terça-feira, 11 de novembro de 2008

Marcelo Camelo; Los Hermanos e pós Los Hermanos


Mais difícil do que reconhecer um gênio da música vivendo em sua época, é criticá-lo em seu auge musical; enquanto não há polêmica sobre uma consagração, enquanto esta é unânime, posicionar-se contra soa como uma loucura.

O Los Hermanos é uma banda carioca, inciada em 1997, que conta com uma mistura de inúmeros estilos sonoros, o que a torna muito difícil de classificar, ainda levando em consideração que eu não gosto muito de rótulos na música, principalmente nos dias de hoje, em que uma banda é influênciada por inúmeros estilos e as correntes vão, cada vez mais, desaparecendo. A banda possui quatro álbuns: "Los Hermanos", "Bloco do eu sozinho", "Ventura" e "Quatro". Analisando esses álbuns, podemos notar não somente as mudanças e assimilações que a banda foi fazendo no decorrer de sua carreira, como também as mudanças de eixo dentre as composições e as diferentes personalidades que nela se encontram. Apesar de muitos negarem isso por simples fanatismo, comum para um fã de qualquer banda, que não aceita a idéia de que alguns dos membros desta não tenham grande utilidade ou influência, o Los Hermanos gira em torno de duas figuras: Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante.

O "Los Hermanos", álbum, é lançado em 1999 pela banda. O álbum conta com um dos melhores baixistas dessa geração, com um baixo muito bem elaborado se chocando com melodias não tão boas assim, demonstrando a influência do hardcore e ska principalmente. É um álbum no qual o Los Hermanos ainda não se achou como banda e, apesar de razoável, não traz nada de novo e de excelente pro Rock, um álbum normal.

Em 2001, com o "Bloco do eu sozinho", a banda começa a encontrar realmente seu estilo, com uma mistura de MPB, samba, rock e mantendo ainda raízes do álbum anterior, sendo um marco para os fãs. Esse álbum divide pessoas que gostam da fase anterior e do que vem em seguida, mas simplesmente pelo óbvio fator "gosto pessoal". Aqui, o Los Hermanos começa a se destacar como uma boa banda, mas ainda não era o que viria a ser. Se no primeiro álbum a banda era praticamente Marcelo Camelo, nesse álbum, Rodrigo Amarante começa a se destacar como verdadeiro músico na banda.

Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante possuem personalidades e gostos musicais, tendências musicais, amplamente diferentes, mas isso se consolida de forma excepcional em um dos melhores álbuns da música nacional, um marco de nossa geração e o que torna o Los Hermanos, finalmente, a banda excepcional que é; em 2003, nasce o "Ventura". O álbum é uma mistura de MPB no melhor estilo Camelo com Rock no melhor estilo Amarante; porém, esses estilos se fundem em todas as músicas, demonstrando uma excelente confluência e uma linha que influenciará a música nacional e a difusão da cultura nacional de forma totalmente diferente, como se tornasse esse estilo, pouco procurado por jovens, algo acessível e interessante. Até aí, a parceria Camelo e Amarante era algo a se considerar explêndido e importantíssimo pra música nacional.

Porém, toda essa diferença musical e na própria personalidade começou a ir muito além e, em 2005, com o lançamento do "Quatro", nota-se que era algo que caminhava para já não mais dar certo. Se no "Ventura" essa mistura se fundiu em um álbum homogêneo e com um novo estilo, no "Quatro" essa mistura já se mostrava não conciliável, e temos um álbum totalmente heterogêneo que, apesar de apresentar músicas maravilhosas, não segue uma linha; era como se ouvíssemos dois álbuns de estilos diferentes em um álbum só. No "Quatro", o Los Hermanos já demonstra que seguir com a banda seria uma besteira, algo inconciliável e inútil.

Então, banda anuncia um recesso por tempo indeterminado para dedicação a projetos pessoais.

Essa breve divagação sobre a banda tem como objetivo seguir como base para analisarmos o pós Los Hermanos e chegarmos a conclusões sobre afirmações normalmente feitas durante a existência da banda.

Minha forma de ver Marcelo Camelo é como alguém que não possui tanta habilidade instrumental, mas que possui um talento nato para a música e, apesar de não ter tanto conhecimento teórico, possui uma capacidade incrível de composição de melodias; enquanto Rodrigo Amarante, apesar de um excelente instrumentista, se baseia em maior dedicação musical e um menor talento; porém, por muito tempo se ouviu que, no Los Hermanos, o talento em melodias estava em Amarante e as melhores composições também, apesar de estarem em menor número.

Em 2008, Marcelo Camelo lança o álbum "Sou" e Rodrigo Amarante se dedica a projetos como "Little Joy".

Apesar de ser uma boa banda, o Little Joy afasta o Amarante totalmente da cultura nacional e o coloca em uma cultura totalmente norte-americanizada, tendo como parceria o baterista Fabrizio Moretti, brasileiro da banda The Strokes. É um som razoável, mas que decepciona muito; principalmente ao se pensar que é algo vindo de um ex-membro de uma banda de ampla valorização da cultura nacional. Enquanto isso, Marcelo Camelo traz, no álbum "Sou", um álbum repleto de Brasil, com uma característica forte de MPB, mas diferente da MPB que estamos habituados, é como se fosse um álbum totalmente Camelo; sem dúvidas, um álbum excelente, muito melhor do que seria um quinto álbum do Los Hermanos; e o mais curioso, com uma melodia muito mais bem elaborada e composições muito melhores do que qualquer outra feita por Amarante no pós-Los Hermanos. Sem dúvidas, ao fim da banda, Camelo prova que o talento musical está, em boa parte, nele - apesar de o Amarante ser um excelente músico - e se consagra como um compositor a ser estudado futuramente como um marco dessa geração na música nacional. álbuns como "Sou" e "Ventura" estão entre álbuns que confirmam a existência de uma música nacional em meio a um cenário de extrema influência internacional, com bandas como "Cansei de ser sexy".

Porém, surge uma decepção grande ainda no ano de 2008, que é o que acabo de ouvir e é o principal objetivo desse texto; quase imediatamente após o início da turnê do álbum "Sou", Marcelo Camelo lança um álbum instrumental com uma banda chamada "Os imprevisíveis". O que sinto ao ouvir é uma tentativa de produzir algo alternativo e experimentalista. Há duas opções para esse álbum: ou ele é messiânico demais para mim, ou é um dos maiores lixos pseudo-experimentalistas que já ouvi em toda minha vida; e o pior é saber que Camelo não usa drogas e, portanto, não estava totalmente drogado ao fazê-lo. A impressão que tenho ao ouvi-lo é que os músicos tentam inibir seu talento e tocar o pior possível, como se isso fosse algo revolucionário. Acho que Camelo simplesmente perdeu seu lugar e tentou fazer algo em estilo Thom Yorke, o que, sem dúvidas, não está imbutido na personalidade musical dele. Admiro a tentativa, adoro experimentalismos, mas uma coisa é fato: bagunça sonora não é som alternativo e muito menos experimentalismo, é simplesmente algo dispensável aos ouvidos dos fãs.

Admiro muito o Marcelo Camelo, o tenho como uma das maiores influências musicais em minha vida; por isso, a partir de hoje, passarei a torcer para que ele esqueça essa idéia e volte a produzir o que eu chamo de "música".