terça-feira, 23 de setembro de 2008

As desilusões mastigam os sonhos


















"Ainda é cedo amor
mal começaste a conhecer a vida
já anuncias a hora de partida
sem saber mesmo o rumo que irás tomar
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Preste atenção, querida
Embora eu saiba que estais resolvida
Em cada esquina cai um pouco a tua vida
Em pouco tempo não serás mais o que és
.
Ouça-me bem, amor
preste atenção, o mundo é um moinho
vai triturar teus sonhos tão mesquinhos
vai reduzir as ilusões a pó
.
Preste atenção, querida
de cada amor tu herdarás só o sinismo
quando notares, estais a beira do abismo
abismo que cavaste com teus pés"
(Cartola - O Mundo é um moinho)






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"Olha, na primeira vez que estive aqui
foi pra me distrair,
eu vim em busca de amor
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Olha, foi então que eu te conheci
Naquela noite fria
nos seus braços
os problemas esqueci
.
Olha, na segunda vez que estive aqui
já não foi pra me distrair
Eu senti saudade de você
.
Olha, eu precisei dos seus carinhos
Eu me sentia tão sozinho
e já não podia mias te esquecer
.
Eu vou tirar você desse lugar
Eu vou levar você pra ficar comigo
e não me interessa o que os outros vão pensar
.
Eu sei que você tem medo de não dar certo
acha que o passado vai estar sempre perto
e que um dia eu vou me arrepender
.
E eu não quero que você pense em nada triste
Porque quando o amor existe
o que não existe é motivo pra sofrer
.
Eu vou tirar você desse lugar
Eu vou levar você pra ficar comigo
e não me interessa o que os outros vão pensar
(Odair José - Eu vou tirar você desse lugar)
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A cada dia que passa, percebo melhor como ser uma pessoa introspectiva e com tendências subversivas não é um dom, mas uma terrível maldição.
Devo alertar, antes de tudo, que esse texto, assim como as músicas acima, não é algo planejado, mas sim, totalmente espontâneo, um desabafo; como outros que já fiz no blog, eu não costumo relê-los ou corrigi-los, portanto pode ficar repleto de erros gramaticais ou de idéias não coesas, sendo provável que você simplesmente perca seu tempo lendo.
Eu sou um cara que, apesar de adorar praias e natureza, é totalmente adaptado à vida urbana e a adora; estou totalmente acostumado ao medo da violência, a chegar no fim da noite e me sentir um grão de arroz em um apartamento pequeno no meio de 600.000 juizforanos, à falta de educação e estresse das pessoas e, na verdade, até sentiria falta disso caso não fizesse parte do meu dia a dia, adoro esse clima "Lei do mais forte" das cidades, apesar de isso ser totalmente contraditório para uma pessoa que se julga subversiva (lembre-se, "dualidade paradoxal da personalidade humana"), mas é como se, caso tudo isso não existisse, não haveria motivo pra eu existir também, o ser humano está sempre procurando desafios em sua vida.
Porém, há algumas raras coisas na cidade que eu simplesmente não consigo aceitar e me adaptar, e uma delas é a que já apresentei através das músicas, mas apresentarei mais claramente agora: a prostituição.
Nesse fim de semana, fui pela primeira vez (sim, nunca havia ido em um) em um bordel (Casa noturna ou como você preferir chamá-lo), e é nesses momentos que retorno à conclusão inicial: introspectividade e subversividade são uma maldição.
Tudo o que eu conseguia sentir era nojo, nojo de tudo, mas não principalmente das mulheres, mas sim dos freqüentadores, mas não me resumindo a eles, no fundo ainda restava uma admiração por eles serem os poucos que deixam transparecer o instinto que pessoas normais tentam esconder o tempo todo e acabam o mostrando acidentalmente em pequenas coisas, que poucos percebem.
Com relação às mulheres, não senti um nojo preconceituoso por elas serem prostitutas, mas sim uma dor tremenda por algumas que nota-se que não queriam estar ali, e uma repugnância àquelas que demonstram um prazer pelo que fazem; na verdade, também pensei que elas não eram as únicas, mas que algumas não eram inteligentes o suficiente pra entrar no jogo da sociedade e se prostituir em outros lugares como muitas mulheres de alto poder aquisitivo o fazem sem motivo nenhum, mas que levam vantagens com isso maiores do que alguma contribuição monetária, uma exploração mais efetiva, e, principalmente, desviam do preconceito do nome "Prostituta".
Com relação aos freqüentadores, invejei alguns, por conseguirem olhar aquilo e simplesmente sentirem tesão, nada mais, simplesmente prazer em estar ali, a irracionalidade é um dom imensurável. Minha mente só não conseguia deixar de compará-los a animais, cachorros rodeando uma fêmea no cio, sem propósito racional, sem nenhum tipo de sentimento, apenas o instinto animal e selvagem de fazer sexo, procriar; acéfalos estúpidos.
E depois, a pior das conclusões (pensando de forma egoísta), que me fez querer sair correndo daquele lugar naquele momento - na verdade, não foi uma conclusão daquele momento, mas nós sempre tiramos conclusões diante de algumas coisas e aprendemos a ignorá-las com o tempo, mas quando elas voltam a nossa cabeça por determinadas situações, elas vão ficando gradativamente mais terríveis - foi a que eu realmente quero morrer antes de envelhecer, muito antes. Quando eu vejo esse tipo de situação, um velho totalmente solitário em um bordel, classe média/baixa, me imagino de imediato nessa idade, a velha frase "Every little creature in this world dies alone" (Donnie Darko) invade a minha mente e me imaginar por completo velho: abandonado, solitário, procurando companhia e descobrindo que é tarde demais para consegui-la, indo pra casa sem ter nada pra fazer ou colocando uma cadeira na calçada e ficando o dia todo a observar as pessoas que nem conheço passarem pela rua, ganhar um "tchau" às vezes, um "oi" outras, e essas idiosincrasias pras pessoas alheias sendo o ponto clímax do meu dia.
E aquele maldito velho acabou com a minha semana de forma inacreditável, aquele que já não tem mais alegrias na vida, que já se acostumou às tristezas, que mal consegue manter um diálogo com alguém e pode ser confundido com um cachorro vira-lata pela rua, aquele que não faz nada e não é importante pra ninguém durante toda a semana e vai ao bordel no fim de semana pra simplesmente soltar seus desejos instintivos e, ainda assim, não consegue, nem é ao menos capaz disso. Então, com a noite sem êxito, volta sozinho pra casa novamente, continua fumando e olhando pra parede e esperando a morte chegar. Por que não simplesmente se matar e acabar logo com tudo aquilo? Se os seus dias não servem pra mais nada, pra quê continuar vivo? Apesar de parecer assustador eu pensar nisso, você provavelmente já o pensou também, talvez inclusive já tenha a resposta; talvez eu me ache o sabichão, mas eu seja o burro que não consegue descobrir essas coisas antes de passar por elas, e que essas são coisas que eu só vou entender quando ficar velho.
O título do post remete a esse último parágrafo, mas não simplesmente a ele, mas principalmente e obviamente, à prostituição, portanto, me focarei melhor nela (levando em conta somente as mulheres que são forçadas ou se julgam forçadas a ela).
Eu fico triste em ver como as coisas chegaram ao ponto de uma mulher ter de se entregar por dinheiro ao invés de simplesmente procurar um emprego, pela dificuldade de acesso à esse último; mas, me entristece principalmente, que as pessoas vejam isso como uma opção, como se o sexo por dinheiro fosse uma opção viável: a simples noção de ver esses dois caminhos como uma coisa normal, não ter emprego e se prostituir, uma análise simplesmente de estudo geográfico, a tamanha banalização do sexo ilustrada de forma clara na cabeça de cada um (inclusive na minha). Depois, do conformismo de muitas em estar ali, algumas são passíveis de leitura aos olhos, de que não pretendem e nem pensam em uma saída dali, que estão sobrevivendo e aquilo está ótimo. São como crianças antes de terem a cabeça aberta, porém sem nenhum pai ou professor pra abri-las mas, ao contrário disso, cercadas por animais para as incentivarem a fazê-lo. Há esperança de mudança pra esse tipo de pessoa? Pra algumas raras, eu acho que sim, mas por simples jogo do acaso; a maioria, assim como em vários outros problemas urbanos, estão condenadas à eternidade na merda.
Queria deixar bem claro que me utilizei do feminino durante todo o tempo que falei sobre prostituição pelo meu contato ter sido a um bordel de mulheres e não por preconceito.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Eu sou um pássaro (...)



"Estou cansado de ser vilipendiado, incompreendido e descartado
Quem diz que me entende nunca quis saber

Aquele menino foi internado numa clínica
Dizem que por falta de atenção dos amigos, das lembranças
Dos sonhos que se configuram tristes e inertes
Como uma ampulheta imóvel, não se mexe, não se move, não trabalha.
E Clarisse está trancada no banheiro
E faz marcas no seu corpo com seu pequeno canivete
Deitada no canto, seus tornozelos sangram
E a dor é menor do que parece
Quando ela se corta ela esquece
Que é impossível ter da vida calma e força
Viver em dor, o que ninguém entende
Tentar ser forte a todo e cada amanhecer
Uma de suas amigas já se foi
Quando mais uma ocorrência policial
Ninguém entende, não me olhe assim
Com este semblante de bom-samaritano
Cumprindo o seu dever, como se eu fosse doente
Como se toda essa dor fosse diferente, ou inexistente
Nada existe pra mim, não tente
Você não sabe e não entende
E quando os antidepressivos e os calmantes não fazem mais efeito
Clarisse sabe que a loucura está presente
E sente a essência estranha do que é a morte
Mas esse vazio ela conhece muito bem
De quando em quando é um novo tratamento
Mas o mundo continua sempre o mesmo
O medo de voltar pra casa à noite
Os homens que se esfregam nojentos
No caminho de ida e volta da escola
A falta de esperança e o tormento
De saber que nada é justo e pouco é certo
E que estamos destruindo o futuro
E que a maldade anda sempre aqui por perto
A violência e a injustiça que existe
Contra todas as meninas e mulheres
Um mundo onde a verdade é o avesso
E a alegria já não tem mais endereço
Clarisse está trancada em seu quarto
Com seus discos e seus livros, seu cansaço
Eu sou um pássaro
Me trancam na gaiola
E esperam que eu cante como antes
Eu sou um pássaroMe trancam na gaiola
Mas um dia eu consigo existir e vou voar pelo caminho mais bonito

E Clarisse só tem 14 anos..."

Ordem e Progresso

É comum refletirmos sobre os rumos do Brasil - se o país segue ou não o caminho que carrega em sua bandeira - e, ao o fazermos, criticarmos a classe média e baixa por não seguir esse lema.
A origem do lema está no positivismo, mais profundamente, em Augusto Comte, francês, que dizia que, para haver progresso, deveria haver um trabalho por parte de uma classe inexpressiva, isso é, que trabalhasse sem se organizar, revoltar ou exigir participação política, deixando o governo como responsabilidade das elites.
O quadro brasileiro que melhor se encaixou no lema de nossa bandeira é o Estado Novo de Getúlio Vargas que, ao mesmo tempo que criou leis em prol do bem-estar do trabalhador, o manteve fora do quadro político através dessas leis, uma espécie de suborno aproveitador da menor informação e noção política do trabalhador, e também da criação dos sindicatos, que ligavam as exigências e o caminho da revolta operária ao governo, evitando assim, revoltas; logo, havia uma classe passiva de trabalhadores e, através de um presidente de inteligência, isso convertia em progresso.
O nosso erro, ao usar o lema "Ordem e Progresso" para criticar a atual situação do país é direcionar a crítica à classe média/baixa; continuamos com uma classe de trabalhadores passivos politicamente, o que confirma o aspecto ordem no sentido dado por Comte, o que nos falta é uma elite inteligente no poder que perceba que, a longo prazo, o desenvolvimento do país os trará mais benefícios do que a usual corrupção.
Para perceber isso basta notar que a elite brasileira nao se compara, no quesito poder aquisitivo, à elite de países de primeiro mundo. A corrupção é pensar pequeno para si mesmo; não é socialismo, não é beneficiar o povo, é desenvolver o país para trazer desenvolvimento expressivo e econômico à elite nacional, a melhoria das condições de vida das demais classes vem como conseqüência a esse desenvolvimento, como aconteceu nos países de primeiro mundo.
A classe média/baixa brasileira ser burra não é o que atrasa o país, mas sim, a burrice elitista nacional.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

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And if the band you're in starts playin' in different tunes; I'll see you on the Dark side of the Moon.
(...)

Um novo começo, uma nova descrição

"No lado escuro da vida
eu me encontrei com Deus
e ele me disse:
Cuide-se você mesmo, meu irmão
Porque eu não olharei por você.
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Chorando em um banheiro sujo
foi quando eu descobri
Eu sou a dualidade paradoxal
da personalidade humana."

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Samba do feto que chora

Quem disse que o acorde inicial
dá o tom do lugar
Se enganou legal, meu irmão
Sempre surge algo pra tudo desarrumar

Quem canta vitória antes do princípio da luta
E antes de ter, sente a felicidade chegar
Não devia se precipitar assim, não
E agora sente o gosto amargo da lágrima voltar

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

(.......)

"(...) E essa justiça desafinada é tão humana e tão errada (...)"
Renato Russo e suas redundâncias pra fazer pessoas burras como eu entenderem o que nem ele mesmo conseguia entender direito

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Ser humano: o pior dos animais

Andei lendo algumas coisas engraçadas que me obrigaram a escrever e refletir um pouco sobre algumas coisas; em um blog, um rapaz escreve o quão absurdo ele considera a constituição brasileira punir mais severamente, em alguns casos, uma pessoa que mata um animal do que uma pessoa que mata um outro ser humano. Como a ótica com a qual você observa as coisas pode ser uma comédia.
Como funciona a vida animal em um determinado ambiente? Quando há condições favoráveis para o seu crescimento (comida suficiente, temperatura de acordo com o nível de sobrevivência específico de cada animal, fatores como água, luz, todos variando de acordo com a necessidade de cada ser vivo), o crescimento dessa espécie se torna descontrolado até que esses itens comecem a se tornar limitados devido a esse crescimento. Então, começa a haver uma queda brusca devido a uma competição entre esses próprios indivíduos, tornando, caso tudo isso fosse representado em um gráfico, algo semelhante a uma "onda", com uma subida brusca e uma queda no crescimento da população. No entanto, no caso de uma racionalidade presente, seria fácil simplesmente notar isso e evitar esse crescimento, o que viria de cada um; todos os seres racionais dessa espécie perceberiam que esse crescimento desenfreado prejudicaria o bem estar tanto deles próprios quanto de seus descendentes futuros.
Por muito tempo a mortalidade manteve-se alta juntamente com a natalidade para o ser humano, até surgirem melhorias no sistema, como redes sanitárias, controle de doenças, vacinação, muito do que vem da Revolução Científica, que facilita a sobrevivência humana, o que fica claro principalmente após a segunda guerra mundial; esses fatores tornam o ambiente propício ao desenvolvimento da espécie humana, torna a espécie passiva de sobreviver e crescer por ter muito do que compõe suas necessidades de sobrevivência em abundância e dá a ela capacidade de enfrentar o que pode impedi-la de sobreviver. A partir daí, a população na terra começa a crescer até índices que podem se tornar perigosos para a sobrevivência, criando assim uma competição dentro da própria espécie: o trabalho pelo dinheiro, os furtos, roubos, assassinatos.
Basta observar as fases do crescimento populacional de um país. Inicialmente, esse país tem ambas taxas de mortalidade e natalidade altos. Posteriormente, com um ambiente favorável ao crescimento (queda da mortalidade por melhorias nas condições de vida), a população começa a crescer desenfreadamente até esta notar que isso é desvantajoso para ela (mas lembre-se, a população nunca nota e passa para a 3a fase, que é a diminuição da taxa de natalidade, antes de passar pela 2a fase, que seria o grande crescimento, ela só notará que esse crescimento será desvantajoso para ela ao sentir realmente isso e só então perceberá que as taxas de natalidade devem ser controladas).
Todo esse processo humano segue exatamente todo o processo de uma população animal qualquer que habita um ambiente qualquer. Cresce irracionalmente até perceber que o ambiente não suporta todos eles e então começam a competir entre si pela sobrevivência.
Nota-se também que cada animal tem seu método de se proteger e garantir sua sobrevivência: a própria força, camuflagens, venenos; no caso do ser humano, a inteligência.
Portanto, uma coisa que não entendo é porque as pessoas insistem em diferenciar o ser humano de outro animal qualquer. O ser humano pode ser mais inteligente que o resto em geral, tudo bem, digamos que seja sua arma, mas ele não atinge graus de racionalidade como muitos acham que atinge; assim como todos os animais, o ser humano é totalmente instintivo, não consegue prever nada e, mesmo que consiga, não consegue evitar, procura reagir e achar soluções quando não há mais meios de evitar o problema, quando já o sente na pele, mesmo que ele pudesse ter sido evitado antes, não vale a pena pensar em nada disso enquanto ele não te toca, chega em você e você sente o que havia sido previsto que ele ia trazer. Quando esse toque acontece, aí sim a busca de uma solução é inevitável. Assim acontece com qualquer dos animais, seja uma formiga, um leão, ou a espécie humana.
Vale lembrar também que não há somente a competição intra-específica, mas também a competição inter-específica, desde que haja coincidências entre as necessidades de sobrevivência de duas ou mais espécies.
Onde eu quero chegar é que o ser humano, em uma visão geral, se comporta como qualquer animal, procura soluções da forma e no instante que qualquer animal o faria, age instintivamente como qualquer animal (basta ler o caso dos exploradores de caverna ou qualquer livro de característica naturalista, principalmente na literatura nacional, e notará que em seu interior o ser humano é instintivo como qualquer outro ser vivo; apesar de não ser difícil notar isso no dia-a-dia, vale lembrar que, em um zoológico, você pode pôr seu braço dentro da jaula de um leão se ele estiver bem alimentado, mas experimente chegar perto da jaula caso ele tenha ficado sem comida); ou melhor: o ser humano apresenta TODAS as características de qualquer outro animal.

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Se chegamos à conclusão de que o ser humano não tem diferença nenhuma pra qualquer outro ser, pensemos agora o que torna um ser vivo bom ou ruim, importante ou sem importância, e então pensemos em qual deveria ter mais ou menos valor perante a lei. Pra isso, vamos nos basear no que já está impregnado em nosso próprio pensamento.
Imaginemos uma plantação infestada por uma praga; essa praga não a destrói por peraltismo ou falta do que fazer, mas porque é uma forma de crescer e evoluir pra ela; porém, isso não nos importa, e continuamos a considerando, como o próprio nome pejorativamente diz, uma praga. Não estou dizendo que devemos viver felizes com a praga, aprendermos a amá-la e conviver com ela. Mas pare e pense que o ser humano destrói o planeta todo pela sua ganância e para preencher necessidades de sobrevivência que, na maioria das vezes, não são reais, mas são criadas pela própria "inteligência" (entre aspas porque a uso como um termo relativo) humana, a qual dizemos responsável por nossa racionalidade que nos torna superior, mas que na verdade nos adequa ao termo "praga" que criamos justamente pra algo que, quando atinge nosso raciocínio, é rapidamente relacionada ao termo "extermínio".
Pra irmos por parte, se uma praga é algo passivo de extermínio e os animais os quais podemos exterminar (no caso do rapaz no blog, ele se referia à capivara) não são considerados pragas no nosso entender, por não prejudicarem algo que nos afete diretamente (apesar de talvez serem considerados pragas por outras espécies), logo, nada mais justo que a lei dê preferência a uma capivara do que a nós próprios, que somos muito mais destrutivos e perigosos do que ela. Mas claro que vale lembrar que tudo isso não foi criado com essa intenção, mas que nossa falsa racionalidade acabou sendo, acidentalmente, justa.

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Eu poderia ter parado por ali e deixado você simplesmente refletir sobre o quão idiota o rapaz é ou eu sou; como disse, a ótica pode ser algo muito engraçado. Mas é legal também pensar na nossa própria visão sobre outras espécies.
Quando a gente pisa em uma formiga por simples diversão ou vê um ser matar o outro da mesma espécie como algo pateticamente comum nas aulas de biologia, isso torna totalmente justificável matar, torturar, roubar, principalmente ao lembrar da constatação que na própria espécie há competição, o que torna cada um como que quase uma espécie individual; te permite enxergar que estamos realmente sozinhos e que é melhor começarmos a matar, roubar, engolir ou pisar nos outros pra sobrevivermos, porque a era de competição já começou.

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Queria deixar bem claro que tudo que escrevo aqui é simplesmente reflexão, não significa que eu concorde com tudo isso que escrevi e essa justificativa está longe de ser um esclarecimento de que eu discordo, o interessante é simplesmente pensar sobre todos os lados e talvez, algum dia, chegar a uma conclusão.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Pink Floyd - Dogs


"You got to be crazy, you gotta have a real need
You gotta sleep on your toes, and when you're on the street
You gotta be able to pick up the easy meat with your eyes closed
And the moving in silently, down wind and out of sight
You gotta strike when the moment is right whitout thinking.

And after a while, you can work on points for style
Like the club tie, and the firm handshake
A certain look in the eye, and an easy smile
You have to be trusted by the people that you lie to
So that when they turn their backs on you
You'll get the chance to put the knife in.

You gotta keep one eye looking over your shoulder
You know it's going to get harder, and harder, and harder as you get older
And in the end you'll pack up, fly down south
Hide your head in the sand
Just another sad old man
All alone and dying of cancer.

And when you lose control, you'll reap the harvest that you've sown
And as the fear grows, the bad blood slows and turns to stone
And it's too late to lose the weight you used to need to throw around
So have a good drown, as you go down all alone
Dragged down by the stone.

I gotta admit that I'm a little bit confused
Sometimes it seems to me as if I'm just being used
Gotta stay awake, gotta try and shake of this creaping malaise
If I don't stand my own ground, how can I find my way out of this maze?

Deaf, dumb and blind, you just keep on pretending
That everyone's expendable and no one had a real friend
And it seems to you the thing to do would be to isolate the winner
Everything's done under the sun
And you believe at heart, everyone's a killer.

Who was born in a house full of pain
Who was trained not to spit in the fan
Who was told what to do by the man
Who was broken by trained personnel
Who was fitted with colar and chain
Who was given a pat on the back
Who was breaking away from the pack
Who was only a stranger at home
Who was ground down in the end
Who was found dead on the phone
Who was dragged down by the stone."

quinta-feira, 24 de julho de 2008

O dom da ignorância

A respiração ofegante cessou ao sentir um esvaziamento que eliminava um peso maior que o aparente e, então, comemorou por aquela ser uma das boas vezes.
Nessa situação, sempre havia extremas possibilidades de sensação: a que sentia agora era a de ter eliminado (ao menos temporariamente) o único sentimento que o obrigava a conviver com outras pessoas: as necessidades carnais; como se de repente ele se sentisse feliz por estar sozinho e desejasse ficar assim pra sempre, se isolar e nunca mais estabelecer contato com ninguém; como se o mundo exterior não tivesse mais valor e tudo o que é importante fosse seu mundo interior, onde ele não desejava ninguém, apenas ele e o silêncio. Quando obtia esse resultado, ele costumava fechar a porta e todas as janelas de seu apartamento, tirar a TV e o computador da tomada, desligar o celular e telefone e simplesmente gabar-se mentalmente por ser mais inteligente que os outros por conhecer a natureza humana e, por isso, odiar o contato com ela; pensando e sorrindo enquanto deita em sua cama e permanece a observar o teto.
A outra possibilidade ocorria quando ele se lembrava que o que ele imaginava pra chegar a esse momento eram coisas que ele já havia possuído e perdera; então, sentia o isolamento queimar seu corpo, sentia as lágrimas arrombarem suas pálpebras e percebia que sua idade avançava sobre sua capacidade, embora se considerasse mais sábio agora, muito do que conquistara agora parecia impossível para ele. A saudade do real, do contato humano, da companhia sincera, corroía seu mundo interior e permitia que o mundo exterior jantasse seu corpo com uma onda de sentimentos enzimáticos. Então ele olha desesperadamente o telefone, liga pelo seu celular para seus amigos e percebe que as coisas não são mais as mesmas, procura conversar na internet, vê programas inteligentes na TV tentando massagear seu ego, abre as janelas e fuma até que a última luz do último apartamento do último prédio se apague. Percebe, então, que dom tamanho é a ignorância.
Pega o revólver no armário, o põe na boca e engole toda a saliva, percebe seu dedo travado no gatilho e que sua covardia em mudar não permite que ele enfrente o mundo lá fora e muito menos o desconhecido pós-vida. Então, ele guarda a arma, toma dezenas de remédios e dorme no chão.

domingo, 20 de julho de 2008

"Quando alguém me matar, quero que seja alguém que me odeie, e não que o faça por ser seu trabalho"

O que se espera de um filme, naturalmente? Se é comédia, espera-se risadas; Se é aventura, terror, espera-se adrenalina; se é suspense, ficcção científica, espera-se inteligência. E se pudéssemos juntar tudo isso em um filme só, somando-se um dos melhores atores da história (Al Pacino) em uma atuação impecável? "Um dia de cão" (Day Dog Afternoon) é, sem dúvidas, um filme completo.
O filme gira em torno de dois homens - Sonny Wortzik e Sal - que tentam roubar um banco, mas acabam sendo descobertos e, enfrentando as autoridades e mantendo as pessoas como reféns, passam por situações inusitadas. Iniciando-se levemente cômico, o filme passa a situar o porquê de todo o acontecimento com envolvimento de pessoas que conhecem Sonny e esses incrementos acrescentam a reflexão e o envolvimento com o filme; criam uma situação de abandono e mutação a qual você começa a compreender e com a qual você começa a se identificar durante o filme, mas que te faz sentir realmente como ela é no fim; como se o filme terminasse, mas a sensação permanecesse com você e fizesse com que você torça com todas as forças para que algo aconteça e altere tudo.
Essa quebra de expectativas no fim gera um efeito irônico porque o fim é exatamente como você, a princípio, esperava que tudo terminaria, mas ela existe porque o desenvolvimento faz com que você sinta que as coisas possam ser diferentes, tendo o fim um efeito como uma lembrança de que elas não podem.

sábado, 5 de julho de 2008

O Encontro

Abri a porta e esperei que ela entrasse em minha frente. Feito isso, entrei logo em seguida.
Apaguei as luzes e acendi velas enquanto ela analisava cautelosamente toda minha sala. Fui à cozinha em busca de vinho, servindo duas taças e as colocando na mesa de jantar. Então, permiti a Frank Sinatra apreciar nossa noite.
-Espero que não esteja a incomodando ou sendo antiquado a uma mulher do século XXI.
-Talvez eu também não pertença ao século XXI - disse ela sorrindo, acendendo um cigarro em seguida - e talvez você saiba disso melhor do que eu. Care if I smoke?
-Maybe I know more than you could ever imagine - olhei fixamente em seus olhos - vá em frente, fume.
-Acredito que esse vício vá me matar um dia - sorriu enquanto tragava - mas isso não fará mais do que nós fazemos a nós mesmos, não é verdade? Encher a cabeça de coisas que julgamos úteis até nos julgarmos sábios e nosso psicólogico decidir ser hora de morrer - cruzou as pernas sensualmente e me encarou - gosta da morte natural, senhor Dimitri?
-Seu vício? É engraçado como voltamos tudo para nós mesmos, como se fôssemos os únicos a possuírem ambições e desejos. E se o cigarro for um taciturno viciado em matar tentando deixar seu vício por se sentir acabar ao acabar com suas vítimas, mas alguém que sabe que nunca vai conseguir parar - debrucei-me e coloquei meu rosto muito próximo ao dela, olhando-a nos olhos - assim como certos homens?
A encarei por um tempo, olhos nos olhos, como se nossos espíritos conversassem em um idioma o qual fôssemos incapazes de entender, e então, sorri.
-Não vai pegar seu vinho?
Só então ela percebeu que eu havia debruçado em sua direção para entregar-lhe sua taça, que repousava em minha mão (ou que esse talvez fosse o pretexto para debruçar-me). Ela a pegou enquanto apagava seu cigarro ainda quase inteiro e, então, me questionou:
-Não entendo bem por que sou a única a perceber, mas sei que é você quem escreve aqueles poemas, todos os pseudônimos são você. Por que não assina com seu próprio nome?
Sorri e, enquanto andava vagarosamente em direção à sua cadeira, disse:
-Então é verdade, profissões podem deixar as pessoas doentias - cheguei à parte de trás de sua cadeira e coloquei uma das mãos em seu cabelo - é pra isso que você veio aqui? Se aproveitar de questões pessoais para escrever em seu jornal estúpido? - ela então demonstrou querer dizer algo, mas coloquei um dedo sobre sua boca - Shhh!! Não responda, não há necessidade.
Então, comecei a caminhar em direção ao armário (atrás dela e, portanto, fora de seu campo de visão) e comecei a preparar o lenço, o toque especial para a noite especial.
-Sim, sou eu quem escreve todos os poemas, mas espero que não tenha oportunidade de escrever isso no jornal.
-Não escreverei se você não o desejar, mas tire-me uma dúvida de apreciadora: como você pode ser tantas pessoas, cada personalidade diferente e algumas até mesmo contraditórias, distribuídas entre os pseudônimos?
Caminhei em direção à parte de trás de sua cadeira, e falei enquanto andava:
-E se a escrita no jornal não depender da minha ou sua vontade? E se depender meramente do destino em nos ter feito encontrar naquela rua?
Cheguei à sua cadeira e, com uma mão, toquei seu ombro. Senti que isso interrompeu sua fala e acelerou notavelmente sua respiração. Com a parte de fora dos dedos, subi pelo seu pescoço, notando que ela estava cadavericamente gelada, até seu cabelo, o levantando.
-Desde quando estávamos juntos, você sentia que me conhecia melhor do que ninguém, mas quando eu a tocava ou olhava em seus olhos, sentia como se um completo estranho estivesse a sua frente e isso lhe causava um medo inexplicável, como uma mão fria tocando sua protegida alma, não é verdade? - cheirei seu cabelo - ainda sente esse medo, não é? - escorreguei a mão novamente pelo seu pescoço até seu ombro - você reconhece que todos os pseudônimos são eu porque conhece a maioria de minhas faces.
Desci minha cabeça até seu ouvido e sussurrei:
-Permita-me apresentar a que considero mais interessante.
Então, rapidamente, movi minha outra mão com o lenço, umidecido com clorofórmio, até seu rosto e o pressionei contra seu nariz até que fizesse o devido efeito. Ela se debateu incessantemente como se reunisse todas suas forças. Então, com o tempo, foi perdendo seus movimentos lentamente e desmaiou.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Mas afinal, o que é rock n' roll?!

Não se preocupe, não estou aqui pra discutir sobre os óculos do john e muito menos sobre o olhar do Paul. Acontece que chega um momento, depois de vários e vários anos de música, de ver que você teve várias fases terríveis e fases excelentes musicalmente, você se pergunta: "Sou eu um músico de verdade, ou apenas penso ser um?". O mais engraçado é que, a maioria que responde ser um músico de verdade, é um gordo nerd, espinhento e metaleiro que assiste o seu ídolo fazer 352,5 notas por segundo na guitarra e grita "UAU, é o melhor guitarrista do mundo" não importa se as notas fazem algum sentido ou despertam alguma emoção.
Isso, exatamente isso, é uma das coisas que mais me irritam nesse mundo. Não que eu seja radical, por exemplo, eu adoro Pink Floyd, acho sem dúvidas a melhor banda da história do rock; se eu fosse radical, estaria aqui dizendo que Pink Floyd é enjoativo e eu prefiro as quatro garotinhas de Liverpool dançando e causando arrepios nas garotinhas da platéia (não que eu não goste de Beatles, até gosto de algumas coisas, mas tenho raiva de dizerem ser a melhor banda da história ou a banda mais importante do rock, consigo citar sem respirar 10 bandas melhores e mais importantes que Beatles no rock). Mas é claro que tudo tem um nível sadio, o simples pode soar complexo (como eu considero Pink Floyd, não é que seja simples de tocar, mas é que não depende puramente de uma técnica absurda, mas sim de um puta feeling inexplicável que o David Gilmour possui) ou o complexo soar simples, e nem por isso deixar de ser bom. Onde eu quero chegar é que, na verdade, não importa qual o grau de dificuldade de algo ser tocado, o importante é como esse algo soa aos nossos ouvidos, o que nos faz sentir, se nos deixa arrepiado ou nos dá vontade de pular de um prédio, sair de casa correndo sem ter pra onde ir, entrar em um carro e ir pra qualquer lugar, isso é música, é sentimento puro, é espontaneidade, é expressão. Quando se ouve uma poesia, não importa se quem a recita consegue dizer 80 ou 20 palavras por segundo, o importante é sentir o que o autor tem a nos dizer. O problema é que, se a pessoa demora muito pra perceber isso, fica difícil tirar o conceito porco de música da cabeça dela e colocar um conceito decente, é por isso que eu digo que a maior parte da culpa são dos professores bestas que esquecem de ensinar a primeira lição pros alunos: "TÉCNICA É DETALHE, É UM CAMINHO PRA SE ALCANÇAR ALGO, NÃO É TUDO O QUE IMPORTA E NA VERDADE NEM IMPORTA, CONTANDO QUE SE ATINJA O OBJETIVO DESEJADO".
Repito, não estou dizendo que tudo que tem técnica é ruim, mas vou dar um exemplo:

http://www.youtube.com/watch?v=1qAA1Fb3dBY
Acho que qualquer pessoa em sã consciência no mundo já ouviu Comfortably Numb, Pink Floyd. O vídeo acima é essa música reproduzida pelo Dream Theater. Notem que logo aos 2 minutos o animal já consegue errar a letra, mas tudo bem, a gente perdoa, isso são detalhes à parte. Aos 2:15, no primeiro solo, o guitarrista se limita a reproduzir a guitarra do Pink Floyd, mas cheia de erros (caso você não seja guitarrista, saiba que reproduzir um solo com uma dificuldade não tão grande como esse, apesar de ser um lindo solo, pelo menos 40 guitarristas da sua própria cidade conseguem sem problemas, isso se você não morar em uma capital). Mas finalmente chegamos ao interessante: ao solo que se inicia em 4:35 minutos e vai se integrando com "reis-deuses-mestres" do rock como o grande John Petrucci. Até os 6 minutos de música, note que ele se limita a simplesmente reproduzir o solo, coisa que, como já disse e espero que não se esqueça, pelo menos 40 pessoas em um raio de 100 km de você conseguem fazer sem maiores problemas (não reproduz fielmente, mas até aí não há nenhuma monstruosidade). Note que, a partir daí, reune-se uma "gangue", os amiguinhos metaleiros demoníacos a se ajudarem. O que falar sobre esses caras? São caras que estão acostumados a tocar um só tipo de música desde crianças, com extrema velocidade. Note que, se você pegar essa guitarra e colocar em uma música do Ozzy (não que eu não goste de Zakk Wylde ou Toni Iommi, muito pelo contrário, acho eles extremamente talentosos) vai dar na mesma, porque eles não estão ligando pra que tipo de base tá rolando ou que tipo de música eles tão tocando, eles tão fazendo o que o pequeno cérebro de tamanho aproximado ao de uma azeitona manda eles fazerem. Depois chega mais um da gangue e a música vira uma festa dos headbangers e um funeral do rock pras pessoas de bom senso. Assista o resto desse vídeo e descubra se você realmente sabe o que é ser músico ou se gosta de firulas, se você não consegue enxergar a brutalidade, a afronta com o rock, que esses três peraltas realizaram durante esse vídeo, sinceramente, pense em uma marca de cigarro de que você goste, coloque DJ na frente e mude de ramo musical. Assista o resto do vídeo ignorando técnica, lembre-se que música não depende de como foi feito, simplesmente depende do que foi passado.

Agora, observem o mestre:
http://www.youtube.com/watch?v=1Qt6b8B5Bd4
Infelizmente esse vídeo tá com um pouco de delay, mas no solo final, só feche o olho e ouça, vai perceber claramente a diferença entre um guitarrista de verdade e um mero metaleiro sem noção musical. Note que o que mais chama a atenção não é a técnica, ele não se utiliza de velocidade extrema e etc pro solo, ele simplesmente toca, e atinge um patamar pelo menos 200 vezes mais elevado do que o mostrado anteriormente pelo Dream Theater.

Eu também não sou contra técnica, existem solos excelentes que exigem técnica e eu gosto absurdamente, como em Free Bird do Lynyrd Skynyrd. Esses dias eu liguei a MTV (coisa que eu raramente faço, mas de vez enquando é bom rir de umas bobagens) e acabei pegando um top top clichês, descobri que o mesmo de gritar "Toca Raul" aqui no brasil é gritar "Free Bird" nos Estados Unidos, pelo solo extremamente difícil de ser executado da música. Apesar dessa dificuldade, ele não é simplesmente técnica, é um feeling absurdo junto com técnica, é uma técnica como forma de expressão, e é magnífico.
http://www.youtube.com/watch?v=7PENBU3lrpE
Neste vídeo Lynyrd Skynyrd o executa ao vivo, dá pra entender bem o que eu tô dizendo.

Muito além da técnica, lembremos que um dos maiores guitarristas da história (se não o maior) não era um guitarrista estudado, tinha uma habilidade monstruosa na guitarra mas não era estudado, era bom simplesmente por ter nascido bom, mas não se importava com o quanto estava impressionando, simplesmente tinha um feeling "exalante" que impressionava platéias e impressiona jovens até hoje. (http://www.youtube.com/watch?v=SW3dUgCHnL4)
Além de, por exemplo, Bob Dylan, que sabia tocar um violão mais ou menos, cantava mais ou menos, mas compôs letras que influenciaram jovens por todas as gerações até hoje, seja direta ou indiretamente.

Música é atitude, sentimento, alma, espírito.
Não consigo enxergar a técnica como TUDO pra nenhum desses quesitos.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Fim

Se eu tivesse uma arma hoje, aqui, agora, atiraria contra a minha cabeça e acabaria com toda essa palhaçada agora.
Sem razão nenhuma, nada além do que todos têm. Simplesmente atiraria. Acho que sou a pessoa que tudo tem, mas que sempre se convence que não tem o bastante e fala demais por não ter nada a dizer. Simplesmente não tenho nada a dizer e, ao mesmo tempo, me sinto como se tivesse prestes a explodir de tantas coisas que tenho por gritar e nem sei o que são.
Talvez eu queira pegar um microfone em cima de um palco com o mundo inteiro na platéia e gritar o meu, o seu, o vazio de todos.
Já não consigo mais pegar o violão e compor algo sobre o mesmo tema: nenhum; de formas diferentes.
Ou talvez eu não queira gritar, dizer, conversar, apenas ficar mudo aqui, sozinho, até minha vida acabar.
Sempre achei que esse vazio fosse a espera de alguém que estivesse por chegar, depois, desisti e cheguei à conclusão de que é a espera por alguém que nunca vai voltar.
Agora percebo que não é nenhum deles, que é algo que eu sempre senti e que essas desculpas são tentativas de simplesmente dar uma razão à existência dessa “coisa” que não existe.
Se tivesse uma arma hoje, aqui, agora, atiraria contra a minha cabeça e acabaria com tudo isso que não existe, agora.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Trecho de "O Pistoleiro" - Stephen King

“(...)
O universo (disse ele) é o Grande Todo e oferece um paradoxo grande demais para ser apreendido pela mente finita. Assim como o cérebro vivo não pode conceber um cérebro não vivo – embora possa achar que pode -, a mente finita não pode apreender o infinito.
O fato prosaico da existência do universo já desacredita, por si mesmo, o pragmático e o romântico. Houve uma época, cem gerações antes de o mundo seguir adiante, em que a humanidade atingira perícia científica e técnica suficiente para atirar algumas lascas do grande pilar de pedra da realidade. Mesmo assim, a falsa luz da ciência (o conhecimento, se você preferir) só brilhou em alguns países desenvolvidos. Nesse respeito, uma companhia (ou conluio mafioso) abria o caminho: a North Central Positronics, como ela se autodenominava. Contudo, apesar de um tremendo incremento de novos conhecimentos, as novas percepções foram notavelmente reduzidas.
-Pistoleiro, nossos muitas vezes terravós venceram a-doença-querói, que chamavam de câncer, quase venceram o envelhecimento, andaram na lua...
-Não acredito – disse secamente o pistoleiro.
O homem de preto apenas sorriu e respondeu:
-Não precisa acreditar. Mas aconteceu. E foram feitos ou descobertos dezenas de engenhos incríveis. Mas a riqueza de informação produzia pouco ou nenhum discernimento. Não se escreveram grandes odes sobre as maravilhas da inseminação artificial... ter bebês a partir do esperma congelado... ou sobre carros que andavam graças à força que tiravam do sol. Pouca gente, se é que alguém o fez, parece ter compreendido o mais autêntico princípio da realidade: novo conhecimento conduz sempre a mistérios ainda mais espantosos. Maior conhecimento fisiológico do cérebro torna a existência da alma menos possível, ainda que mais provável pela própria natureza da pesquisa. Está entendendo? Claro que não. Você atingiu os limites de sua capacidade de compreender. Mas não faz mal... não é isso que nos interessa.
-O que é, então?
-O maior mistério que o universo propõe não é a vida, mas o tamanho. O tamanho contém a vida e a Torre contém o tamanho. A criança que em geral está familiarizada com o espanto, diz: papai, o que existe em cima do céu? E o pai diz: a escuridão do espaço. A criança: o que existe depois do espaço? O pai: a galáxia. A criança: depois da galáxia? O pai: outra galáxia. A criança: depois das outras galáxias? O pai: ninguém sabe.
“Está entendendo? O tamanho nos derrota. Para o peixe, o lago onde ele vive é o universo. O que pensa o peixe quando é puxado pela boca por um gancho prateado, nos limites da existência, e penetra num novo universo onde o ar afoga e a luminosidade é uma loucura azulada? Onde enormes bípedes sem guelras o amontoam para morrer numa caixa sufocante, forrada de vegetação úmida?
“Ou se pode pegar a ponta de um lápis e ampliá-la. Vamos chegar a um ponto onde uma atordoante compreensão cai sobre nós: a ponta do lápis não é sólida; é composta de átomos que giram e rodopiam como um trilhão de diabólicos planetas. O que nos parece sólido é apenas uma rede de coisas soltas, mantidas juntas pela gravidade. Vistas na sua real dimensão, as distâncias entre esses átomos podem se tornar quilômetros, abismos, eternidades. Os próprios átomos são compostos de núcleos com prótons e elétrons girando em torno deles. Podemos descer ainda mais até as partículas subatômicas. E depois para o quê? Para os táquions? Para nada? Claro que não. Tudo no universo rejeita o nada; sugerir um término é o único absurdo que existe.
“Se você recuasse para o limite do universo, será que encontraria uma cerca de madeira e tabuletas dizendo SEM SAÍDA? Não. Talvez você encontrasse algo duro e arredondado, como o pintinho deve ver o ovo do seu interior. E se você atravessasse a casca beliscando (ou encontrasse uma porta), não poderia jorrar, nesses confins do espaço, uma incrível luz torrencial através da abertura? Você não poderia olhar por ali e descobrir que todo o nosso universo é apenas parte de um átomo numa camada de relva? Não poderia ser levado a pensar que, ao queimar um graveto, você está incinerando uma eternidade de eternidades? Que a existência não avança para um infinito mas para uma infinidade deles?
“Talvez você tenha visto o lugar que nosso universo ocupa no esquema das coisas – não mais que um átomo numa camada de relva. Será possível que tudo que percebemos, do vírus microscópico à distante nebulosa Cabeça de Cavalo, esteja contido numa camada de relva que pode ter existido por uma única estação num outro fluxo de tempo? E se a camada fosse cortada por uma foice? Quando ela começasse a morrer, a podridão não escorreria para nosso próprio universo e nossas próprias vidas, deixando tudo amarelado, escuro e ressecado? Talvez isso já tenha começado a acontecer. Dizemos que o mundo seguiu adiante; talvez estejamos realmente querendo dizer que ele começou a secar.
“Pense em como essa idéia das coisas nos torna pequenos, pistoleiro! Se um Deus vela sobre tudo, acha realmente que Ele vai se preocupar em distribuir justiça a uma raça de mosquitos entre uma infinidade de raças de mosquitos? Será que Seu olho vê o pardal cair quando o pardal é menos que um pontinho de hidrogênio flutuando solto nas profundezas do espaço? E se Ele realmente vê... qual deve ser a natureza de um tal Deus? Onde ele vive? Como é possível viver além do infinito?
“Imagine a areia do deserto Mohaine, que você cruzou para me encontrar, e imagine um trilhão de universos – não mundos, mas universos – encerrados em cada grão daquele deserto; e dentro de cada universo, uma infinidade de outros. Nós nos elevamos sobre esses universos de uma suposta posição privilegiada na relva; com um movimento de sua bota, você pode chutar um bilhão de mundos, fazê-los voar para a escuridão, numa reação em cadeira que jamais terá fim.
“Tamanho, pistoleiro... tamanho...
“Mas continue a supor. Suponha que todos os mundos, todos os universos se reúnam num único nexo, um mesmo portal, uma Torre. E que dentro dela haja uma escada, levando, talvez, à própria Divindade. Você teria coragem de subir até lá, pistoleiro? Não é possível que em algum lugar sobre toda essa infinita realidade exista uma Sala?...
“Você não teria coragem.”
E na mente do pistoleiro, aquelas palavras ecoaram: você não teria coragem.
(...)”

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Trecho de "O Pistoleiro", Stephen King

"(...) Quando se sentaram diante da manta que servia de mesa, Brown surpreendeu-o de novo fazendo uma breve oração: pediu chuva, saúde e expansão para o espírito.
-Você acredita numa vida após a morte? - o pistoleiro perguntou a Brown quando ele punha três espigas de milho quentes no seu prato.
Brown assentiu.
-Acho que é esta aqui.
(...)"

sábado, 17 de maio de 2008

O Teatro Mágico


Eu acho engraçado como muitas pessoas simplesmente desprezam o cenário nacional e vão correndo para o internacional e pior, às vezes o criticam sem ao menos o conhecer direito.
Claro que o cenário brasileiro é totalmente diferente do exterior, não só na música como em todo o resto; na maioria das vezes, qualquer projeto que exija investimento será tratado de forma diferente no Brasil e em países monetariamente acima como os Estados Unidos, e a falta de investimentos em artes no Brasil torna o cenário diferente.
Mas isso não significa em hipótese alguma que seja pior, significa que precisamos de maneiras alternativas de divulgar a cultura e permitir o seu acesso, é o que muitas bandas não percebem e não tentam e poucas mal valorizadas permanecem tentando e se adequando à nossa realidade.
O Teatro Mágico é uma dessas bandas, uma banda que soa a Brasil, que luta para se adequar ao nosso cenário e não para transformar a música no Brasil no que ela é no exterior, uma banda que já percebeu que isso não é possível e, que se fosse, seria um disperdício.
Não sei nem se é correto usar o termo banda para o Teatro Mágico, já que é uma expressão artística que vai além da música: é arte no vestir, no movimentar, no discursar, no andar, em tudo. Se eu tivesse de descrever o Teatro Mágico de forma muito curta, diria que são pessoas que transpiram arte.

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http://www.oteatromágico.mus.br/

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Meu sonho - Álvares de Azevedo

"Eu
Cavaleiro das armas escuras,
Onde vais pelas trevas impuras
Com a espada sangüenta na mão?
Por que brilham teus olhos ardentes
E gemidos nos lábios frementes
Vertem fogo do teu coração?
Cavaleiro, quem és? o remorso?
Do corcel te debruças no dorso.
E galopas do vale através.
Oh! da estrada acordando as poeiras
Não escutas gritar as caveiras
E morder-te o fantasma nos pés?
Onde vais pelas trevas impuras,
Cavaleiro das armas escuras,
Macilento qual morto na tumba?
Tu escutas. Na longa montanha
Um tropel teu galope acompanha?
E um clamor de vingança retumba?
Cavaleiro, quem és? - que mistério,
Quem te força da morte no império
Pela noite assombrada a vagar?
O Fantasma
Sou o sonho da tua esperança,
Tua febre que nunca descansa,
O delírio que te há de matar!..."
Queria deixar claro que não gosto de Álvares de Azevedo, na verdade, odeio. Porém, como qualquer pessoa que se dedica, não importa quão grande seja a ausência de talento dela, alguma coisa de bom ela vai fazer durante a vida.

domingo, 11 de maio de 2008

Los Hermanos - Veja bem, meu bem

Veja bem, meu bem
Sinto te informar que arranjei alguém
pra me confortar.
Este alguém está quando você sai
E eu só posso crer, pois sem ter você
nestes braços tais.

Veja bem, amor.
Onde está você?
Somos no papel, mas não no viver.
Viajar sem mim, me deixar assim.
Tive que arranjar alguém pra passar os dias ruins.

Enquanto isso, navegando vou sem paz.
Sem ter um porto, quase morto, sem um cais.
E eu nunca vou te esquecer amor,
Mas a solidão deixa o coração neste leva e traz.

Veja bem além destes fatos vis.
Saiba, traições são bem mais sutis.
Se eu te troquei não foi por maldade.
Amor, veja bem, arranjei alguém
chamado saudade.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Explicações

Bom, estou fazendo esse post para explicar essa atualização frenética, 10 textos em um dia só.
Me mudei para Juiz de Fora e estava sem internet por aqui, por isso esse tempo todo sem postar. Apesar da ausência de posts, foi um período de intensa escrita pra mim, por isso vários posts. Infelizmente, tive de censurar e postar só partes da maioria das coisas que escrevi porque escrevi coisas muito pessoais pra postar no blog (na verdade, a maioria das coisas eu não postei nem partes) mas, de qualquer forma, acho que tem algumas coisas legais pra se ler e outras coisas ridículas, mas faz parte.
Postei alguns trechos de músicas de composição minha ou de parcerias, coisas que não costumo fazer, não sei por que me deu isso na cabeça, mas prometo que é a última vez.

Abraços

Trecho do diário de Kurdt Kobain, 1993

"(...) Amigos com quem eu possa conversar, sair e me divertir, tal como eu sempre sonhei, poderíamos conversar sobre livros e política e poderíamos fazer vandalismo à noite, que tal? Hein? Ei, eu não consigo deixar de arrancar os cabelos! Por favor! Porra, Jesus Cristo Todo-Foderoso, ame a mim, a mim, a mim, podemos continuar a título de experiência, por favor, eu não me importo se for fora-da-multidão, eu só preciso de uma platéia, uma gangue, uma razão para sorrir. Eu não o sufocarei, ah merda, merda, por favor, há alguém aí? Alguém, qualquer um, Deus me ajude, ajude-me por favor. Eu quero ser aceito. Preciso ser aceito. Usarei qualquer tipo de roupas que você quiser! Estou tão cansado de chorar e sonhar, estou muito, muuito só. Não há ninguém aí? Por favor, ajude-me. AJUDE-ME”

Sabiá (Tom Jobim e Chico Buarte - 1968)

Vou voltar
Sei que ainda
Vou voltar
Para o meu lugarFoi lá e é ainda lá
Que eu hei de ouvir cantar
Um sabiá

Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
Vou deitar à sombra
De uma palmeira
Que já não há
Colher a flor
Que já não dá
E algum amor
Talvez possa espantar
As noites que não queria

E anunciar o dia

Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
Não vai ser em vão
Que fiz tantos planos
De me enganar
Como fiz enganos
De me encontrar
Como fiz estradas
De me perder
Fiz de tudo e nada
De te esquecer

Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
Para o meu lugar
Foi lá e é ainda lá
Que eu hei de ouvir cantar
Um sabiá

(...)

"(...)
Eu não quero amar, eu não quero sentir
(...)"

Independência é morte

É maravilhoso o que acompanhamos nessa semana em Brasília: depois de anos de "apagão" estudantil, surge um protesto consciente e realmente determinado em Brasília, totalmente composto por estudantes.
Enquanto o "núcleo intelectual brasileiro" atira crianças pela janela após sufocamento; enquanto o "1o mundo brasileiro" (aliás, o único 1o mundo ignorante, claro que em se tratando de extremos absurdos) do mundo se preocupa em discutir independências e meiose de um núcleo de corrupção e como esconder a classe baixa para se parecer mais com a Europa e ganhar mias dinheiro com o turismo; enquanto o "centro econômico nacional" luta contra uma epidemia de dengue (Me refiro ao sudeste em geral, não me limitando ao estado do Rio de Janeiro) como a luta contra a Peste Negra há mais de quinhentos anos (nota-se que não houve grande evolução em algumas partes do mundo) e enquanto jovens desfrutam dos melhores índices educacionais em um estado que permite a construção de áreas de colégio em locais protegidos por causas naturais, tudo isso em uma época de extrema preocupação com a natureza; eis que surge um movimento realmente eficiente e inteligente e, onde? Em pleno Centro-Oeste do país.
Alguns podem dizer: "Mas é Goiás, o estado mais desenvolvido do Centro-Oeste, onde fica a capital do país". Eu diria que tenho pena da ignorância de tal afirmação. Ignorância por desconhecer as belezas naturais magníficas, como "Bonito", no Mato Grosso do Sul, que pode gerar turismo como Florianópolis ou Ilha Bela. Sinto pena pelo desconhecimento do ser com relação ao melhor gado do país; não, não me refiro ao gaúcho, há muito tempo que a carne mato grossense é considerada a melhor do país.
Beleza, inteligência e vantagens econômicas, que tal serguirmos a ideologia estúpida, besta, burra, idiota (e vários outros sinônimos) das regiões mais orgulhosas do país e lutarmos pela separação do Centro-Oeste?
Idéia que soa hilária, não? Pois é...

(...)

"(...)
'Silêncio, silêncio, silêncio, SILÊNCIO! Estou farto das pessoas exclamando em vozes ridiculamente inúteis seus irreais sentimentos hilários que escondem e tentam justificar o vazio devastador de suas almas! Não, seus imbecis, isso não é uísque, é realidade! Não percebe? Você não precisa beber para ver o que eu vejo, basta abrir seu pequeno cérebro para a realidade! Abra os olhos, não esses de sua cara, os de seu cérebro, enxergue! Olhe para o mundo e o veja de verdade!
Percebe o porquê de eu não agüentar mais as vozes que inventam problemas para justificar o vazio semelhante a todos? Problemas diferentes para justificar o vazio que é o mesmo a todos e ninguéms e questiona sobre "O que é isso?", "Que porra é essa que falta em minha vida, falta na vida de todos, e ninguém conhece?'

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Pedi mais um copo de uísque e continuei fingindo ser indiferente à sua encarada constante, rezando para que ela não tentasse uma aproximação, ou tentasse, a essa altura, já não conseguia identificar o que eu queria e o que eu não queria.
Foi quando ela se sentou em minha mesa, sem ser convidada, sem receber ao menos um sinal, simplesmente se sentou.
-Olá, qual o seu nome? - disse ela
Acendi um cigarro e, tentando ser paciente, respondi:
-Armel, Armel Dimitri. O que você quer?
Ao perguntar isso, ela deu um sorriso que eu diria malicioso e eu senti seus pés tocarem minha região genital por baixo dos panos da mesa.
-Isso você vai descobrir quando gritar meu nome, mais tarde.
Ela era, sem dúvidas, uma mulher irrecusável, seus lábios eram fartos e brilhosos, do tipo que não soa seco nem por um segundo do pensamento instintivo humano, tinha uma pinta chamativa no pescoço, do tipo que desperta pensamentos que as mulheres nunca poderiam imaginar os homens têm; seios muito fartos seguidos por uma cintura muito fina, coberta por seu vestido preto de quem quer ser elegante mas depende do bom-gosto alheio. Suas pernas eram fartas e, seus pés, no tamanho ideal e muito bem cuidados.
Com meu uísque escondido nos panos, dissolvi o segredo de qualquer pessoa esperta e discreta.
-Que tal um pouco de uísque?

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Estacionei meu carro, saí e chequei que ninguém estivesse nos vendo. Então, acendi um cigarro e o traguei como se fosse a madrugada indo aos meus pulmões e voltando, inspirando o cheiro da real liberdade e o expulsando para longe em segundos.

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'É engraçado como você pode se esforçar ao máximo para evitar seu bom gosto excessivo, tentar ser uma pessoa normal, mas nesses momentos ele ataca e você volta a ser o seu instinto, um monstro inteligentíssimo e furioso"

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Abri sua porta, peguei sua mão e a ajudei a sair do carro. Fechei a porta e a levei para dentro.
Nos beijamos e notei perfeitamente uqe o efeito já havia chegado: ela já não tinha a mínima noção do que estava acontecendo e estava absurdamente excitada.
A coloquei na cama e amarrei seus braços à cabeceira. Aproximei meu rosto ao dela para sentir sua respiração e toquei cuidadosamente seu clitóris, movimentando minha mão lentamente e depois aumentando a velocidade gradativamente.
Então, tirei a mão rapidamente e saquei minha faca, colocando-a em frente aos olhos da mulher. Então, esperei que ela os abrisse.
Sua reação foi fria, a excitação era tão grande que ela não enxergava o que aquilo realmente significava.
Rasguei seu vestido e comecei a cortá-la lentamente e, ao invés de dor, o que eu percebia era um prazer que eu nunca tinha visto anteriormente.
Então, comecei a cortar seu rosto, arranquei parte de sua orelha e procurei deformá-la ao máximo.
Arrastei-a para o carro, dirigi o mias rápido possível, dobrando várias esquinas, e a larguei muito longe, em um lugar onde ela não pudesse retornar ao meu apartamento.

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'Se ela sentia prazer em ser deformada, ainda pode ter prazer vivendo deformada'
(...)"

(...)

"As palavras ditas para o infinito vazio se chamam poesia.
Os gestos feitos em direção ao infinito vazio se chamam arte.
Poesia e arte são oração: rituais mágicos para trazer à existência, do vazio, os deuses
Que não existem.
Quando esses deuses se tornam visíveis, eles assumem a forma da beleza".
Rubem Alves

Saudade..

"Saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu".
Chico Buarque

A Doença do Ego

Gostar demais de ganhar não é bem onde está o problema.
O problema é que o gosto da vitória nunca pode ser esquecido pelo paladar das pessoas. Assim como a comida, a vitória funciona para um ser humano. Quando você come lasanha todos os dias, você se acostuma com o gosto e até passa a considerá-lo normal. Quando você a come depois de uma longa abstinência, ela "soa" deliciosa. O importante não é comer todos os dias, mas com uma freqüência que permita o prazer.
Quando a pessoa vence o tempo todo, às vezes ela sente saudades do "gostinho da derrota" ou nem percebe mais suas vitórias. Quando uma pessoa perde durante uma longa fase, ela se torna gananciosa e acaba querendo sempre a vitória em tudo. Quando a pessoa perde sempre em algo que faz questão de vencer, ela passa a fazer questão de vencer em todo o resto para se sentir melhor.
Chamo isso de "A doença do Ego"

(...)

"(...)
Há coisas que fogem de nosso controle
como fumaça no ar.
Como um navio que naufraga
Em alto mar de uma sala de estar.
Então você pára e se pergunta
para onde devo nadar?
Para a saída que não nos leva a nada
Ou deixar-se afogar em uma mesa de bar.
Há coisas que passam por nossas cabeças
como um vento a soprar.
Como as ondas que limpam tudo
Na beira-do-mar, é no que eu tento acreditar
(...)"

This is the end, my only friend

"(...)
Então ela pegou o revólver e deu mais três tiros no corpo já sem vida de Arm. Tirou seu perfume do armário e espalhou pelo quarto, apagou a luz, trancou a porta e foi para seu quarto dormir.
Se a vida de Arm mudou, eu não sei, no escuro e sozinho foi como ele passou a maior parte de sua vida.
Havia um bilhete em sua mão, nunca foi lido."

segunda-feira, 10 de março de 2008

10/03/2008 - Raciocínio Divino

10/03/2008

Raciocínio Divino

-Muito bom, Ricardo, mas tente jogar como um homem amanhã!
-Você me deve uma cerveja por aquele gol, senhor testosterona!
E foi assim que Ricardo se despediu de um amigo, enquanto preparava para tomar uma ducha “pós-pelada”. Apesar de ser tudo em um clima de pura alegria e descontração para todos, Ricardo levava aquilo mais a sério do que aparentava; desde pequeno ele leva consigo o sonho de ser profissional no futebol, coisa que todo garoto tem e perde no decorrer da vida. Essa perda não aconteceu para Ricardo, pois, tendo uma infância conturbada, a única coisa que lhe trazia alegria era o futebol, assim como o pincel ao pintor depressivo ou o violão ao músico, e seu único sonho era defender o escudo palmeirense, não por dinheiro ou consagração, mas por puro amor.
Enquanto a água escorria por sua cabeça, Ricardo recapitulava cada pequeno lance do dia, o que durou tempo o suficiente para se enxugar e vestir.
Assim, Ricardo ia caminhando pela rua, pensando em si mesmo com a camisa do palmeiras, logo após fazer um gol em uma final, pulando e agitando a torcida.
Foi nessa distração que Ricardo acabou se pondo no meio da rua, esquecendo de olhar para os lados, despertando ao ouvir o barulho de uma freada brusca e sentindo uma pancada que dobrou o ritmo de batimentos de seu coração.
Ele não parecia muito ferido. Quando o motorista saiu do carro, desesperado, encontrou Ricardo no chão, olhos abertos, respirando fortemente e muito assustado. Infelizmente, primeiros socorros não era seu ponto forte e, achando que estava tudo bem, o homem foi tentar ajudar Ricardo a se levantar.
Hoje em dia, Ricardo passa todo o seu dia em uma varanda, com uma Televisão de lado que ele só gosta de ouvir, nunca olhando para ela. Depois que o médico lhe disse que ele só poderia voltar a ter seus movimentos da perna com um milagre ou com células tronco, Ricardo permanece ali, esperando que um dia ouça pela televisão que as pesquisas e o uso de células tronco foram liberados para que ele, finalmente, possa concretizar seu sonho.
É engraçado como costumamos ligar o termo “milagre” ao sobrenatural e nunca pensar no que o conhecimento humano pode trazer de extraordinário; enquanto vários religiosos podem permitir um milagre da ciência ao invés de esperar milagres divinos, Ricardo senta e espera que eles pensem quem é mais importante: ele ou um agrupamento de células indiferenciadas que nem sequer tem uma forma que lembre, ao menos forçando muito a visão, algum ser vivo conhecido.
Claro que essa espera pode demorar muito pois nós, como somos totalmente saudáveis e podemos andar até a igreja no fim de semana e orar pelo próximo, sempre podemos adiar discussões como essa para amanhã, mês que vem ou nunca.





Já imaginou quantas pessoas como Ricardo existem no mundo, esperando apenas que você tome um pouco de consciência? Se Deus deu a inteligência ao homem, talvez seja para que, a partir de agora, nós operemos os milagres.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Lost


I can't find myself

In the head of this stranger in love
Holding on given up
To another under faded setting sun
And I wonder where I am...
Could she run away with him?
So happy and so young
And I stare
As I sing in the lost voice of a stranger in love
Out of time letting go
In another world that spins around for fun
And I wonder where I am...
Could he ever ask her why?
So happy and so young...
And I stare... But...
I can't find myself

In the heart of this stranger in love
Given up holding on
To this other under faded setting sun
And I'm not sure where I am...
Would he really turn away?
So happy and so young...
And I stare...
As I play out the passion of a stranger in love
Letting go of the time
In this other world that spins around for one
And I'm not sure where I am...
Would she know it was a lie?
So happy and so young...
And I stare... But...
I can't find myself

In the soul of this stranger in love
No control over one
To the other under faded setting sun
And I don't know where I am...
Should he beg her to forgive?
So happy and so young...
And I stare...
As I live out the story of a stranger in love
Waking up going on
In the other world that spins around undone
And I don't know where I am...
Should she really say goodbye?
So happy and so young
And I stare... But...
I can't find myself
I got lost in someone else.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

(...)

"(...) A empunhei e a ergui como um campeão ergue um troféu e, a essa altura, os gritos já não me importavam mais. Quando a lustrei pela manhã, sabia que algo grande iria acontecer, mas nem fazia idéia que seria algo que venho esperando por toda minha vida. Nesse momento, posso enxergar meus próprios olhos no cano da arma, que agora mais me parece um espelho, e vejo que estou firme como nunca estive; pela primeira vez, vejo mais grandeza ao olhar a mim mesmo do que ao olhar o que mais me parece um verme desprezível, ajoelhado, implorando e se humilhando para que eu o mantenha vivo.
Sem desviar a mira, acendi um cigarro e fui até o som, não poderia fazer isso sem ouvir "The Church" tocando "Under the Milky way tonight", imaginei esse dia como uma mulher que imagina seu casamento desde os seus cinco anos de idade e, agora que ele chegou, tudo deveria ser perfeito.
De repente, tudo ficou ainda mais calmo, eu não podia ouvir seus gritos, tudo o que eu ouvia era a música e minha própria respiração, nada ofegante. Desviei o olhar encontrando, pela primeira vez depois de muito tempo, o olhar de minha vítima e, como uma criança que se diverte vendo outra criança que acaba de cair e machucar o joelho, empunhei minha faca, antes sobre a mesa e apenas assisti o sofrimento da vítima aumentar à minha frente, sem eu ao menos tê-la tocado.
Observei sua mão sobre a mesa de canto de olho e, com um movimento brusco, cravei minha faca sobre ela, prendendo sua mão à mesa. Acho que não há palavras que sejam capazes de descrever tamanho prazer que senti ao sentir sua pele abrir, como um tecido que se rasga, porém com sangue, muito sangue, que agora já se alastrara em minha mão e pulso.
Rapidamente segurei sua outra mão e a prendi contra a parede. Guardando o revólver na cintura, tirei vagarosamente outra faca da cintura, enquanto assistia seu choro subhumano e desesperado e, vagarosamente, encostei a ponta da faca na palma de sua mão.
Fechei os olhos, prendi a respiração e me concentrei, dessa vez não perderia qualquer detalhe e, pressionando a faca devagar, pude sentir a primeira gota de sangue, a carne se rompendo até o fim e, finalmente ou infelizmente, a parede fria, como se a faca, naquele momento, passasse a fazer parte de meu corpo. Com um pouco mais de força, cravei a faca, em parte, na parede, imobilizando seus dois braços.Sentei em sua frente, por um momento, e passei a fitá-la de perto, como há muito também não fazia. Era incrível como o medo e a dor haviam distorcido toda sua fisionomia, porém, seus olhos continuavam firmes e maravilhosos como sempre costumaram estar; admito que sempre os preferi iluminados pelo sol, mas eles sempre costumaram estar lindos, não importava a situação.
Devagar, passei seus cabelos para trás de suas orelhas e, me aproximando de seu rosto, lhe dei o último beijo, tendo, por esses poucos segundos, a sensação de que tudo havia voltado ao normal e que eu havia acabado de acordar depois de várias horas deitado no sofá, enquanto ela passava lenta e carinhosamente seus dedos pelos meus cabelos.
Não agüentando mais as memórias que agora transbordavam em minha mente, me levantei rapidamente, sacando a arma, e primeiro mirei em seu pé, atirando.De repente tudo se tornara barulhento, eu podia ouvir seus gritos, os meus gritos, e, às vezes, os dois pareciam soar como um só, como se eu estivesse atirando em mim mesmo.
Desesperado, mirei na canela, atirando, depois na coxa, no braço, cada vez mais desesperado, como se nada pudesse me trazer alívio naquele momento.Atirei, em seguida, em seu umbigo, para que nunca pudesse ter lembranças que me infernizassem. Em seguida, em sua vagina e, vendo que nada me traria alívio, mirei em sua cabeça.
Nesse momento, pude ver o reflexo de meus olhos, cheios de lágrimas, no cano da arma e, de repente, o silêncio reinou novamente. Agora podia ouvir o "The Church" como se eles estivessem pessoalmente ao meu lado, tocando seus instrumentos e assistindo a cena; e minha respiração, ofegante como nunca havia estado, como se, nesse momento, eu tivesse corrido todo o estado, enquanto era perseguido por mim mesmo.Foi nesse momento que coloquei o cano da arma dentro de minha própria boca e atirei, caindo em cima de minha vítima.
Enquanto eu caía, ainda podia ouvir seus gritos de desespero e, já deitado, fiquei confuso se tinha mirado em minha cabeça ou na sua."

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Agir, pensar

Engraçado, hoje eu estava totalmente entediado jogando "paciência" (aliás, aos poucos estou descobrindo por que o jogo se chama assim) e, pra variar, eu tenho várias manias e superstições em determinadas jogadas. Por exemplo, se eu tenho duas opções pra liberar uma nova carta nos montes do jogo, eu sempre escolho o monte da direita, por simples mania (e sou muito paranóico com isso, realmente acho que se não fizer, vou perder o jogo por isso), mas faz um certo sentido, já que o monte da direita tem mais cartas e, portanto, é mais importante que fique todo liberado.
Acontece que hoje eu estava jogando meio sonolento e acabei por optar um da esquerda, por não ver o da direita, mas, pra minha surpresa, acabei ganhando o jogo por isso; conclusão, às vezes agir impulsivamente, sem impregnação de raciocínio, pode ser um grande passo para alcançar algo que desejamos.


(Isso não significa que minhas manias vão terminar).

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Trecho de "O Perfume", Patrick Süskind

"(...) Havia sido um erro comprar a casa sobre a ponte, e um duplo erro ficar com uma do lado oeste. Tinha permanentemente diante dos olhos o rio a correr, e, para ele, era como se fosse junto com a correnteza, ele, a sua casa e a sua riqueza obtidas em decênios, tudo junto com o rio, como se fosse velho e fraco demais para se contrapor à poderosa corrente. Às vezes, quando tinha algo a fazer na margem esquerda, no bairro em torno da Sorbonne e de Saint-Sulpice, não ia pela ilha e pelo Pont Saint-Michel, mas tomava o caminho mais longo, pelo Pont Neuf, pois esta ponte não era cheia de casas. E ele se postava no parapeito leste e ficava olhando rio acima, para ao menos uma vez ver tudo correndo na sua direção; e por alguns momentos se regalava imaginando que a tendência da sua vida se invertera; os negócios floresciam, a família prosperava, as mulheres corriam atrás dele e a sua existência, em vez de diluir, só fazia revigorar-se.
Mas logo, erguendo um pouco o olhar, via a algumas centenas de metros de distância a sua própria casa, tão frágil, estreita e alta sobre o Pont au Change, a janela do seu gabinete de trabalho no primeiro andar, e via a si mesmo parado à janela, olhando o rio e observando a água que seguia correndo, como agora. E com isso desvanecia-se o belo sonho, e Baldini, sobre o Pont Neuf, afastava-se, mais abatido do que antes, tão abatido quanto agora, quando se afastou da janela, foi até a escrivaninha e sentou-se. (...)"

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Good old times....


Green Day - Reject
Who the hell are you to tell me,
What I am and what's my master plan?
What makes you think that it includes you?
Self-righteous wealth?
Stop flattering yourself.
So when the smoke clears here I am,
Your reject all-American,
Sucking up to your social sect,
Making you a nervous wreck,
To hell and back and hell again I've gone,
You're not my type.
Not my type.
What's the difference between you and me?
I do what I want, and you do what you're told,
So listen up shut the hell up.
It's no big deal.
And I'll see you in hell.
So when the smoke clears here I am,
Your reject all-American,
Sucking up to your social sect,
Making you a nervous wreck,
To hell and back and hell again I've gone,
You're not my type,
Not my type,
Not my type,
Your not my type.
So when the smoke clears here I am,
Your reject all-American.
Falling from grace, right on my face,
To hell and back and hell again I've gone.
Pois é, bons tempos, o que não me deixa cair na nostalgia é que muito do que foi ainda é, coisas que entram e alteram tudo, coisas que passaram a ser verdades, foram adicionadas à nossa personalidade, e provavelmente nunca deixarão de fazer parte de nós.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

(...)

"Every little creature in this world dies alone"

sábado, 8 de dezembro de 2007

"Singularidades de uma rapariga" - (Eça de Queirós)

"(...) Vinha de atravessar a serra e os seus aspectos pardos e desertos. Eram oito horas da noite. Os céus estavam pesados e sujos. E, ou fosse um certo adormecimento cerebral produzido pelo rolar monótono da diligência, ou fosse a debilidade nervosa da fadiga, ou a influência da paisagem escarpada e chata, sobre o côncavo silêncio noturno, ou a opressão da eletricidade que enchia as alturas, o fato é que eu - que sou naturalmente positivo e realista - tinha vindo tiranizado pela imaginação e pelas quimeras. Existe no fundo de cada um de nós, é certo - tão friamente educados que sejamos -, um resto de misticismo; e basta às vezes uma paisagem soturna, o velho muro de um cemitério, um ermo ascético, as emolientes brancuras de um luar - para que esse fundo místico suba, siga como um nevoeiro, encha a alma, a sensação e a idéia, e fique assim o mais matemático, ou o mais crítico, tão triste, tão visionário, tão idealista - como um velho monge poeta. (...)"

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Amor..

(...)
Um dia super..
Uma noite super..
Uma vida superficial...
(...)

domingo, 28 de outubro de 2007

Fartura..

Estou farto das pessoas ao meu redor..
Farto da comida de todos os dias..
Farto dos mesmo acordes em todas as músicas..
Farto dos bêbados ao meu redor..
Farto de todos os lúcidos do mundo..
Farto de andar em circulos, sabendo que não há outra maneira de se andar nesse mundo..
Farto do temporário..
Farto do irreal que bate à sua porta dizendo ser real..
Farto do imaginário..
Farto de acordar cedo todos os dias..
Farto de acordar tarde nos fins de semana..
Farto de livros..
Farto de sorrir..
Farto de chorar..
Farto da falsidade impregnada em cada pequeno centímetro das pessoas..
Farto das mesmas ruas todos os dias..
Farto de todas as ruas pelas quais já passei..
Farto das minhas roupas..
Farto do meu quarto, da minha casa..
Farto de olhares, conversas..
Farto da impessoalidade..
Farto da ciência, do excesso literal..
Farto do óbvio..
Farto do ceticismo..
Farto da religião..
Farto de fotos, de pinturas, gráficos..
Farto de envelhecer..
Farto da juventude..
Farto de minha velha palheta, do meu velho all star..
Farto de relembrar o passado..
Farto de tentar entender o que não tem explicação..
Farto de querer mudar o que é imutável..
Farto da responsabilidade..
Farto da ética, e da ausência da mesma..
Farto da ignorância, estupidez..
Farto da pseudo-intelectualidade..
Farto da arrogância intelectual..
Farto de distorções..
Farto da insônia e ao que ela pode levar um ser humano a pensar..
Farto do arquétipo de beleza..
Farto da feiúra..
Farto da futilidade..
Farto da vida..
Farto do medo irracional da morte..
Farto das contradições, principalmente as minhas..
Farto de ter de continuar caminhando sem ao menos saber quem realmente eu sou..

domingo, 7 de outubro de 2007

I Won't be around















.


Good Riddance - Shame
Good Riddance

Minutes, running down the drain
This is where our lives go
This is where we stay
In a job that really pays
So much like the first step
Maybe just a misstep
Maybe just a phase, just a phase

What am I supposed to do?

Take a Dramamine for nausea
Another pill for the broken bones
And the ringing in my head now
Sounds just like the telephone
So it's over-complicated
A shame so shoved aside
Like the broken years I've waited
And the emptiness inside

What am I supposed to do?

Take one more on the chin
Grow a somewhat thicker skin
Let the scars all fade away
Like the promise of today
And when the sky falls down
I hope you're still around

And everything keeps changing, but I won't be around!

sábado, 29 de setembro de 2007

"Gastei uma hora pensando um verso
Que a pena não quer escrever.
No entanto, ele está cá dentro
Inquieto e vivo."
Carlos Drummond de Andrade.


É impressionante a capacidade de Carlos Drummond de me traduzir, percebo isso a cada simples poema que leio, nesse ele inclusive traduz um sentimento perturbador e frustrante que eu tenho, quando às vezes quero escrever, sei o que quero escrever, como se algo estivesse preso em minha garganta, mas simplesmente não sei como passar o que sinto para o papel.
Às vezes me pergunto se sou apenas um sentimental sem talentos poéticos, ou se sou um poeta sem sentimentos.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Engenheiros do Hawaii

























Engenheiros do Hawaii - Crônica
Já não passa nenhum carro por aqui
Jã não passa nenhum filme na TV
Você que enrola outro cigarro por aí
E não dá bola pro que vai acontecer

Mais um pouco mais um século termina
Mais um louco pede troco na esquina
Tudo isso já faz parte da rotina
E a rotina já faz parte de você

Que tem idéias tao modernas
É o mesmo homem que vivia nas cavernas
Você que tem idéias tao modernas
É o mesmo homem que vivia nas cavernas

Todo mundo já tomou a coca-cola
E a coca-cola já tomou conta da China
Todo cara luta por uma menina
E a Palestina luta pra sobreviver
E a cidade cada vez mais violenta
Tipo Chicago nos anos 40
E voce cada vez mais violento
No seu apartamento ninguém fala com você

Que tem idéias tao modernas
É o mesmo homem que vivia nas cavernas
Você que tem idéias tao modernas...


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Sei que estou há muito tempo sem postar no blog, nem digo que voltarei a postar com freqüência agora, só sinto que estou aos poucos voltando à vida e sinto que em breve estarei pronto pra escrever sobre assunstos adeqüados ao blog.

Abraços, Marceleza

domingo, 19 de agosto de 2007


"Se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar que tudo era pra sempre, sem saber que o 'pra sempre' sempre acaba".



terça-feira, 14 de agosto de 2007

Eternamente só

E só novamente eu estou,
Como em um barco em pleno oceano;
Um oceano de pessoas, um oceano de vazio,
Um vazio repleto da ausência da esperança.

E só novamente eu estou,
Em um livro sem final, um livro sem palavras;
Páginas em branco de uma vida sem vivência,
Páginas ilustrando a ausência de um sentido.

E só novamente eu estou,
Tentando descrever em poucas palavras
a simples imensidão do nada, que forma
uma corrente e mastiga todos os meus sentimentos.

E só novamente eu estou,
E só eternamente eu estarei.

domingo, 12 de agosto de 2007

A Vela

A Vela

E aqui estou eu, em um pequeno quarto a observar esta vela, a única luz que posso enxergar no momento. Num momento de tamanha reflexão como esse, consigo enxergar nessa vela as raízes dos problemas da humanidade.

Olhando para essa simples chama que solta ardentemente dessa vela, poderia muito bem descrever tudo o que a compõe, mas estaria estragando sua beleza. As pessoas passam a estudar e olhar as coisas de um ângulo tão besta que tornam a vida uma coisa feia e desleal, que é o que vemos hoje.

Essa pequena chama demonstra para mim nesse momento uma beleza única e uniforme, que joga em minha cara minha ignorância de nunca tê-la percebido e admirado.

Como o mundo pode chegar ao ponto de uma pessoa colocar os estudos e futuramente o dinheiro acima do amor e de qualquer outra coisa? Com dinheiro posso comprar bilhões de velas como essa, mas sem o amor nunca a admiraria de tal forma.

O tempo passa e a vela começa a diminuir e sua chama a enfraquecer, como o próprio ser humano; e o que fez de marcante essa vela? Com uma reflexão tão grande como essa, esta vela teve utilidade bem maior do que o comum e, quando ela esgotar, com certeza ninguém, inclusive você, lembrará dela, ou a esquecerão com o tempo, mas eu não.

Você poderá ser um grande advogado, ganhar um absurdo por mês e então, depois de morrer, seus filhos, netos e talvez até bisnetos se lembrarão de você; e você se contenta com tão pouco? Em ser praticamente igual a esta pequena chama? Viver muito bem e morrer, deixando a humanidade exatamente como quando você veio ao mundo: injusta, burra e sem coração?

Ame, observe, analise os detalhes a sua volta, não tenha medo de ser feliz, não deixe que seus pais programem a sua vida e corra atrás de seus sonhos com coragem, pois qualquer coisa é possível, difícil é ter coragem o suficiente para correr atrás e consegui-la. Não tenha vergonha de dizer o que pensa, nem medo, só lembre-se sempre de usar o que ouviu para seu bem. Seja sempre você mesmo e, não importa o que for, valorize-se; afinal, essa vela pela manhã seria inútil, mas à noite, na falta de alternativas, mostrou que até ela é importante e, se até uma vela tem sua importância, então sem dúvidas você também tem a sua.


30/10/2005




(Como vocês devem ter notado, escrevi esse texto em 2005 e achei-o no computador agora e resolvi postá-lo. Escrevi na época porque passava por uma fase muito difícil da minha vida e depois passei a acreditar que fases como aquela nunca voltariam. Hoje em dia passo por uma que posso dizer sem dúvidas ser muito pior, então esse texto significa muito para mim hoje em dia).

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Bakhunin estava certo

Bakhunin estava certo




É engraçado como essa vida funciona.. Estou escrevendo hoje, no dia do meu aniversário, às 3:30 da manhã, e posso afirmar com toda certeza do mundo que hoje é o dia mais feliz e mais triste de toda minha vida, ao mesmo tempo.
Sabe, eu nunca fui um cara de ir em igrejas todo fim de semana, mas nunca considerei ninguém nesse mundo mais religioso do que eu, sempre estive conversando com Deus, sempre estive procurando fazer o que fosse o melhor para mim e para os outros, pensando no bem das pessoas, mas chega uma hora que uma pergunta é inevitável: se nem mesmo Deus é justo, por que logo eu tenho de ser?! É óbvio, se o mundo é tão injusto, se a cada dia que passa você nota que Deus é capaz de te jogar ao céu e de repente te mandar para o inferno, por que nós temos de ser justos? Por que temos de fazer uma coisa que nem Deus, supondo que ele exista, é capaz de fazer?!
Por muito tempo eu me enganei, eu sempre sonhei, e ainda sonho em ser um revolucionário, mudar o mundo, não é o que todos querem? Chegar até o topo do mundo, pregar uma bandeira, e virá-lo do avesso, colocá-lo de cabeça pra baixo. Nunca vou deixar esse sonho de lado, mas se faço isso agora, não é por Deus, é por mim, é porque quero me sentir bem, quero saber que se eu mudei, se eu fiz uma pessoa que sofria sequer deixar de sofrer, é porque eu atualmente posso dizer que sei o que é sofrimento e sei o que é felicidade e sei a mudança que fiz pra essa pessoa, sei que fiz o que Deus não foi capaz de fazer.
Nesse tempo todo, cheguei à conclusão que é muito fácil as pessoas ficarem falando que Deus faz coisas que no momento nos parecem ruins, mas que depois vão ser boas pra nossa vida, concordo, faz mesmo, mas Deus conhece muito bem a teoria, nunca sequer foi capaz de pensar em como seria a prática e isso o torna um ser tão imperfeito quanto qualquer um de nós, muito mais imperfeito do que nós, que enquanto deixamos um número limitado de pessoas infelizes e felizes ao nosso redor, Deus dá às pessoas felicidade e depois tira-a como se tudo não passasse de uma brincadeira, de um jogo educativo.

Acontece que na minha vida inteira eu nunca me senti sozinho, nem sequer por um momento, mesmo quando eu estava trancado no meu quarto, eu sentia como se algo sobrenatural estivesse ali sussurrando nos meus ouvidos, me observando, seguindo cada passo meu, e eu sempre me questionei o porquê disso.
Quando eu menos esperava, atravessando a rua agora, de madrugada, no meu aniversário, eu simplesmente parei, no meio da rua, como se algo me mandasse parar, e me senti pela primeira vez completamente sozinho no mundo, de repente uma avenida que eu atravesso todos os dias me pareceu algo completamente diferente do que eu estou acostumado a ver, simplesmente fiquei parado no meio de uma faixa de trânsito, não ligando que talvez pudesse aparecer um ônibus e me atropelar, porque eu era dono de mim mesmo agora, não precisava de me preocupar com ninguém, só tinha de ficar ali parado observando o mundo de uma forma que eu nunca imaginei que veria na minha vida, completamente sozinho.

Não se pode deixar abalar pelas injustiças que acontecem em sua vida, se Deus não é justo, que ele guarde as suas imperfeições para ele, eu sempre serei e, pode parecer besteira, mas um dia eu realmente vou chegar no topo desse mundo, pregar minha bandeira e virá-lo do avesso, com acompanhamento ou sem acompanhamento.

sexta-feira, 8 de junho de 2007

As Caridades odiosas

As caridades odiosas

(...)
Foi em uma tarde de sensibilidade ou de suscetibilidade? Eu passava pela rua depressa, emaranhada nos meus pensamentos, como às vezes acontece. Foi quando meu vestido me reteve: alguma coisa se encanchara na minha saia. Voltei-me e vi que se tratava de uma mão pequena e escura. Pertencia a um menino a que a sujeira e o sangue interno davam um tom quente de pele. O menino estava de pé no degrau da grande confeitaria. Seus olhos, mais do que suas palavras meio engolidas, informavam-me de sua paciente aflição. Paciente demais. Percebi vagamente um pedido, antes de compreender o seu sentido concreto. Um pouco aturdida eu o olhava, ainda em dúvida se fora a mão da criança o que me ceifara os pensamentos.
-Um doce, moça, compre um doce pra mim.
Acordei finalmente. O que estivera pensando antes de encontrar o menino? O fato é que o pedido deste pareceu cumular uma lacuna, dar uma resposta que podia servir para qualquer pergunta, assim como uma grande chuva pode matar a sede de quem queria uns goles de água.
Sem olhar para os lados, por pudor talvez, sem querer espiar as mesas da confeitaria onde possivelmente algum conhecido tomava sorvete, entrei, fui ao balcão e disse com uma dureza que só Deus sabe explicar: um doce para o menino.
De que tinha eu medo? Eu não olhava a criança, queria que a cena, humilhante para mim, terminasse logo. Perguntei-lhe: que doce você...
Antes de terminar, o menino disse apontando depressa com o dedo: aquelezinho ali, com chocolate por cima. Por um instante perplexa, eu me recompus logo e ordenei, com aspereza, à caixeira que o servisse.
-Que outro doce você quer? Perguntei ao menino escuro.
Este, que mexendo as mãos e a boca ainda esperava com ansiedade pelo primeiro, interrompeu-se, olhou-me um instante e disse com delicadeza insuportável, mostrando os dentes: não precisa de outro não. Ele poupava a minha bondade.
-Precisa sim, cortei eu ofegante, empurrando-o para a frente. O menino hesitou e disse: aquele amarelo de ovo. Recebeu um doce em cada mão, levantando as duas acima da cabeça, com medo talvez de apertá-los. Mesmo os doces estavam tão acima do menino escuro. E foi sem olhar para mim que ele, mais do que foi embora, fugiu. A caixeirinha olhava tudo:
-Afinal, uma alma caridosa apareceu. Esse menino estava nesta porta há mais de uma hora, puxando todas as pessoas que passavam, mas ninguém quis dar.
Fui embora, com o rosto corado de vergonha. De vergonha mesmo? Era inútil querer voltar aos pensamentos anteriores. Eu estava cheia de um sentimento de amor, gratidão, revolta e vergonha. Mas, como se costuma dizer, o sol parecia brilhar com mais força. Eu tivera a oportunidade de... E para isso fora necessário um menino magro e escuro... E para isso fora necessário que outros não lhe tivessem dado um doce.
E as pessoas que tomavam sorvete? Agora, o que eu queria saber com autocrueldade era o seguinte: temera que os outros me vissem ou que os outros não me vissem? O fato é que, quando atravessei a rua, o que teria sido piedade já se estrangulara sob outros sentimentos. E, agora sozinha, meus pensamentos voltaram lentamente a ser os anteriores, só que inúteis.



Clarice Lispector (A descoberta do mundo)