quinta-feira, 9 de outubro de 2008

O que trouxe, o século XV, para o mundo?

Até o início do século XV, o mundo vivia em uma sociedade feudal, isto é, uma sociedade essencialmente agrária com uma economia voltada para a subsistência. Essa sociedade surge com as invasões bárbaras ao Império Romano, o qual acabou por se fragmentar em vilas e estas, posteriormente, formaram os feudos (vale lembrar que os bárbaros, baseados no contato com essa nova cultura, também formaram estruturas feudais, com base no "Comitatus").
Esse clima foi amplamente favorável (obrigou) à formação dos feudos, pois os senhores tiveram de passar a defender a si mesmos com o alastramento bárbaro; os camponeses, precisando de proteção, se resguardavam nos feudos e trabalhavam, em troca disso, nas terras (por isso eram presos à terra, o que inclusive originou as "Jacqueries" posteriormente, camponeses que queriam ir para as cidades e se tornar homens livres), tendo um embasamento no sistema de "Colonato" (que surge em Roma; com a crise da expansão romana e o excesso latifundiário, os latifundiários acabm por arrendar suas terras para que o plebeu pobre possa trabalhar nela e o apgar com parte de sua produção) e a "Clientela" (também romano, quando o plebeu se dispunha a prestar serviços ao patrício em troca de proteção jurídica). O funcionamento da economia se baseava em camponeses que trabalhavam nas terras dominais (terras de onde toda a produção ia para o Senhor Feudal) para pagar a "Corvéia", "tinha" um lote para exploração onde metade da produção era para seu consumo e, a outra metade, para o Senhor Feudal, a chamada "Talha"; pagava pelo uso do moinho e ferramentas, "Banalidades", anualmente pagava uma taxa chamada "Capitação" e ainda era obrigado a pagar a "Herança" para "herdar" as terras do pai (uso "herdar" e "tinha" entre aspas porque essas terras pertenciam, oficialmente, ao Senhor Feudal.
Logo, o camponês sustenta a economia feudal, dá condições de defesa para a sociedade, realizada pelo Senhor Feudal. Os pedestais "Colonato", "Clientela" e "Comitatus" somados à situação criam uma sociedade de subsistência (o comércio surge posteriormente), apoiada economicamente no camponês, totalmente descentralizada (apesar da existência de um rei, este era impossibilitado de governar de forma abrangente pelo poder da igreja, única estrutura centralizada na época e que possuía o controle da cultura, e pelas relações de suseraniaa e vassalagem, onde o suserano criava um laço com o vassalo para aumentar seu exército e, este com aquele, por necessitar de terras ou camponeses; deve-se ver o rei como uma espécie de suserano-mor), de baixo nível de informação (conhecimento atrelado à igreja) e com um fraco comércio, que se torna crescente até seu fim.
Surge então, na Europa, um quadro de instabilidade trazido por uma mudança climática (baixas temperaturas e aumento na concentração de chuvas) que ocasiona fome, surge a "Peste Negra" e a "Guerra dos Cem Anos". Vale lembrar que, até aí, a europa passava por um crescimento populacional pelo desenvolvimento da agricultura e desaparecimento de boa parte das epidemias, o que permitiu acúmulo de produção, excedentes, que acabou por desenvolver o comércio.
Com essa crise, a Europa passa a necessitar de mais terras cultiváveis, população que possa produzir matéria prima e consumir produtos manufaturados. A solução seria a junção dos feudos em torno de um poder centralizado para realizar uma expansão territorial, busca por novas rotas de comércio (lembrar que o Mar Mediterrâneo está dominado pelos italianos, cobrando grandes impostos comerciais), é nesse contexto que surge a "Expansão Marítma".
A centralização do poder interessava aos burgueses por extingüir os pedágios que pagavam ao atravessar de um feudo ao outro com mercadorias (pedágio que já não existia em alguns locais pela formação das "Hansas", ligas de cidades comerciais), além de possibilitar um sistema único de comércio, que tornaria a prática mais justa. Estes, por sua vez, sustentariam o Estado Nacional, já que o comércio, a essa altura, já era a principal atividade econômica da época.
A nobreza, que já entrava em decadência por essa crise, via no apoio à formação do Estado Nacional uma forma de manter seus títulos e apanágios e, ao mesmo tempo, eram necessários para realizar a defesa do Estado Nacional, além de, pela tradição, sua opinião ter um enorme peso.
Mas ainda havia um problema na formação: a Igreja. A Igreja tinha uma influência enorme na sociedade já há mais de três séculos, mantendo-se em conflito com os reis (como na questão das "Investiduras", onde Henrique IV, imperador do Sacro-Império Romano Germânico, entra em choque com o papa Gregório VII; O papa dificultava a obtenção de cargos religiosos e boa parte do Sacro-Império Romano Germânico era composta por feudos religiosos. Assim, Henrique IV , com o apoio de bispos alemães, não aceita a decisão. Porém, com esse conflito entre poder da religião e dos reis, os imperadores alemães, em oposição aos bispos, apóiam o papa. Henrique IV, portanto, acaba derrotado e passa três dias implorando perdão ao papa; quando o perdão foi concedido, ele volta ao poder e invade a Itália, obrigando Gregório VII a se refugiar no sul) pelo poder; portanto, era claro que uma centralização e cedição de mais poder a um rei não teria o apoio da Igreja.
Para se entender a resolução desse impasse, devemos lembrar que passávamos pelo "Renascimento", movimento de resgate e renovação da cultura clássica (valores como o humanismo, antropocentrismo, individualismo, racionalismo e a presença de um espírito crítico). A escolástica tendo como principal nome São Tomás de Aquino (o qual se baseava nas idéia de Aristóteles), retira, em parte, o conflito entre fé e razão (em parte porque ele existe até hoje, mas em intensidade diferente), argumentando que ambas tem como busca o entendimento do homem perante o mundo, a vida, não havendo motivo para o conflito. Essa racionalidade se funde aos abusos (venda de indulgências, "tão logo tilintar a moeda, a alma ao céu sairá a voar") e a imoralidade da Igreja resulta nas "Reformas Protestantes" ("Calvinismo", "Luteranismo" e, complicado de citar por não ser um rompimento muito relacionado a esses fatores, mas mais por fatores internos ingleses, o "Anglicanismo"). A Igreja condenava a usura, o lucro, e isso era um atraso à economia da época, um conflito mental que acaba por se tornar incompatível com o momento (segundo a Igreja, o lucro estava relacionado com o tempo e este pertencia a Deus, logo, não se podia vender algo divino). Em oposição a isso, as doutrinas protestantes se encaixam no pensamento burguês, como o "Calvinismo", que exaltava o trabalho, a poupança, tinh auma visão de predestinação amplamente relacionada com a riqueza terrena.
Logo, para completar a formação dos Estados Nacionais, surge a solução de aderir às reformas protestantes e, em conseqüência dessas, com o surgimento da "Contra-Reforma Católica" (uma reação da Igreja Católica às reformas; as reformas surgiram na tentativa de revisar os dogmas da Igreja e, quando esta viu a situação se tornar insustentável, foi obrigada a fazê-lo. Apesar de manter preceitos como a infalibilidade papal e o celibato clerical, fez mudanças como a proibição da venda das indulgências, a criação da "Companhia de Jesus", do "Index" (Índice de livros proibidos) e a reaparição do "Tribunal da Santa Inquisição"), uma nova solução automática: a Igreja se vê obrigada a apoiar a formação dos Estados Nacionais para manter essas áreas como dominação católica e, através da mentalidade expansionista dos Estados Nacionais, expandir junto a fé cristã católica, ampliando sua área de influência.
Países como a França, Inglaterra e Suíça (onde se iniciou o Calvinismo) seguiram a "Reforma Protestante" e países como Portugal e Espanha se mantiveram ao lado da Igreja Católica.
Logo, chegamos ao fim da sociedade feudal e início da sociedade capitalista, com profundas mudanças em todos os aspectos da sociedade. A Igreja Católica já não mais domina a cultura e o saber, estando ele mais acessível (apesar de isso dar a impressão de uma Idade Média como Idade das Trevas, vale lembrar que as universidades surgem nessa Idade Média), o comércio substitui a agricultura como principal atividade econômica, desligando, portanto, aquela idéia de a terra representar a riqueza e eliminando a visão de uma economia de subsistência para uma economia baseada em excedentes para o comércio, o camponês deixa de estar preso à terra mas continua dependente, porém, ao invés de ser do Senhor Feudal, passa a ser da burguesia, vendendo sua força de trabalho; surge o proletariado (o conflito entre camponês e senhor feudal se transforma em conflito entre operário e burguesia).
Todo o contexto do mundo a partir da metade do século XV é possibilitado a partir dessas mudanças, que tornarão possível a expansão marítma, iniciada por Portugal e seguida pela Espanha, os dois Estados mais adiantados. Portugal vem primeiro pela Revolução de Avis: a morte de D. Fernando de Borgonha deixa o trono sem descendentes e gera uma disputa entre burgueses e nobres conservadores (buscavam reafirmar o feudalismo). Os burgueses vencem e consolidam o Estado Nacional Português, primeiro Estado Nacional formado. Por ser o primeiro Estado Nacional, já possuir uma cultura de pesca e comércio marítmo com o norte da África, era inevitável que os portugueses fossem os primeiros na expansão marítma.
Na expansão muçulmana, após a consolidação do Islamismo no século VII por Maomé, boa parte da Península Ibérica havia sido dominada por estes. Os europeus, impulsionados pelas "Cruzadas" (movimento para dominação de Jerusalém - terra sagrada - segundo a Igreja, mas claro que ia muito além disso: a Europa passava pela evolução agrícola, por uma diminuição de epidemias e pela instituição da chamada "Trégua de Deus" - onde a igreja impunha dias nos quais não era permitido guerrear - logo, havia um aumneto na população, não só de camponeses, mas nobres também e em quantidades maiores do que a amplitude de terras, acabando por inchar o exército; nesse mesmo período, como já foi citado, ocorria um aumento da atividade comercial. Logo, com as cruzadas, a Igreja conseguiria mais terras, expandiria as rotas comerciais, desincharia o exército, diminuiria a população em geral - famosa "Cruzada dos Mendigos" - e expandiria a fé católica. Provas desses interesses estão na quarta cruzada, que apenas saqueou Constantinopla, nem chegando a Jerusalém, e em lembrar que Jerusalém era uma importante cidade comercial. Vale citar a terceira cruzada como a mais marcante de todas pela sua violência, tendo nomes como Ricardo Coração de Leão e Barbaruiva), iniciam as chamadas "Guerras de Reconquista", com o objetivo de expulsar os muçulmanos da Península Ibérica. Essas guerras formam os reinos de Castela e Aragão que, com o casamento de Fernando de Aragão e Isabel de Castela, acabaram se unificando e formando o Estado Nacional Espanhol. Essas questões atrasaram um pouco a Espanha em relação a Portugal, mas a adiantaram em relação a outros países.
Inicia-se, então, o processo que aprofundará as mudanças em todos os aspectos da sociedade no mundo todo: as "Expansões Marítmas".