segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Companhia na solidão do espelho


"(...)
Cai a noite doce escuridão,
de madura vai ao chão.
Na hora da canção o que eles dizem, baby
eu não soube o que dizer.
Ah, vida real; tchau"

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Vida Meursault


Vida Meursault
Aqui vamos nós de novo
caminhando em meio à multidão.
Ao nosso redor, as vozes de um povo
soam de um único coração.
.
Não vais lembrar
de quando era possível e preciso lutar.
Não vais lembrar
que o desafio continua no ar.
.
Aqui vamos nós de novo
e a esperança a nos deixar.
Os riscos na maçaneta da porta
de um homem que quer escapar
de um quarto de tristezas
e a vida a lhe pesar.
Carrega nos ombros o peso do mundo
e um pesadelo no olhar.
.
Ele vai esquecer
que há ainda pelos cantos um motivo pra viver.
Ele vai esquecer
que para haver o impossível, basta crer.
.
Ele vai esquecer
que há ainda pelos cantos um motivo pra viver.
Ele vai esquecer
que para tocar o infinito, basta crer

(...)



Lápis, silêncio, papel, solidão.
Não quero ninguém por perto, cansei de espelhos que refletem o que não sou, mesmo que eu me entregue a seu julgamento.
Acaso, destino, descaso.
Na escolha entre conviver e ficar só, opto por não escolher.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

(In)felicidade

http://www.youtube.com/watch?v=IyCRJmerW1Q

"A vida é uma tragédia quando vista de perto, mas uma comédia quando vista de longe."
Charles Chaplin

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Trecho de "O Estrangeiro", de Albert Camus

"(...)
E, com as horas de sono, as recordações, a leitura de minha ocorrência e alternância da luz e da sombra, o tempo passou. Tinha lido que na prisão se acaba perdendo a noção do tempo. Mas, para mim, isto não fazia sentido. Não compreendera ainda até que ponto os dias podiam ser, ao mesmo tempo, curtos e longos. Longos para viver, sem dúvida, mas de tal modo distendidos que acabavam por se sobrepor uns aos outros. E nisso perdiam o nome. As palavras ontem ou amanhã eram as únicas que conservavam um sentido para mim.
Quando, um dia, o guarda me disse que eu estava lá há cinco meses, acreditei, mas não compreendi. Para mim, era sempre o mesmo dia, que se desenrolava na minha cela, e era sempre a mesma tarefa que eu perseguia sem cessar. Nesse dia, depois de o guarda ter saído, olhei-me na minha bacia de ferro. Pareceu-me que minha imagem ficava séria, mesmo quando tentava sorrir para ela. Agitei-a diante de mim. Sorri, e ela conservou o mesmo ar severo e triste. O dia acabava e era a hora de que não quero falar, a hora sem nome, em que os ruídos da noite subiam de todos os andares da prisão, num cortejo de silêncio. Aproximei-me da janela e, à última luz, contemplei uma vez mais a minha imagem. Continuava séria, e que há de espantoso nisso, se nesse instante eu também estava sério. Mas ao mesmo tempo, e pela primeira vez nos últimos meses, ouvi distintamente o som da minha voz. Reconhecia-a como a que ressoava há longos dias aos meus ouvidos, e compreendi que, durante este tempo, falara sozinho. Lembrei-me, então, do que dizia a enfermeira no enterro de mamãe. Não, não havia saída, e ninguém pode imaginar o que são as noites nas prisões."

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"Somos quase livres, isso é pior do que a prisão"
Humberto Gessinger

domingo, 8 de fevereiro de 2009

..


A distância é insignificante para um poeta, afinal, ele não precisa ir à lua para flutuar;
Basta observá-la.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Que as mães sempre vivam

Sou um péssimo conselheiro, talvez o pior que exista; na verdade, uma pessoa nunca deveria fazer com sua vida o que faço com a minha; nasci assim, imutável, cheio de certezas - as mais incertas que se possa imaginar. Queria conseguir dizer para as pessoas o que sinto e penso e não guardar e empregar isso em formas disfarçadas de textos ou músicas; simplesmente jogar o fardo para o alto instantaneamente. Mas sinto demais, vejo demais, ouço demais e temo demais pôr para fora tudo o que sinto. Entalado, cheio, estufado, uma explosão que está sempre adiada e da qual tenho vontade de me livrar, mas não gritando, contando, me abrindo; simplesmente sair de mim, ir para um lugar onde eu simplesmente já não sinta mais nada.
Nós nascemos com a única certeza de que morreremos; por mais que a vida seja bela, ela leva à morte, como qualquer sentimento. Não há sentimento que seja eternamente bom - há simplesmente aqueles que se mantêm eternamente vivos - qualquer destes se converterão em uma dor, uma cicatriz. O amor, não é que não exista, mas implica, custa, em um grande sofrimento - que é necessário; sem ele, o amor não existiria.
O fato é que existe e o sofrimento é real, estará presente em toda sua vida; vivemos fadados a alegrias curtas e sofrimentos longa-metragens.
Eu não me expresso bem, mas não costumo mentir, costumo me calar - omitir. Mas há uma situação na qual alguém nunca conseguiu encontrar sinceridade e que a hipocrisia está sempre ligada - inclusive em mim.
Diversas vezes recebi ligações, já de madrugada, com pessoas ameaçando se matar - menti em todas as vezes. Confesso que talvez tenham sido meus piores conselhos. Não se encontra motivos para uma pessoa continuar viva; se ela não o possui, ninguém encontrará. Então o que dizer? Se você a ama, por ela ser importante para você, você a aconselha a ficar viva mesmo tendo consciência de que a vida dela é uma merda e que a morte seria o melhor para ela - ou todos nós; se você não dá a mínima para a pessoa, ainda assim a aconselhará a não fazê-lo por isso ser disseminado como o certo.
Quando recebia esses telefonemas, só conseguia pensar nas mães dessas pessoas e suas reações com relação ao suicídio - eu menti, por elas, para dar a elas a única razão que tenho para evitá-lo, disseminar meu medo para as pessoas assim como a mãe que mima demais o filho e passa a ele os seus.
A vida é um teste e admiro as pessoas que têm a coragem que não tenho, a coragem de ir até o fim.
Que suas mães vivam para sempre.

domingo, 18 de janeiro de 2009

"É preciso estar-se, sempre, bêbado.
Tudo está lá, eis a única questão.
Para não sentir o fardo do tempo que parte vossos ombros e verga-
os para a terra,
é preciso embebedar-vos sem trégua.
Mas de quê?
De vinho, de poesia ou de virtude, a escolha é vossa.
Mas embebedai-vos.
.
E se, às vezes, sobre os degraus de um palácio,
sobre a grama verde de uma vala,
na solidão morna de vosso quarto,
vós vos acordardes,
a embriaguês já diminuída ou desaparecida,
perguntai ao vento, à onda, à estrela, ao pássaro, ao relógio,
a tudo o que passa, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o
que canta, a tudo o que fala, perguntai que horas são;
e o vento, a onda, a estrela, o pássaro, o relógio, vos responderão:
"É hora de embebedar-vos! Para não serdes escravos martirizados
do Tempo, embebedai-vos, embebedai-vos sem parar!
De vinho, de poesia ou de virtude: a escolha é vossa."
Charles Baudelaire
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"Juro nunca mais beber - e fez o sinal-da-cruz com os indicadores. Acrescentou: - Álcool.
O mais, ele achou que podia beber. Bebia paisagens, músicas de Tom Jobim, versos de Mário Quintana. Tomou um pileque de Segall. Nos fins de semana, embebedava-se de Índia Reclinada, de Celso Antônio.
- Curou-se 100% do vício - comentavam os amigos.
Só ele sabia que andava mais bêbado que um gambá. Morreu de etilismo abstrato, no meio de uma carraspana de pôr-de-sol no Leblon, e seu féretro ostentava inúmeras coroas de ex-alcoólatras anônimos"
Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Abstrações de um mesmo tema

"Liberdade" - era o que dizia o adesivo daquele monza preto em uma parada de estrada em uma das paradas da vida. Voltei para Juiz de Fora em minhas férias como uma loucura e, sem entender bem e fazendo o errado, novamente a deixei, repentinamente. Acontece que nessa parada, tudo fez sentido; de uma forma louca, aquele carro estava ali, esperando por mim, naquele segundo - e eu precisava estar ali.
Liberdade é um conceito que precisa de revisão. Varia de pessoa para pessoa, mas de certa forma, segue uma constânciaa. Uma pessoa que mora em uma pequena cidade, isolada do mundo, que possa se locomover para onde quiser nessa cidade, talvez sinta-se livre - no nosso conceito, não é, mas ela sente a liberdade que nós buscamos e, nesse caso, o que pensamos não importa; ela é livre. A evolução, globalização, tornam a liberdade algo mais amplo e, para a maioria das pessoas, distante. Se essa pessoa nessa pequena cidade descobrisse uma praia maravilhosa do outro lado do mundo, sendo considerado provável que ela não tivesse condições de chegar até ela, talvez não se considerasse mais livre. E quando isso acontece, precisamos ter um carro, comprar passagens aéreas; depois termos o carro dos nossos sonhos, uma passagem para um lugar ainda mais distante - a imagem de liberdade que criamos em nossa cabeça muda. Os fatores aos quais somnos expostos hoje em dia não destroem a liberdade, mas a cada dia que passa, a tornam mais maravilhosa e inalcançável. O mesmo sentimento de milhares de anos atrás, para ser atingido, começa a formar cada vez mais e maiores exigências até chegar o dia em que ele será tão maravilhoso que nunca será alcançado.
Mas toda essa digressão pura e simplesmente - repleta de perguntas, mas sem nenhuma resposta - me leva a uma questão ainda maior.
Chutando alto, talvez pela pouca divulgação, talvez pelos temas abordados ou talvez pela falta de qualidade, imagino que algo em torno de dez pessoas lêem esse blog com freqüência; dessas dez, sete são pessoas que considero inteligentes; por um momento, me pergunto o que essas sete continuam fazendo aqui.
Nós não conseguimos encontrar sequer respostas pequenas, normalmente nos vangloriamos ao encontrar perguntas pequenas, mas estamos sempre procurando grandes respostas com esperança e convicção de que as encontraremos. Pessoas que encontram grandes perguntas normalmente são consagradas como gênios na história, poucas são as que encontraram grandes respostas (se é que há alguma; no momento, não consigo citar); na verdade, grandes respostas se convetem em perguntas ainda maiores, tornando o mundo das idéias uma grande avalanche.
Acho que eu sou puramente um questionador, levanto perguntas e raramente acredito na certeza, mas a busco avidamente. Por exemplo, um dos dias mais tristes de minha vida foi quando acordei e percebi que já não conseguia mais acreditar em Deus; mas enquanto muitos simplesmente acreditam porque é algo que está em nossas raízes culturais (e mesmo porquie a natureza humana pede a crença), eu busco sinais e informações que não precisam ser necessariamente concretos, mas que me façam sentir que sua existência seja concreta (agora mesmo o alcorão viaja comigo em minha mochila).
Quando eu afirmo que o artista tem de ser infeliz para que as outras pessoas sejam felizes, estou presumindo que, através do sofrimento, o artista vá encontrar respostas. Eu sou infeliz - nunca encontrei nenhuma. Minha afirmação se baseia na crença de que um dia, em meio a tantas perguntas que lancei, consiga encontrar ao menos uma resposta.
Metade do café se vai, metade da viagem se vai, várias abstrações, nada concreto.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Ego revolucionário - as revoluções "porção única"

Não posso afirmar que Russeau estava certo ou errado com relação à sociedade, mas tenho consciência de que esta corrompe o homem mais e mais a cada dia que passa, talvez por cada vez mais oferecer a este um ambiente ideal para que ele se revele, se deixe levar por seus instintos mais internos.
Essa gradação afasta cada vez mais o homem de seu lado idealista e o aproxima de seu ego; às vezes eu olho ao meu redor e me sinto sozinho. Não parece haver mais revolucionários idealistas como os vistos em toda a história, como os vistos no século XX, o que eu vejo são pessoas que simplesmente querem ser vistas como aquelas do passado, admiradas por serem considerados revolucionárias, mas visando seu ego e não seus ideais - se é que possuem algum realmente.
É o que vemos a cada dia que passa; não há espontânea vontade, é preciso que um policial mate um adolescente e isto apareça na televisão para as pessoas se revoltarem; é preciso que setecentos palestinos morram e bombas explodam na Faixa de Gaza para que as pessoas se revoltem - é preciso que até os jornais se escandalizem para que as pessoas se assustem um pouco.
É aí que surgem os heróis porção única, que nunca haviam sequer ouvido falar no assunto, mas que lêem desesperadamente sobre ele, falam sem parar coisas que às vezes nem sequer sabem se estão certas ou têm algum embasamento para afirmá-las; repassam belos e-mails, muito bem escritos, com opiniões alheias, sem sequer terem certeza do que estão repassando. Informação, idealismo? Zero. Ego? Mil - olha como ele fala bonito e tem a barba grande.
A revolução não está morta, mas dorme na ignorância desses jovens "politizados".

sábado, 10 de janeiro de 2009

Rock n' roll nunca será passado

Estou ficando velho. Triste e precoce, mas é a realidade. Impressionante o que um CD que há muito você não ouvia pode resgatar e trazer para você; é o que o "Panela do Diabo" - Raul Seixas - está fazendo comigo agora.
Me lembro de minhas duas primeiras bandas, meus tempos "Raul Seixas"; como eu mudei, como eu me sinto diferente.
Envelheci, mas de uma forma engraçada, muito do que foi ainda é - o rock ainda corre em minhas veias; amadureci, mas ainda acredito em meus sonhos. Olho para pessoas que passaram por minha vida musical de maneiras diversas em minha adolescência e sinto que neles o sonho de uma banda, mudança, ficou para trás, apagou-se perante as obrigações e preocupações da maturidade; esses sonhos não adormecem em meu coração; idéias amplamente diferentes, mas os sonhos se mantêm e se mantêm também a garra e a vontade de realizá-los.
Quando o rock n' roll se torna passado, descobre-se que ele nunca foi presente; uma descoberta que nunca experimentarei.

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"Carpinteiro do universo inteiro eu sou.
.
Não sei por que nasci
pra querer ajudar a querer consertar
o que não pode ser.
Não sei, pois nasci para isso, aquilo
e o enguiço de tanto querer.
.
Carpinteiro do universo inteiro eu sou.
.
Estou sempre
pensando em aparar os cabelos de alguém
e sempre tentando mudar a direção do trem.
À noite a luz do meu quarto eu não quero apagar
pra que você não tropece na escada quando chegar.
.
Carpinteiro do universo inteiro eu sou.
.
O meu egoísmo é tão egoísta
que o auge do meu egoísmo é querer ajudar.
.
Mas não sei por que nasci
pra querer ajudar a querer consertar
o que não pode ser.
Não sei, pois nasci para isso, aquilo
e o enguiço de tanto querer.
.
Carpinteiro do universo inteiro eu sou.
Carpinteiro do universo inteiro eu sou, assim;
no final, carpinteiro de mim."

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

(...)

"O homem andava apressado, investigando tudo ao seu redor, como se houvesse perdido algo e o estivesse procurando, farejando como um lobo, caçando pela noite. O fato é que havia se segurado mais do que podia e precisava se soltar naquele instante, deixar que seus instintos fizessem seu trabalho, agir como suas raízes ordenavam – era um animal, já não podia negar, não importava o quanto fosse inteligente, o quanto assimilasse, continuaria sempre sendo um animal.
Um barulho o fez parar instantaneamente. Por alguns segundos o homem fechou os olhos e sentiu sua respiração ecoar – estava mais bela do que nunca, soava como música; todos os pequenos sons da rua – como o gotejar de calhas de pequenas casas de baixo porte ou o vento movimentando papéis no chão – formavam uma simples e bela sinfonia, uma música em homenagem a alguém que por muito tempo esteve morto e agora finalmente voltara à vida.
Colocou a mão direita no interior de seu paletó e lá estava ela – sempre estivera lá – adormecida, esperando pelo momento de finalmente voltar a ser usada. Duvidamos de alguns sentimentos que são certos, mas simplesmente acreditamos em alguns que são duvidosos; o fato é que soava certo tocá-la naquele instante, o toque provocou-lhe a sensação de que sua mão estava no lugar certo, na hora certa; era hora de usá-la.
Abriu os olhos e sorriu; o garoto – algo em torno de dezenove anos – havia passado por ele fingindo indiferença, mas nem era preciso olhar em seus olhos para perceber a presença do medo, da desconfiança; talvez o garoto tentasse não admiti-la sequer a si mesmo e isso fosse o que a tornava tão gritante. O homem dobrou rapidamente uma esquina; precisava pegá-lo de frente, olhar em sua face enquanto ele sentia o que tinha por fazer.
Esperou os passos ficarem mais fortes e dobrou a esquina seguinte, parando bem em frente ao garoto – tão próximos que quase trombaram. Por um segundo que, se não houvesse sido criado um padrão para o tempo, poderia se dizer horas ou dias, eles se encararam, olho a olho – muito próximos – e, nesse segundo, um pôde entender perfeitamente o estado de espírito e as intenções do outro; apenas um deles sorria.
Com o braço esquerdo, o homem retirou um pano úmido do paletó e o pressionou contra o rosto do garoto, que se debateu em vão – não era forte o suficiente – até desmaiar.
A partir daí o homem se sentia cada vez menos consciente, como se seu próprio corpo fizesse seu trabalho agora; ficava parado, apenas observando seus braços agirem sozinhos.
Retirou de seu paletó uma bela faca que parecia brilhar, entender e responder ao luar. Virou o garoto de costas e, cuidadosamente, rasgou sua camiseta, a afastando e deixando suas costas a vista. De olhos fechados, enquanto movimentava a boca sem produzir sons, o homem, com a faca, desenhou habilmente uma partitura já preenchida por notas nas costas do garoto.
-Permita que esse cadáver utilize seu corpo para produzir vida – ele disse.
Repentinamente o homem se levantou, caindo para trás como se houvesse levado um susto; olhou para o garoto com indiferença enquanto se limpava (ou tentava se limpar) com um novo pano, ajeitou seu paletó e saiu andando novamente, tentando se lembrar onde havia estacionado seu carro."

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Morte

Libertem-se desses corpos, seus ignorantes! Deus não existe; se existisse, estaria rindo da inocência de vocês. Libertem-se desses corpos, seus ignorantes! Vocês não são mais que ninguém e nem sequer são algo, são simplesmente algo feito a imagem e semelhança do corpo de Deus, algo que não existe! Vocês nem sequer existem! Se matem, todos! Todos são inúteis, todos são pedaços em decomposição andando pelo planeta, são meros seres que se sentem vazios e tentam justificar o vazio acreditando que exista algo. Não existe nada! Se matem, todos, todas as carnes em decomposição nesse instante nesse planeta. Se joguem pelas janelas, quebrem o que houver ao seu lado, se matem, matem ao outro. Nada existe. A morte é a única existência concreta, é a única esperança pra quem procura existir: se você quer existir, a única forma é abandonando o corpo putrefato no qual você habita. Não tema mais a morte, ela é o único caminho, a única esperança. Se jogue dessa janela, rápido, se mate, é a única forma de talvez se tornar algo vivo.

domingo, 4 de janeiro de 2009

"Quando o Bourbon é bom, toda noite é noite de luar"

"(...)
Já freqüentei grandes festas
nos endereços mais quentes.
Tomei champagne e cicuta
com comentários inteligentes.
Mais tristes que o de uma puta
no Barbarella, às quinze pras sete
(...)"

Bom gosto, inteligência, sabedoria, merda; são todos sinônimos, inutilidades. Odeio pessoas inteligentes, finalmente percebi; tão vazias e retóricas, sempre procurando algo além para saber e poder preencher o espaço que sobra em suas falas por não terem nada a dizer sobre si mesmas. Não é necessário acreditar que o silêncio diga mais que as palavras, mas ao menos perceber que ele às vezes valhe a pena pelo valor que as palavras possuem, por mais que soem bonitas e alimentem seu ego perante pessoas que, além de burras, também são vazias.
Fale feio, escreva errado, não saiba os autores de livros consagrados, fodam-se os grandes cineastas, não decore o nome daquele bom ator, esqueça tudo que não tenha prática (não necessariamente mundana) - livre sua mente da estupidez desses nojentos inteligentes.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Mais um ano

É, a gente sobrevive mais um ano se estressando, esfolando, até chegar ao tão cobiçado fim de ano; festas, alegria, amigos, foguetes, champagne, felicidade..
Ai ai ai; essa merda de vida é realmente uma grande utopia.

Antes que me esqueça, feliz ano novo.

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"Eu roubei esses versos como quem rouba pão
com a mão urgente, com urgência no coração.
Eu contei estórias, inventei vitórias
como quem tem preguiça
como quem faz justiça com as próprias mãos.
.
Eu roubei quase tudo que eu tenho só pra chamar tua atenção
e quando cheguei em casa, vi que lá morava um ladrão.
Eu perdi quase tudo que eu tinha
a paz, a paciência
a urgência que me levava pela mão.
.
Uma noite interminável numa cela escura.
Sentido!
senhores..
censores sem poder de censura.
O ruído dos motores em uma sala de torturas
Senhoras e senhores
Censores sem talento censorial
.
Nunca mais saiu da minha boca o gosto amargo da palavra traição.
Nunca mais saiu da minha boca nenhum elogia a nenhuma paixão.
Uma noite mal dormida, um porre sem maus lençóis.
Sem sono.
Sem censura.
100% de nada não é nada
é muito pouco.
.
Sem sono.
Sem censura.
100% de nada não é nada
é muito pouco."

sábado, 13 de dezembro de 2008

Albergue espanhol

Eu não sou brasileiro; não sou boliviano, chileno, argentino, estado-unidense; não sou francês, inglês ou espanhol; não sou sírio, búlgaro, chinês, russo, angolano ou congolense. Cada pessoa é uma pessoa e cada pessoa é tudo. Sou Marcelo, brasileiro, argentino, búlgaro, sírio, francês, angolano.
Cada pessoa é uma, mas cada pessoa deve experimentar e sentir as dores e os prazeres de todos os povos. Tentar focar e limitar-se a uma cultural local é uma tentativa intelectual inútil, a cultura pessoal prevalece, a cultura local é a cultura que avassala todo o mundo e a cultura que ataca cada pessoa individualmente; abandone o aprisionamento local e a indução à prisão de uma cultura estrangeira; todas as culturas são uma só, os costumes de uma só raça, os hábitos de um só coração que se divide em diversas batidas ao redor do mundo.
Hoje caminho em meu país, em meu estado, minha cidade, e me vejo um estrangeiro em meio a diversos estrangeiros, um povo dividido em singularidades, mas um povo com limitações artificiais que não os permitem notar que somos diferentes, mas somos iguais. Carregamos dores, felicidades, admirações, medos, todos diferentes, mas indiferentemente os carregamos.
Caminhamos e caminharemos sempre dotados de preconceitos e muros de vidro ao nosso redor, nos livrando de encarar o fato de que estamos todos em um albergue espanhol.
Visto a camisa do mundo e paradoxalmente brindo àquele que se reconhece: um estrangeiro em meio a estrangeiros.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Conselho de um poeta

Minha insônia hoje é uma coisa meio louca, vem da voz de Robert Smith, não muito de lembranças do que já passou, mas de uma expectativa e animação do que virá. De coisas boas que podem vir a acontecer em lugares que tenho um carinho especial.
Essa semana, esse mês, eu não sei dizer direito o quanto dormi e o quanto fiquei acordado. Quando deito, me perco em meus pensamentos e, às vezes, durmo, mas sonho comigo mesmo deitado em minha cama, ainda sem dormir, pensando e quando acordo, já de madrugada, não sei dizer se dormi a noite toda ou passei a noite toda em branco, acordado, perdido em pensamentos.
Hoje escrevo, mas por não ter outra opção, queria ter alguém aqui agora simplesmente para jogar conversa fora, conversar sobre coisas sadias, me perder em palavras e simplesmente esquecer um pouco as coisas lá fora. Mas diferente do que costuma acontecer, não estou triste, deprimido ou pessimista, estou puramente introspectivo e pessoal, simplesmente pensativo.
Por mais que digamos que não nos apegamos a objetos, lugares, a velha história de simplesmente estarmos com quem gostamos em qualquer lugar, que não ligamos para roupas etc; tudo isso não é verdade. Todo mundo tem aquela jaqueta já velha e gasta que nunca vai deixar de usar, todo mundo sente falta daquele parquinho que ia brincar quando criança, da primeira escola, do seu quarto, sua casa, aquele lugar que você ia tanto e que nunca tinha nada pra fazer, sempre te deixava entediado e te levava a pensar que você precisa encontrar um novo lugar pra freqüentar.
Há um ano não moro mais em Varginha e esse mês fará seis meses que não visito minha cidade natal. Minha vontade e ansiedade em voltar lá não se dá tanto pelas pessoas (apesar de sentir muitas saudades de algumas), mas sim em rever coisas, lugares, ver como eles devem ter mudado (minha casa mesmo está totalmente diferente), sentar nesses lugares e simplesmente deixar a cabeça trabalhar nas lembranças, olhar como eles estão agora, sentir dentro de mim um pouco da vida que já passou.
Ah, Varginha, acho que se uma pessoa nasce no inferno, sente saudades ao sair dele. Não importa aonde eu vá ou onde eu esteja, sempre sentirei imensas saudades dessa cidade que me proporcionou tantas alegrias e inúmeras tristezas, inesquecível.
Apesar de achar que alguém não pode se autoconhecer sozinho, acho que deve haver uma fase intermediária onde a pessoa fica sozinha e, sem muitas coisas acontecendo em sua vida, sobra tempo para parar e olhar para o passado, analisá-lo e, através de tudo o que viveu com outras pessoas, se entender melhor. Minha fase foi esse ano, sem dúvidas, mas sem dúvidas também está na hora de essa fase passar, sem dúvidas já estou preparado para voltar à vida, e me alegra muito finalmente ouvir isso de mim mesmo; espero que as coisas dêem certo para mim.
E quanto a você, ouça um conselho de um humilde poeta e escritor: só há vida fora dos livros.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

S.O.S. Santa Catarina

Antes de qualquer coisa, queria deixar o mais claro possível que esse texto tem a intenção de levar a pensar de forma sadia, estou amplamente comovido com a situação calamitosa de Santa Catarina, assim como estaria se essa situação estivesse ocorrendo em qualquer parte do Brasil.
Em partes, é de se compreender o porquê do separatismo sulista; o sul não tem ampla participação na colonização do país, tendo uma integração a partir do Tratado de Madri em 1750, com a aderência forçada do Sete Povos da Missões, e em 1777, com o Tratado de Idelfonso que adquire algumas partes do atual estado de Santa Catarina. Tudo isso vem a se concretizar em 1801, com o Tratado de Badajós; mas os tratados não significaram o fim dos conflitos.
Porém, economicamente, desde por volta de 1703, quando a Intendência das Minas foi criada e a mineração começou a tomar força, o sul passou a ter uma integração pela pecuária, sustentando a mineração em Minas Gerais.
Por ter passado um tempo amplo como colônia espanhola, sustentando missões jesuíticas, por ter recebido diversas etnias, é óbvio que a cultura sulista possui uma imensa diferença da cultura do restante do país. Mas esses mesmos sulistas mais conectados à cultura espanhola, se procuram algum embasamento ou estudam a situação, deveriam enxergar que um dos grandes problemas da independência das colônias espanholas, como já frisava Simón Bolívar, com o Congresso do Panamá, antes mesmo da ocorrência, são as divisões, que tornaram os Estados fracos e vulneráveis. Ao incentivar os separatismos, os sulistas estão indo contra suas raízes. Lembre-se também de que uma das razões de o Brasil ter uma certa voz internacional e liderar movimentos do "Terceiro Mundo" (Perdão, odeio esse termo) é a sua dimensão territorial.
O Brasil é um país repleto de culturas diferentes, já houve movimentos de cunho separatista na Bahia, em Pernambuco, Maranhã, Pará, São Paulo, mas todos foram deixados para trás e isso manteve a esperança de surgir um espírito nacional que vá além de copas do mundo de futebol.
Estive duas vezes em Santa Catarina e posso dizer por experiência própria o quão certos estão os catarinenses de se orgulharem de seu estado, tão certos quanto eu estou de me orgulhar por esse estado fazer pate de meu país, assim como me orgulho da Bahia, Pernambuco, Maranhão, Pará e São Paulo.
Se hoje visto a camiseta de ajuda à Santa Catarina, é por ver que o Brasil ainda é um país, ainda há caminhões que partem do Acre para Santa Catarina buscando amenizar a situação, é com dúvidas por pensar em com que ajuda Santa Catarina estaria contribuindo caso a tragédia fosse no Acre, mas é com certeza por saber que a grande e esmagadora maioria, se não totalidade, dos brasileiros que estão sofrendo com a tragédia não compõem movimentos separatistas e nem compartilham desses ideais.
Olhem para Santa Catarina, há brasileiros lá que precisam de ajuda.

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http://www.youtube.com/watch?v=LxR0wCcB5Vo

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Muros e grades

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Nas grandes cidades, no pequeno dia-a-dia
o medo nos leva tudo, sobretudo a fantasia
Então erguemos muros que nos dão a garantia
de que morreremos cheios de uma vida tão vazia
Erguemos muros...
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Nas grandes cidades de um país tão violento
os muros e as grades nos protegem de quase tudo
Mas o quase tudo quase sempre é quase nada
e nada nos protege de uma vida sem sentido
O quase tudo quase sempre é quase nada...
.
Um dia super
uma noite super
uma vida superficial
entre sombras
entre as sobras
da nossa escassez
.
Um dia super
uma noite super
uma vida superficial
entre cobras
entre escombros
da nossa solidez
.
Nas grandes cidades de um país tão irreal
os muros e as grades nos protegem de nosso próprio mal
Levamos uma vida que não nos leva a nada
Levamos muito tempo pra descobrir
que não é por aí, não é por nada não
não, não pode ser, é claro que não é
será?
.
Meninos de rua, delírios de ruína
Violência nua e crua, verdades clandestinas
Delírios de ruína, delitos e delícias
Violência clandestina faz seu trottoir
Em armas de brinquedo, medo de brincar
Em anúncios luminosos, lâminas de barbear
.
Um dia super
uma noite super
uma vida superficial
entre as cobras
entre escombros
da nossa solidez
.
Uma voz sublime
uma palavra sublime
um discurso subliminar
entre sombras
entre as cobras
da nossa escassez
.
Viver assim é um absurdo, como outro qualquer
como tentar o suicídio ou amar uma mulher
Viver assim é um absurdo, como outro qualquer
como lutar pelo poder, lutar como puder

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

O Sonho (E A CABEÇA NO INFERNO DA MENTE)

Tudo era escuro, não havia nada ao meu redor, em todo o horizonte, além de meu corpo. Eu estava caindo, mas sentia como se houvesse um chão; então, corri, gritei, corri, corri, gritei e, de repente, várias espécies de tentáculos de água começaram a surgir ao meu redor e percebi que não mais estava correndo, ou caindo, ou gritando. Flutuava e esses tentáculos me envolviam e roçavam em meu corpo; alguns tentavam esmagar meus braços e minhas pernas, mas simplesmente passavam por mim, como se eu (ou eles) fosse transparente. Lá embaixo, muito lá embaixo, enxerguei-me correndo, mas não me desesperava, apenas sentia os tentáculos, frescos, suaves, envolverem meu corpo.Pisquei os olhos e estava novamente correndo, correndo, até que trombei em um muro. Quando notei, estava cercado por um muro enorme e intransponível. A CABEÇA NO INFERNO DA MENTE, e um grande jato de fogo começou a passar por mim; sorri, não o sentia. A CABEÇA NO INFERNO DA MENTE. De repente, tudo queimava e pessoas se desesperavam, esmurrando o muro; de repente, eu sentia o fogo queimar e, como várias pessoas, gritava: "Morte! Deus! Deus! Morte! Rápida Morte! Rápido Deus!". E A CABEÇA NO INFERNO DA MENTE; de repente, alguns corpos se tornavam fogo e flutuavam e não sentiam mais a dor e sorriam; alguns tentavam subir também, e os corpos-fogo os empurravam de volta ao fogo, e tudo era "Deus, rápido Deus, rápida morte, rápido morte, Deus morte rápido". A CABEÇA NO INFERNO DA MENTE, um balde gigante e cheio de água aparece sobre nós, mas não derramou; de repente, percebi que eu tinha um balde vazio em minhas mãos, e todos tinham. O balde enorme começou a despejar água em nossos baldes e, as pequenas gotas que ele errava e caíam no fogo, as pessoas apontavam e gritavam: "Milagre, milagre!" e em poucos segundos o local era convertido em fogo novamente. E ninguém jogava seus baldes de água no fogo, tudo era "Deus, morte, rápido, morte ao Deus, que Deus nos salve!".De repente, todos éramos fogo e uma grande corrente de ar nos sugava para o cano de um revólver, nos compactamos e éramos uma bala. Podia ver pelo cano do revólver o nada e, de repente, um gatilho foi puxado, todos gritamos e voamos, juntos, por uma planície. Já não éramos uma bala e, a medida que voávamos, tomamos forma de uma lança de fogo e eu avistei uma cruz. A antingimos em cheio, porém, não havia ninguém nela; explodimos como lindos foguetes no céu, como A CABEÇA NO INFERNO DA MENTE.Estava em meu quarto, em cima de uma mulher, e eu precisava terminar de comê-la logo, porque ia vomitar e o sangue já não circulava mais em minhas veias, e ela gemia, e estava pálida como o demônio, o demônio, o demônio, e estava morta, ao lado de minha cama, um gravador gemia e eu tremia, e lembrei-me que no início havia uma estrela e velhos corriam atrás dela e, de repente, o brilho lindo dessa estrela começou a se intensificar demais, e todos ficavam cegos, e todos explodiam e a cabeça encontrou o inferno cego da mente. E vomitei no corpo do cadáver, corri pela porta do meu quarto e sempre que passava por ela saía novamente em meu quarto, e lá estava o cadáver do demônio morto e estuprado por mim, corria, passava pela porta, quero a verdade, a verdade, a verdade, a verdade, a verdade, a maldade, a maldade, a verdade, a verdade. A VERDADE. (Quer ver a verdade?).
Estava no sofá de um escritório de luxo e, sempre que respirava, fumaça saía de minha boca ao exalar o ar, e havia um cigarro em minhas mãos, aceso, mas não soltava fumaça; o traguei e, ao soltar o ar, não havia fumaça. Havia uma mesa e a mulher que estuprei estava atrás dela, na frente, um belo homem chegava caminhando: "Está tudo pronto, Deus, se quer destruir o mundo, basta assinar". E havia um papel, e uma caneta, e Deus pegou a caneta, se virou para mim e disse: "Nada está ao contrário, se parece ao contrário para você, talvez seja porque você queira o contrário".
Pisquei o olho e estava em meu quarto novamente, e transava comigo mesmo, e eu estava morto, mas sorria; me esfaqueei e o sangue esguichava, e eu estava no chão e só havia um eu; e eu enfiava a faca com força em mim mesmo, e não havia dor, tudo era tesão, e eu gemia. Corri rindo pela porta e novamente estava no escritório e me via no sofá, e me via atrás da mesa, e segurava o papel; gargalhei, assinei, tudo explodiu.
Novamente eu estava envolto por tentáculos líquidos, e sorria, só havia eu, mais ninguém. Havia, dessa vez, uma bela paisagem a minha volta, e os tentáculos a agarraram e tudo se tornou água e entrou em um balde. Essa água tomou forma de um homem, ergueu a mão para mim e eu a apertei; "é sempre bom fazer negócios com você", ele disse, e entrou novamente no balde. A água, como um soco, entrou direto em meu peito, caí de joelhos em frente ao balde e restava uma gota, que entrou em meu olho e, em seguida, saiu lentamente em forma de lágrima.
Acordei, sorrindo, com a cabeça fora do inferno da mente.

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Entenda que a pontuação confusa é proposital e que a intenção do texto é que seja lido o mais rápido possível, em voz alta para si mesmo e foi escrito com a intenção ao mesmo tempo que literária (pela pontuação proposital), cinematográfica (pelas cenas narradas).