quarta-feira, 26 de novembro de 2008

O Sonho (E A CABEÇA NO INFERNO DA MENTE)

Tudo era escuro, não havia nada ao meu redor, em todo o horizonte, além de meu corpo. Eu estava caindo, mas sentia como se houvesse um chão; então, corri, gritei, corri, corri, gritei e, de repente, várias espécies de tentáculos de água começaram a surgir ao meu redor e percebi que não mais estava correndo, ou caindo, ou gritando. Flutuava e esses tentáculos me envolviam e roçavam em meu corpo; alguns tentavam esmagar meus braços e minhas pernas, mas simplesmente passavam por mim, como se eu (ou eles) fosse transparente. Lá embaixo, muito lá embaixo, enxerguei-me correndo, mas não me desesperava, apenas sentia os tentáculos, frescos, suaves, envolverem meu corpo.Pisquei os olhos e estava novamente correndo, correndo, até que trombei em um muro. Quando notei, estava cercado por um muro enorme e intransponível. A CABEÇA NO INFERNO DA MENTE, e um grande jato de fogo começou a passar por mim; sorri, não o sentia. A CABEÇA NO INFERNO DA MENTE. De repente, tudo queimava e pessoas se desesperavam, esmurrando o muro; de repente, eu sentia o fogo queimar e, como várias pessoas, gritava: "Morte! Deus! Deus! Morte! Rápida Morte! Rápido Deus!". E A CABEÇA NO INFERNO DA MENTE; de repente, alguns corpos se tornavam fogo e flutuavam e não sentiam mais a dor e sorriam; alguns tentavam subir também, e os corpos-fogo os empurravam de volta ao fogo, e tudo era "Deus, rápido Deus, rápida morte, rápido morte, Deus morte rápido". A CABEÇA NO INFERNO DA MENTE, um balde gigante e cheio de água aparece sobre nós, mas não derramou; de repente, percebi que eu tinha um balde vazio em minhas mãos, e todos tinham. O balde enorme começou a despejar água em nossos baldes e, as pequenas gotas que ele errava e caíam no fogo, as pessoas apontavam e gritavam: "Milagre, milagre!" e em poucos segundos o local era convertido em fogo novamente. E ninguém jogava seus baldes de água no fogo, tudo era "Deus, morte, rápido, morte ao Deus, que Deus nos salve!".De repente, todos éramos fogo e uma grande corrente de ar nos sugava para o cano de um revólver, nos compactamos e éramos uma bala. Podia ver pelo cano do revólver o nada e, de repente, um gatilho foi puxado, todos gritamos e voamos, juntos, por uma planície. Já não éramos uma bala e, a medida que voávamos, tomamos forma de uma lança de fogo e eu avistei uma cruz. A antingimos em cheio, porém, não havia ninguém nela; explodimos como lindos foguetes no céu, como A CABEÇA NO INFERNO DA MENTE.Estava em meu quarto, em cima de uma mulher, e eu precisava terminar de comê-la logo, porque ia vomitar e o sangue já não circulava mais em minhas veias, e ela gemia, e estava pálida como o demônio, o demônio, o demônio, e estava morta, ao lado de minha cama, um gravador gemia e eu tremia, e lembrei-me que no início havia uma estrela e velhos corriam atrás dela e, de repente, o brilho lindo dessa estrela começou a se intensificar demais, e todos ficavam cegos, e todos explodiam e a cabeça encontrou o inferno cego da mente. E vomitei no corpo do cadáver, corri pela porta do meu quarto e sempre que passava por ela saía novamente em meu quarto, e lá estava o cadáver do demônio morto e estuprado por mim, corria, passava pela porta, quero a verdade, a verdade, a verdade, a verdade, a verdade, a maldade, a maldade, a verdade, a verdade. A VERDADE. (Quer ver a verdade?).
Estava no sofá de um escritório de luxo e, sempre que respirava, fumaça saía de minha boca ao exalar o ar, e havia um cigarro em minhas mãos, aceso, mas não soltava fumaça; o traguei e, ao soltar o ar, não havia fumaça. Havia uma mesa e a mulher que estuprei estava atrás dela, na frente, um belo homem chegava caminhando: "Está tudo pronto, Deus, se quer destruir o mundo, basta assinar". E havia um papel, e uma caneta, e Deus pegou a caneta, se virou para mim e disse: "Nada está ao contrário, se parece ao contrário para você, talvez seja porque você queira o contrário".
Pisquei o olho e estava em meu quarto novamente, e transava comigo mesmo, e eu estava morto, mas sorria; me esfaqueei e o sangue esguichava, e eu estava no chão e só havia um eu; e eu enfiava a faca com força em mim mesmo, e não havia dor, tudo era tesão, e eu gemia. Corri rindo pela porta e novamente estava no escritório e me via no sofá, e me via atrás da mesa, e segurava o papel; gargalhei, assinei, tudo explodiu.
Novamente eu estava envolto por tentáculos líquidos, e sorria, só havia eu, mais ninguém. Havia, dessa vez, uma bela paisagem a minha volta, e os tentáculos a agarraram e tudo se tornou água e entrou em um balde. Essa água tomou forma de um homem, ergueu a mão para mim e eu a apertei; "é sempre bom fazer negócios com você", ele disse, e entrou novamente no balde. A água, como um soco, entrou direto em meu peito, caí de joelhos em frente ao balde e restava uma gota, que entrou em meu olho e, em seguida, saiu lentamente em forma de lágrima.
Acordei, sorrindo, com a cabeça fora do inferno da mente.

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Entenda que a pontuação confusa é proposital e que a intenção do texto é que seja lido o mais rápido possível, em voz alta para si mesmo e foi escrito com a intenção ao mesmo tempo que literária (pela pontuação proposital), cinematográfica (pelas cenas narradas).

domingo, 23 de novembro de 2008

Jingle Bell

Nesse Natal, não corra riscos; faça suas compras com antecedência.




sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Filosofias de boteco


Hahaha! Desculpe, mas esse texto precisava se iniciar com uma gargalhada; já notaram que a gargalhada de um louco, que pra gente é uma demonstração de aprofundamento na insanidade, para ele pode significar um passo em direção à sanidade? Ou quem sabe não possa ser o inverso? Quem define a sanidade? Talvez Einstein e suas peripécias relativas.
A fórmula ao lado apenas demonstra, a princípio, um conceito ao qual estamos muito familiarizados: quanto mais próximos estamos de uma fonte emissora de sons, mais intensamente os ouvimos. Indo além, porém, percebemos também que, nesse momento, estamos ouvindo todos os sons do mundo, porém "alguns" com intensidade tão baixa que se tornam imperceptíveis. Entrando no campo da filosofia, o único som que não se ouve é o som que sai exatamente de onde ele é emitido, pois a área seria zero e, assim, a intensidade seria anulada.
Logo, a única coisa que não ouvimos é a nós mesmos; bem onde procuramos o autoconhecimento (hahaha). Procuramos, procuramos, não o encontramos; o que fazer? Leia-mos os clássicos, os consagrados, os distantes filósofos. Ó, tão sábios, porém tão distantes, como apreciar uma música que agora está sendo tocada a uma distância tão grande de você? Você a ouve, mas em intensidade tão baixa que nem é capaz de notá-la. Então como se autoconhecer? - pergunta o interlocutor desesperado.
Se algo estiver tão próximo de uma fonte sonora que a área seja quase zero, mas não zero, então a intensidade sonora recebida por este será de uma grandeza imensamente pleonástica. Que mundo irônico, nascemos todos hostis e diferentes, os que se julgam sábios passam a vida procurando respostas em livros escritos por pessoas que nunca as encontraram, os que se julgam espertos demais passam a vida desprezando quem está ao seu redor e buscando verdades de forma introspectiva quando, na verdade, os únicos que têm chances de encontrá-las talvez sejam os desprezados, os que não são sábios ou espertos, os que vivem a vida simplesmente e, talvez, nem busquem respostas. A única forma de se autoconhecer é deixar que alguém se aproxime tanto de você que possa compreender, sobre você, o que nem mesmo você compreende.
A ironia maior é que, duas ondas de freqüências iguais ou muito próximas, ao se interferirem, têm grandes chances de ter pontos de amplitude simplesmente igual a zero ou muito próximos a isso. Porém, ondas de freqüências diferentes, essas sim, muito improvavelmente terão pontos iguais a zero e podem ser construtivas ou destrutivas. É muito fácil se aproximar de alguém que se pareça muito com você, mas esse talvez tenha as mesmas dúvidas e anseios que você, como peças iguais de um quebra-cabeça. Para se autoconhecer, deve-se enfrentar o desafio de se aproximar daquele que se difere totalmente de você, outra ironia: apesar de tão diferentes, são exatamente as peças que se encaixam; para uma peça se encaixar na outra no quebra-cabeça, elas devem possuir uma superfície totalmente diferente e, quando essas e todas as outras se encaixam, tornam possível que se reconheça a imagem; quando todas as idéias se encaixam, é possível reconhecer o contexto final.
Por mais incrível que possa parecer, só aqui começa a piada. Se há um Deus, ele poderia ter criado todo esse funcionamento ao contrário: poderíamos ouvir melhor quem está extremamente distante de nós e mal quem está próximo. Que idéia louca e totalmente incoerente! Se vivêssemos em um universo que funcionasse dessa forma, o funcionamento do nosso soaria totalmente louco e incoerente. Talvez nosso universo funcione assim porque esse Deus queria que alguém, um dia, olhasse para essa fórmula e entendesse tudo isso. Talvez, por dez segundos, eu tenha conseguido conhecer o que é o foco do olhar de Deus.
Hahaha!

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

"Se Deus é justo, então quem fez o julgamento?"


Se há um Deus em algum lugar, é certo que não deve ser atribuída a ele a culpa por nenhuma das atrocidades presentes no mundo; a injustiça humana confunde a justiça divina.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Pessoas e animais


O vinho pode afastar o frio
o cigarro, esquentar os pulmões;
mas nenhum deles pode afastar a solidão.
E o vazio que preenche a minha vida
continua a me arrastar como uma mão.
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Não há nada como confundir o sopro do amor
com o sopro do ódio, sopro do rancor.
E quando tudo é tão errado à nossa volta
é difícil recusar a solidão.
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Balançando entre insanidade e insegurança
a tristeza é o fiel da balança.
E nada mais imteressa e não há mais mudança
se o seu próprio coração fingir ser em vão
qualquer tentativa de diferenciar
morte e libertação
palavras e olhares
mentiras e verdades
dinheiro e solução
pessoas e animais.
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Não há mais coragem para tentar
nem medo para parar;
não há mais amor nem ódio por você.
mas você persiste em ser a minha maldição
em sonho, pesadelo ou alucinação.
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E quando penso em correr, escapar
são as mesmas quatro letras no papel.
Estejam elas claras ou não
são elas que me mantêm nessa prisão.
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Balançando entre insanidade e insegurança
a tristeza é o fiel da balança.
E nada mais interessa e não há mais mudança
se o seu próprio coração sentir ser em vão
qualquer tentativa de diferenciar
morte e libertação
palavras e olhares
mentiras e verdades
dinheiro e solução
pessoas e animais.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

"Podem calar os gênios, mas não podem apagar suas heranças (...)"

O sono passa por mim como uma brisa; traz uma sensação de alívio mas me abandona logo em seguida; em tempos como esse, acho incrível que esse tipo de sentimento passe apenas por mim.
Quanto mais se aprende, mais medo se cria, mais desesperanças; o aprendizado alimenta o ódio, a sensação de ânsia de vingança, mas, principalmente, a sensação de estar em perigo. Não consigo dormir ao ver ao meu lado um grande irmão em um sono profundo e tranqüilo e imaginar que sua tranqüilidade possa ser rompida por cobiças artificiais alheias. Penso em minha família, em crianças de minha família, esse pensamento me remete a barbaridades cometidas em outros países e pensamentos de tristeza infinita vêm à minha cabeça, como se eu pudesse sentir uma pequena parte do que esses povos sentiram e apenas essa pequena parte já fosse insuportável. Lutaria até a morte por cada um deles, até que meu último pedaço de carne se decompusesse; mas me pergunto se adiantaria alguma coisa, me pergunto se estou sozinho nessa.
Há dias não durmo direito e, acima de meu cansaço físico, estou exaurido mentalmente em pensar que dias piores ainda possam vir, que as coisas se tornem mais artificiais. Pior que isso seria se a margem do sofrimento fosse ultrapassada e as pessoas deixassem escapar seus sentimentos por puro desespero.
Acordem, acordem! Mais que com insônia, minha mente acorda e se liga mais a cada noite que passo a observar a lua; talvez não compreenda o céu como um astrônomo, mas talvez o céu me compreenda melhor do que a qualquer um deles.
Podem calar os gênios, mas não podem apagar suas heranças; o desafio à luta pela hegemonia dos povos continua vivo.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

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"Podem calar os gênios, mas o desafio à luta pela hegemonia dos povos continua vivo"
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Em cima: Yasser Arafat (esquerda); Ruhollah Khomeini (direita)
Em baixo: Patrice Lumumba (esquerda); Gamal Abdel Nasser (direita)

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

(In)felicidade


http://rapidshare.com/files/163113925/Ethos_-__In_felicidade.WAV.html

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Marcelo Camelo; Los Hermanos e pós Los Hermanos


Mais difícil do que reconhecer um gênio da música vivendo em sua época, é criticá-lo em seu auge musical; enquanto não há polêmica sobre uma consagração, enquanto esta é unânime, posicionar-se contra soa como uma loucura.

O Los Hermanos é uma banda carioca, inciada em 1997, que conta com uma mistura de inúmeros estilos sonoros, o que a torna muito difícil de classificar, ainda levando em consideração que eu não gosto muito de rótulos na música, principalmente nos dias de hoje, em que uma banda é influênciada por inúmeros estilos e as correntes vão, cada vez mais, desaparecendo. A banda possui quatro álbuns: "Los Hermanos", "Bloco do eu sozinho", "Ventura" e "Quatro". Analisando esses álbuns, podemos notar não somente as mudanças e assimilações que a banda foi fazendo no decorrer de sua carreira, como também as mudanças de eixo dentre as composições e as diferentes personalidades que nela se encontram. Apesar de muitos negarem isso por simples fanatismo, comum para um fã de qualquer banda, que não aceita a idéia de que alguns dos membros desta não tenham grande utilidade ou influência, o Los Hermanos gira em torno de duas figuras: Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante.

O "Los Hermanos", álbum, é lançado em 1999 pela banda. O álbum conta com um dos melhores baixistas dessa geração, com um baixo muito bem elaborado se chocando com melodias não tão boas assim, demonstrando a influência do hardcore e ska principalmente. É um álbum no qual o Los Hermanos ainda não se achou como banda e, apesar de razoável, não traz nada de novo e de excelente pro Rock, um álbum normal.

Em 2001, com o "Bloco do eu sozinho", a banda começa a encontrar realmente seu estilo, com uma mistura de MPB, samba, rock e mantendo ainda raízes do álbum anterior, sendo um marco para os fãs. Esse álbum divide pessoas que gostam da fase anterior e do que vem em seguida, mas simplesmente pelo óbvio fator "gosto pessoal". Aqui, o Los Hermanos começa a se destacar como uma boa banda, mas ainda não era o que viria a ser. Se no primeiro álbum a banda era praticamente Marcelo Camelo, nesse álbum, Rodrigo Amarante começa a se destacar como verdadeiro músico na banda.

Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante possuem personalidades e gostos musicais, tendências musicais, amplamente diferentes, mas isso se consolida de forma excepcional em um dos melhores álbuns da música nacional, um marco de nossa geração e o que torna o Los Hermanos, finalmente, a banda excepcional que é; em 2003, nasce o "Ventura". O álbum é uma mistura de MPB no melhor estilo Camelo com Rock no melhor estilo Amarante; porém, esses estilos se fundem em todas as músicas, demonstrando uma excelente confluência e uma linha que influenciará a música nacional e a difusão da cultura nacional de forma totalmente diferente, como se tornasse esse estilo, pouco procurado por jovens, algo acessível e interessante. Até aí, a parceria Camelo e Amarante era algo a se considerar explêndido e importantíssimo pra música nacional.

Porém, toda essa diferença musical e na própria personalidade começou a ir muito além e, em 2005, com o lançamento do "Quatro", nota-se que era algo que caminhava para já não mais dar certo. Se no "Ventura" essa mistura se fundiu em um álbum homogêneo e com um novo estilo, no "Quatro" essa mistura já se mostrava não conciliável, e temos um álbum totalmente heterogêneo que, apesar de apresentar músicas maravilhosas, não segue uma linha; era como se ouvíssemos dois álbuns de estilos diferentes em um álbum só. No "Quatro", o Los Hermanos já demonstra que seguir com a banda seria uma besteira, algo inconciliável e inútil.

Então, banda anuncia um recesso por tempo indeterminado para dedicação a projetos pessoais.

Essa breve divagação sobre a banda tem como objetivo seguir como base para analisarmos o pós Los Hermanos e chegarmos a conclusões sobre afirmações normalmente feitas durante a existência da banda.

Minha forma de ver Marcelo Camelo é como alguém que não possui tanta habilidade instrumental, mas que possui um talento nato para a música e, apesar de não ter tanto conhecimento teórico, possui uma capacidade incrível de composição de melodias; enquanto Rodrigo Amarante, apesar de um excelente instrumentista, se baseia em maior dedicação musical e um menor talento; porém, por muito tempo se ouviu que, no Los Hermanos, o talento em melodias estava em Amarante e as melhores composições também, apesar de estarem em menor número.

Em 2008, Marcelo Camelo lança o álbum "Sou" e Rodrigo Amarante se dedica a projetos como "Little Joy".

Apesar de ser uma boa banda, o Little Joy afasta o Amarante totalmente da cultura nacional e o coloca em uma cultura totalmente norte-americanizada, tendo como parceria o baterista Fabrizio Moretti, brasileiro da banda The Strokes. É um som razoável, mas que decepciona muito; principalmente ao se pensar que é algo vindo de um ex-membro de uma banda de ampla valorização da cultura nacional. Enquanto isso, Marcelo Camelo traz, no álbum "Sou", um álbum repleto de Brasil, com uma característica forte de MPB, mas diferente da MPB que estamos habituados, é como se fosse um álbum totalmente Camelo; sem dúvidas, um álbum excelente, muito melhor do que seria um quinto álbum do Los Hermanos; e o mais curioso, com uma melodia muito mais bem elaborada e composições muito melhores do que qualquer outra feita por Amarante no pós-Los Hermanos. Sem dúvidas, ao fim da banda, Camelo prova que o talento musical está, em boa parte, nele - apesar de o Amarante ser um excelente músico - e se consagra como um compositor a ser estudado futuramente como um marco dessa geração na música nacional. álbuns como "Sou" e "Ventura" estão entre álbuns que confirmam a existência de uma música nacional em meio a um cenário de extrema influência internacional, com bandas como "Cansei de ser sexy".

Porém, surge uma decepção grande ainda no ano de 2008, que é o que acabo de ouvir e é o principal objetivo desse texto; quase imediatamente após o início da turnê do álbum "Sou", Marcelo Camelo lança um álbum instrumental com uma banda chamada "Os imprevisíveis". O que sinto ao ouvir é uma tentativa de produzir algo alternativo e experimentalista. Há duas opções para esse álbum: ou ele é messiânico demais para mim, ou é um dos maiores lixos pseudo-experimentalistas que já ouvi em toda minha vida; e o pior é saber que Camelo não usa drogas e, portanto, não estava totalmente drogado ao fazê-lo. A impressão que tenho ao ouvi-lo é que os músicos tentam inibir seu talento e tocar o pior possível, como se isso fosse algo revolucionário. Acho que Camelo simplesmente perdeu seu lugar e tentou fazer algo em estilo Thom Yorke, o que, sem dúvidas, não está imbutido na personalidade musical dele. Admiro a tentativa, adoro experimentalismos, mas uma coisa é fato: bagunça sonora não é som alternativo e muito menos experimentalismo, é simplesmente algo dispensável aos ouvidos dos fãs.

Admiro muito o Marcelo Camelo, o tenho como uma das maiores influências musicais em minha vida; por isso, a partir de hoje, passarei a torcer para que ele esqueça essa idéia e volte a produzir o que eu chamo de "música".

domingo, 9 de novembro de 2008

Amor e vontade


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É como minha mãe realmente me falava: "O importante não é ganhar, é competir"; mas ninguém consegue entender essa frase. Não é pra ser um perdedor passivo e, no fim, vê-la como um consolo, é ter a convicção de que não importa se o que veio foi a vitória ou a derrota, o que importa foi todo o esforço empregado em busca da vitória. Se há dois nomes que devem ser citados e consagrados na história do Palmeiras, são Marcos e Kleber. Não é Valdívia, Vanderlei Luxemburgo; habilidade e gritaria, esperteza e falta de coração, não são o bonito do esporte, por mais que a falta destes possa trazer a derrota, a vitória passa a não ser nada perante a beleza do esforço e da vontade de uma vitória por amor, e quando esta acontece, a consagração passa a acontecer de forma magnífica e eterna.
O que senti hoje foi uma pena sem tamanho das pessoas que vivem de consagração de décadas passadas de seu time, de jogadores que nunca sequer viram jogar, pessoas que se utilizam puramente de argumentos de autoridade passados pelos pais sem conseguir enxergar a beleza do futebol; é o mesmo de amar uma mulher que morreu antes de você nascer, não é possível sentir um sentimento real de amor e admiração, sentir na pele, o que é estar junto e se sentir junto de um esportista, se não esteve realmente com ele.
O que assisti hoje foi (a) um espetáculo de beleza e vontade, de amor ao time, simultâneo a vergonhosos vexames de pura cobiça ao fortalecimento do ego: enquanto o Palmeiras era um time totalmente sem raça e vontade, vergonhoso em campo, em meio a uma torcida maravilhosa, Marcos era um exemplo do que é amar uma camisa, do que é se sentir usando um manto que não é como qualquer outro, do que é jogar por amor e não por cobiça. E é o que foi demonstrado pelo Kléber durante todo o campeonato. Habilidades e gracinhas, mas o sumiço e a covardia na hora da real necessidade (Valdívia) não é a beleza real do esporte, desprezo a um campeonato que talvez não tenha tanta significação em seu currículo (Sul-americana) e esquecimento da importância que este talvez tenha para o time (Vanderlei Luxemburgo) não é a beleza real do futebol.
Perdemos uma partida, talvez o título (estive com o Palmeiras até os 45 do segundo tempo em todos os jogos, não importa o placar, e estarei até o fim do campeonato, não importa quão ínfimas sejam as chances), mas ganhamos as cenas que estão entre as mais bonitas da década do nosso campeonato; o amor à camisa não está morto.

sábado, 8 de novembro de 2008

Saudosismo ou nostalgia?


Obrigado, Otávio, pelo desenho.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

"(...) Eu gosto é do gasto"

O velho e o moço
Los Hermanos
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"Deixo tudo assim,
não me importo em ver
a idade em mim
Ouço o que convém
Eu gosto é do gasto
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Sei do incômodo
e ela tem razão
quando vem dizer
que eu preciso sim
de todo cuidado
.
E se eu fosse o primeiro
a voltar pra mudar
o que eu fiz
quem então, agora, eu seria?
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Tanto faz
e o que não foi, não é
Eu sei que ainda vou voltar
mas eu quem será?
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Deixo tudo assim,
não me acanho em ver
vaidade em mim
Eu digo o que condiz
Eu gosto é do estrago
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Sei do escândalo
e eles têm razão
quando vêm dizer
que eu não sei medir
nem tempo e nem medo
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E se eu for o primeiro
a prever e poder
desistir do que for dar errado?
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Ora, se não sou eu
quem mais vai decidir
o que é bom pra mim?
Dispenso a previsão
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Se o que eu sou
é também o que escolhi ser
Aceito a condição
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Vou levando assim,
que o acaso é amigo
do meu coração
Quando falo comigo
que eu sei ouvir."
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Mais que qualquer um, considero auto-conhecimento introspectivo uma grande bobagem; pode-se até chegar mais perto de uma dominação melhor sobre si mesmo, mas nunca uma dominação ampla e completa.
Mas como um ser humano repleto de contradições, estou em um período de maior descoberta, por isso ando postando tantas músicas e menos textos próprios. Na verdade, isso já me encheu o saco de forma imensurável e creio que está tornando o blog maçante; não que meus textos sejam melhores que a produção alheia, mas porque um blog de textos alheios é como um livro de histórias alheias, simplesmente inútil.
Também estou com idéias de escrever coisas maiores, comecei um conto e, quando acabá-lo, pretendo postar um link pra baixá-lo por aqui.
Logo, pretendo deixar o blog um tempo de lado, a não ser que algo de extrema necessidade de exposição me apareça. Não creio que o conto demore tanto tempo pra ser terminado, mas espero que no mínimo eu chegue ao fim deste.
Abraços

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Liberdade


"(...)
Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir
Deus lhe pague
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Pela cachaça de graça que a gente tem de engolir
Pela fumaça e a desgraça que a gente tem de tossir
Pelos andaimes pingentes que a gente tem de cair
Deus lhe pague
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Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir
Deus lhe pague"

domingo, 26 de outubro de 2008

sábado, 25 de outubro de 2008

Passo a passo

Um passo, um segundo,
um pouco menos de vida.
Um passo, um segundo
um pouco mais de solidão.
Um passo, um segundo, um pouco mais de explicações
e um pouco mais de nada.
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Um pouco menos de tudo, um pouco a mais ao tudo.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

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"Desolação de Los Angeles,
a Baixa Califórnia e uns desertos ilhados
por um pacífico turvo;
A asa do avião,
o tapete cor de poeira de dentro do avião,
a lembrança do branco de uma página;
Nada serve de chão
onde caiam minhas lágrimas."
Caetano Veloso

terça-feira, 21 de outubro de 2008

O imperialismo e o neocolonialismo

No século XIX o capitalismo assume um novo contexto; a concorrência tão evitada (Inglaterra tenta impedir a concretização do pensamento liberal francês financiando os países absolutistas contra a Revolução Francesa, tenta impedir a independência das treze colônias, a França entra em guerra contra a Prússia e Sardenha-Piemonte para evitar a unificação e formação dos países Itália e Alemanha) surge com a formação dos Estados Unidos, que impões domínio sobre a América através da Doutrina Monroe e do Big Stick Police; a França, que havia sido dominada com o pensamento burguês, o Japão, que passa por uma transição atrasada do Sistema Feudal para uma unidade política que facilitava a arrecadação de subsídios para uma industrialização, a unificação italiana e alemã.
Logo, cada Estado procurou assegurar seu território como mercado consumidor próprio (na América, a origem da dependência tomando formato eterno está aí, pois os estado-unidenses procuraram subjugá-los e, de certa forma, pará-los no tempo, pois, com seus mercados consumidores consumindo produtos estrangeiros - muitos ingleses, no caso brasileiro, lembrar do Tratado de Comércio e Navegação e Aliança e Amizade - a industrialização nacional não se desenvolveu).
O mundo passava pela Segunda fase da Revolução Industrial, com ela se espalhando para vários países, como supracitado, tendo a produção se tornado mais eficiente com o surgimento do petróleo como matriz energética, a eletricidade e a aplicação de modelos de produção como o Taylorismo e o Fordismo.
Lembre-se também que em meados do século XIX surge o nacionalismo como expressão do direito de liberdade de um povo através de um governo próprio, e que este evoluirá para um sentimento extremista de ufanismo, o que limitará ainda mais o mercado consumidor de um país a ele próprio.
Com a grande mudança na forma de produção, empresas que cresceram mais passam a dominar determinadas áreas produtivas, tendo o capitalismo concorrencial não chegado ao fim, mas chegado onde tendia a chegar, com o monopólio de determinadas empresas, o capitalismo monopolista. Surgem os holdings, cartéis e trustes; formas de empresas maiores monopolisarem o mercado e excluírem empresas menores, "engolindo-as".
Com esse fechamento de mercado pelo alastramento da industrialização e a limitação do mercado na América, os olhos europeus se voltam para a África e Ásia.
Os países europeus iniciam o neocolonialismo e, se antes a África só era ocupada por europeus em Guiné, Moçambique e Angola pelos portugueses desde o período de expansão marítma no século XVI, agora a África e Ásia têm seus territórios repartidos entre os países centrais europeus.
O neocolonialismo era o complemento que estabilizava a economia industrial dos países europeus: com ele, possuíam novamente um amplo mercado consumidor, um fornecedor "estável" (ao menos a princípio) de matéria-prima.
Além disso, deve-se lembrar que toda essa evolução capitalista se baseou principalmente em uma intensificação na exploração do proletariado (a qual já era intensa) e isso acabou por gerar movimentos como o cartismo, na Inglaterra, que fazia reinvidicações operárias como limitação na carga horária, fim do trabalho infantil, salário mínimo, além de o direito de interferência política com o sufrágio universal. Surgem as trade-unions, que darão origem ao sindicalismo, o ideal operário começa a tomar forma e se basear em revoltas anteriores como a Conspiração dos Iguais, de Graco Babeuf, na Revolução Francesa. Surge, então, o ideal comunista e as doutrinas sociais, métodos através dos quais se chegaria ao Comunismo: Socialismo Utópico (Robert Owen, falanstérios), Socialismo Científico (Friedrich Engels, Karl Marx), Anarquismo (Bakhunin).
Assim, com o acirramento dessas revoltas e o acúmulo de capital, os empresários passam também a investir nessas colônias e mandar trabalhadores para elas, aliviando o exército industrial de reserva e, concedendo conquistas aos operários, amenizando esses ideais e acomodando os operários, tornando o sonho do Comunismo cada vez mais distante (claro que é um processo realmente gradativo, que vem acontecento até os dias de hoje).
Porém, as nações industrializadas começam a acomodar e abusar na exploração, surgindo, nessas colônias, revoltas.
A Inglaterra tinha na Índia um controle total, cobrando impostos, vendendo suas mercadorias e controlando os cipaios, tropas nativas. Quem cuidava da cobrança de impostos era a Companhia das Índias Orientais (a mesma que realizava o comércio do chá da Lei do Chá na América, uma das leis restritivas, do período de treze colônias, no pós-Guerra dos Sete Anos). Porém, os cipaios descobriram que os ingleses utilizavam em seus materiais couro de vaca (animal sagrado nesse país) e a Inglaterra aprofundou o controle sobre a cobrança de impostos, surgindo a Revolta dos Cipaios, que foi duramente reprimida e serviu de pretexto para a tomada de poder político na Índia por parte da Inglaterra.
Na China, surge a Guerra do Ópio, pela qual a Inglaterra tomou Hong-Kong (que só voltou a ser domínio Chinês no século XX) e, em seguida, teve seu território repartido entre potências industriais como França, Alemanha, Rússia e Estados Unidos. Essa dominação abusiva gerou a Guerra dos Boxers, que tentou expulsar esses países, mas foi duramente reprimida por uma coligação deles.
Vale perceber, nesse contexto, que a reforma agrária foi essencial para países pobres com grande concentração fundiária, como a França e o Japão, países que protegeram seus mercados, investiram em sua industrialização e realizaram a reforma agrária, dando assim, um salto de países prejudicados para potências mundiais. Países como o Brasil, que não conseguiu (e nem tentou na maior parte do tempo) proteger seu mercado nem realizar a reforma agrária continuaram pobres; portanto, a reforma agrária foi e continua sendo um passo essencial para o desenvolvimento de um país.
É importante também perceber que a unificação tardia italiana e alemã prejudicou muito esses países na disputa da neocolonização, principal motivo gerador da Primeira Guerra Mundial.
A Itália e Alemanha também desenvolveram laços por se unirem na luta pela unificação (Prúsia e Sardenha-Piemonte) que se aplicararão na Segunda Guerra Mundial (não por amizade, mas por passarem por um processo de formação e pós-formação muito semelhantes, gerando uma confluência política (tanto em parte da Primeira Guerra como em toda a Segunda).

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Diálogo de "Retrato de Dorian Gray", de Oscar Wilde

"(...)
-Quer então que eu defenda o meu trono?
-Quero.
-Ou diga as verdades de amanhã?
-Prefiro os erros de hoje, respondeu ela.
-Desarma-me, Gladys.
-Do seu escudo, Henrique: não da sua lança.
-Nunca pelejo contra a beleza, volveu êle, com um aceno de mão.
-É êsse o seu êrro, Henrique, creia-me. Exagera o valor da Beleza.
-Como pode dizer isso? Penso que vale mais ser belo do que ser bom. Mas por outro lado, ninguém primeiro do que eu reconhece que vale mais ser bom do que ser feio...
-Então a fealdade é um dos sete pecados mortais? exclamou a duquesa. Que é feito do seu simile a respeito da orquídea?
-A fealdade, Gladys, é uma das sete virtudes mortais. Como boa Tory, que é, não as deve menosprezar. A cerveja, a Bíblia e as sete virtudes mortais fizeram a nossa Inglaterra, o que ela é.
-Então não gosta da sua terra?
-Vivo nela.
-Para melhor poder censurá-la.
-Quer que eu adote a opinião da Europa sôbre ela?
-Que dizem de nós?
-Que Tartufo emigrou para Inglaterra e abriu uma loja.
-É sua essa frase, Henrique?
-Dou-lha
-Não me poderia servir dela. É verdadeira demais.
-Não tem que recear. Os nossos patrícios nunca reconhecem uma descrição.
-São práticos.
-São mais manhosos que práticos. Quando escrituram os seus livros, saldam a estupidez com a riqueza, e o vício com a hipocrisia.
-Contudo, temos feito grandes coisas.
-As grandes coisas é que foram atiradas ao nosso encontro, Gladys.
-Suportamo-lhes o pêso.
-Sòmente até à Bôlsa.
Ela abanou a cabeça e exclamou:
-Creio na raça.
-Representa a sobrevivência do impulso.
-Tem progredido.
-Fascina-me mais a decadência.
-E que diz da Arte?
-É uma doença.
-E o Amor?
-Uma ilusão.
-E a religião?
-Uma coisa que a moda inventou para substituir a crença.
-É um cético.
-Nunca! O ceticismo é o comêço da Fé.
-Que é você?
-Definir é limitar.
-Dê-me um rastro.
-Os fios partem-se. Extraviar-se-ia no labirinto.
(...)"

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Bom, "O Retrato de Dorian Gray" é um livro composto por diálogos interessantíssimos, o que me impossibilita de selecionar apenas um e ficar satisfeito com a minha postagem, levando em consideração que esse está longe de ser um diálogo que se destaque perante aos outros; é um livro que todos devem ler durante a vida; ou melhor dizendo, antes de completarem vinte anos.
Dedico a minha leitura e todo o meu aprendizado (na verdade, agradeço) à minha falecida tia Letícia Maria Recipute (Inscreve-se no livro que ela o recebeu no dia 21/09/1960).

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Pensamentos soltos..

Tudo o que ouço em minha cabeça é um grito constante e a solidão, mais pura e cortante que nunca.
Às vezes eu acho que a conheço melhor que qualquer um; danem-se os consagrados músicos e poetas. Eu, um insignificante varginhense, sou o que a melhor conhece e conheceu de todos os tempos. Sou o único que a percebo, a dou atenção e a alimento a todo instante, como um animal de estimação, ou melhor dizendo, uma fera que deve ser bem tratada para que não se enfureça e te devore.
Sei bem como ela é um falso amigo, aquele que você sente saudades quando se distancia, quando reaproxima, se reconforta por pouco tempo e logo vê que o idealizou esse tempo todo, mas que ele não traz nada de bom pra você. Modéstia à parte, o que a solidão me traz são os poemas que escrevo para você, as músicas para te reconfortarem e acompanharem nos momentos que você viveu e eu não. Às vezes eu escrevo algo e só passo a entendê-lo muito depois, e uma frase que, a cada dia que passa, eu a entendo melhor, é "(...) O artista deve ser triste para que as outras pessoas sejam felizes". É incrível como podemos estudar, ler e nos informar o tempo todo quando, na verdade, a resposta pra tudo nasceu dentro de nós e está guardada na ponta de um lápis mordido e mal apontado, assim como, às vezes, o melhor dos livros já passou pela mão de milhares de pessoas e espera para ser jogado no lixo em algum sebo, e não possui uma linda capa e está em alguma livraria enorme por aí.
E é esse o melhor e o pior momento do meu dia, a noite, o meu caderno, a minha cama. Ah, que coisa antagônica é a solidão!
Às vezes posso não estar nem um pouco cansado e ela não vem me visitar, então, é deitar e dormir. Mas acho que quanto mais você pensa, mais você se cansa e mais você a atrai, e é naqueles dias que você deita sem conseguir sentir seu corpo que ela vem te visitar, rouba seu sono e coloca em seu lugar lembranças e pensamentos.
Fecho os olhos e me lembro de estar em outra cama pela qual passei, deitado pensando no que aconteceu naquele dia, por que estava ali e como era bom (ou ruim). Acho que é por andar sem ter o que pensar sobre minha vida e meu dia que tenho de recorrer ao passado e tentar subverter a memória em esperança de repetição, o que nunca acontece; sempre se converte em agonia e desespero por estar parado aqui sem nada acontecendo ou por acontecer.
Um dia desses preciso pôr minha mochila nas costas e sair por aí de novo.
.
"(...) A solidão é contar estrelas
sozinho ao meio-dia
enchendo de perguntas
a vida vazia (...)"
.
E cá estou eu, e lá se vai mais uma insônia no 204 para a minha contagem.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Meu, seu, nosso

Há muitos conceitos e idéias que precisam de uma ampla revisão em nossas cabeças. Por muito tempo o homem não percebeu (apesar de ter aplicado involuntariamente) que a inteligência e a criatividade partem de dois "caminhos", a própria capacidade de raciocínio e a imaginação, o poder de abstração. A maior parte de nossos conceitos vem de linhas extremamente racionais traçadas a partir de um ponto imaginário inicial; pelas pessoas não terem percebido a importância da imaginação, poucos, através dela, deram o ponta-pé inicial para toda uma linha de raciocínio.
Fica claro na história que a imaginação é o pedestal da evolução, mas, com essa percepção e evolução da imaginação, o homem passa a perceber que vários conceitos com base racional precisaram ser reformulados por ignorarem diversos fatores, ou melhor dizendo, que além de a imaginação ser o pedestal da evolução, ela deve andar sempre lado a lado com o raciocínio lógico para que este não se perca.
É legal deixar que os campos imaginários se entrelacem em seu cérebro e esperar para "ver onde vai dar", por exemplo: todos já ouviram alguém dizer que duas retas paralelas se tocam no infinito, mas todos também já ouviram dizer que isso é infundado. Se você levar em consideração o conceito de retas paralelas, retas que mantêm sempre a mesma distância entre si, perceberá racionalmente que é uma idéia infundada. Mas tente abstrair a idéia, esqueça a teoria e pense na seguinte situação: dois prédios foram construídos lado a lado e você está muito próximo a eles; você verá entre eles uma enorme distância. Então, você se afasta um pouco, essa distância diminuirá; se você se afasta tanto que chega a vê-los no horizonte, apesar de estarem na mesma posição, parecem estar muito mais próximos. Agora imagine que os prédios possam se mover (afastam-se) e você fica parado: você estaria enxergando o desenvolvimento de duas retas paralelas. Se, a medida que eles se afastam, ficam mais próximos, quando se afastarem infinitamente, se tocarão. Surge, então, um conflito entre o que você imagina e o que é racional: apesar de parecerem mais próximos, se feita uma medição, estão à mesma distância de antes. Acontece que a visão espacial que nós temos é muito limitada, por isso há presença desses choques. Se a utilizarmos para situações terrenas, a construção de um prédio ou de uma rodovia, ela é funcional, mas se a expandirmos para um pensamento universal, ela chega a ser ridícula. basta pensar que, por exemplo, quando achamos que estamos caminhando em linha reta pelo planeta, sua esfericidade torna nossa trajetória curvilínea. Deve-se perceber uma relatividade nas medidas, abrir a mente e aceitar que nada é fixo - como aprendemos no colégio que a velocidade, a presença ou não de movimento em um corpo, depende de um referencial.
Se agora acreditamos que as retas se tocam no infinito, surge outro dilema causado pelo erro conceitual: os números são infinitos, logo, as pessoas pensam que é impossível contar até o "fim" dos números; se as retas se tocam no infinito, mas é impossível chegar até ele, então do que adianta modificar nossa visão espacial?
Os números são infinitos porque o homem ainda não sabe afirmar qual é o seu limite e nem tem idéia se ele existe e o que o causaria, por exemplo, se soubéssemos o funcionadmento de todos os fenômenos de todo o universo e os tivéssemos descritos na matemática, poderíamos por exemplo pegar o ápice da situação de módulo mias elevado e a chamar de limite dos números, ou somar os ápices de todas as situações e a considerar o limite, quebrando assim, o infinito dos números. O infinito não é algo impossível de se chegar, mas sim, algo que o ser humano ainda desconhece. Apesar de a imaginação nos permitir perceber que as retas paralelas se tocarão em algum ponto muito distante, não podemos ainda afirmar qual (por isso, no infinito, no desconhecido), sendo função agora do raciocínio, em cima da imaginação, encontrar esse ponto e quebrar mais um infinito até que este não exista.
Deve-se perceber então que o erro é essencial, porque quando se constrói um sistema em cima de algo, sua aplicação permite perceber que esse sistema está errado e tendencia a construção de um mais coeso e assim sucessivamente até que não sejam mais encontrados "infinitos" (para entender o infinito no plural, deve-se lembrar que o infinito é apenas um conceito, não é uma constante numérica, logo, existem vários infinitos de tamanhos variados porém de conceito constante: algo que se desconhece; pode-se provar isso através do tamanho diferente do grupo dos números naturais e inteiros, apesar de ambos serem infinitos).
O que não pode acontecer é, ao encontrar uma falha nesse sistema, ignorá-la e persistir nele, estagnando a evolução.
Esses limites encontrados nos permitem questionar diversos conceitos básicos de nossa visão espacial, por exemplo: ao se pensar que há três possíveis posicionamentos entre duas retas: coincidentes (apesar de um conceito também polêmico, nossa própria visão retrógrada já é capaz de prová-lo verdadeiro), paralelas (seguindo o raciocínio feito até aqui, a provamos falsa) e concorrentes. Mas como podemos afirmar essas posições se as retas são infinitas juntamente com o universo? Como podemos afirmar que, no fim do universo, o comportamento dessas retas não será totalmente diferente do que imaginamos?
O conceito de "fim do universo" pode soar ainda estranho à sua cabeça, mas lembre-se de que antes da comprovação da esfericidade da terra, o próprio oceano era infinito (dentro dos conceitos matemáticos) e havia um continente inteiro nesse infinito, algo antes ignorado e que hoje influencia todo o funcionamento e desenvolvimento mundial.
Aqui começa a idéia de uma forma de ver a vida totalmente diferente da que nós temos, pois, quando imaginamos o tempo, a nossa linha da vida, a imaginamos como uma reta em nosso conceito retrógrado. Suponhamos que o universo funcione de maneira a distorcer uma reta completamente, apesar de, ao seguirmos através dele, nos mantenhamos em linha reta (no nosso conceito) perante a nossa visão; imagine que, na verdade, o fim do universo seja uma espécie de retorno ao início (o que eu imagino que, em alguns milhares de anos, será considerado uma idéia retrógrada, assim como pensar no fim do oceano como o limite de tudo; mas, como supracitado, o erro é essencial para a evolução, representa cada vez mais a queda de barreiras e leva sempre ao fim de um ciclo e início de outro; portanto, devemos estabelecer limites em tudo para que possmaos evoluir até ele e quebrá-lo; eu escolhi, como limite, o universo). Se pensarmos assim, a reta é uma figura que não existe na forma como imaginamos: na verdade, a própria reta corta ela mesma e, nessa distorção do universo, quando se pensa em retas e em um ciclo, essas retas se cortam simultâneamente várias vezes em diversos pontos e cortam a si mesmas também diversas vezes.
Imagine esse trajeto do universo agora como um ciclo da vida: a partir do ponto onde a reta corta ela mesma, a pessoa nasce, morrendo no ponto onde a reta se corta novamente. Imagine essa linha da vida coincidindo com a linha do tempo.
Pensando assim, a linearidade do tempo acaba completamente, ele progride muito mais lentamente do que pensamos e uma pessoa volta a um ponto onde já esteve em um ciclo de vida várias vezes, fazendo do tempo uma espécie de mola, que contrai e, ao se soltar, avança um pouco, contraindo novamente em seguida e assim sucessivamente. Assim sendo, nós estamos voltando no tempo em todo o início de um ciclo e modificando a nós mesmos e a história, tornando o mundo algo passível de mudanças a todo momento. Mas como funcionaria esse retorno a um ponto onde você mesmo ainda está vivo? A resposta a isso seria uma idéia muito próxima à reencarnação: quando você nasce, você pode estar, simultaneamente, vivendo em outro corpo sem saber disso, mas que, na nossa visão cronológica, você já passou por todo seu ciclo ou ainda passará. Logo, se você está agora em uma sala cheia de pessoas, ao levantar a cabeça e olhá-los, é possível que você esteja olhando a si mesmo em outros corpos.
Mas se você for pensar assim, esse ciclo pode ser mais complicado do que parece: e se, por exemplo, ao matar uma pessoa, você mata a si mesmo? Imagine que você estará influindo na reta de seu próprio ciclo, fazendo-a pular para o ponto em que ela intercepta ela mesma (como uma disfunção), e isso poderá influenciar em seu próximo início ou em todos os seus ciclos.
Mas e se, por exemplo, alguém voltar no tempo e modificar toda a história da humanidade? É como se todos os progressos já feitos estivessem de alguma forma planejados e mudanças profundas fossem evitadas pelo próprio pensamento e instinto humano: por isso nunca houve uma real revolução, global e que alterasse todos os aspectos do mundo, isso desajustaria o ciclo.
Logo, estou dizendo que o instinto ruim humano é capaz de descontrolar a si mesmo, mas é necessário para controlar, manter no "eixo", os ciclos em geral.
Porém, acho que a forma mais adequada de se pensar é que, na história, não existe início, meio ou fim: toda ela está sendo construída simultaneamente e, por isso, as retas também se cortam entre si em vários pontos, um ponto da história está influenciando outro e ciclos distantes, dessa forma, se influenciam de qualquer forma e a qualquer momento.
Isso pode nos levar a refletir sobre a velha história de Deus estar dentro de nós mesmos, porque essa teoria nos permite pensar na história como vários organismos gigantes onde uma só reta constrói um período inteiro e abrange todos os ciclos presentes nesse período: cada período teria uma reta só que se cortaria em um enorme número de pontos, fazendo com que, nesse momento, todas as pessoas do mundo sejam você e inclusive a maioria das que ainda são lembradas, apesar de já estarem mortas (lembradas por parentescos recentes e não por feitos históricos) e inclusive algumas que já foram esquecidas.
Se progredirmos nessa idéia, poderíamos pensar em, ao invés de várias retas, uma reta só que representa todos os ciclos de vida da história, logo, você sou eu, nós somos todos, fomos todos e seremos todos; eu, você e todo o resto do mundo somos o que conhecemos como Deus e, ao reclamarmos por ele não mudar as coisas, reclamamos de nós mesmos (nesse ponto já não sei se ainda devo usar o plural) por nós termos vivido todas as vidas, termos realizado tudo de bom na história e, ao mesmo tempo, tudo de ruim, nunca mudando nada por não termos essa visão apresentada agora e por termos agido de acordo com as restrições e as formas de pensamento que cada corpo nos impôs. Tudo que alguém fez de ruim pra nós mesmos em nossa vida, foi feito por nós mesmos.
Claro que isso tudo, como deixei bem claro no início, é uma suposição, não significa que eu acredite nem dúvide disso, que eu brigue para que aceitem que é a verdade nem que eu permita que digam que é um absurdo, mas minha intenção é demonstrar aonde, quebrando o campo de pura racionalidade e os preconceitos, nossa imaginação pode nos levar.