quinta-feira, 3 de julho de 2008

Mas afinal, o que é rock n' roll?!

Não se preocupe, não estou aqui pra discutir sobre os óculos do john e muito menos sobre o olhar do Paul. Acontece que chega um momento, depois de vários e vários anos de música, de ver que você teve várias fases terríveis e fases excelentes musicalmente, você se pergunta: "Sou eu um músico de verdade, ou apenas penso ser um?". O mais engraçado é que, a maioria que responde ser um músico de verdade, é um gordo nerd, espinhento e metaleiro que assiste o seu ídolo fazer 352,5 notas por segundo na guitarra e grita "UAU, é o melhor guitarrista do mundo" não importa se as notas fazem algum sentido ou despertam alguma emoção.
Isso, exatamente isso, é uma das coisas que mais me irritam nesse mundo. Não que eu seja radical, por exemplo, eu adoro Pink Floyd, acho sem dúvidas a melhor banda da história do rock; se eu fosse radical, estaria aqui dizendo que Pink Floyd é enjoativo e eu prefiro as quatro garotinhas de Liverpool dançando e causando arrepios nas garotinhas da platéia (não que eu não goste de Beatles, até gosto de algumas coisas, mas tenho raiva de dizerem ser a melhor banda da história ou a banda mais importante do rock, consigo citar sem respirar 10 bandas melhores e mais importantes que Beatles no rock). Mas é claro que tudo tem um nível sadio, o simples pode soar complexo (como eu considero Pink Floyd, não é que seja simples de tocar, mas é que não depende puramente de uma técnica absurda, mas sim de um puta feeling inexplicável que o David Gilmour possui) ou o complexo soar simples, e nem por isso deixar de ser bom. Onde eu quero chegar é que, na verdade, não importa qual o grau de dificuldade de algo ser tocado, o importante é como esse algo soa aos nossos ouvidos, o que nos faz sentir, se nos deixa arrepiado ou nos dá vontade de pular de um prédio, sair de casa correndo sem ter pra onde ir, entrar em um carro e ir pra qualquer lugar, isso é música, é sentimento puro, é espontaneidade, é expressão. Quando se ouve uma poesia, não importa se quem a recita consegue dizer 80 ou 20 palavras por segundo, o importante é sentir o que o autor tem a nos dizer. O problema é que, se a pessoa demora muito pra perceber isso, fica difícil tirar o conceito porco de música da cabeça dela e colocar um conceito decente, é por isso que eu digo que a maior parte da culpa são dos professores bestas que esquecem de ensinar a primeira lição pros alunos: "TÉCNICA É DETALHE, É UM CAMINHO PRA SE ALCANÇAR ALGO, NÃO É TUDO O QUE IMPORTA E NA VERDADE NEM IMPORTA, CONTANDO QUE SE ATINJA O OBJETIVO DESEJADO".
Repito, não estou dizendo que tudo que tem técnica é ruim, mas vou dar um exemplo:

http://www.youtube.com/watch?v=1qAA1Fb3dBY
Acho que qualquer pessoa em sã consciência no mundo já ouviu Comfortably Numb, Pink Floyd. O vídeo acima é essa música reproduzida pelo Dream Theater. Notem que logo aos 2 minutos o animal já consegue errar a letra, mas tudo bem, a gente perdoa, isso são detalhes à parte. Aos 2:15, no primeiro solo, o guitarrista se limita a reproduzir a guitarra do Pink Floyd, mas cheia de erros (caso você não seja guitarrista, saiba que reproduzir um solo com uma dificuldade não tão grande como esse, apesar de ser um lindo solo, pelo menos 40 guitarristas da sua própria cidade conseguem sem problemas, isso se você não morar em uma capital). Mas finalmente chegamos ao interessante: ao solo que se inicia em 4:35 minutos e vai se integrando com "reis-deuses-mestres" do rock como o grande John Petrucci. Até os 6 minutos de música, note que ele se limita a simplesmente reproduzir o solo, coisa que, como já disse e espero que não se esqueça, pelo menos 40 pessoas em um raio de 100 km de você conseguem fazer sem maiores problemas (não reproduz fielmente, mas até aí não há nenhuma monstruosidade). Note que, a partir daí, reune-se uma "gangue", os amiguinhos metaleiros demoníacos a se ajudarem. O que falar sobre esses caras? São caras que estão acostumados a tocar um só tipo de música desde crianças, com extrema velocidade. Note que, se você pegar essa guitarra e colocar em uma música do Ozzy (não que eu não goste de Zakk Wylde ou Toni Iommi, muito pelo contrário, acho eles extremamente talentosos) vai dar na mesma, porque eles não estão ligando pra que tipo de base tá rolando ou que tipo de música eles tão tocando, eles tão fazendo o que o pequeno cérebro de tamanho aproximado ao de uma azeitona manda eles fazerem. Depois chega mais um da gangue e a música vira uma festa dos headbangers e um funeral do rock pras pessoas de bom senso. Assista o resto desse vídeo e descubra se você realmente sabe o que é ser músico ou se gosta de firulas, se você não consegue enxergar a brutalidade, a afronta com o rock, que esses três peraltas realizaram durante esse vídeo, sinceramente, pense em uma marca de cigarro de que você goste, coloque DJ na frente e mude de ramo musical. Assista o resto do vídeo ignorando técnica, lembre-se que música não depende de como foi feito, simplesmente depende do que foi passado.

Agora, observem o mestre:
http://www.youtube.com/watch?v=1Qt6b8B5Bd4
Infelizmente esse vídeo tá com um pouco de delay, mas no solo final, só feche o olho e ouça, vai perceber claramente a diferença entre um guitarrista de verdade e um mero metaleiro sem noção musical. Note que o que mais chama a atenção não é a técnica, ele não se utiliza de velocidade extrema e etc pro solo, ele simplesmente toca, e atinge um patamar pelo menos 200 vezes mais elevado do que o mostrado anteriormente pelo Dream Theater.

Eu também não sou contra técnica, existem solos excelentes que exigem técnica e eu gosto absurdamente, como em Free Bird do Lynyrd Skynyrd. Esses dias eu liguei a MTV (coisa que eu raramente faço, mas de vez enquando é bom rir de umas bobagens) e acabei pegando um top top clichês, descobri que o mesmo de gritar "Toca Raul" aqui no brasil é gritar "Free Bird" nos Estados Unidos, pelo solo extremamente difícil de ser executado da música. Apesar dessa dificuldade, ele não é simplesmente técnica, é um feeling absurdo junto com técnica, é uma técnica como forma de expressão, e é magnífico.
http://www.youtube.com/watch?v=7PENBU3lrpE
Neste vídeo Lynyrd Skynyrd o executa ao vivo, dá pra entender bem o que eu tô dizendo.

Muito além da técnica, lembremos que um dos maiores guitarristas da história (se não o maior) não era um guitarrista estudado, tinha uma habilidade monstruosa na guitarra mas não era estudado, era bom simplesmente por ter nascido bom, mas não se importava com o quanto estava impressionando, simplesmente tinha um feeling "exalante" que impressionava platéias e impressiona jovens até hoje. (http://www.youtube.com/watch?v=SW3dUgCHnL4)
Além de, por exemplo, Bob Dylan, que sabia tocar um violão mais ou menos, cantava mais ou menos, mas compôs letras que influenciaram jovens por todas as gerações até hoje, seja direta ou indiretamente.

Música é atitude, sentimento, alma, espírito.
Não consigo enxergar a técnica como TUDO pra nenhum desses quesitos.