quarta-feira, 26 de novembro de 2008

O Sonho (E A CABEÇA NO INFERNO DA MENTE)

Tudo era escuro, não havia nada ao meu redor, em todo o horizonte, além de meu corpo. Eu estava caindo, mas sentia como se houvesse um chão; então, corri, gritei, corri, corri, gritei e, de repente, várias espécies de tentáculos de água começaram a surgir ao meu redor e percebi que não mais estava correndo, ou caindo, ou gritando. Flutuava e esses tentáculos me envolviam e roçavam em meu corpo; alguns tentavam esmagar meus braços e minhas pernas, mas simplesmente passavam por mim, como se eu (ou eles) fosse transparente. Lá embaixo, muito lá embaixo, enxerguei-me correndo, mas não me desesperava, apenas sentia os tentáculos, frescos, suaves, envolverem meu corpo.Pisquei os olhos e estava novamente correndo, correndo, até que trombei em um muro. Quando notei, estava cercado por um muro enorme e intransponível. A CABEÇA NO INFERNO DA MENTE, e um grande jato de fogo começou a passar por mim; sorri, não o sentia. A CABEÇA NO INFERNO DA MENTE. De repente, tudo queimava e pessoas se desesperavam, esmurrando o muro; de repente, eu sentia o fogo queimar e, como várias pessoas, gritava: "Morte! Deus! Deus! Morte! Rápida Morte! Rápido Deus!". E A CABEÇA NO INFERNO DA MENTE; de repente, alguns corpos se tornavam fogo e flutuavam e não sentiam mais a dor e sorriam; alguns tentavam subir também, e os corpos-fogo os empurravam de volta ao fogo, e tudo era "Deus, rápido Deus, rápida morte, rápido morte, Deus morte rápido". A CABEÇA NO INFERNO DA MENTE, um balde gigante e cheio de água aparece sobre nós, mas não derramou; de repente, percebi que eu tinha um balde vazio em minhas mãos, e todos tinham. O balde enorme começou a despejar água em nossos baldes e, as pequenas gotas que ele errava e caíam no fogo, as pessoas apontavam e gritavam: "Milagre, milagre!" e em poucos segundos o local era convertido em fogo novamente. E ninguém jogava seus baldes de água no fogo, tudo era "Deus, morte, rápido, morte ao Deus, que Deus nos salve!".De repente, todos éramos fogo e uma grande corrente de ar nos sugava para o cano de um revólver, nos compactamos e éramos uma bala. Podia ver pelo cano do revólver o nada e, de repente, um gatilho foi puxado, todos gritamos e voamos, juntos, por uma planície. Já não éramos uma bala e, a medida que voávamos, tomamos forma de uma lança de fogo e eu avistei uma cruz. A antingimos em cheio, porém, não havia ninguém nela; explodimos como lindos foguetes no céu, como A CABEÇA NO INFERNO DA MENTE.Estava em meu quarto, em cima de uma mulher, e eu precisava terminar de comê-la logo, porque ia vomitar e o sangue já não circulava mais em minhas veias, e ela gemia, e estava pálida como o demônio, o demônio, o demônio, e estava morta, ao lado de minha cama, um gravador gemia e eu tremia, e lembrei-me que no início havia uma estrela e velhos corriam atrás dela e, de repente, o brilho lindo dessa estrela começou a se intensificar demais, e todos ficavam cegos, e todos explodiam e a cabeça encontrou o inferno cego da mente. E vomitei no corpo do cadáver, corri pela porta do meu quarto e sempre que passava por ela saía novamente em meu quarto, e lá estava o cadáver do demônio morto e estuprado por mim, corria, passava pela porta, quero a verdade, a verdade, a verdade, a verdade, a verdade, a maldade, a maldade, a verdade, a verdade. A VERDADE. (Quer ver a verdade?).
Estava no sofá de um escritório de luxo e, sempre que respirava, fumaça saía de minha boca ao exalar o ar, e havia um cigarro em minhas mãos, aceso, mas não soltava fumaça; o traguei e, ao soltar o ar, não havia fumaça. Havia uma mesa e a mulher que estuprei estava atrás dela, na frente, um belo homem chegava caminhando: "Está tudo pronto, Deus, se quer destruir o mundo, basta assinar". E havia um papel, e uma caneta, e Deus pegou a caneta, se virou para mim e disse: "Nada está ao contrário, se parece ao contrário para você, talvez seja porque você queira o contrário".
Pisquei o olho e estava em meu quarto novamente, e transava comigo mesmo, e eu estava morto, mas sorria; me esfaqueei e o sangue esguichava, e eu estava no chão e só havia um eu; e eu enfiava a faca com força em mim mesmo, e não havia dor, tudo era tesão, e eu gemia. Corri rindo pela porta e novamente estava no escritório e me via no sofá, e me via atrás da mesa, e segurava o papel; gargalhei, assinei, tudo explodiu.
Novamente eu estava envolto por tentáculos líquidos, e sorria, só havia eu, mais ninguém. Havia, dessa vez, uma bela paisagem a minha volta, e os tentáculos a agarraram e tudo se tornou água e entrou em um balde. Essa água tomou forma de um homem, ergueu a mão para mim e eu a apertei; "é sempre bom fazer negócios com você", ele disse, e entrou novamente no balde. A água, como um soco, entrou direto em meu peito, caí de joelhos em frente ao balde e restava uma gota, que entrou em meu olho e, em seguida, saiu lentamente em forma de lágrima.
Acordei, sorrindo, com a cabeça fora do inferno da mente.

-------------------------------------------
Entenda que a pontuação confusa é proposital e que a intenção do texto é que seja lido o mais rápido possível, em voz alta para si mesmo e foi escrito com a intenção ao mesmo tempo que literária (pela pontuação proposital), cinematográfica (pelas cenas narradas).