terça-feira, 30 de setembro de 2008

Last Days


Dirigido por Gus Van Sant, "Last Days" é um filme "inspirado" nos últimos dias de vida de Kurt Cobain; uso o inspirado entre aspas porque nunca entendi o porquê dele, já que até certos detalhes desnecessários do filme são idênticos aos últimos dias de vida do Kurt, é na verdade uma retratação, porém disfarçada em um enredo que se diz baseado pra simples alívio de responsabilidade.
Gus Van Sant, embora americano (Nascido em Louisville, Kentucky, EUA) e ter dirigido filmes perfeitamente comuns (Não no quesito qualidade, mas no quesito composição, andamento, apresentação) como "Gênio Indomável" (o qual, na verdade, só dirigiu, tendo o roteiro escrito pelo próprio Matt Damon), tem em seus filmes uma expressão presente muito mais na estética do que no próprio enredo, comum em certos diretores europeus, tendo muitas vezes sua nacionalidade confundida. É comum em seus filmes diálogos pouco presentes, câmeras posicionadas de forma a deixar desconfortável quem assiste, ausência de atemporalidades (Se um personagem tem de ir à padaria, mas precisa pegar uma chave e dinheiro antes, ele filmará o personagem realmente andando até seu quarto, pegando a chave e o dinheiro e todo o caminho percorrido até a padaria, não importa se aconteça algo de importante ou não). Além de "Last Days", tem sua marca estilística confirmada (principalmente) em filmes como "Paranoid Park" e "Elephant", além de ter dirigido clipes musicais para David Bowie e Red Hot Chili Peppers.
Apesar de ser um assunto de centro de interesses entre jovens quaisquer e inclusive analistas e apreciadores ferrenhos do Rock, por envolver um dos maiores e mais importantes rockeiros da história e, talvez, o mais próximo à nossa geração em relação a grau de importância/distância, "Last Days" é um filme que não causou tanto impacto e não foi tão difundido exceto pra pessoas que realmente se interessam ao cinema; por quê? Porque o filme é simplesmente chato.
Sim, como todos dizem, o filme é realmente irritante, chato, difícil de se assistir, mas isso não faz com que ele deixe de ser um bom filme, muito pelo contrário, é exatamente o que o faz atingir a sua meta.
É comum ouvirmos ou simplesmente sabermos que a pessoa sente que, apesar de todo o sofrimento que já leu ou ouviu falar que Kurt Cobain passou, tem vontade de trocar de vida com ele, ser o produtor de sua obra, como se isso anulasse o sofrimento e a vida perdida do astro. Isso é comum porque as pessoas enxergam as coisas de uma forma muito geral, ampliada, dão maior atenção aos raros momentos de orgulho e felicidade e esquecem que 90% do tempo para ele era como se fosse uma tortura insuportável, cada segundo era como uma hora, e esses segundos acabaram por engolir inclusive os poucos segundos de alegria aos quais ele não se permitia passar.
Gus Van Sant ilustra perfeitamente o que era ser Kurt Cobain, não querer conversar, se envolver, tudo ser um tédio melancólico devorador, a que ponto sua cabeça e o destino a sua volta levou sua vida e como você realmente se sentiria sendo Kurt Cobain, e é exatamente como ele que as maiorias das pessoas agem, é tão insuportável que não dá pra assistir a todo o filme, simplesmente desligam o DVD e vão ouvir às suas músicas.
Não diria que o melhor a se fazer é não assisti-lo, ver o filme te prova que querer estar na pele de Kurt Cobain não é uma boa idéia, mas é o tipo de filme de se ver uma vez só, absorver e nunca mais tocar no DVD.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Insônia em Juiz de Fora

A violência está lá fora
e a solidão aqui dentro
Você passa dias e noites sem dormir
procurando um porquê para todo o nada
Sonhando acordado ao relento
Pensando na vida até descobrir que a morte tarda, mas não falha
.
E não há nada pior
do que a lágrima que brota sem razão
E não há nada pior
do que a vida vivida sem porquê
E você chora porque o dono da vida é você
E você chora porque talvez fosse melhor deixar de...
.
Viver
E a dor da partida talvez seja menor
do que a dor de ser
.
Você acorda de manhã e não tem para onde ir
Você acorda de madrugada e não tem para onde fugir
A solidão é contar estrelas sozinho ao meio dia
enchendo de perguntas a vida...
.
Vazia
E a dor da partida talvez seja menor
do que a dor de ser
.
Isso, só o tempo irá responder...

terça-feira, 23 de setembro de 2008

As desilusões mastigam os sonhos


















"Ainda é cedo amor
mal começaste a conhecer a vida
já anuncias a hora de partida
sem saber mesmo o rumo que irás tomar
.
Preste atenção, querida
Embora eu saiba que estais resolvida
Em cada esquina cai um pouco a tua vida
Em pouco tempo não serás mais o que és
.
Ouça-me bem, amor
preste atenção, o mundo é um moinho
vai triturar teus sonhos tão mesquinhos
vai reduzir as ilusões a pó
.
Preste atenção, querida
de cada amor tu herdarás só o sinismo
quando notares, estais a beira do abismo
abismo que cavaste com teus pés"
(Cartola - O Mundo é um moinho)






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"Olha, na primeira vez que estive aqui
foi pra me distrair,
eu vim em busca de amor
.
Olha, foi então que eu te conheci
Naquela noite fria
nos seus braços
os problemas esqueci
.
Olha, na segunda vez que estive aqui
já não foi pra me distrair
Eu senti saudade de você
.
Olha, eu precisei dos seus carinhos
Eu me sentia tão sozinho
e já não podia mias te esquecer
.
Eu vou tirar você desse lugar
Eu vou levar você pra ficar comigo
e não me interessa o que os outros vão pensar
.
Eu sei que você tem medo de não dar certo
acha que o passado vai estar sempre perto
e que um dia eu vou me arrepender
.
E eu não quero que você pense em nada triste
Porque quando o amor existe
o que não existe é motivo pra sofrer
.
Eu vou tirar você desse lugar
Eu vou levar você pra ficar comigo
e não me interessa o que os outros vão pensar
(Odair José - Eu vou tirar você desse lugar)
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A cada dia que passa, percebo melhor como ser uma pessoa introspectiva e com tendências subversivas não é um dom, mas uma terrível maldição.
Devo alertar, antes de tudo, que esse texto, assim como as músicas acima, não é algo planejado, mas sim, totalmente espontâneo, um desabafo; como outros que já fiz no blog, eu não costumo relê-los ou corrigi-los, portanto pode ficar repleto de erros gramaticais ou de idéias não coesas, sendo provável que você simplesmente perca seu tempo lendo.
Eu sou um cara que, apesar de adorar praias e natureza, é totalmente adaptado à vida urbana e a adora; estou totalmente acostumado ao medo da violência, a chegar no fim da noite e me sentir um grão de arroz em um apartamento pequeno no meio de 600.000 juizforanos, à falta de educação e estresse das pessoas e, na verdade, até sentiria falta disso caso não fizesse parte do meu dia a dia, adoro esse clima "Lei do mais forte" das cidades, apesar de isso ser totalmente contraditório para uma pessoa que se julga subversiva (lembre-se, "dualidade paradoxal da personalidade humana"), mas é como se, caso tudo isso não existisse, não haveria motivo pra eu existir também, o ser humano está sempre procurando desafios em sua vida.
Porém, há algumas raras coisas na cidade que eu simplesmente não consigo aceitar e me adaptar, e uma delas é a que já apresentei através das músicas, mas apresentarei mais claramente agora: a prostituição.
Nesse fim de semana, fui pela primeira vez (sim, nunca havia ido em um) em um bordel (Casa noturna ou como você preferir chamá-lo), e é nesses momentos que retorno à conclusão inicial: introspectividade e subversividade são uma maldição.
Tudo o que eu conseguia sentir era nojo, nojo de tudo, mas não principalmente das mulheres, mas sim dos freqüentadores, mas não me resumindo a eles, no fundo ainda restava uma admiração por eles serem os poucos que deixam transparecer o instinto que pessoas normais tentam esconder o tempo todo e acabam o mostrando acidentalmente em pequenas coisas, que poucos percebem.
Com relação às mulheres, não senti um nojo preconceituoso por elas serem prostitutas, mas sim uma dor tremenda por algumas que nota-se que não queriam estar ali, e uma repugnância àquelas que demonstram um prazer pelo que fazem; na verdade, também pensei que elas não eram as únicas, mas que algumas não eram inteligentes o suficiente pra entrar no jogo da sociedade e se prostituir em outros lugares como muitas mulheres de alto poder aquisitivo o fazem sem motivo nenhum, mas que levam vantagens com isso maiores do que alguma contribuição monetária, uma exploração mais efetiva, e, principalmente, desviam do preconceito do nome "Prostituta".
Com relação aos freqüentadores, invejei alguns, por conseguirem olhar aquilo e simplesmente sentirem tesão, nada mais, simplesmente prazer em estar ali, a irracionalidade é um dom imensurável. Minha mente só não conseguia deixar de compará-los a animais, cachorros rodeando uma fêmea no cio, sem propósito racional, sem nenhum tipo de sentimento, apenas o instinto animal e selvagem de fazer sexo, procriar; acéfalos estúpidos.
E depois, a pior das conclusões (pensando de forma egoísta), que me fez querer sair correndo daquele lugar naquele momento - na verdade, não foi uma conclusão daquele momento, mas nós sempre tiramos conclusões diante de algumas coisas e aprendemos a ignorá-las com o tempo, mas quando elas voltam a nossa cabeça por determinadas situações, elas vão ficando gradativamente mais terríveis - foi a que eu realmente quero morrer antes de envelhecer, muito antes. Quando eu vejo esse tipo de situação, um velho totalmente solitário em um bordel, classe média/baixa, me imagino de imediato nessa idade, a velha frase "Every little creature in this world dies alone" (Donnie Darko) invade a minha mente e me imaginar por completo velho: abandonado, solitário, procurando companhia e descobrindo que é tarde demais para consegui-la, indo pra casa sem ter nada pra fazer ou colocando uma cadeira na calçada e ficando o dia todo a observar as pessoas que nem conheço passarem pela rua, ganhar um "tchau" às vezes, um "oi" outras, e essas idiosincrasias pras pessoas alheias sendo o ponto clímax do meu dia.
E aquele maldito velho acabou com a minha semana de forma inacreditável, aquele que já não tem mais alegrias na vida, que já se acostumou às tristezas, que mal consegue manter um diálogo com alguém e pode ser confundido com um cachorro vira-lata pela rua, aquele que não faz nada e não é importante pra ninguém durante toda a semana e vai ao bordel no fim de semana pra simplesmente soltar seus desejos instintivos e, ainda assim, não consegue, nem é ao menos capaz disso. Então, com a noite sem êxito, volta sozinho pra casa novamente, continua fumando e olhando pra parede e esperando a morte chegar. Por que não simplesmente se matar e acabar logo com tudo aquilo? Se os seus dias não servem pra mais nada, pra quê continuar vivo? Apesar de parecer assustador eu pensar nisso, você provavelmente já o pensou também, talvez inclusive já tenha a resposta; talvez eu me ache o sabichão, mas eu seja o burro que não consegue descobrir essas coisas antes de passar por elas, e que essas são coisas que eu só vou entender quando ficar velho.
O título do post remete a esse último parágrafo, mas não simplesmente a ele, mas principalmente e obviamente, à prostituição, portanto, me focarei melhor nela (levando em conta somente as mulheres que são forçadas ou se julgam forçadas a ela).
Eu fico triste em ver como as coisas chegaram ao ponto de uma mulher ter de se entregar por dinheiro ao invés de simplesmente procurar um emprego, pela dificuldade de acesso à esse último; mas, me entristece principalmente, que as pessoas vejam isso como uma opção, como se o sexo por dinheiro fosse uma opção viável: a simples noção de ver esses dois caminhos como uma coisa normal, não ter emprego e se prostituir, uma análise simplesmente de estudo geográfico, a tamanha banalização do sexo ilustrada de forma clara na cabeça de cada um (inclusive na minha). Depois, do conformismo de muitas em estar ali, algumas são passíveis de leitura aos olhos, de que não pretendem e nem pensam em uma saída dali, que estão sobrevivendo e aquilo está ótimo. São como crianças antes de terem a cabeça aberta, porém sem nenhum pai ou professor pra abri-las mas, ao contrário disso, cercadas por animais para as incentivarem a fazê-lo. Há esperança de mudança pra esse tipo de pessoa? Pra algumas raras, eu acho que sim, mas por simples jogo do acaso; a maioria, assim como em vários outros problemas urbanos, estão condenadas à eternidade na merda.
Queria deixar bem claro que me utilizei do feminino durante todo o tempo que falei sobre prostituição pelo meu contato ter sido a um bordel de mulheres e não por preconceito.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Eu sou um pássaro (...)



"Estou cansado de ser vilipendiado, incompreendido e descartado
Quem diz que me entende nunca quis saber

Aquele menino foi internado numa clínica
Dizem que por falta de atenção dos amigos, das lembranças
Dos sonhos que se configuram tristes e inertes
Como uma ampulheta imóvel, não se mexe, não se move, não trabalha.
E Clarisse está trancada no banheiro
E faz marcas no seu corpo com seu pequeno canivete
Deitada no canto, seus tornozelos sangram
E a dor é menor do que parece
Quando ela se corta ela esquece
Que é impossível ter da vida calma e força
Viver em dor, o que ninguém entende
Tentar ser forte a todo e cada amanhecer
Uma de suas amigas já se foi
Quando mais uma ocorrência policial
Ninguém entende, não me olhe assim
Com este semblante de bom-samaritano
Cumprindo o seu dever, como se eu fosse doente
Como se toda essa dor fosse diferente, ou inexistente
Nada existe pra mim, não tente
Você não sabe e não entende
E quando os antidepressivos e os calmantes não fazem mais efeito
Clarisse sabe que a loucura está presente
E sente a essência estranha do que é a morte
Mas esse vazio ela conhece muito bem
De quando em quando é um novo tratamento
Mas o mundo continua sempre o mesmo
O medo de voltar pra casa à noite
Os homens que se esfregam nojentos
No caminho de ida e volta da escola
A falta de esperança e o tormento
De saber que nada é justo e pouco é certo
E que estamos destruindo o futuro
E que a maldade anda sempre aqui por perto
A violência e a injustiça que existe
Contra todas as meninas e mulheres
Um mundo onde a verdade é o avesso
E a alegria já não tem mais endereço
Clarisse está trancada em seu quarto
Com seus discos e seus livros, seu cansaço
Eu sou um pássaro
Me trancam na gaiola
E esperam que eu cante como antes
Eu sou um pássaroMe trancam na gaiola
Mas um dia eu consigo existir e vou voar pelo caminho mais bonito

E Clarisse só tem 14 anos..."

Ordem e Progresso

É comum refletirmos sobre os rumos do Brasil - se o país segue ou não o caminho que carrega em sua bandeira - e, ao o fazermos, criticarmos a classe média e baixa por não seguir esse lema.
A origem do lema está no positivismo, mais profundamente, em Augusto Comte, francês, que dizia que, para haver progresso, deveria haver um trabalho por parte de uma classe inexpressiva, isso é, que trabalhasse sem se organizar, revoltar ou exigir participação política, deixando o governo como responsabilidade das elites.
O quadro brasileiro que melhor se encaixou no lema de nossa bandeira é o Estado Novo de Getúlio Vargas que, ao mesmo tempo que criou leis em prol do bem-estar do trabalhador, o manteve fora do quadro político através dessas leis, uma espécie de suborno aproveitador da menor informação e noção política do trabalhador, e também da criação dos sindicatos, que ligavam as exigências e o caminho da revolta operária ao governo, evitando assim, revoltas; logo, havia uma classe passiva de trabalhadores e, através de um presidente de inteligência, isso convertia em progresso.
O nosso erro, ao usar o lema "Ordem e Progresso" para criticar a atual situação do país é direcionar a crítica à classe média/baixa; continuamos com uma classe de trabalhadores passivos politicamente, o que confirma o aspecto ordem no sentido dado por Comte, o que nos falta é uma elite inteligente no poder que perceba que, a longo prazo, o desenvolvimento do país os trará mais benefícios do que a usual corrupção.
Para perceber isso basta notar que a elite brasileira nao se compara, no quesito poder aquisitivo, à elite de países de primeiro mundo. A corrupção é pensar pequeno para si mesmo; não é socialismo, não é beneficiar o povo, é desenvolver o país para trazer desenvolvimento expressivo e econômico à elite nacional, a melhoria das condições de vida das demais classes vem como conseqüência a esse desenvolvimento, como aconteceu nos países de primeiro mundo.
A classe média/baixa brasileira ser burra não é o que atrasa o país, mas sim, a burrice elitista nacional.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

.

And if the band you're in starts playin' in different tunes; I'll see you on the Dark side of the Moon.
(...)

Um novo começo, uma nova descrição

"No lado escuro da vida
eu me encontrei com Deus
e ele me disse:
Cuide-se você mesmo, meu irmão
Porque eu não olharei por você.
.
Chorando em um banheiro sujo
foi quando eu descobri
Eu sou a dualidade paradoxal
da personalidade humana."

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Samba do feto que chora

Quem disse que o acorde inicial
dá o tom do lugar
Se enganou legal, meu irmão
Sempre surge algo pra tudo desarrumar

Quem canta vitória antes do princípio da luta
E antes de ter, sente a felicidade chegar
Não devia se precipitar assim, não
E agora sente o gosto amargo da lágrima voltar

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

(.......)

"(...) E essa justiça desafinada é tão humana e tão errada (...)"
Renato Russo e suas redundâncias pra fazer pessoas burras como eu entenderem o que nem ele mesmo conseguia entender direito

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Ser humano: o pior dos animais

Andei lendo algumas coisas engraçadas que me obrigaram a escrever e refletir um pouco sobre algumas coisas; em um blog, um rapaz escreve o quão absurdo ele considera a constituição brasileira punir mais severamente, em alguns casos, uma pessoa que mata um animal do que uma pessoa que mata um outro ser humano. Como a ótica com a qual você observa as coisas pode ser uma comédia.
Como funciona a vida animal em um determinado ambiente? Quando há condições favoráveis para o seu crescimento (comida suficiente, temperatura de acordo com o nível de sobrevivência específico de cada animal, fatores como água, luz, todos variando de acordo com a necessidade de cada ser vivo), o crescimento dessa espécie se torna descontrolado até que esses itens comecem a se tornar limitados devido a esse crescimento. Então, começa a haver uma queda brusca devido a uma competição entre esses próprios indivíduos, tornando, caso tudo isso fosse representado em um gráfico, algo semelhante a uma "onda", com uma subida brusca e uma queda no crescimento da população. No entanto, no caso de uma racionalidade presente, seria fácil simplesmente notar isso e evitar esse crescimento, o que viria de cada um; todos os seres racionais dessa espécie perceberiam que esse crescimento desenfreado prejudicaria o bem estar tanto deles próprios quanto de seus descendentes futuros.
Por muito tempo a mortalidade manteve-se alta juntamente com a natalidade para o ser humano, até surgirem melhorias no sistema, como redes sanitárias, controle de doenças, vacinação, muito do que vem da Revolução Científica, que facilita a sobrevivência humana, o que fica claro principalmente após a segunda guerra mundial; esses fatores tornam o ambiente propício ao desenvolvimento da espécie humana, torna a espécie passiva de sobreviver e crescer por ter muito do que compõe suas necessidades de sobrevivência em abundância e dá a ela capacidade de enfrentar o que pode impedi-la de sobreviver. A partir daí, a população na terra começa a crescer até índices que podem se tornar perigosos para a sobrevivência, criando assim uma competição dentro da própria espécie: o trabalho pelo dinheiro, os furtos, roubos, assassinatos.
Basta observar as fases do crescimento populacional de um país. Inicialmente, esse país tem ambas taxas de mortalidade e natalidade altos. Posteriormente, com um ambiente favorável ao crescimento (queda da mortalidade por melhorias nas condições de vida), a população começa a crescer desenfreadamente até esta notar que isso é desvantajoso para ela (mas lembre-se, a população nunca nota e passa para a 3a fase, que é a diminuição da taxa de natalidade, antes de passar pela 2a fase, que seria o grande crescimento, ela só notará que esse crescimento será desvantajoso para ela ao sentir realmente isso e só então perceberá que as taxas de natalidade devem ser controladas).
Todo esse processo humano segue exatamente todo o processo de uma população animal qualquer que habita um ambiente qualquer. Cresce irracionalmente até perceber que o ambiente não suporta todos eles e então começam a competir entre si pela sobrevivência.
Nota-se também que cada animal tem seu método de se proteger e garantir sua sobrevivência: a própria força, camuflagens, venenos; no caso do ser humano, a inteligência.
Portanto, uma coisa que não entendo é porque as pessoas insistem em diferenciar o ser humano de outro animal qualquer. O ser humano pode ser mais inteligente que o resto em geral, tudo bem, digamos que seja sua arma, mas ele não atinge graus de racionalidade como muitos acham que atinge; assim como todos os animais, o ser humano é totalmente instintivo, não consegue prever nada e, mesmo que consiga, não consegue evitar, procura reagir e achar soluções quando não há mais meios de evitar o problema, quando já o sente na pele, mesmo que ele pudesse ter sido evitado antes, não vale a pena pensar em nada disso enquanto ele não te toca, chega em você e você sente o que havia sido previsto que ele ia trazer. Quando esse toque acontece, aí sim a busca de uma solução é inevitável. Assim acontece com qualquer dos animais, seja uma formiga, um leão, ou a espécie humana.
Vale lembrar também que não há somente a competição intra-específica, mas também a competição inter-específica, desde que haja coincidências entre as necessidades de sobrevivência de duas ou mais espécies.
Onde eu quero chegar é que o ser humano, em uma visão geral, se comporta como qualquer animal, procura soluções da forma e no instante que qualquer animal o faria, age instintivamente como qualquer animal (basta ler o caso dos exploradores de caverna ou qualquer livro de característica naturalista, principalmente na literatura nacional, e notará que em seu interior o ser humano é instintivo como qualquer outro ser vivo; apesar de não ser difícil notar isso no dia-a-dia, vale lembrar que, em um zoológico, você pode pôr seu braço dentro da jaula de um leão se ele estiver bem alimentado, mas experimente chegar perto da jaula caso ele tenha ficado sem comida); ou melhor: o ser humano apresenta TODAS as características de qualquer outro animal.

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Se chegamos à conclusão de que o ser humano não tem diferença nenhuma pra qualquer outro ser, pensemos agora o que torna um ser vivo bom ou ruim, importante ou sem importância, e então pensemos em qual deveria ter mais ou menos valor perante a lei. Pra isso, vamos nos basear no que já está impregnado em nosso próprio pensamento.
Imaginemos uma plantação infestada por uma praga; essa praga não a destrói por peraltismo ou falta do que fazer, mas porque é uma forma de crescer e evoluir pra ela; porém, isso não nos importa, e continuamos a considerando, como o próprio nome pejorativamente diz, uma praga. Não estou dizendo que devemos viver felizes com a praga, aprendermos a amá-la e conviver com ela. Mas pare e pense que o ser humano destrói o planeta todo pela sua ganância e para preencher necessidades de sobrevivência que, na maioria das vezes, não são reais, mas são criadas pela própria "inteligência" (entre aspas porque a uso como um termo relativo) humana, a qual dizemos responsável por nossa racionalidade que nos torna superior, mas que na verdade nos adequa ao termo "praga" que criamos justamente pra algo que, quando atinge nosso raciocínio, é rapidamente relacionada ao termo "extermínio".
Pra irmos por parte, se uma praga é algo passivo de extermínio e os animais os quais podemos exterminar (no caso do rapaz no blog, ele se referia à capivara) não são considerados pragas no nosso entender, por não prejudicarem algo que nos afete diretamente (apesar de talvez serem considerados pragas por outras espécies), logo, nada mais justo que a lei dê preferência a uma capivara do que a nós próprios, que somos muito mais destrutivos e perigosos do que ela. Mas claro que vale lembrar que tudo isso não foi criado com essa intenção, mas que nossa falsa racionalidade acabou sendo, acidentalmente, justa.

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Eu poderia ter parado por ali e deixado você simplesmente refletir sobre o quão idiota o rapaz é ou eu sou; como disse, a ótica pode ser algo muito engraçado. Mas é legal também pensar na nossa própria visão sobre outras espécies.
Quando a gente pisa em uma formiga por simples diversão ou vê um ser matar o outro da mesma espécie como algo pateticamente comum nas aulas de biologia, isso torna totalmente justificável matar, torturar, roubar, principalmente ao lembrar da constatação que na própria espécie há competição, o que torna cada um como que quase uma espécie individual; te permite enxergar que estamos realmente sozinhos e que é melhor começarmos a matar, roubar, engolir ou pisar nos outros pra sobrevivermos, porque a era de competição já começou.

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Queria deixar bem claro que tudo que escrevo aqui é simplesmente reflexão, não significa que eu concorde com tudo isso que escrevi e essa justificativa está longe de ser um esclarecimento de que eu discordo, o interessante é simplesmente pensar sobre todos os lados e talvez, algum dia, chegar a uma conclusão.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Pink Floyd - Dogs


"You got to be crazy, you gotta have a real need
You gotta sleep on your toes, and when you're on the street
You gotta be able to pick up the easy meat with your eyes closed
And the moving in silently, down wind and out of sight
You gotta strike when the moment is right whitout thinking.

And after a while, you can work on points for style
Like the club tie, and the firm handshake
A certain look in the eye, and an easy smile
You have to be trusted by the people that you lie to
So that when they turn their backs on you
You'll get the chance to put the knife in.

You gotta keep one eye looking over your shoulder
You know it's going to get harder, and harder, and harder as you get older
And in the end you'll pack up, fly down south
Hide your head in the sand
Just another sad old man
All alone and dying of cancer.

And when you lose control, you'll reap the harvest that you've sown
And as the fear grows, the bad blood slows and turns to stone
And it's too late to lose the weight you used to need to throw around
So have a good drown, as you go down all alone
Dragged down by the stone.

I gotta admit that I'm a little bit confused
Sometimes it seems to me as if I'm just being used
Gotta stay awake, gotta try and shake of this creaping malaise
If I don't stand my own ground, how can I find my way out of this maze?

Deaf, dumb and blind, you just keep on pretending
That everyone's expendable and no one had a real friend
And it seems to you the thing to do would be to isolate the winner
Everything's done under the sun
And you believe at heart, everyone's a killer.

Who was born in a house full of pain
Who was trained not to spit in the fan
Who was told what to do by the man
Who was broken by trained personnel
Who was fitted with colar and chain
Who was given a pat on the back
Who was breaking away from the pack
Who was only a stranger at home
Who was ground down in the end
Who was found dead on the phone
Who was dragged down by the stone."

quinta-feira, 24 de julho de 2008

O dom da ignorância

A respiração ofegante cessou ao sentir um esvaziamento que eliminava um peso maior que o aparente e, então, comemorou por aquela ser uma das boas vezes.
Nessa situação, sempre havia extremas possibilidades de sensação: a que sentia agora era a de ter eliminado (ao menos temporariamente) o único sentimento que o obrigava a conviver com outras pessoas: as necessidades carnais; como se de repente ele se sentisse feliz por estar sozinho e desejasse ficar assim pra sempre, se isolar e nunca mais estabelecer contato com ninguém; como se o mundo exterior não tivesse mais valor e tudo o que é importante fosse seu mundo interior, onde ele não desejava ninguém, apenas ele e o silêncio. Quando obtia esse resultado, ele costumava fechar a porta e todas as janelas de seu apartamento, tirar a TV e o computador da tomada, desligar o celular e telefone e simplesmente gabar-se mentalmente por ser mais inteligente que os outros por conhecer a natureza humana e, por isso, odiar o contato com ela; pensando e sorrindo enquanto deita em sua cama e permanece a observar o teto.
A outra possibilidade ocorria quando ele se lembrava que o que ele imaginava pra chegar a esse momento eram coisas que ele já havia possuído e perdera; então, sentia o isolamento queimar seu corpo, sentia as lágrimas arrombarem suas pálpebras e percebia que sua idade avançava sobre sua capacidade, embora se considerasse mais sábio agora, muito do que conquistara agora parecia impossível para ele. A saudade do real, do contato humano, da companhia sincera, corroía seu mundo interior e permitia que o mundo exterior jantasse seu corpo com uma onda de sentimentos enzimáticos. Então ele olha desesperadamente o telefone, liga pelo seu celular para seus amigos e percebe que as coisas não são mais as mesmas, procura conversar na internet, vê programas inteligentes na TV tentando massagear seu ego, abre as janelas e fuma até que a última luz do último apartamento do último prédio se apague. Percebe, então, que dom tamanho é a ignorância.
Pega o revólver no armário, o põe na boca e engole toda a saliva, percebe seu dedo travado no gatilho e que sua covardia em mudar não permite que ele enfrente o mundo lá fora e muito menos o desconhecido pós-vida. Então, ele guarda a arma, toma dezenas de remédios e dorme no chão.

domingo, 20 de julho de 2008

"Quando alguém me matar, quero que seja alguém que me odeie, e não que o faça por ser seu trabalho"

O que se espera de um filme, naturalmente? Se é comédia, espera-se risadas; Se é aventura, terror, espera-se adrenalina; se é suspense, ficcção científica, espera-se inteligência. E se pudéssemos juntar tudo isso em um filme só, somando-se um dos melhores atores da história (Al Pacino) em uma atuação impecável? "Um dia de cão" (Day Dog Afternoon) é, sem dúvidas, um filme completo.
O filme gira em torno de dois homens - Sonny Wortzik e Sal - que tentam roubar um banco, mas acabam sendo descobertos e, enfrentando as autoridades e mantendo as pessoas como reféns, passam por situações inusitadas. Iniciando-se levemente cômico, o filme passa a situar o porquê de todo o acontecimento com envolvimento de pessoas que conhecem Sonny e esses incrementos acrescentam a reflexão e o envolvimento com o filme; criam uma situação de abandono e mutação a qual você começa a compreender e com a qual você começa a se identificar durante o filme, mas que te faz sentir realmente como ela é no fim; como se o filme terminasse, mas a sensação permanecesse com você e fizesse com que você torça com todas as forças para que algo aconteça e altere tudo.
Essa quebra de expectativas no fim gera um efeito irônico porque o fim é exatamente como você, a princípio, esperava que tudo terminaria, mas ela existe porque o desenvolvimento faz com que você sinta que as coisas possam ser diferentes, tendo o fim um efeito como uma lembrança de que elas não podem.

sábado, 5 de julho de 2008

O Encontro

Abri a porta e esperei que ela entrasse em minha frente. Feito isso, entrei logo em seguida.
Apaguei as luzes e acendi velas enquanto ela analisava cautelosamente toda minha sala. Fui à cozinha em busca de vinho, servindo duas taças e as colocando na mesa de jantar. Então, permiti a Frank Sinatra apreciar nossa noite.
-Espero que não esteja a incomodando ou sendo antiquado a uma mulher do século XXI.
-Talvez eu também não pertença ao século XXI - disse ela sorrindo, acendendo um cigarro em seguida - e talvez você saiba disso melhor do que eu. Care if I smoke?
-Maybe I know more than you could ever imagine - olhei fixamente em seus olhos - vá em frente, fume.
-Acredito que esse vício vá me matar um dia - sorriu enquanto tragava - mas isso não fará mais do que nós fazemos a nós mesmos, não é verdade? Encher a cabeça de coisas que julgamos úteis até nos julgarmos sábios e nosso psicólogico decidir ser hora de morrer - cruzou as pernas sensualmente e me encarou - gosta da morte natural, senhor Dimitri?
-Seu vício? É engraçado como voltamos tudo para nós mesmos, como se fôssemos os únicos a possuírem ambições e desejos. E se o cigarro for um taciturno viciado em matar tentando deixar seu vício por se sentir acabar ao acabar com suas vítimas, mas alguém que sabe que nunca vai conseguir parar - debrucei-me e coloquei meu rosto muito próximo ao dela, olhando-a nos olhos - assim como certos homens?
A encarei por um tempo, olhos nos olhos, como se nossos espíritos conversassem em um idioma o qual fôssemos incapazes de entender, e então, sorri.
-Não vai pegar seu vinho?
Só então ela percebeu que eu havia debruçado em sua direção para entregar-lhe sua taça, que repousava em minha mão (ou que esse talvez fosse o pretexto para debruçar-me). Ela a pegou enquanto apagava seu cigarro ainda quase inteiro e, então, me questionou:
-Não entendo bem por que sou a única a perceber, mas sei que é você quem escreve aqueles poemas, todos os pseudônimos são você. Por que não assina com seu próprio nome?
Sorri e, enquanto andava vagarosamente em direção à sua cadeira, disse:
-Então é verdade, profissões podem deixar as pessoas doentias - cheguei à parte de trás de sua cadeira e coloquei uma das mãos em seu cabelo - é pra isso que você veio aqui? Se aproveitar de questões pessoais para escrever em seu jornal estúpido? - ela então demonstrou querer dizer algo, mas coloquei um dedo sobre sua boca - Shhh!! Não responda, não há necessidade.
Então, comecei a caminhar em direção ao armário (atrás dela e, portanto, fora de seu campo de visão) e comecei a preparar o lenço, o toque especial para a noite especial.
-Sim, sou eu quem escreve todos os poemas, mas espero que não tenha oportunidade de escrever isso no jornal.
-Não escreverei se você não o desejar, mas tire-me uma dúvida de apreciadora: como você pode ser tantas pessoas, cada personalidade diferente e algumas até mesmo contraditórias, distribuídas entre os pseudônimos?
Caminhei em direção à parte de trás de sua cadeira, e falei enquanto andava:
-E se a escrita no jornal não depender da minha ou sua vontade? E se depender meramente do destino em nos ter feito encontrar naquela rua?
Cheguei à sua cadeira e, com uma mão, toquei seu ombro. Senti que isso interrompeu sua fala e acelerou notavelmente sua respiração. Com a parte de fora dos dedos, subi pelo seu pescoço, notando que ela estava cadavericamente gelada, até seu cabelo, o levantando.
-Desde quando estávamos juntos, você sentia que me conhecia melhor do que ninguém, mas quando eu a tocava ou olhava em seus olhos, sentia como se um completo estranho estivesse a sua frente e isso lhe causava um medo inexplicável, como uma mão fria tocando sua protegida alma, não é verdade? - cheirei seu cabelo - ainda sente esse medo, não é? - escorreguei a mão novamente pelo seu pescoço até seu ombro - você reconhece que todos os pseudônimos são eu porque conhece a maioria de minhas faces.
Desci minha cabeça até seu ouvido e sussurrei:
-Permita-me apresentar a que considero mais interessante.
Então, rapidamente, movi minha outra mão com o lenço, umidecido com clorofórmio, até seu rosto e o pressionei contra seu nariz até que fizesse o devido efeito. Ela se debateu incessantemente como se reunisse todas suas forças. Então, com o tempo, foi perdendo seus movimentos lentamente e desmaiou.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Mas afinal, o que é rock n' roll?!

Não se preocupe, não estou aqui pra discutir sobre os óculos do john e muito menos sobre o olhar do Paul. Acontece que chega um momento, depois de vários e vários anos de música, de ver que você teve várias fases terríveis e fases excelentes musicalmente, você se pergunta: "Sou eu um músico de verdade, ou apenas penso ser um?". O mais engraçado é que, a maioria que responde ser um músico de verdade, é um gordo nerd, espinhento e metaleiro que assiste o seu ídolo fazer 352,5 notas por segundo na guitarra e grita "UAU, é o melhor guitarrista do mundo" não importa se as notas fazem algum sentido ou despertam alguma emoção.
Isso, exatamente isso, é uma das coisas que mais me irritam nesse mundo. Não que eu seja radical, por exemplo, eu adoro Pink Floyd, acho sem dúvidas a melhor banda da história do rock; se eu fosse radical, estaria aqui dizendo que Pink Floyd é enjoativo e eu prefiro as quatro garotinhas de Liverpool dançando e causando arrepios nas garotinhas da platéia (não que eu não goste de Beatles, até gosto de algumas coisas, mas tenho raiva de dizerem ser a melhor banda da história ou a banda mais importante do rock, consigo citar sem respirar 10 bandas melhores e mais importantes que Beatles no rock). Mas é claro que tudo tem um nível sadio, o simples pode soar complexo (como eu considero Pink Floyd, não é que seja simples de tocar, mas é que não depende puramente de uma técnica absurda, mas sim de um puta feeling inexplicável que o David Gilmour possui) ou o complexo soar simples, e nem por isso deixar de ser bom. Onde eu quero chegar é que, na verdade, não importa qual o grau de dificuldade de algo ser tocado, o importante é como esse algo soa aos nossos ouvidos, o que nos faz sentir, se nos deixa arrepiado ou nos dá vontade de pular de um prédio, sair de casa correndo sem ter pra onde ir, entrar em um carro e ir pra qualquer lugar, isso é música, é sentimento puro, é espontaneidade, é expressão. Quando se ouve uma poesia, não importa se quem a recita consegue dizer 80 ou 20 palavras por segundo, o importante é sentir o que o autor tem a nos dizer. O problema é que, se a pessoa demora muito pra perceber isso, fica difícil tirar o conceito porco de música da cabeça dela e colocar um conceito decente, é por isso que eu digo que a maior parte da culpa são dos professores bestas que esquecem de ensinar a primeira lição pros alunos: "TÉCNICA É DETALHE, É UM CAMINHO PRA SE ALCANÇAR ALGO, NÃO É TUDO O QUE IMPORTA E NA VERDADE NEM IMPORTA, CONTANDO QUE SE ATINJA O OBJETIVO DESEJADO".
Repito, não estou dizendo que tudo que tem técnica é ruim, mas vou dar um exemplo:

http://www.youtube.com/watch?v=1qAA1Fb3dBY
Acho que qualquer pessoa em sã consciência no mundo já ouviu Comfortably Numb, Pink Floyd. O vídeo acima é essa música reproduzida pelo Dream Theater. Notem que logo aos 2 minutos o animal já consegue errar a letra, mas tudo bem, a gente perdoa, isso são detalhes à parte. Aos 2:15, no primeiro solo, o guitarrista se limita a reproduzir a guitarra do Pink Floyd, mas cheia de erros (caso você não seja guitarrista, saiba que reproduzir um solo com uma dificuldade não tão grande como esse, apesar de ser um lindo solo, pelo menos 40 guitarristas da sua própria cidade conseguem sem problemas, isso se você não morar em uma capital). Mas finalmente chegamos ao interessante: ao solo que se inicia em 4:35 minutos e vai se integrando com "reis-deuses-mestres" do rock como o grande John Petrucci. Até os 6 minutos de música, note que ele se limita a simplesmente reproduzir o solo, coisa que, como já disse e espero que não se esqueça, pelo menos 40 pessoas em um raio de 100 km de você conseguem fazer sem maiores problemas (não reproduz fielmente, mas até aí não há nenhuma monstruosidade). Note que, a partir daí, reune-se uma "gangue", os amiguinhos metaleiros demoníacos a se ajudarem. O que falar sobre esses caras? São caras que estão acostumados a tocar um só tipo de música desde crianças, com extrema velocidade. Note que, se você pegar essa guitarra e colocar em uma música do Ozzy (não que eu não goste de Zakk Wylde ou Toni Iommi, muito pelo contrário, acho eles extremamente talentosos) vai dar na mesma, porque eles não estão ligando pra que tipo de base tá rolando ou que tipo de música eles tão tocando, eles tão fazendo o que o pequeno cérebro de tamanho aproximado ao de uma azeitona manda eles fazerem. Depois chega mais um da gangue e a música vira uma festa dos headbangers e um funeral do rock pras pessoas de bom senso. Assista o resto desse vídeo e descubra se você realmente sabe o que é ser músico ou se gosta de firulas, se você não consegue enxergar a brutalidade, a afronta com o rock, que esses três peraltas realizaram durante esse vídeo, sinceramente, pense em uma marca de cigarro de que você goste, coloque DJ na frente e mude de ramo musical. Assista o resto do vídeo ignorando técnica, lembre-se que música não depende de como foi feito, simplesmente depende do que foi passado.

Agora, observem o mestre:
http://www.youtube.com/watch?v=1Qt6b8B5Bd4
Infelizmente esse vídeo tá com um pouco de delay, mas no solo final, só feche o olho e ouça, vai perceber claramente a diferença entre um guitarrista de verdade e um mero metaleiro sem noção musical. Note que o que mais chama a atenção não é a técnica, ele não se utiliza de velocidade extrema e etc pro solo, ele simplesmente toca, e atinge um patamar pelo menos 200 vezes mais elevado do que o mostrado anteriormente pelo Dream Theater.

Eu também não sou contra técnica, existem solos excelentes que exigem técnica e eu gosto absurdamente, como em Free Bird do Lynyrd Skynyrd. Esses dias eu liguei a MTV (coisa que eu raramente faço, mas de vez enquando é bom rir de umas bobagens) e acabei pegando um top top clichês, descobri que o mesmo de gritar "Toca Raul" aqui no brasil é gritar "Free Bird" nos Estados Unidos, pelo solo extremamente difícil de ser executado da música. Apesar dessa dificuldade, ele não é simplesmente técnica, é um feeling absurdo junto com técnica, é uma técnica como forma de expressão, e é magnífico.
http://www.youtube.com/watch?v=7PENBU3lrpE
Neste vídeo Lynyrd Skynyrd o executa ao vivo, dá pra entender bem o que eu tô dizendo.

Muito além da técnica, lembremos que um dos maiores guitarristas da história (se não o maior) não era um guitarrista estudado, tinha uma habilidade monstruosa na guitarra mas não era estudado, era bom simplesmente por ter nascido bom, mas não se importava com o quanto estava impressionando, simplesmente tinha um feeling "exalante" que impressionava platéias e impressiona jovens até hoje. (http://www.youtube.com/watch?v=SW3dUgCHnL4)
Além de, por exemplo, Bob Dylan, que sabia tocar um violão mais ou menos, cantava mais ou menos, mas compôs letras que influenciaram jovens por todas as gerações até hoje, seja direta ou indiretamente.

Música é atitude, sentimento, alma, espírito.
Não consigo enxergar a técnica como TUDO pra nenhum desses quesitos.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Fim

Se eu tivesse uma arma hoje, aqui, agora, atiraria contra a minha cabeça e acabaria com toda essa palhaçada agora.
Sem razão nenhuma, nada além do que todos têm. Simplesmente atiraria. Acho que sou a pessoa que tudo tem, mas que sempre se convence que não tem o bastante e fala demais por não ter nada a dizer. Simplesmente não tenho nada a dizer e, ao mesmo tempo, me sinto como se tivesse prestes a explodir de tantas coisas que tenho por gritar e nem sei o que são.
Talvez eu queira pegar um microfone em cima de um palco com o mundo inteiro na platéia e gritar o meu, o seu, o vazio de todos.
Já não consigo mais pegar o violão e compor algo sobre o mesmo tema: nenhum; de formas diferentes.
Ou talvez eu não queira gritar, dizer, conversar, apenas ficar mudo aqui, sozinho, até minha vida acabar.
Sempre achei que esse vazio fosse a espera de alguém que estivesse por chegar, depois, desisti e cheguei à conclusão de que é a espera por alguém que nunca vai voltar.
Agora percebo que não é nenhum deles, que é algo que eu sempre senti e que essas desculpas são tentativas de simplesmente dar uma razão à existência dessa “coisa” que não existe.
Se tivesse uma arma hoje, aqui, agora, atiraria contra a minha cabeça e acabaria com tudo isso que não existe, agora.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Trecho de "O Pistoleiro" - Stephen King

“(...)
O universo (disse ele) é o Grande Todo e oferece um paradoxo grande demais para ser apreendido pela mente finita. Assim como o cérebro vivo não pode conceber um cérebro não vivo – embora possa achar que pode -, a mente finita não pode apreender o infinito.
O fato prosaico da existência do universo já desacredita, por si mesmo, o pragmático e o romântico. Houve uma época, cem gerações antes de o mundo seguir adiante, em que a humanidade atingira perícia científica e técnica suficiente para atirar algumas lascas do grande pilar de pedra da realidade. Mesmo assim, a falsa luz da ciência (o conhecimento, se você preferir) só brilhou em alguns países desenvolvidos. Nesse respeito, uma companhia (ou conluio mafioso) abria o caminho: a North Central Positronics, como ela se autodenominava. Contudo, apesar de um tremendo incremento de novos conhecimentos, as novas percepções foram notavelmente reduzidas.
-Pistoleiro, nossos muitas vezes terravós venceram a-doença-querói, que chamavam de câncer, quase venceram o envelhecimento, andaram na lua...
-Não acredito – disse secamente o pistoleiro.
O homem de preto apenas sorriu e respondeu:
-Não precisa acreditar. Mas aconteceu. E foram feitos ou descobertos dezenas de engenhos incríveis. Mas a riqueza de informação produzia pouco ou nenhum discernimento. Não se escreveram grandes odes sobre as maravilhas da inseminação artificial... ter bebês a partir do esperma congelado... ou sobre carros que andavam graças à força que tiravam do sol. Pouca gente, se é que alguém o fez, parece ter compreendido o mais autêntico princípio da realidade: novo conhecimento conduz sempre a mistérios ainda mais espantosos. Maior conhecimento fisiológico do cérebro torna a existência da alma menos possível, ainda que mais provável pela própria natureza da pesquisa. Está entendendo? Claro que não. Você atingiu os limites de sua capacidade de compreender. Mas não faz mal... não é isso que nos interessa.
-O que é, então?
-O maior mistério que o universo propõe não é a vida, mas o tamanho. O tamanho contém a vida e a Torre contém o tamanho. A criança que em geral está familiarizada com o espanto, diz: papai, o que existe em cima do céu? E o pai diz: a escuridão do espaço. A criança: o que existe depois do espaço? O pai: a galáxia. A criança: depois da galáxia? O pai: outra galáxia. A criança: depois das outras galáxias? O pai: ninguém sabe.
“Está entendendo? O tamanho nos derrota. Para o peixe, o lago onde ele vive é o universo. O que pensa o peixe quando é puxado pela boca por um gancho prateado, nos limites da existência, e penetra num novo universo onde o ar afoga e a luminosidade é uma loucura azulada? Onde enormes bípedes sem guelras o amontoam para morrer numa caixa sufocante, forrada de vegetação úmida?
“Ou se pode pegar a ponta de um lápis e ampliá-la. Vamos chegar a um ponto onde uma atordoante compreensão cai sobre nós: a ponta do lápis não é sólida; é composta de átomos que giram e rodopiam como um trilhão de diabólicos planetas. O que nos parece sólido é apenas uma rede de coisas soltas, mantidas juntas pela gravidade. Vistas na sua real dimensão, as distâncias entre esses átomos podem se tornar quilômetros, abismos, eternidades. Os próprios átomos são compostos de núcleos com prótons e elétrons girando em torno deles. Podemos descer ainda mais até as partículas subatômicas. E depois para o quê? Para os táquions? Para nada? Claro que não. Tudo no universo rejeita o nada; sugerir um término é o único absurdo que existe.
“Se você recuasse para o limite do universo, será que encontraria uma cerca de madeira e tabuletas dizendo SEM SAÍDA? Não. Talvez você encontrasse algo duro e arredondado, como o pintinho deve ver o ovo do seu interior. E se você atravessasse a casca beliscando (ou encontrasse uma porta), não poderia jorrar, nesses confins do espaço, uma incrível luz torrencial através da abertura? Você não poderia olhar por ali e descobrir que todo o nosso universo é apenas parte de um átomo numa camada de relva? Não poderia ser levado a pensar que, ao queimar um graveto, você está incinerando uma eternidade de eternidades? Que a existência não avança para um infinito mas para uma infinidade deles?
“Talvez você tenha visto o lugar que nosso universo ocupa no esquema das coisas – não mais que um átomo numa camada de relva. Será possível que tudo que percebemos, do vírus microscópico à distante nebulosa Cabeça de Cavalo, esteja contido numa camada de relva que pode ter existido por uma única estação num outro fluxo de tempo? E se a camada fosse cortada por uma foice? Quando ela começasse a morrer, a podridão não escorreria para nosso próprio universo e nossas próprias vidas, deixando tudo amarelado, escuro e ressecado? Talvez isso já tenha começado a acontecer. Dizemos que o mundo seguiu adiante; talvez estejamos realmente querendo dizer que ele começou a secar.
“Pense em como essa idéia das coisas nos torna pequenos, pistoleiro! Se um Deus vela sobre tudo, acha realmente que Ele vai se preocupar em distribuir justiça a uma raça de mosquitos entre uma infinidade de raças de mosquitos? Será que Seu olho vê o pardal cair quando o pardal é menos que um pontinho de hidrogênio flutuando solto nas profundezas do espaço? E se Ele realmente vê... qual deve ser a natureza de um tal Deus? Onde ele vive? Como é possível viver além do infinito?
“Imagine a areia do deserto Mohaine, que você cruzou para me encontrar, e imagine um trilhão de universos – não mundos, mas universos – encerrados em cada grão daquele deserto; e dentro de cada universo, uma infinidade de outros. Nós nos elevamos sobre esses universos de uma suposta posição privilegiada na relva; com um movimento de sua bota, você pode chutar um bilhão de mundos, fazê-los voar para a escuridão, numa reação em cadeira que jamais terá fim.
“Tamanho, pistoleiro... tamanho...
“Mas continue a supor. Suponha que todos os mundos, todos os universos se reúnam num único nexo, um mesmo portal, uma Torre. E que dentro dela haja uma escada, levando, talvez, à própria Divindade. Você teria coragem de subir até lá, pistoleiro? Não é possível que em algum lugar sobre toda essa infinita realidade exista uma Sala?...
“Você não teria coragem.”
E na mente do pistoleiro, aquelas palavras ecoaram: você não teria coragem.
(...)”

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Trecho de "O Pistoleiro", Stephen King

"(...) Quando se sentaram diante da manta que servia de mesa, Brown surpreendeu-o de novo fazendo uma breve oração: pediu chuva, saúde e expansão para o espírito.
-Você acredita numa vida após a morte? - o pistoleiro perguntou a Brown quando ele punha três espigas de milho quentes no seu prato.
Brown assentiu.
-Acho que é esta aqui.
(...)"

sábado, 17 de maio de 2008

O Teatro Mágico


Eu acho engraçado como muitas pessoas simplesmente desprezam o cenário nacional e vão correndo para o internacional e pior, às vezes o criticam sem ao menos o conhecer direito.
Claro que o cenário brasileiro é totalmente diferente do exterior, não só na música como em todo o resto; na maioria das vezes, qualquer projeto que exija investimento será tratado de forma diferente no Brasil e em países monetariamente acima como os Estados Unidos, e a falta de investimentos em artes no Brasil torna o cenário diferente.
Mas isso não significa em hipótese alguma que seja pior, significa que precisamos de maneiras alternativas de divulgar a cultura e permitir o seu acesso, é o que muitas bandas não percebem e não tentam e poucas mal valorizadas permanecem tentando e se adequando à nossa realidade.
O Teatro Mágico é uma dessas bandas, uma banda que soa a Brasil, que luta para se adequar ao nosso cenário e não para transformar a música no Brasil no que ela é no exterior, uma banda que já percebeu que isso não é possível e, que se fosse, seria um disperdício.
Não sei nem se é correto usar o termo banda para o Teatro Mágico, já que é uma expressão artística que vai além da música: é arte no vestir, no movimentar, no discursar, no andar, em tudo. Se eu tivesse de descrever o Teatro Mágico de forma muito curta, diria que são pessoas que transpiram arte.

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http://www.oteatromágico.mus.br/

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Meu sonho - Álvares de Azevedo

"Eu
Cavaleiro das armas escuras,
Onde vais pelas trevas impuras
Com a espada sangüenta na mão?
Por que brilham teus olhos ardentes
E gemidos nos lábios frementes
Vertem fogo do teu coração?
Cavaleiro, quem és? o remorso?
Do corcel te debruças no dorso.
E galopas do vale através.
Oh! da estrada acordando as poeiras
Não escutas gritar as caveiras
E morder-te o fantasma nos pés?
Onde vais pelas trevas impuras,
Cavaleiro das armas escuras,
Macilento qual morto na tumba?
Tu escutas. Na longa montanha
Um tropel teu galope acompanha?
E um clamor de vingança retumba?
Cavaleiro, quem és? - que mistério,
Quem te força da morte no império
Pela noite assombrada a vagar?
O Fantasma
Sou o sonho da tua esperança,
Tua febre que nunca descansa,
O delírio que te há de matar!..."
Queria deixar claro que não gosto de Álvares de Azevedo, na verdade, odeio. Porém, como qualquer pessoa que se dedica, não importa quão grande seja a ausência de talento dela, alguma coisa de bom ela vai fazer durante a vida.