em cima da imaginação, encontrar esse ponto e quebrar mais um infinito até que este não exista.
Deve-se perceber então que o erro é essencial, porque quando se constrói um sistema em cima de algo, sua aplicação permite perceber que esse sistema está errado e tendencia a construção de um mais coeso e assim sucessivamente até que não sejam mais encontrados "infinitos" (para entender o infinito no plural, deve-se lembrar que o infinito é apenas um conceito, não é uma constante numérica, logo, existem vários infinitos de tamanhos variados porém de conceito constante: algo que se desconhece; pode-se provar isso através do tamanho diferente do grupo dos números naturais e inteiros, apesar de ambos serem infinitos).
O que não pode acontecer é, ao encontrar uma falha nesse sistema, ignorá-la e persistir nele, estagnando a evolução.
Esses limites encontrados nos permitem questionar diversos conceitos básicos de nossa visão espacial, por exemplo: ao se pensar que há três possíveis posicionamentos entre duas retas: coincidentes (apesar de um conceito também polêmico, nossa própria visão retrógrada já é capaz de prová-lo verdadeiro), paralelas (seguindo o raciocínio feito até aqui, a provamos falsa) e concorrentes. Mas como podemos afirmar essas posições se as retas são infinitas juntamente com o universo? Como podemos afirmar que, no fim do universo, o comportamento dessas retas não será totalmente diferente do que imaginamos?
O conceito de "fim do universo" pode soar ainda estranho à sua cabeça, mas lembre-se de que antes da comprovação da esfericidade da terra, o próprio oceano era infinito (dentro dos conceitos matemáticos) e havia um continente inteiro nesse infinito, algo antes ignorado e que hoje influencia todo o funcionamento e desenvolvimento mundial.
Aqui começa a idéia de uma forma de ver a vida totalmente diferente da que nós temos, pois, quando imaginamos o tempo, a nossa linha da vida, a imaginamos como uma reta em nosso conceito retrógrado. Suponhamos que o universo funcione de maneira a distorcer uma reta completamente, apesar de, ao seguirmos através dele, nos mantenhamos em linha reta (no nosso conceito) perante a nossa visão; imagine que, na verdade, o fim do universo seja uma espécie de retorno ao início (o que eu imagino que, em alguns milhares de anos, será considerado uma idéia retrógrada, assim como pensar no fim do oceano como o limite de tudo; mas, como supracitado, o erro é essencial para a evolução, representa cada vez mais a queda de barreiras e leva sempre ao fim de um ciclo e início de outro; portanto, devemos estabelecer limites em tudo para que possmaos evoluir até ele e quebrá-lo; eu escolhi, como limite, o universo). Se pensarmos assim, a reta é uma figura que não existe na forma como imaginamos: na verdade, a própria reta corta ela mesma e, nessa distorção do universo, quando se pensa em retas e em um ciclo, essas retas se cortam simultâneamente várias vezes em diversos pontos e cortam a si mesmas também diversas vezes.
Imagine esse trajeto do universo agora como um ciclo da vida: a partir do ponto onde a reta corta ela mesma, a pessoa nasce, morrendo no ponto onde a reta se corta novamente. Imagine essa linha da vida coincidindo com a linha do tempo.
Pensando assim, a linearidade do tempo acaba completamente, ele progride muito mais lentamente do que pensamos e uma pessoa volta a um ponto onde já esteve em um ciclo de vida várias vezes, fazendo do tempo uma espécie de mola, que contrai e, ao se soltar, avança um pouco, contraindo novamente em seguida e assim sucessivamente. Assim sendo, nós estamos voltando no tempo em todo o início de um ciclo e modificando a nós mesmos e a história, tornando o mundo algo passível de mudanças a todo momento. Mas como funcionaria esse retorno a um ponto onde você mesmo ainda está vivo? A resposta a isso seria uma idéia muito próxima à reencarnação: quando você nasce, você pode estar, simultaneamente, vivendo em outro corpo sem saber disso, mas que, na nossa visão cronológica, você já passou por todo seu ciclo ou ainda passará. Logo, se você está agora em uma sala cheia de pessoas, ao levantar a cabeça e olhá-los, é possível que você esteja olhando a si mesmo em outros corpos.
Mas se você for pensar assim, esse ciclo pode ser mais complicado do que parece: e se, por exemplo, ao matar uma pessoa, você mata a si mesmo? Imagine que você estará influindo na reta de seu próprio ciclo, fazendo-a pular para o ponto em que ela intercepta ela mesma (como uma disfunção), e isso poderá influenciar em seu próximo início ou em todos os seus ciclos.
Mas e se, por exemplo, alguém voltar no tempo e modificar toda a história da humanidade? É como se todos os progressos já feitos estivessem de alguma forma planejados e mudanças profundas fossem evitadas pelo próprio pensamento e instinto humano: por isso nunca houve uma real revolução, global e que alterasse todos os aspectos do mundo, isso desajustaria o ciclo.
Logo, estou dizendo que o instinto ruim humano é capaz de descontrolar a si mesmo, mas é necessário para controlar, manter no "eixo", os ciclos em geral.
Porém, acho que a forma mais adequada de se pensar é que, na história, não existe início, meio ou fim: toda ela está sendo construída simultaneamente e, por isso, as retas também se cortam entre si em vários pontos, um ponto da história está influenciando outro e ciclos distantes, dessa forma, se influenciam de qualquer forma e a qualquer momento.
Isso pode nos levar a refletir sobre a velha história de Deus estar dentro de nós mesmos, porque essa teoria nos permite pensar na história como vários organismos gigantes onde uma só reta constrói um período inteiro e abrange todos os ciclos presentes nesse período: cada período teria uma reta só que se cortaria em um enorme número de pontos, fazendo com que, nesse momento, todas as pessoas do mundo sejam você e inclusive a maioria das que ainda são lembradas, apesar de já estarem mortas (lembradas por parentescos recentes e não por feitos históricos) e inclusive algumas que já foram esquecidas.
Se progredirmos nessa idéia, poderíamos pensar em, ao invés de várias retas, uma reta só que representa todos os ciclos de vida da história, logo, você sou eu, nós somos todos, fomos todos e seremos todos; eu, você e todo o resto do mundo somos o que conhecemos como Deus e, ao reclamarmos por ele não mudar as coisas, reclamamos de nós mesmos (nesse ponto já não sei se ainda devo usar o plural) por nós termos vivido todas as vidas, termos realizado tudo de bom na história e, ao mesmo tempo, tudo de ruim, nunca mudando nada por não termos essa visão apresentada agora e por termos agido de acordo com as restrições e as formas de pensamento que cada corpo nos impôs. Tudo que alguém fez de ruim pra nós mesmos em nossa vida, foi feito por nós mesmos.
Claro que isso tudo, como deixei bem claro no início, é uma suposição, não significa que eu acredite nem dúvide disso, que eu brigue para que aceitem que é a verdade nem que eu permita que digam que é um absurdo, mas minha intenção é demonstrar aonde, quebrando o campo de pura racionalidade e os preconceitos, nossa imaginação pode nos levar.