quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Morte anterior à vida

Só quem já tocou em um cadáver sabe qual a sensação.
No início eles são moles, flácidos, como uma mulher que grita por socorro em vão enquanto é estuprada em um beco sujo por um homem nojento. Depois, porém, eles ficam rígidos - tão rígidos que, se fechar os olhos enquanto os toca, pode ter dúvidas quanto a quem está morto: você ou ele.
Dizem que uma pessoa só se sente viva quando em contato com outras pessoas; eu ouso discordar. A vida nada mais é do que um caminho em direção à morte - se você não se aproxima dela, não vive, e quanto mais se tem contato com ela, mais se sente vivo (experimente alguns segundos com uma arma carregada e apontada para sua cabeça).
Quando se toca uma pessoa viva, sente-se um pouco do que ela é: a textura de sua pele, a sensação provocada pelo toque - onde ela gosta (ou não) de ser tocada. Quando se toca um cadáver, tem-se a sensação do que é ser você: as unhas roídas se comprimindo contra a carne de seus dedos, suas doenças, hipocrisias, medos e desejos. É quase como tocar a si mesmo (e, de fato, talvez seja o mesmo, já que, para nós, nossas próprias vidas nunca são interessantes, o que não nos torna diferentes de uma pessoa morta).
Tocar um cadáver é como fazer com que seus dedos entrem em suas mãos, seu cérebro vire do avesso e se torne nítido, claro; tocar em um cadáver é nojento.
Já pensou em transar com um?