sábado, 13 de dezembro de 2008

Albergue espanhol

Eu não sou brasileiro; não sou boliviano, chileno, argentino, estado-unidense; não sou francês, inglês ou espanhol; não sou sírio, búlgaro, chinês, russo, angolano ou congolense. Cada pessoa é uma pessoa e cada pessoa é tudo. Sou Marcelo, brasileiro, argentino, búlgaro, sírio, francês, angolano.
Cada pessoa é uma, mas cada pessoa deve experimentar e sentir as dores e os prazeres de todos os povos. Tentar focar e limitar-se a uma cultural local é uma tentativa intelectual inútil, a cultura pessoal prevalece, a cultura local é a cultura que avassala todo o mundo e a cultura que ataca cada pessoa individualmente; abandone o aprisionamento local e a indução à prisão de uma cultura estrangeira; todas as culturas são uma só, os costumes de uma só raça, os hábitos de um só coração que se divide em diversas batidas ao redor do mundo.
Hoje caminho em meu país, em meu estado, minha cidade, e me vejo um estrangeiro em meio a diversos estrangeiros, um povo dividido em singularidades, mas um povo com limitações artificiais que não os permitem notar que somos diferentes, mas somos iguais. Carregamos dores, felicidades, admirações, medos, todos diferentes, mas indiferentemente os carregamos.
Caminhamos e caminharemos sempre dotados de preconceitos e muros de vidro ao nosso redor, nos livrando de encarar o fato de que estamos todos em um albergue espanhol.
Visto a camisa do mundo e paradoxalmente brindo àquele que se reconhece: um estrangeiro em meio a estrangeiros.