quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Diálogo de "Retrato de Dorian Gray", de Oscar Wilde

"(...)
-Quer então que eu defenda o meu trono?
-Quero.
-Ou diga as verdades de amanhã?
-Prefiro os erros de hoje, respondeu ela.
-Desarma-me, Gladys.
-Do seu escudo, Henrique: não da sua lança.
-Nunca pelejo contra a beleza, volveu êle, com um aceno de mão.
-É êsse o seu êrro, Henrique, creia-me. Exagera o valor da Beleza.
-Como pode dizer isso? Penso que vale mais ser belo do que ser bom. Mas por outro lado, ninguém primeiro do que eu reconhece que vale mais ser bom do que ser feio...
-Então a fealdade é um dos sete pecados mortais? exclamou a duquesa. Que é feito do seu simile a respeito da orquídea?
-A fealdade, Gladys, é uma das sete virtudes mortais. Como boa Tory, que é, não as deve menosprezar. A cerveja, a Bíblia e as sete virtudes mortais fizeram a nossa Inglaterra, o que ela é.
-Então não gosta da sua terra?
-Vivo nela.
-Para melhor poder censurá-la.
-Quer que eu adote a opinião da Europa sôbre ela?
-Que dizem de nós?
-Que Tartufo emigrou para Inglaterra e abriu uma loja.
-É sua essa frase, Henrique?
-Dou-lha
-Não me poderia servir dela. É verdadeira demais.
-Não tem que recear. Os nossos patrícios nunca reconhecem uma descrição.
-São práticos.
-São mais manhosos que práticos. Quando escrituram os seus livros, saldam a estupidez com a riqueza, e o vício com a hipocrisia.
-Contudo, temos feito grandes coisas.
-As grandes coisas é que foram atiradas ao nosso encontro, Gladys.
-Suportamo-lhes o pêso.
-Sòmente até à Bôlsa.
Ela abanou a cabeça e exclamou:
-Creio na raça.
-Representa a sobrevivência do impulso.
-Tem progredido.
-Fascina-me mais a decadência.
-E que diz da Arte?
-É uma doença.
-E o Amor?
-Uma ilusão.
-E a religião?
-Uma coisa que a moda inventou para substituir a crença.
-É um cético.
-Nunca! O ceticismo é o comêço da Fé.
-Que é você?
-Definir é limitar.
-Dê-me um rastro.
-Os fios partem-se. Extraviar-se-ia no labirinto.
(...)"

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Bom, "O Retrato de Dorian Gray" é um livro composto por diálogos interessantíssimos, o que me impossibilita de selecionar apenas um e ficar satisfeito com a minha postagem, levando em consideração que esse está longe de ser um diálogo que se destaque perante aos outros; é um livro que todos devem ler durante a vida; ou melhor dizendo, antes de completarem vinte anos.
Dedico a minha leitura e todo o meu aprendizado (na verdade, agradeço) à minha falecida tia Letícia Maria Recipute (Inscreve-se no livro que ela o recebeu no dia 21/09/1960).