quinta-feira, 21 de maio de 2009
De alguém para alguém
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Escrevo hoje para você porque você é a única pessoa que tenho para escrever. Por mais que você não pense tanto em mim quanto eu penso em você e talvez, na verdade, nem eu pense tanto em você quanto eu acho que penso.
O quarto em que você se encontra é indiferente; seja um hotel em um lugar maravilhoso, seja em um apertado quarto de uma cidade grande, a solidão consegue te encontrar e atacar. Você sai pelas ruas e, quanto mais pessoas passam ao seu redor, mais sozinho e pequeno você se sente.
O escritor é um paradoxo - ele não gosta de escrever, se sentiria eternamente feliz se nunca mais precisasse de um papel; exalta a arte por ser uma válvula de escape.
Eu me pergunto se você enxerga o mundo como eu, se sabe como é árduo ter de ir lá fora. Às vezes me pergunto se sairia se não precisasse comer ou de dinheiro, de vencer nessa batalha insana da vida. Para que sairia do quarto? Mas acontece que a lua e o ar da madrugada trazem o mundo para o escritor e mesmo que ele se tranque em seu quarto, vai estar em contato com as coisas como são. Enquanto houver mundo, mesmo de olhos fechados, o sentirei.
Então, quando a noite ataca mais fortemente, saio na varanda, olho a chuva, procuro nas janelas luzes e pessoas que se sintam como eu, mas não encontro. Penso em que você deve estar fazendo, se está deitada a olhar a luz de um abajur e a pensar nessas coisas, se está dormindo e tendo um sonho feliz, em outro mundo.
Será que realmente tenho o direito de lhe escrever? Alguém que enxerga as coisas dessa forma deve espalhar esse vírus? Será que eu não deveria simplesmente sumir? É por isso que sempre desapareço, mas ainda não encontrei o motivo pelo qual eu sempre reapareço - talvez seja porque, acima de tudo, sou humano; mais humano do que todos.
Sempre dizemos um ao outro que um dia vamos fugir, mas será que existe um lugar para onde fugirmos? Eu fujo de tudo quando vou até você, agora aguardo que você me mostre onde fica esse porto seguro que eu desconheço.
Escrever tudo isso é engraçado porque, quando estou próximo a você, não consigo nem chegar perto de pronunciar essas palavras - talvez nem precise pronunciá-las. Às vezes prefiro simplesmente olhar você, seus olhos, ou simplesmente saber que você está por aí, a te dizer algo.
Sinto saudades, espero que você esteja bem.
quinta-feira, 7 de maio de 2009
Trecho de "Noites Brancas", de Dostoiévski
- Há, se não sabe ainda, Nastenka, há em Petersburgo muitos recantos estranhos. Nesses lugares, não penetra, dir-se-ia, o sol que brilha para todos os outros habitantes de Petersburgo: o que ali penetra é um outro, um novo sol enviado expressamente para esses recantos e que ilumina tudo com uma outra luz especial. Ali, minha cara Nastenka, se leva uma vida muito diferente, que não se parece com aquela que borbulha ao nosso lado, mas que pode se passar num mundo desconhecido, e não entre nós, em nossa época séria, ultra-séria. Essa vida é uma mistura de algo puramente fantástico, furiosamente ideal e, ao mesmo tempo - ai de mim, Nastenka! - enfadonhamente prosaico e ordinário, para não dizer inverossimilmente vulgar.
-Puxa! Ah! Meu Deus, que prefácio! Que me falta ouvir ainda?
-Ouvirá, Nastenka (parece-me que nunca me fatigarei de lhe chamar Nastenka), vai ouvir que nesses recantos habitam seres estranhos: os sonhadores. O sonhador, se quisermos defini-lo em todos os pormenores, não é um homem, mas sabe? Uma espécie de criatura do gênero neutro. Ele jaz na maior parte do tempo em algum canto inacessível, como se se escondesse da luz do dia e, uma vez retirado para o seu refúgio, gruda-se ao seu canto como o caracol, ou pelo menos parece-me muito, a esse respeito, com esse curioso animal, que é ao mesmo tempo animal e casa e que se chama tartaruga. Na sua opinião, porque ama ele de tal maneira suas quatro paredes pintadas obrigatoriamente de verde, sujas, tristes, enegrecidas de fumo além do permitido? Por que esse ridículo senhor, quando o vem visitar um de seus raros conhecidos (ele faz tantas que finalmente todos os seus conhecidos desaparecem), por que esse homem o acolhe com tanto embaraço, tanta perturbação no rosto, e confusão, como se acabasse de cometer um crime, lá, entre as suas quatro paredes, como se fabricasse notas falsas ou versinhos para mandar a alguma revista com uma carta anônima, precisando que o verdadeiro poeta morreu e que seu amigo considera como um dever sagrado publicar sua obra? Por que, diga-me, Nastenka, a convrsa custa tanto a travar-se entre esses dois interlocutores? Por que nenhum riso, nenhuma palavra mais viva surge, na casa onde esse amigo subitamente entrou e está inquieto, esse que em outra circunstância ama tanto o riso e as palavras brilhantes, e os discursos sobre o belo sexo, e outros assuntos divertidos? Por que então, enfim, esse amigo, provavelmente um conhecido recente, desde a primeira visita - pois em semelhante caso não haverá segunda, e ele não voltará mais -, por que esse próprio visitante está tão perturbado, tão arrefecido, com todo o seu espírito (se é que o tem), ao ver a expressão alterada de seu anfitrião, o qual, por seu turno, está agora completamente perdido e desprovido do seu último grão de bom senso, depois de esforços gigantescos, mas vãos, para aplainar e ornar a conversa, mostra-lhe também seu hábito da sociedade, falar também do belo sexo, e, ao menos por esta submissão, aprazer ao pobre homem extraviado, caído por engano em sua casa? Por que finalmente o visitante apanha o chapéu à pressa e se vai, rápido, ao se lembrar de repente dum compromisso absolutamente inevitável, que nunca existiu, libera sofrivelmente a mão dos quentes apertos de seu hospedeiro, encarniçado em manifestar seu desgosto em recuperar o tempo perdido? Por que, ao despedir-se, o amigo tem um largo sorriso, logo que chega à rua, e promete a si mesmo voltar à casa desse original - se bem que esse original seja no fundo um excelente rapaz -, e ao mesmo tempo é incapaz de recusar à sua imaginação uma pequena fantasia: comparar, mesmo de longe, a fisionomia do interlocutor de agora durante toda a entrevista, com o aspecto desse desgraçado gatinho enxovalhado, apavorado, torturado de todas as maneiras pelas crianças que o aprisionaram traiçoeiramente, e que, confuso ao extremo, fugiu-lhes enfim para debaixo da mesa na obscuridade, e lá deve com vagar, durante uma boa hora, se arrepiar, se molhar e lavar com as duas patas, pequeno focinho maltratado, e depois disto, com um olho hostil, olhar longamente a natureza e a vida, e mesmo os sobejos do repasto dos donos que lhe guargou uma cozinheira cariodosa?
-Escute um momento - interrompeu Nastenka, que todo o tempo me ouvia com espanto, olhos e boca abertos -, escute: eu não sei absolutamente por que tudo isso aconteceu e por que você me apresenta perguntas tão cômicas. Mas o que sei bem é que todas essas aventuras foram unicamente a você que aconteceram.
-Sem dúvida nenhuma - respondi, com expressão mais séria.
-Então, se não há dúvida nenhuma, continue, poios estou ansiosa por saber como isso terminará.
-Quer saber, Nastenka, o que fez no seu canto o nosso herói, ou para dizer melhor, o que fiz eu, pois que o herói de toda a aventura sou eu, na minha própria e modesta pessoa? Quer saber por que estive assim transtornado e perdido por todo o dia, depois da visita inesperada de meu amigo? Quer saber por que estive assim transtornado e perdido por todo o dia, depois da visita inesperada de meu amigo? Quer saber por que corri, tendo enrubescido assim quando se abriu a porta de meu quarto, por que não soube receber o visitante e sucumbi tão vergonhosamente ao peso de minha própria hospitalidade?
-Está bem, sim, sim! - respondeu Nastenka. - É isso que desejo saber. Escute: você sabe contar muito bem, mas não poderia contar com menos perfeição? De outro modo, quando você fala, dir-se-ia que lê num livro.
-Nastenka - respondi com voz grave e severa, mal podendo conter o riso -, minha cara Nastenka, eu sei que conto bem, mas perdoe-me, não sei contar de outro modo. Neste momento, minha cara Nastenka, eu me assemelho ao espírito do rei Salomão que ficou mil anos numa ânfora fechada a sete chaves, e que finalmente foi libertado. Neste momento, minha cara Nastenka, em que nos reunimos de novo depois de tão longa separação, pois eu a conheço há muito tempo, Nastenka, pois desde há longo tempo eu já procurava uma certa pessoa, e isto significa que eu procurava, a você, e que estávamos destinados a nos revermos agora - neste momento abriram-se na minha cabeça milhares de válvulas, e tenho que me exprimir numa torrente de palavras, se não sufocarei. Assim, suplico-lhe não me interromper, Nastenka, mas ouvir com submissão e docilidade; senão me calarei.
-Não, não, não! Não quero! Fale! Não direi mais uma palavra.
-Então continuo. Nastenka, minha amiga, há no meu dia uma hora que eu amo extraordinariamente. É aquela em que se acabam quase todos os afazeres, funções e obrigações, e em que todo mundo se apressa a voltar para casa, para jantar ou descansar, e ao mesmo tempo, a caminho imagina ainda outros motivos de alegria, para a noite, e para o tempo que fica livre. Àquela hora, nosso herói também - pois vou me permitir Nastenka, fazer meu relato na terceira pessoa, porque na primeira eu teria muita vergonha -, assim, a essa hora, nosso herói também, que aliás não é um ocioso, segue os outros. Mas uma estranha sensação de contentamento se espalha no seu rosto pálido, como se ligeiramente fanado. Não é indiferente ao pôr-do-sol, que lentamente se extingue no céu frio de Petersburgo. Se dissesse que ele o olha, eu mentiria; não olha para ele, contempla-o sem se dar conta, como um homem fatigado ou ocupado ao mesmo tempo com outro objeto mais interessante, de maneira que por instantes apenas, quase involuntariamente, ele pode conceder tempo àquilo que o cerca. Está satisfeito, pois acabou, até o dia seguinte, com assuntos que o aborrecem, e contente como um estudante que se libertou da escola e que corre para os jogos e brincadeiras prediletos.
Olhei-o furtivamente, Nastenka: verá logo que esse sentimento de alegria, felizmente, já lhe agiu sobre os fracos nervos e sobre a imaginação excitada de forma doentia. Atenção, ele pensa em alguma coisa... Você calcula: em seu janta? Na noite de hoje? Que olha ele assim? Aquele senhor grave, que acaba de saudar tão pitorescamente uma dama que passou por ele, não há senão um instante, em sua elegante carruagem, em sua brilhante caleche? Não, Nastenka, que tem ele agora a fazer de todas essas misérias? Neste momento ele é um homem rico de sua vida interior; ficou rico de repente, e o último raio do sol poente não brilhou inutilmente para ele, e fez surgir de seu coração reaquecido todo um enxame de impressões. Agora, mal repara no caminho no qual outrora o mínimo pormenor podia chocá-lo. Agora a deusa Fantasia (se leu Jukovski, minha cara Nastenka) teceu com mão caprichosa sua trama de ouro e desenvolveu diante dele os arabescos de uma vida maravilhosa, inaudita e - quem sabe? - talvez com mão caprichosa, tenha-o transportado ao sétimo céu de cristal, deste excelente passio de granito que o leva à sua casa. Procure detê-lo agora, pergunte-lhe de repente onde está ele nesse momento, por que ruas passou; estou certo, não se lembrará de nada, onde esteve, nem onde está no momento, e, corando de despeito, inventará não importa o quê para salvar as aparências.
Eis aí por que estremeceu tão fortemente, quase gritou, e olhou à sua volta com pavor, quando uma velha muito respeitável o fez parar cortesmente no meio da calçada e lhe perguntou pelo caminho, que ela havia perdido. Os supercílios franzidos de enfado, continua sua rota, mal reparando que mais de um transeunte sorriu, ao olhá-lo, e se voltou para o ver, e que uma menina, depois de se ter afastado dele com medo, se pôs a rir muito alto, olhando bem seu largo sorriso contemplativo e os seus gestos. Mas foi isempre a mesma Fantasia que levou no seu vôo jovial não só a velha, como também os transeuntes curiosos, e a menina risonha, e os homens que ceiam nos barcos que obstruem o Fontanka (suponhamos que o nosso herói passava justamente por lá nesse momento); ela envolveu maliciosamente tudo e todos no seu véu, como moscas numa teia de aranha, e com esta nova aquisição o original entrou enfim, em sua asa, na sua amada toca, sentou-se à mesa, há muito já acabou de jantar e só se deu conta do que o cercava quando a penstiva e eternamente aflita Matrena, que o serve, retirou a toalha e lhe estendeu o ca-chimbo; voltou a si e com espanto se lembrou que acabara de jantar, sem querer ter reparado como isto acontecera.
No aposento descera a obscuridade; sua alma está vazia e triste; todo um reino de fantasias se desmoronou à sua volta, desmoronou sem deixar vestígios, sem ruído num tumulto, passou como um sonho e ele nem se lembra que teve essas ilusões. Mas uma espécie de obscura sensação, que magoa e lhe agita ligeiramente o peito, uma espécie de desejo novo, seduz, afaga e irrita sua imaginação, e suscita furtivamente todo um enxame de novos fantasmas. No quarto exíguo reina o silêncio; a solidão e a preguiça lisonjeiam a imaginação; ela se inflama rapidamente, rapidamente atinge a ebulição, como a água na cafeteira da velha Matrena que, impertubável, se ocupa, na cozinha ao lado, em preparar-lhe o café. Ei-la que já se evola em ligeiras espirais, e o livro apanhado sem objetivo, ao acaso, cai das mãos do meu sonhador, que não chegou à terceira página. Sua imaginação de novo se sobreexcita, e subitamente, outra vez, um novo universo, uma nova vida encantadora, surge-lhe aos olhos em brilhante perspectiva. Novo sonho: nova felicidade! novo trago de um veneno delicioso, refinado! Oh! De que lhe serve a nossa vida? Ao seu olhar seduzido, você e eu, Nastenka, vivemos uma vida tão preguiçosa, tão lenta, tão largada! Ao seu olhar estamos todos tão descontentes com a nossa sorte, tão fatigados de nossa existência! E em verdade, considere, com efeito, como, à primeira vista, tudo entre nós é frio, amargo, como que hostil... "Os pobres diabos!" pensa o meu sonhador. Não admira nada que ele assim pense! Olhe os fantasmas feéricos que se formam diante dele, feiticeiros, caprichosos, largamente e sem limites, em um animado quadro fantástico, em que se encontra no primeiro plano, naturalmente, primeira figura, o nosso próprio sonhador em sua preciosa pessoa. Olhe: que aventuras variadas, que enxame infinito de sonhos exaltados! Você perguntará, talvez, com que sonha ele? Para que perguntar? Mas em tudo... no papel do poeta, primeiro desconhecido, depois glorificado; em sua amizade com Hoffmann; na matança de são Bartolomeu; em Diana Movbray; em Effie Deans; nos prelados em concílio, e em Huss diante deles; na revolta dos mortos em "Roberto, o Diabo" (lembra-se da música? Cheira a cemitério!); em Mina e Brinda; na batalha de Berezina; na leitura de um poema em casa da condessa V... a D... a; em Danton; em Cleópatra e i suoi amanti, na casinha de Kolomna; num cantinho para ele e, ao seu lado, uma criatura amada que o escuta, numa noite de inverno, sua pequena boca e os olhinhos bem abertos - como você me escuta neste momento, ó meu pequeno anjo!...
Não, Nastenka, que lhe importa, a ele, preguiçooso, voluptuoso, esta vida a que aspiramos de tal modo você e eu? Pensa que é uma pobre vida, miserável, sem adivinhar que, para ele também, talvez, um dia soará a hora lamentável em que soluçante e desesperada, sobre o seio, sem ouvir a tempestade desencadeada sob um céu lúgubre, sem ouvir o vento que arrancava e levava as lágrimas de seus cílios negros? É possível que tudo isto não tenha sido senão sonho, e este jardim melancólico, abandonado e selvagem, com suas alamedas forradas de musgo, solitário, intratável, onde tão freqüentemente passeavam os dois, esperavam, desespeeravam, amavam, amavam-se um ao outro, tanto tempo, tão longo tempo e tão ternamente! E essa velha morada ancestral, bizarra, onde ela viveu tantos anos solitária e triste com seu velho marido, rabugento, perpetuamente calado e bilioso, que os atemorizava, a eles, tímidos como crianças, que melancólicos e apavorados se secondiam um do outro seu amor? Como se atormentavam, como temiam, como era puro e inocente o seu amor e quanto (a coisa é muito natural, Nastenka) as pessoas eram malvadas! E, meu Deus, não foi ela que reencontrou em seguida, longe das fronteiras da sua terra natal, sob um céu estrangeiro, meridional, causticante, na maravilhosa Cidade Eterna, no tumulto de um baile, ao ruído da música, em um palazzo (obrigatoriamente um palazzo) mergulhado em um mar de fogos, sobre esse balcão enguirlandado de mirtos e de rsas, onde, tendo-a reconhecido, ela tirou tão apressadamente sua máscara e, sussurrando: "Eu sou livre", trêmula, soluçante, atirou-se em seus braços; então com um grito de entusiasmo, estreitados um contra o outro, esqueceram, num minuto, desgosto e separação e todos os tormentos da casa e o marido soturno e o sombrio jardim na pátria longínqua e o banco no qual, depois de um último beijo apaixonado, ela se tinha desprendido do seu amplexo, petrificada num sofrimento sem esperança... Oh! confesse, minha cara Nastenka, pode-se fugir, perturbar-se e corar como um colegial que acaba de introduzir no bolso a maçã furtada no pomar vizinho, quando um rapaz sadio e alto, alegre companheiro e belo conversador, seu conhecido, sem ser convidado abre a porta e grita como se fosse nada: "Sou eu, meu caro, chego neste momento de Pavlovsk!" Meu Deus, o velho conde está morto, eis finalmente a felicidade, uma indizível felicidade, e logo agora chega-lhe gente de Pavlovsk.
(...)"
domingo, 26 de abril de 2009
Fantasiado
O músico está sempre farto de si mesmo; cada pessoa vê o mundo com as cores que lhe convém - o músico o vê em preto e branco. Ele está nos falsetes de Thom Yorke, na cama solitária de Janis Joplin, na mescalina de Allen Ginsberg e na inquietação de Bob Dylan.
O músico não é naturalmente triste, mas a natureza quer que ele seja e o força a ser; ele escreve sobre o amor porque sabe que é incapaz de possuir o amor de uma mulher, escreve sobre a alegria porque a quer em sua vida e sabe que nunca a terá, escreve sobre a tristeza porque a vê o tempo todo e, finalmente, escreve sobre o medo porque é curioso - ele não tem nada a perder, não precisa sentir medo.
Quando se é feliz, a infelicidade é triste; quando se é infeliz, a felicidade se torna triste - não há saída. Ler e escrever são os piores hábitos viciosos; somados são o primeiro passo para a desesperança, sendo o segundo quando se vê esta na vida real.
Não há esperança em lugar nenhum, mas é bom que você viva acreditando nela.
quarta-feira, 22 de abril de 2009
Videotape
Quando tudo o que me liga ao mundo finalmente se apagar, quero que esse quarto se tranque para sempre e se mova para um lugar onde não exista nada além de meus CDs, livros, papés, lápis e o silênico da alma singular.
Que meu violão não se esqueça de mim, que eu não me esqueça dele e que eu não me esqueça de mim mesmo.
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http://www.youtube.com/watch?v=-kCKob1YKOU
terça-feira, 14 de abril de 2009
Poema interior
terça-feira, 24 de março de 2009
Fim da viagem
Enquanto andava, de cabeça baixa, notou que algo mudara totalmente de quatro anos para cá: antes andava sempre de cabeça erguida, observando as pessoas e procurando em seus olhos seus sofrimentos, indignações e, por que não, alegrias. Agora, ao erguer a cabeça, o homem olhava a todos com indiferença.
Nunca havia sido um comunista, pixado muros, participado de protestos ou lutado abertamente contra o sistema, mas ao mesmo tempo, em sua vida, nunca havia conhecido alguém tão subversivo quanto ele próprio.
O fato era que a mulher que amava havia o abandonado neste dia e ele se sentia como se estivesse reconhecendo o que restara de seu mundo. Se antes olhava ao seu redor e ansiava justiça, mudança, agora olha ao seu redor e nada sente; é como se antes de a conhecer ele amasse todos e se preocupasse igualmente com todos e, ao conhecê-la, tivesse reunido todo esse amor em uma única pessoa, a qual jogou tudo no lixo; nada mais restava para ele.
Percebeu, então, que o fato de ela o ter abandonado era indiferente; o amor é optar por uma vida de alguns anos entre esta e a eternidade.
Sorriu, parando ao lado de um lixo e retirando uma foto do bolso, onde ele e sua ex-mulher sorriam para a câmera. Porém, ao olhar para o lixo, ficou novamente melancólico, guardando a foto em seu bolso outra vez.
Há, na vida, caminhos dos quais não se pode voltar.
quinta-feira, 19 de março de 2009
Sinais de fumaça
quinta-feira, 12 de março de 2009
Retrato
quinta-feira, 5 de março de 2009
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009
Companhia na solidão do espelho
sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009
Vida Meursault

(...)
terça-feira, 10 de fevereiro de 2009
(In)felicidade
"A vida é uma tragédia quando vista de perto, mas uma comédia quando vista de longe."
Charles Chaplin
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009
Trecho de "O Estrangeiro", de Albert Camus
E, com as horas de sono, as recordações, a leitura de minha ocorrência e alternância da luz e da sombra, o tempo passou. Tinha lido que na prisão se acaba perdendo a noção do tempo. Mas, para mim, isto não fazia sentido. Não compreendera ainda até que ponto os dias podiam ser, ao mesmo tempo, curtos e longos. Longos para viver, sem dúvida, mas de tal modo distendidos que acabavam por se sobrepor uns aos outros. E nisso perdiam o nome. As palavras ontem ou amanhã eram as únicas que conservavam um sentido para mim.
Quando, um dia, o guarda me disse que eu estava lá há cinco meses, acreditei, mas não compreendi. Para mim, era sempre o mesmo dia, que se desenrolava na minha cela, e era sempre a mesma tarefa que eu perseguia sem cessar. Nesse dia, depois de o guarda ter saído, olhei-me na minha bacia de ferro. Pareceu-me que minha imagem ficava séria, mesmo quando tentava sorrir para ela. Agitei-a diante de mim. Sorri, e ela conservou o mesmo ar severo e triste. O dia acabava e era a hora de que não quero falar, a hora sem nome, em que os ruídos da noite subiam de todos os andares da prisão, num cortejo de silêncio. Aproximei-me da janela e, à última luz, contemplei uma vez mais a minha imagem. Continuava séria, e que há de espantoso nisso, se nesse instante eu também estava sério. Mas ao mesmo tempo, e pela primeira vez nos últimos meses, ouvi distintamente o som da minha voz. Reconhecia-a como a que ressoava há longos dias aos meus ouvidos, e compreendi que, durante este tempo, falara sozinho. Lembrei-me, então, do que dizia a enfermeira no enterro de mamãe. Não, não havia saída, e ninguém pode imaginar o que são as noites nas prisões."
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"Somos quase livres, isso é pior do que a prisão"
Humberto Gessinger
domingo, 8 de fevereiro de 2009
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terça-feira, 20 de janeiro de 2009
Que as mães sempre vivam
Nós nascemos com a única certeza de que morreremos; por mais que a vida seja bela, ela leva à morte, como qualquer sentimento. Não há sentimento que seja eternamente bom - há simplesmente aqueles que se mantêm eternamente vivos - qualquer destes se converterão em uma dor, uma cicatriz. O amor, não é que não exista, mas implica, custa, em um grande sofrimento - que é necessário; sem ele, o amor não existiria.
O fato é que existe e o sofrimento é real, estará presente em toda sua vida; vivemos fadados a alegrias curtas e sofrimentos longa-metragens.
Eu não me expresso bem, mas não costumo mentir, costumo me calar - omitir. Mas há uma situação na qual alguém nunca conseguiu encontrar sinceridade e que a hipocrisia está sempre ligada - inclusive em mim.
Diversas vezes recebi ligações, já de madrugada, com pessoas ameaçando se matar - menti em todas as vezes. Confesso que talvez tenham sido meus piores conselhos. Não se encontra motivos para uma pessoa continuar viva; se ela não o possui, ninguém encontrará. Então o que dizer? Se você a ama, por ela ser importante para você, você a aconselha a ficar viva mesmo tendo consciência de que a vida dela é uma merda e que a morte seria o melhor para ela - ou todos nós; se você não dá a mínima para a pessoa, ainda assim a aconselhará a não fazê-lo por isso ser disseminado como o certo.
Quando recebia esses telefonemas, só conseguia pensar nas mães dessas pessoas e suas reações com relação ao suicídio - eu menti, por elas, para dar a elas a única razão que tenho para evitá-lo, disseminar meu medo para as pessoas assim como a mãe que mima demais o filho e passa a ele os seus.
A vida é um teste e admiro as pessoas que têm a coragem que não tenho, a coragem de ir até o fim.
Que suas mães vivam para sempre.
domingo, 18 de janeiro de 2009
quarta-feira, 14 de janeiro de 2009
Abstrações de um mesmo tema

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009
Ego revolucionário - as revoluções "porção única"
Essa gradação afasta cada vez mais o homem de seu lado idealista e o aproxima de seu ego; às vezes eu olho ao meu redor e me sinto sozinho. Não parece haver mais revolucionários idealistas como os vistos em toda a história, como os vistos no século XX, o que eu vejo são pessoas que simplesmente querem ser vistas como aquelas do passado, admiradas por serem considerados revolucionárias, mas visando seu ego e não seus ideais - se é que possuem algum realmente.
É o que vemos a cada dia que passa; não há espontânea vontade, é preciso que um policial mate um adolescente e isto apareça na televisão para as pessoas se revoltarem; é preciso que setecentos palestinos morram e bombas explodam na Faixa de Gaza para que as pessoas se revoltem - é preciso que até os jornais se escandalizem para que as pessoas se assustem um pouco.
É aí que surgem os heróis porção única, que nunca haviam sequer ouvido falar no assunto, mas que lêem desesperadamente sobre ele, falam sem parar coisas que às vezes nem sequer sabem se estão certas ou têm algum embasamento para afirmá-las; repassam belos e-mails, muito bem escritos, com opiniões alheias, sem sequer terem certeza do que estão repassando. Informação, idealismo? Zero. Ego? Mil - olha como ele fala bonito e tem a barba grande.
A revolução não está morta, mas dorme na ignorância desses jovens "politizados".
sábado, 10 de janeiro de 2009
Rock n' roll nunca será passado
Me lembro de minhas duas primeiras bandas, meus tempos "Raul Seixas"; como eu mudei, como eu me sinto diferente.
Envelheci, mas de uma forma engraçada, muito do que foi ainda é - o rock ainda corre em minhas veias; amadureci, mas ainda acredito em meus sonhos. Olho para pessoas que passaram por minha vida musical de maneiras diversas em minha adolescência e sinto que neles o sonho de uma banda, mudança, ficou para trás, apagou-se perante as obrigações e preocupações da maturidade; esses sonhos não adormecem em meu coração; idéias amplamente diferentes, mas os sonhos se mantêm e se mantêm também a garra e a vontade de realizá-los.
Quando o rock n' roll se torna passado, descobre-se que ele nunca foi presente; uma descoberta que nunca experimentarei.
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sexta-feira, 9 de janeiro de 2009
(...)
Um barulho o fez parar instantaneamente. Por alguns segundos o homem fechou os olhos e sentiu sua respiração ecoar – estava mais bela do que nunca, soava como música; todos os pequenos sons da rua – como o gotejar de calhas de pequenas casas de baixo porte ou o vento movimentando papéis no chão – formavam uma simples e bela sinfonia, uma música em homenagem a alguém que por muito tempo esteve morto e agora finalmente voltara à vida.
Colocou a mão direita no interior de seu paletó e lá estava ela – sempre estivera lá – adormecida, esperando pelo momento de finalmente voltar a ser usada. Duvidamos de alguns sentimentos que são certos, mas simplesmente acreditamos em alguns que são duvidosos; o fato é que soava certo tocá-la naquele instante, o toque provocou-lhe a sensação de que sua mão estava no lugar certo, na hora certa; era hora de usá-la.
Abriu os olhos e sorriu; o garoto – algo em torno de dezenove anos – havia passado por ele fingindo indiferença, mas nem era preciso olhar em seus olhos para perceber a presença do medo, da desconfiança; talvez o garoto tentasse não admiti-la sequer a si mesmo e isso fosse o que a tornava tão gritante. O homem dobrou rapidamente uma esquina; precisava pegá-lo de frente, olhar em sua face enquanto ele sentia o que tinha por fazer.
Esperou os passos ficarem mais fortes e dobrou a esquina seguinte, parando bem em frente ao garoto – tão próximos que quase trombaram. Por um segundo que, se não houvesse sido criado um padrão para o tempo, poderia se dizer horas ou dias, eles se encararam, olho a olho – muito próximos – e, nesse segundo, um pôde entender perfeitamente o estado de espírito e as intenções do outro; apenas um deles sorria.
Com o braço esquerdo, o homem retirou um pano úmido do paletó e o pressionou contra o rosto do garoto, que se debateu em vão – não era forte o suficiente – até desmaiar.
A partir daí o homem se sentia cada vez menos consciente, como se seu próprio corpo fizesse seu trabalho agora; ficava parado, apenas observando seus braços agirem sozinhos.
Retirou de seu paletó uma bela faca que parecia brilhar, entender e responder ao luar. Virou o garoto de costas e, cuidadosamente, rasgou sua camiseta, a afastando e deixando suas costas a vista. De olhos fechados, enquanto movimentava a boca sem produzir sons, o homem, com a faca, desenhou habilmente uma partitura já preenchida por notas nas costas do garoto.
-Permita que esse cadáver utilize seu corpo para produzir vida – ele disse.
Repentinamente o homem se levantou, caindo para trás como se houvesse levado um susto; olhou para o garoto com indiferença enquanto se limpava (ou tentava se limpar) com um novo pano, ajeitou seu paletó e saiu andando novamente, tentando se lembrar onde havia estacionado seu carro."
quarta-feira, 7 de janeiro de 2009
Morte
domingo, 4 de janeiro de 2009
"Quando o Bourbon é bom, toda noite é noite de luar"
Já freqüentei grandes festas
nos endereços mais quentes.
Tomei champagne e cicuta
com comentários inteligentes.
Mais tristes que o de uma puta
no Barbarella, às quinze pras sete
(...)"
Bom gosto, inteligência, sabedoria, merda; são todos sinônimos, inutilidades. Odeio pessoas inteligentes, finalmente percebi; tão vazias e retóricas, sempre procurando algo além para saber e poder preencher o espaço que sobra em suas falas por não terem nada a dizer sobre si mesmas. Não é necessário acreditar que o silêncio diga mais que as palavras, mas ao menos perceber que ele às vezes valhe a pena pelo valor que as palavras possuem, por mais que soem bonitas e alimentem seu ego perante pessoas que, além de burras, também são vazias.
Fale feio, escreva errado, não saiba os autores de livros consagrados, fodam-se os grandes cineastas, não decore o nome daquele bom ator, esqueça tudo que não tenha prática (não necessariamente mundana) - livre sua mente da estupidez desses nojentos inteligentes.
segunda-feira, 29 de dezembro de 2008
Mais um ano

Ai ai ai; essa merda de vida é realmente uma grande utopia.
Antes que me esqueça, feliz ano novo.
sábado, 13 de dezembro de 2008
Albergue espanhol

Cada pessoa é uma, mas cada pessoa deve experimentar e sentir as dores e os prazeres de todos os povos. Tentar focar e limitar-se a uma cultural local é uma tentativa intelectual inútil, a cultura pessoal prevalece, a cultura local é a cultura que avassala todo o mundo e a cultura que ataca cada pessoa individualmente; abandone o aprisionamento local e a indução à prisão de uma cultura estrangeira; todas as culturas são uma só, os costumes de uma só raça, os hábitos de um só coração que se divide em diversas batidas ao redor do mundo.
Hoje caminho em meu país, em meu estado, minha cidade, e me vejo um estrangeiro em meio a diversos estrangeiros, um povo dividido em singularidades, mas um povo com limitações artificiais que não os permitem notar que somos diferentes, mas somos iguais. Carregamos dores, felicidades, admirações, medos, todos diferentes, mas indiferentemente os carregamos.
Caminhamos e caminharemos sempre dotados de preconceitos e muros de vidro ao nosso redor, nos livrando de encarar o fato de que estamos todos em um albergue espanhol.
Visto a camisa do mundo e paradoxalmente brindo àquele que se reconhece: um estrangeiro em meio a estrangeiros.
quinta-feira, 4 de dezembro de 2008
Conselho de um poeta
Essa semana, esse mês, eu não sei dizer direito o quanto dormi e o quanto fiquei acordado. Quando deito, me perco em meus pensamentos e, às vezes, durmo, mas sonho comigo mesmo deitado em minha cama, ainda sem dormir, pensando e quando acordo, já de madrugada, não sei dizer se dormi a noite toda ou passei a noite toda em branco, acordado, perdido em pensamentos.
Hoje escrevo, mas por não ter outra opção, queria ter alguém aqui agora simplesmente para jogar conversa fora, conversar sobre coisas sadias, me perder em palavras e simplesmente esquecer um pouco as coisas lá fora. Mas diferente do que costuma acontecer, não estou triste, deprimido ou pessimista, estou puramente introspectivo e pessoal, simplesmente pensativo.
Por mais que digamos que não nos apegamos a objetos, lugares, a velha história de simplesmente estarmos com quem gostamos em qualquer lugar, que não ligamos para roupas etc; tudo isso não é verdade. Todo mundo tem aquela jaqueta já velha e gasta que nunca vai deixar de usar, todo mundo sente falta daquele parquinho que ia brincar quando criança, da primeira escola, do seu quarto, sua casa, aquele lugar que você ia tanto e que nunca tinha nada pra fazer, sempre te deixava entediado e te levava a pensar que você precisa encontrar um novo lugar pra freqüentar.
Há um ano não moro mais em Varginha e esse mês fará seis meses que não visito minha cidade natal. Minha vontade e ansiedade em voltar lá não se dá tanto pelas pessoas (apesar de sentir muitas saudades de algumas), mas sim em rever coisas, lugares, ver como eles devem ter mudado (minha casa mesmo está totalmente diferente), sentar nesses lugares e simplesmente deixar a cabeça trabalhar nas lembranças, olhar como eles estão agora, sentir dentro de mim um pouco da vida que já passou.
Ah, Varginha, acho que se uma pessoa nasce no inferno, sente saudades ao sair dele. Não importa aonde eu vá ou onde eu esteja, sempre sentirei imensas saudades dessa cidade que me proporcionou tantas alegrias e inúmeras tristezas, inesquecível.
Apesar de achar que alguém não pode se autoconhecer sozinho, acho que deve haver uma fase intermediária onde a pessoa fica sozinha e, sem muitas coisas acontecendo em sua vida, sobra tempo para parar e olhar para o passado, analisá-lo e, através de tudo o que viveu com outras pessoas, se entender melhor. Minha fase foi esse ano, sem dúvidas, mas sem dúvidas também está na hora de essa fase passar, sem dúvidas já estou preparado para voltar à vida, e me alegra muito finalmente ouvir isso de mim mesmo; espero que as coisas dêem certo para mim.
E quanto a você, ouça um conselho de um humilde poeta e escritor: só há vida fora dos livros.
quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
S.O.S. Santa Catarina

Em partes, é de se compreender o porquê do separatismo sulista; o sul não tem ampla participação na colonização do país, tendo uma integração a partir do Tratado de Madri em 1750, com a aderência forçada do Sete Povos da Missões, e em 1777, com o Tratado de Idelfonso que adquire algumas partes do atual estado de Santa Catarina. Tudo isso vem a se concretizar em 1801, com o Tratado de Badajós; mas os tratados não significaram o fim dos conflitos.
Porém, economicamente, desde por volta de 1703, quando a Intendência das Minas foi criada e a mineração começou a tomar força, o sul passou a ter uma integração pela pecuária, sustentando a mineração em Minas Gerais.
Por ter passado um tempo amplo como colônia espanhola, sustentando missões jesuíticas, por ter recebido diversas etnias, é óbvio que a cultura sulista possui uma imensa diferença da cultura do restante do país. Mas esses mesmos sulistas mais conectados à cultura espanhola, se procuram algum embasamento ou estudam a situação, deveriam enxergar que um dos grandes problemas da independência das colônias espanholas, como já frisava Simón Bolívar, com o Congresso do Panamá, antes mesmo da ocorrência, são as divisões, que tornaram os Estados fracos e vulneráveis. Ao incentivar os separatismos, os sulistas estão indo contra suas raízes. Lembre-se também de que uma das razões de o Brasil ter uma certa voz internacional e liderar movimentos do "Terceiro Mundo" (Perdão, odeio esse termo) é a sua dimensão territorial.
O Brasil é um país repleto de culturas diferentes, já houve movimentos de cunho separatista na Bahia, em Pernambuco, Maranhã, Pará, São Paulo, mas todos foram deixados para trás e isso manteve a esperança de surgir um espírito nacional que vá além de copas do mundo de futebol.
Estive duas vezes em Santa Catarina e posso dizer por experiência própria o quão certos estão os catarinenses de se orgulharem de seu estado, tão certos quanto eu estou de me orgulhar por esse estado fazer pate de meu país, assim como me orgulho da Bahia, Pernambuco, Maranhão, Pará e São Paulo.
Se hoje visto a camiseta de ajuda à Santa Catarina, é por ver que o Brasil ainda é um país, ainda há caminhões que partem do Acre para Santa Catarina buscando amenizar a situação, é com dúvidas por pensar em com que ajuda Santa Catarina estaria contribuindo caso a tragédia fosse no Acre, mas é com certeza por saber que a grande e esmagadora maioria, se não totalidade, dos brasileiros que estão sofrendo com a tragédia não compõem movimentos separatistas e nem compartilham desses ideais.
Olhem para Santa Catarina, há brasileiros lá que precisam de ajuda.
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http://www.youtube.com/watch?v=LxR0wCcB5Vo
terça-feira, 2 de dezembro de 2008
Muros e grades
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
O Sonho (E A CABEÇA NO INFERNO DA MENTE)
Estava no sofá de um escritório de luxo e, sempre que respirava, fumaça saía de minha boca ao exalar o ar, e havia um cigarro em minhas mãos, aceso, mas não soltava fumaça; o traguei e, ao soltar o ar, não havia fumaça. Havia uma mesa e a mulher que estuprei estava atrás dela, na frente, um belo homem chegava caminhando: "Está tudo pronto, Deus, se quer destruir o mundo, basta assinar". E havia um papel, e uma caneta, e Deus pegou a caneta, se virou para mim e disse: "Nada está ao contrário, se parece ao contrário para você, talvez seja porque você queira o contrário".
Pisquei o olho e estava em meu quarto novamente, e transava comigo mesmo, e eu estava morto, mas sorria; me esfaqueei e o sangue esguichava, e eu estava no chão e só havia um eu; e eu enfiava a faca com força em mim mesmo, e não havia dor, tudo era tesão, e eu gemia. Corri rindo pela porta e novamente estava no escritório e me via no sofá, e me via atrás da mesa, e segurava o papel; gargalhei, assinei, tudo explodiu.
Novamente eu estava envolto por tentáculos líquidos, e sorria, só havia eu, mais ninguém. Havia, dessa vez, uma bela paisagem a minha volta, e os tentáculos a agarraram e tudo se tornou água e entrou em um balde. Essa água tomou forma de um homem, ergueu a mão para mim e eu a apertei; "é sempre bom fazer negócios com você", ele disse, e entrou novamente no balde. A água, como um soco, entrou direto em meu peito, caí de joelhos em frente ao balde e restava uma gota, que entrou em meu olho e, em seguida, saiu lentamente em forma de lágrima.
Acordei, sorrindo, com a cabeça fora do inferno da mente.
domingo, 23 de novembro de 2008
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
Filosofias de boteco
Hahaha! Desculpe, mas esse texto precisava se iniciar com uma gargalhada; já notaram que a gargalhada de um louco, que pra gente é uma demonstração de aprofundamento na insanidade, para ele pode significar um passo em direção à sanidade? Ou quem sabe não possa ser o inverso? Quem define a sanidade? Talvez Einstein e suas peripécias relativas.
A fórmula ao lado apenas demonstra, a princípio, um conceito ao qual estamos muito familiarizados: quanto mais próximos estamos de uma fonte emissora de sons, mais intensamente os ouvimos. Indo além, porém, percebemos também que, nesse momento, estamos ouvindo todos os sons do mundo, porém "alguns" com intensidade tão baixa que se tornam imperceptíveis. Entrando no campo da filosofia, o único som que não se ouve é o som que sai exatamente de onde ele é emitido, pois a área seria zero e, assim, a intensidade seria anulada.
Logo, a única coisa que não ouvimos é a nós mesmos; bem onde procuramos o autoconhecimento (hahaha). Procuramos, procuramos, não o encontramos; o que fazer? Leia-mos os clássicos, os consagrados, os distantes filósofos. Ó, tão sábios, porém tão distantes, como apreciar uma música que agora está sendo tocada a uma distância tão grande de você? Você a ouve, mas em intensidade tão baixa que nem é capaz de notá-la. Então como se autoconhecer? - pergunta o interlocutor desesperado.
Se algo estiver tão próximo de uma fonte sonora que a área seja quase zero, mas não zero, então a intensidade sonora recebida por este será de uma grandeza imensamente pleonástica. Que mundo irônico, nascemos todos hostis e diferentes, os que se julgam sábios passam a vida procurando respostas em livros escritos por pessoas que nunca as encontraram, os que se julgam espertos demais passam a vida desprezando quem está ao seu redor e buscando verdades de forma introspectiva quando, na verdade, os únicos que têm chances de encontrá-las talvez sejam os desprezados, os que não são sábios ou espertos, os que vivem a vida simplesmente e, talvez, nem busquem respostas. A única forma de se autoconhecer é deixar que alguém se aproxime tanto de você que possa compreender, sobre você, o que nem mesmo você compreende.
A ironia maior é que, duas ondas de freqüências iguais ou muito próximas, ao se interferirem, têm grandes chances de ter pontos de amplitude simplesmente igual a zero ou muito próximos a isso. Porém, ondas de freqüências diferentes, essas sim, muito improvavelmente terão pontos iguais a zero e podem ser construtivas ou destrutivas. É muito fácil se aproximar de alguém que se pareça muito com você, mas esse talvez tenha as mesmas dúvidas e anseios que você, como peças iguais de um quebra-cabeça. Para se autoconhecer, deve-se enfrentar o desafio de se aproximar daquele que se difere totalmente de você, outra ironia: apesar de tão diferentes, são exatamente as peças que se encaixam; para uma peça se encaixar na outra no quebra-cabeça, elas devem possuir uma superfície totalmente diferente e, quando essas e todas as outras se encaixam, tornam possível que se reconheça a imagem; quando todas as idéias se encaixam, é possível reconhecer o contexto final.
Por mais incrível que possa parecer, só aqui começa a piada. Se há um Deus, ele poderia ter criado todo esse funcionamento ao contrário: poderíamos ouvir melhor quem está extremamente distante de nós e mal quem está próximo. Que idéia louca e totalmente incoerente! Se vivêssemos em um universo que funcionasse dessa forma, o funcionamento do nosso soaria totalmente louco e incoerente. Talvez nosso universo funcione assim porque esse Deus queria que alguém, um dia, olhasse para essa fórmula e entendesse tudo isso. Talvez, por dez segundos, eu tenha conseguido conhecer o que é o foco do olhar de Deus.
Hahaha!
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
"Se Deus é justo, então quem fez o julgamento?"
terça-feira, 18 de novembro de 2008
Pessoas e animais
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
"Podem calar os gênios, mas não podem apagar suas heranças (...)"
Quanto mais se aprende, mais medo se cria, mais desesperanças; o aprendizado alimenta o ódio, a sensação de ânsia de vingança, mas, principalmente, a sensação de estar em perigo. Não consigo dormir ao ver ao meu lado um grande irmão em um sono profundo e tranqüilo e imaginar que sua tranqüilidade possa ser rompida por cobiças artificiais alheias. Penso em minha família, em crianças de minha família, esse pensamento me remete a barbaridades cometidas em outros países e pensamentos de tristeza infinita vêm à minha cabeça, como se eu pudesse sentir uma pequena parte do que esses povos sentiram e apenas essa pequena parte já fosse insuportável. Lutaria até a morte por cada um deles, até que meu último pedaço de carne se decompusesse; mas me pergunto se adiantaria alguma coisa, me pergunto se estou sozinho nessa.
Há dias não durmo direito e, acima de meu cansaço físico, estou exaurido mentalmente em pensar que dias piores ainda possam vir, que as coisas se tornem mais artificiais. Pior que isso seria se a margem do sofrimento fosse ultrapassada e as pessoas deixassem escapar seus sentimentos por puro desespero.
Acordem, acordem! Mais que com insônia, minha mente acorda e se liga mais a cada noite que passo a observar a lua; talvez não compreenda o céu como um astrônomo, mas talvez o céu me compreenda melhor do que a qualquer um deles.
Podem calar os gênios, mas não podem apagar suas heranças; o desafio à luta pela hegemonia dos povos continua vivo.
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
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quarta-feira, 12 de novembro de 2008
terça-feira, 11 de novembro de 2008
Marcelo Camelo; Los Hermanos e pós Los Hermanos

Mais difícil do que reconhecer um gênio da música vivendo em sua época, é criticá-lo em seu auge musical; enquanto não há polêmica sobre uma consagração, enquanto esta é unânime, posicionar-se contra soa como uma loucura.
O Los Hermanos é uma banda carioca, inciada em 1997, que conta com uma mistura de inúmeros estilos sonoros, o que a torna muito difícil de classificar, ainda levando em consideração que eu não gosto muito de rótulos na música, principalmente nos dias de hoje, em que uma banda é influênciada por inúmeros estilos e as correntes vão, cada vez mais, desaparecendo. A banda possui quatro álbuns: "Los Hermanos", "Bloco do eu sozinho", "Ventura" e "Quatro". Analisando esses álbuns, podemos notar não somente as mudanças e assimilações que a banda foi fazendo no decorrer de sua carreira, como também as mudanças de eixo dentre as composições e as diferentes personalidades que nela se encontram. Apesar de muitos negarem isso por simples fanatismo, comum para um fã de qualquer banda, que não aceita a idéia de que alguns dos membros desta não tenham grande utilidade ou influência, o Los Hermanos gira em torno de duas figuras: Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante.
O "Los Hermanos", álbum, é lançado em 1999 pela banda. O álbum conta com um dos melhores baixistas dessa geração, com um baixo muito bem elaborado se chocando com melodias não tão boas assim, demonstrando a influência do hardcore e ska principalmente. É um álbum no qual o Los Hermanos ainda não se achou como banda e, apesar de razoável, não traz nada de novo e de excelente pro Rock, um álbum normal.
Em 2001, com o "Bloco do eu sozinho", a banda começa a encontrar realmente seu estilo, com uma mistura de MPB, samba, rock e mantendo ainda raízes do álbum anterior, sendo um marco para os fãs. Esse álbum divide pessoas que gostam da fase anterior e do que vem em seguida, mas simplesmente pelo óbvio fator "gosto pessoal". Aqui, o Los Hermanos começa a se destacar como uma boa banda, mas ainda não era o que viria a ser. Se no primeiro álbum a banda era praticamente Marcelo Camelo, nesse álbum, Rodrigo Amarante começa a se destacar como verdadeiro músico na banda.
Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante possuem personalidades e gostos musicais, tendências musicais, amplamente diferentes, mas isso se consolida de forma excepcional em um dos melhores álbuns da música nacional, um marco de nossa geração e o que torna o Los Hermanos, finalmente, a banda excepcional que é; em 2003, nasce o "Ventura". O álbum é uma mistura de MPB no melhor estilo Camelo com Rock no melhor estilo Amarante; porém, esses estilos se fundem em todas as músicas, demonstrando uma excelente confluência e uma linha que influenciará a música nacional e a difusão da cultura nacional de forma totalmente diferente, como se tornasse esse estilo, pouco procurado por jovens, algo acessível e interessante. Até aí, a parceria Camelo e Amarante era algo a se considerar explêndido e importantíssimo pra música nacional.
Porém, toda essa diferença musical e na própria personalidade começou a ir muito além e, em 2005, com o lançamento do "Quatro", nota-se que era algo que caminhava para já não mais dar certo. Se no "Ventura" essa mistura se fundiu em um álbum homogêneo e com um novo estilo, no "Quatro" essa mistura já se mostrava não conciliável, e temos um álbum totalmente heterogêneo que, apesar de apresentar músicas maravilhosas, não segue uma linha; era como se ouvíssemos dois álbuns de estilos diferentes em um álbum só. No "Quatro", o Los Hermanos já demonstra que seguir com a banda seria uma besteira, algo inconciliável e inútil.
Então, banda anuncia um recesso por tempo indeterminado para dedicação a projetos pessoais.
Essa breve divagação sobre a banda tem como objetivo seguir como base para analisarmos o pós Los Hermanos e chegarmos a conclusões sobre afirmações normalmente feitas durante a existência da banda.
Minha forma de ver Marcelo Camelo é como alguém que não possui tanta habilidade instrumental, mas que possui um talento nato para a música e, apesar de não ter tanto conhecimento teórico, possui uma capacidade incrível de composição de melodias; enquanto Rodrigo Amarante, apesar de um excelente instrumentista, se baseia em maior dedicação musical e um menor talento; porém, por muito tempo se ouviu que, no Los Hermanos, o talento em melodias estava em Amarante e as melhores composições também, apesar de estarem em menor número.
Em 2008, Marcelo Camelo lança o álbum "Sou" e Rodrigo Amarante se dedica a projetos como "Little Joy".
Apesar de ser uma boa banda, o Little Joy afasta o Amarante totalmente da cultura nacional e o coloca em uma cultura totalmente norte-americanizada, tendo como parceria o baterista Fabrizio Moretti, brasileiro da banda The Strokes. É um som razoável, mas que decepciona muito; principalmente ao se pensar que é algo vindo de um ex-membro de uma banda de ampla valorização da cultura nacional. Enquanto isso, Marcelo Camelo traz, no álbum "Sou", um álbum repleto de Brasil, com uma característica forte de MPB, mas diferente da MPB que estamos habituados, é como se fosse um álbum totalmente Camelo; sem dúvidas, um álbum excelente, muito melhor do que seria um quinto álbum do Los Hermanos; e o mais curioso, com uma melodia muito mais bem elaborada e composições muito melhores do que qualquer outra feita por Amarante no pós-Los Hermanos. Sem dúvidas, ao fim da banda, Camelo prova que o talento musical está, em boa parte, nele - apesar de o Amarante ser um excelente músico - e se consagra como um compositor a ser estudado futuramente como um marco dessa geração na música nacional. álbuns como "Sou" e "Ventura" estão entre álbuns que confirmam a existência de uma música nacional em meio a um cenário de extrema influência internacional, com bandas como "Cansei de ser sexy".
Porém, surge uma decepção grande ainda no ano de 2008, que é o que acabo de ouvir e é o principal objetivo desse texto; quase imediatamente após o início da turnê do álbum "Sou", Marcelo Camelo lança um álbum instrumental com uma banda chamada "Os imprevisíveis". O que sinto ao ouvir é uma tentativa de produzir algo alternativo e experimentalista. Há duas opções para esse álbum: ou ele é messiânico demais para mim, ou é um dos maiores lixos pseudo-experimentalistas que já ouvi em toda minha vida; e o pior é saber que Camelo não usa drogas e, portanto, não estava totalmente drogado ao fazê-lo. A impressão que tenho ao ouvi-lo é que os músicos tentam inibir seu talento e tocar o pior possível, como se isso fosse algo revolucionário. Acho que Camelo simplesmente perdeu seu lugar e tentou fazer algo em estilo Thom Yorke, o que, sem dúvidas, não está imbutido na personalidade musical dele. Admiro a tentativa, adoro experimentalismos, mas uma coisa é fato: bagunça sonora não é som alternativo e muito menos experimentalismo, é simplesmente algo dispensável aos ouvidos dos fãs.
Admiro muito o Marcelo Camelo, o tenho como uma das maiores influências musicais em minha vida; por isso, a partir de hoje, passarei a torcer para que ele esqueça essa idéia e volte a produzir o que eu chamo de "música".
domingo, 9 de novembro de 2008
Amor e vontade
