sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Filosofias de boteco


Hahaha! Desculpe, mas esse texto precisava se iniciar com uma gargalhada; já notaram que a gargalhada de um louco, que pra gente é uma demonstração de aprofundamento na insanidade, para ele pode significar um passo em direção à sanidade? Ou quem sabe não possa ser o inverso? Quem define a sanidade? Talvez Einstein e suas peripécias relativas.
A fórmula ao lado apenas demonstra, a princípio, um conceito ao qual estamos muito familiarizados: quanto mais próximos estamos de uma fonte emissora de sons, mais intensamente os ouvimos. Indo além, porém, percebemos também que, nesse momento, estamos ouvindo todos os sons do mundo, porém "alguns" com intensidade tão baixa que se tornam imperceptíveis. Entrando no campo da filosofia, o único som que não se ouve é o som que sai exatamente de onde ele é emitido, pois a área seria zero e, assim, a intensidade seria anulada.
Logo, a única coisa que não ouvimos é a nós mesmos; bem onde procuramos o autoconhecimento (hahaha). Procuramos, procuramos, não o encontramos; o que fazer? Leia-mos os clássicos, os consagrados, os distantes filósofos. Ó, tão sábios, porém tão distantes, como apreciar uma música que agora está sendo tocada a uma distância tão grande de você? Você a ouve, mas em intensidade tão baixa que nem é capaz de notá-la. Então como se autoconhecer? - pergunta o interlocutor desesperado.
Se algo estiver tão próximo de uma fonte sonora que a área seja quase zero, mas não zero, então a intensidade sonora recebida por este será de uma grandeza imensamente pleonástica. Que mundo irônico, nascemos todos hostis e diferentes, os que se julgam sábios passam a vida procurando respostas em livros escritos por pessoas que nunca as encontraram, os que se julgam espertos demais passam a vida desprezando quem está ao seu redor e buscando verdades de forma introspectiva quando, na verdade, os únicos que têm chances de encontrá-las talvez sejam os desprezados, os que não são sábios ou espertos, os que vivem a vida simplesmente e, talvez, nem busquem respostas. A única forma de se autoconhecer é deixar que alguém se aproxime tanto de você que possa compreender, sobre você, o que nem mesmo você compreende.
A ironia maior é que, duas ondas de freqüências iguais ou muito próximas, ao se interferirem, têm grandes chances de ter pontos de amplitude simplesmente igual a zero ou muito próximos a isso. Porém, ondas de freqüências diferentes, essas sim, muito improvavelmente terão pontos iguais a zero e podem ser construtivas ou destrutivas. É muito fácil se aproximar de alguém que se pareça muito com você, mas esse talvez tenha as mesmas dúvidas e anseios que você, como peças iguais de um quebra-cabeça. Para se autoconhecer, deve-se enfrentar o desafio de se aproximar daquele que se difere totalmente de você, outra ironia: apesar de tão diferentes, são exatamente as peças que se encaixam; para uma peça se encaixar na outra no quebra-cabeça, elas devem possuir uma superfície totalmente diferente e, quando essas e todas as outras se encaixam, tornam possível que se reconheça a imagem; quando todas as idéias se encaixam, é possível reconhecer o contexto final.
Por mais incrível que possa parecer, só aqui começa a piada. Se há um Deus, ele poderia ter criado todo esse funcionamento ao contrário: poderíamos ouvir melhor quem está extremamente distante de nós e mal quem está próximo. Que idéia louca e totalmente incoerente! Se vivêssemos em um universo que funcionasse dessa forma, o funcionamento do nosso soaria totalmente louco e incoerente. Talvez nosso universo funcione assim porque esse Deus queria que alguém, um dia, olhasse para essa fórmula e entendesse tudo isso. Talvez, por dez segundos, eu tenha conseguido conhecer o que é o foco do olhar de Deus.
Hahaha!